Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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De Negro Vestida – XXII

 

Solidão – III

O plano era básico. De resto, para ela não constituía surpresa. Estava habituada às surpresas dele que a não surpreendiam. Não se importava com a previsibilidade dos planos dele pela razão simples de que via neles a forma que ele encontrara para a cortejar. E sentia-se cortejada. Desta vez ele limitara-se a pedir “Vais buscar-me à oficina logo à noite?” Ela anuiu acenando que sim com a cabeça e foi esse gesto que lhe deu a ele a liberdade de acrescentar “Tenho uma surpresa para ti. Vais adorar.”
E a noite veio. E ela apareceu na oficina para buscá-lo.
– Vem cá!
– Que tens para mim hoje?

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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De Negro Vestida – XXI

 

Solidão – II

Despedimo-nos.
Nós saímos da estória e nela deixámos Maria de Lurdes na caixa multibanco pagando a conta da luz.
Bem sabemos que há movimentos defendendo com palavras novas, novas ideias, como a paridade e a igualdade entre homens e mulheres. E queremos acreditar que se trata de igualdade no trato pois que na essência, no ser e no comportar, homens e mulheres sempre foram diferentes, diferentes são e continuarão a ser diferentes no eterno escorrer do tempo. Não pode pedir-se a um homem que seja mulher. Falta-lhe a capacidade, o sentir de todas as formas, a ânsia de perfeição, o maternal instinto. E não pode pedir-se a uma mulher que seja homem. Falta-lhe a determinação instintiva, a simplicidade nas opções, a ânsia de conquista e o instinto de cobrição. São diferentes à nascença, vivem de forma diferente, sentem de forma diferente e de diferente forma se entregam ao breu definitivo da morte.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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De Negro Vestida – XX

 

Solidão – I

Há neste centro comercial um barulho de luzes que atrai e cansa. Há um bailado de cores que seduz, enreda e chama. Passam pessoas em trajes apressados de trabalho e passeiam pessoas em trajes exibicionistas de passerelle. Umas levam a chave do carro na mão ou a carteira com o passe dos transportes públicos. Outras levam sacos marcados com o timbre dos vendedores. E desliza no ar luminoso do espaço amplo um cheiro adocicado a crepes com gelado de baunilha, a pipocas de cinema, a batatas fritas em pacotinhos de papel a acompanhar hambúrgueres que são os mesmos aqui, em Madrid, em Paris, ou em Moscovo. E há uma música de fundo que ninguém ouve mas de que todos sentem falta quando se cala. E há escadas rolantes que levam e trazem os viajantes de sonhar que param juntos às montras olhando o que não podem comprar ou entram nas lojas comprando o que não podem comprar deixando para mais tarde as preocupações de tais excessos. E correm crianças em aventuras de visitar lojas de brinquedos e vêm, depois, agarrar-se às pernas dos pais olhando como quem pede ou simplesmente pedindo. E divertem-se em carrosséis de interior a troco de uma moeda em máquinas pintadas com cavalos ou carros ou motos que dão três voltas, acendem luzes e no fim dizem obrigado em espanhol.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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De Negro Vestida – XIX

 

Rupturas – IV

Gininha está sentada no lugar do costume, na mesa das quintas-feiras à tarde que ambas ocupam na pastelaria Avenida. Tem uma chávena de chá suspensa da mão, os olhos muito abertos como que a quererem ver melhor o que estão ouvindo e a boca que há minutos fez um Ah! ainda se mantém nessa posição embora o som da exclamação se tenha já perdido no ar. À medida que Maria de Lurdes vai falando, os olhos de Gininha vão ficando marejados e quando alguma lágrima ameaça desprender-se, ela acorre com um lencinho de papel para evitar estragos na maquilhagem.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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"De Negro Vestida": o estado da arte.

O estado da arte é simples de explicar. O próximo capítulo está pronto. Falta só a dolorosa tarefa de o passar para o computador e corrigir gralhas e coiso…

Hoje deverá ficar online… se bem que este sol não ajuda!!!

