Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Um Aceno

Um Aceno

Um aceno,
Um adeus,
Um abraço.
Uma vontade interrompida
E o quebrar de um laço.

Foram esperanças
E ilusões,
Pequenos sonhos
De grandes dimensões.
E foi o entusiasmo,
A entrega
E a dedicação.
Foi um agarrar firme
E foi um abrir de mão.

Foi a força
De vencer.
Foi a intenção
E foi o crer.
Foi o rasgo.
A sorte que se fez,
O azar que bateu.
Foi um homem que cresceu.

E foi a vertigem.
Foi a decisão
Na ponta da coragem.
Foi um peso.
Foi um homem engolido na voragem.

Foram palavras.
As que se disseram
E as que ficaram por dizer,
As coisas que se fizeram
E as que ficaram por fazer.

Foi um tempo
Longo
E escasso.
Foi uma vida,
Em breve
E curto estilhaço.

Foram as minhas virtudes
E os defeitos meus
Condensados em poucos gestos.
Um aceno.
Um adeus.

jpv


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O Clã do Comboio – Não chores!

Não Chores!
Quando o InterCidades de Lisboa para o Porto parou em Vila Franca de Xira, estavam quatro na plataforma. Um idoso, uma mulher nos seus quarenta anos, um homem de idade similar e um menino com cerca de oito anos.
Aproximaram-se da porta do comboio, mas só o homem entrou. Não o vi. Só o ouvi. A eles, vi-os pela janela. Assim que o comboio engoliu o homem, ele deve ter-se virado para a rua, para um último olhar, um último adeus. A criança agarrou-se ao ventre da mãe, abraçou-a como que a pedir que não acontecesse o que estava para acontecer e começou a chorar baixinho. O homem, sem se importar que o ouvissem, gritava bem alto para a rua algo que se ouvia na carruagem toda:
– Não chores, meu filho, não chores!
Nunca falou com nenhum dos outros porque os outros, sendo crescidos, compreendiam o sacrifício da separação porque conseguiam ver para além dela. Mas a criança não.
O comboio arrancou e o homem continuou repetindo em voz alta e sem cessar:
– Não chores, meu filho, não chores!
Quando as portas se fecharam e as pessoas da rua deixaram de ver-se, o homem entrou na carruagem, procurou o seu lugar, atirou-se para cima do banco, suspirou fundo um suspiro de desespero e chorou.
E eu pensei:
– Não chores!