Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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De Negro Vestida – LXVI

 

Abandonar o Negro – IV

Maria de Lurdes não o disse a Carlos José para lhe não parecer que estava ansiosa, mas a verdade é que lhe pediu que a apanhasse em casa porque tencionava tirar esse dia para si. E tirou. Algo lhe dizia que ele merecia o tempo que levaria a preparar-se antes do almoço e algo lhe dizia também que a conversa entraria tarde dentro. Não estava ansiosa como se algo determinante estivesse para acontecer, mas queria colocar alguma dedicação naquele almoço. Havia da parte dele uma disponibilidade, uma franqueza no trato e nas palavras, uma abertura na face que pareciam estender-lhe uma carpete e não fechar uma porta.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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De Negro Vestida – LXV

 

Abandonar o Negro – III

Não foram necessárias outras apresentações.
Ambos sabiam que haveria muito a dizer e que poderiam dizê-lo ou não. Talvez o olhar e os sorrisos e as feições e toda essa linguagem do corpo que está antes e depois das palavras dissessem o que elas não conseguiam.
Há dois tipos de relacionamento no que respeita ao uso das palavras. Aquele em que elas são muito precisas para explicar as ideias e os comportamentos e em que têm de ser escolhidas com todo o cuidado evitando más interpretações e aquele em que as palavras vêm só confirmar o que os olhos estavam dizendo.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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De Negro Vestida – LXIV

 

Abandonar o Negro – II

Eu, caro leitor, sou um humilde desenhador de palavras e de imagens com elas e reconheço essa minha condição. Não tenho, por isso, qualquer pretensão de, sequer, fingir que sou Deus ou controlo a vida. Nem mesmo a vida dentro destas linhas. Nem a vida, nem a morte. E, se alguma coisa puderdes aprender com esta história, que seja o inestimável valor da vida e da morte que não é mais do que um passo daquela. Aprendereis, se quiserdes, que não há existências boas nem más, não há vidas vãs e não há mortes em vão. Tudo se conjuga em pequenos sentidos num sentido mais lato e global.
É por isso que Manuel Matos Vasques não deixou de agir quando morreu.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

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Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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De Negro Vestida – LXIII

 

Abandonar o Negro – I

Fugiram da cidade. É o que fazem os jovens. Um carro. Uma carta de condução. Um recanto escuro e o amor acontece. Ele desejava-a, queria tê-la entre os braços, beijá-la, cheirá-la, possuí-la sob o seu corpo jovem e atlético. Ela queria ser possuída, ser tomada pelo seu braço forte, brincar com ele. Naqueles momentos de frente para o mar, o carro era o mundo inteiro e foi aí que se entregaram, que suaram e gemeram seus amores, e foi aí que ficaram saboreando o momento, brincando com o que cada um gostava de fazer. E quando estavam saciados da noite, regressaram. Piso molhado. Olhos dele nela. Mãos dele nela. Curva da estrada e do destino. Despiste. Uma pancada seca no pescoço e a morte imediata.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

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Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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De Negro Vestida – Abandonar o Negro

Amigos leitores, para os que têm acompanhado a evolução do romance “De Negro Vestida”, venho prevenir-vos para o facto de ter acabado o segmento cujo título era “De Negro Vestida”, ou seja, o segmento que deu nome ao romance. A partir do próximo capítulo entramos no segmento que designei por “Abandonar o Negro”. Divirtam-se.
jpv


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De Negro Vestida – LXII

 

De Negro Vestida – XXVI

Maria de Lurdes leu a crónica. Várias vezes. Releu alguns parágrafos. Deteve-se em palavras e momentos específicos e, sobretudo, saboreou. Qualquer coisa naquele texto a deliciava e não era, só, o seu nome no fim. Não era essa vaidade que a movia. Era mais o hino à sua condição. A justiça que lhe pedira havia sido feita. O texto entusiasmou-a e fê-la acreditar de novo na Humanidade e em particular na masculinidade. Esse universo tão próprio, tão acessível ao corpo, tão inacessível na alma. Engana-se quem pensa que os homens são básicos, pensou, são básicos na carne.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

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Setembro de 2013

João Paulo Videira

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De Negro Vestida – LXI

De Negro Vestida – XXV

Há jornais abertos nas paragens de autocarro, nos bares e cafés, nos eléctricos e no Metro, há um homem que parou a caminhada que ia fazendo no passeio e ficou a ler, nos restaurantes, nas salas de professores, nas repartições de finanças, nas salas de espera e entre duas torradas com doce de maçã e uma chávena de chá. E muitos não estarão lendo a crónica de Gabriel, mas muitos haverá, também, que o estão fazendo. O texto é simples e fluido. Despretensioso. Mas faz demorar alguns olhares, faz reflectir algumas consciências. Normalmente, não reproduziríamos aqui o texto para não sermos acusados de concorrência desleal por parte do Jornal onde trabalha Gabriel. Acontece que…

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Setembro de 2013

João Paulo Videira

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De Negro Vestida – LX

 

De Negro Vestida – XXIV

Ultimamente os homens andavam com uma séria tendência para agarrá-la por um braço e arrastá-la da igreja para fora. Carlos José levara-a gentilmente para a sacristia e aí a beijara. Gabriel pegava-lhe firme num braço, arrastava-a para a rua e vociferava palavras de repreensão e raiva. Era a véspera do funeral de Maria da Graça, alguns familiares e amigos estavam velando a falecida na casa mortuária contígua à igreja e Maria de Lurdes andava distribuindo pelos bancos umas ramagens que decidira colocar a expensas próprias para que, ao menos, se simulasse alguma compostura do espaço. Quando chegou à rua, arrastada por Gabriel, sabia que não iriam trocar-se beijos, o olhar dele flamejava indignação:
– Mas quem é que a senhora julga que é?

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Setembro de 2013

João Paulo Videira

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Citação da Humanidade

“Somos tão estranhos e tão sublimes! Tão divinamente arrebatados ou tão assustadoramente terrenos. Tão crentes da eternidade e tão agarrados ao vil metal…”

Leitora deste Blogue sobre o Capítulo LIX de “De Negro Vestida”


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De Negro Vestida – LIX

 

De Negro Vestida – XXIII

O homem entrou na agência com um ar encabulado, não tanto como quem tem vergonha, mais como quem comete uma transgressão. Os olhos muito no chão, os dentes trincando o lábio de baixo e alguma incerteza na passada. Quando levantou a cabeça e olhou Maria de Lurdes nos olhos transfigurou-se. Tinha uma expressão séria e decidida. Nesse preciso instante Maria de Lurdes percebeu que algo acontecera ou estava para acontecer. Não imaginava o quê e como estava longe de imaginar, deixou a vida surpreendê-la.
António encarou-a, sério, e disse:
– Precisamos fazer umas alterações ao serviço.
– Algo que não ficou do seu agrado?
– Quase nada é do meu agrado. Isto é tudo uma farsa, esta coisa das despedidas e dos amores. Quem cá fica é que se trama.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

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Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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