Um abraço a todos e um sincero agradecimento pelos comentários simpáticos ao capítulo anterior que vieram por mail do norte do país, do norte do distrito e das ilhas…

Não sei se repararam, mas esta chafarica está a ficar mais frequentada!!! hihihi…

João Paulo Videira


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De Negro Vestida – XVIII

 

Rupturas – III

Aquela pergunta foi como um clarão de luz rompendo a escuridão. Antes de proporcionar a visão faz doer e cega e confunde quem estava mergulhado no breu. Mais do que as palavras era o escuro do caminho, a falta de referências no lugar que o deixava perdido, perto de encontrar-se. E encontrou-se, e identificou aquela roupa íntima noutras intimidades, noutros contextos, noutros mundos. Aqui, onde está, no seu quarto, tudo está certo e no lugar apropriado, excepto a semi-descoberta Maria de Lurdes e a lingerie negra que não é sua. Num repente, num momento, procurou o caminho que aquela roupa teria percorrido até chegar ali. Procurou os porquês, tentou vislumbrar os contactos, a mente voou-lhe, depois, para a possibilidade de terem conversado uma com a outra. Será que se conheciam? E, sem se aperceber, Carlos Manuel ficou onde Maria de Lurdes o queria. No lugar da vulnerabilidade. No espaço das perguntas a invadirem-lhe, velozes, a mente e no desespero das respostas que não vinham, na inexplicabilidade daquela revelação. Nem conseguiu concentrar-se nas consequências. De certo que as haveria.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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Esclarecimento sobre periodicidade de "De Negro Vestida"

Amigos,

alguns leitores têm perguntado, via e-mail, se estou perdendo o entusiasmo pela escrita de “De Negro Vestida”, se pretendo acabar a escrita do romance, porquê a publicação dos capítulos mais espaçada no tempo… Simultaneamente encorajam-me a continuar e a publicar o texto.

Agradeço, desde já, o encorajamento e o carinho que têm demonstrado.

Já escrevi algo semelhante a isto num post anterior: a estória será acabada, não será interrompida e nunca estive tão entusiasmado como agora. Acontece que esta estória vai ser mais longa e complexa do que “Estórias ao Acaso: Noite Fria” e assumirá compromissos de coerência e articulação mais complexos de gerir, daí que a escrita dos capítulos seja mais estudada, dê mais trabalho e demore mais tempo. É por isso que não consigo publicar um capítulo por dia. A média tem sido entre os três e os cinco dias.

Por outro lado, vou lembrando os meus queridos e ansiosos leitores que dou aulas, sou dirigente sindical no SPGL, pertenço ao Secretariado Nacional da FENPROF, sou formador de professores, construo websites e ainda tenho uma família para dar atenção… ufa, fiquei cansado só de enumerar.

Para terminar, venho informar-vos que publicarei hoje o próximo capítulo…

Um abraço

João Paulo Videira


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De Negro Vestida – XVII

 

Rupturas – II

Quando Carlos Manuel entrou no quarto e passou para a casa-de-banho privada, nem reparou em Maria de Lurdes porque ela se cobrira, por prudência, com a roupa de cama. Esperou que ele passasse para arranjar-se e colocar-se na posição planeada. Quando ele voltou, já de pijama vestido, nem que fosse cego deixaria de reparar nela. Não tanto pelo preparo mas sobretudo pela diferença que tal preparo evidencia em relação à normalidade monótona do casal. Poderia ser um cenário para uma noite romântica. Mas não era. Tratava-se de um cenário para um jogo. Um jogo de testes de provações, de medições e tomar de pulso, um jogo tenso em que ganharia o mais hábil e o mais paciente.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

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João Paulo Videira

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De Negro Vestida – XVI

 

Rupturas – I

Habitam em nós pessoas que desconhecemos, moram em nós sentimentos que julgávamos alienos, vivem em nós latentes gestos de que não nos sabíamos capazes, escondem-se em nós palavras que desconhecíamos poder pronunciar. Mas querendo as circunstâncias provocá-los, querendo a vida revelá-los, há-de exigi-los, pôr-nos à prova, testar-nos com a confrontação de situações novas e inesperadas e logo as palavras desconhecidas e improváveis nos bailam nos lábios, e logo os gestos insondáveis se manifestam em nós, e são sentidos os sentimentos e emerge de todas estas pequenas revelações uma nova pessoa, um novo ser, habitando o mesmo corpo.
E o covarde há-de ser corajoso, e o medroso há-de ser temerário, e o fraco há-de ser forte, e o prudente há-de ser aventureiro, e o dependente há-de ser autónomo, e o calado há-de expressar-se por palavras cristalinas.
A família tomou o pequeno-almoço de segunda-feira e foi à vida.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

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Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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Regresso

Dois regressos importantes. O do astro-rei e o de “De Negro Vestida”. Se a net não voltar a falhar, ainda hoje será publicado o próximo capítulo.

“Esplendor!”

“Matutino”
“Vespertino oferecido”