Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Crónicas de Maledicência – Teoria da Relatividade


Teoria da Relatividade

A nação lusa vive hoje um dia de indecisão. Não sabe bem o que pensar nem o que comentar. Há esse assunto premente e urgente e que, por via das paixões, se sobrepõe a todos os outros: o jogo entre o Benfica e o Chelsea na final da Liga Europa. Os radiojornais, os telejornais, os sites e outros que mais dão um destaque total. Contudo, quase tão importante como este decisivo jogo para a nação lusa, é o esoterismo e o misticismo das declarações de Cavaco Silva, o Senhor Presidente da República, ontem à tarde… a mulher dele disse-lhe que a 7ª avaliação da Troika se tinha fechado por uma inspiração de Nossa Senhora de Fátima. Que Cavaco era místico, já todos sabíamos, afinal de contas, poucos são os que sabem o que vai naquela cabeça, às vezes desconfio que nem o próprio tem certezas… Agora, que a Primeira Dama o fosse também, já achei muito misticismo para uma família só. Ou é isso, ou é aquele fenómeno muito macho do tipo, coisas de religião é com a minha senhora que eu tenho o negócio para gerir, sou homem, trabalho, deixo as relações com a Divindade a cargo dela… Ora, não negando importância à Crise, o facto é que ninguém com o mínimo de bom senso quer saber da crise para nada no dia em que joga o Benfica logo a seguir ao dia em que a Senhora de Fátima fechou a 7ª avaliação da Troika e no-lo comunicou nada mais, nada menos, de que através de Maria… Cavaco Silva.

Mas tudo é relativo, amigos, tudo é muito relativo… aqui, neste belo país em que me encontro, rodeado de gente simpática, aqui mesmo no coração do Continente Encarnado, como lhe chamam, mais importante do que o Benfica, do que a inspiração da Senhora de Fátima e do que o misticismo da Primeira Dama era… tomar banho! Tomar um banhinho é que já dava jeito. Nada demais, disse ele, resolvo em meia hora de tempo… já lá vão 26 horas de tempo!
jpv


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Crónicas de Maledicência – A Síndrome Juncker

A Síndrome Juncker

Quem é Jean-Paul Juncker?
É o Primeiro-Ministro do Luxemburgo!

Então qual é a autoridade que lhe assiste para afirmar que “Portugal não pode ter uma crise política”?
Nenhuma.

Mas fá-lo…
Claro! Governar Portugal a partir de fora tornou-se numa moda, pior, numa verdadeira síndrome!

A intervenção da Troika terá sido necessária do ponto de vista financeiro para salvar o sistema financeiro português. Em todo o caso, abriu um precedente perigosíssimo: haver quem, de fora de Portugal, sem qualquer legitimidade política, opine, faça ingerências e tente manipular a governação portuguesa.

Mais. Portugal é uma nação independente, com direito à autodeterminação que conquistou para si há muitos séculos e que tem ajudado a mobilizar para países que a não tinham. Acontece que, recentemente, qualquer artista de fato e gravata, de proveniência mais ou menos incerta, entende que pode governar Portugal. De facto, a subjugação da política ao pensamento financeiro aniquila as sociedades uma vez que aquilo que era um mero instrumento ao serviço das nações se transforma no objeto único, absorvente e assassino das próprias nações.

O mais grave é que se chegam a questionar instituições de soberania maior em Portugal como seja o Tribunal Constitucional. 

Portugal tem de respeitar os seus compromissos, sem dúvida. Mas essa gestão cabe-nos a nós fazê-la no respeito absoluto pela democracia. Se os portugueses quiserem uma crise política, têm o direito de a defender e a obrigação de assumir as responsabilidades por ela, quer os Junckers deste mundo queiram, quer não.

Querem governar? Tudo bem. Governem a casa deles. É que, olhando aqui em volta, não vejo nenhum país que possa gabar-se de não ter problemas. O melhor seria que Juncker e os outros se deixassem de tiques de arrogância e arrumassem a sua própria casa.

Portugal é livre. Sê-lo-á sempre.

Tenho dito.
jpv


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Crónicas de Maledicência – A Bela e o Monstro

Crónicas de Maledicência – A Bela e o Monstro

Há uns meses atrás, um presidente de câmara italiano conseguiu fazer aprovar uma lei, reparem bem, aprovar uma lei que proibe as mulheres feias de andarem em biquíni pelas ruas da sua cidade. O ridículo da situação assenta, não só na discriminação que a lei envolve, mas, sobretudo, nos critérios! Como é que o tipo diferencia as bonitas das feias? Quem são as belas e quem são os monstros? E haverá polícias da fealdade a dizerem:
– Minha senhora, vista-se, por favor.
– Então porquê, senhor guarda, eu estou de biquíni.
– Pois, mas a senhora não pode!
– Não posso? Porque?
– É que a senhora é feia!
Enfim, a lei passou e, ao que parece, quem for feia, seja lá isso o que for, não pode circular pelas ruas em biquíni.

Nem de propósito, esta semana, na Arábia Saudita, três jovens foram detidos, presos e deportados por serem demasiado bonitos! É impossível não imaginar o ato de detenção:
– Alto! Mãos ao ar! O senhor está detido!
– Mas, senhor guarda, o que é que eu fiz?
– O que é que o senhor fez? Então não se está mesmo a ver? O senhor embelezou demasiado!

Enfim. É o mundo que temos. É a cultura que temos. Com preciosidades e maravilhas. Com atropelos e preconceitos. Fiquei a pensar qual será a linha que separa uma pessoa bonita de uma demasiado bonita?

Daqui, deste cantinho luso-moçambicano, não consigo evitar um conselho: e que tal se os jovens sauditas fossem para Itália e as matrafonas italianas, classificadas como feias, fossem para a Arábia saudita?

É normal que, quando o nosso mundo se entrega desta maneira à forma, o conteúdo se degrade. E quando o conteúdo se degrada, a Humanidade segue caminhos perigosos, afasta-se da fraternidade e da justiça, valores maiores da nossa convivência social.

Tenho dito!
jpv


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Crónicas de Maledicência – A Ponta do Iceberg

Crónicas de Maledicência – A Ponta do Iceberg

Depois do chumbo das quatro alíneas do Orçamento Geral do Estado por parte do Tribunal Constitucional, o Governo tinha duas hipóteses. Ou se demitia, ou começava a trabalhar em medidas para recuperar a verba perdida partindo do princípio, claro está, de que não alteraria a linha política seguida até agora.
O tal chumbo preocupou-me. Não me manifestei na altura, mas acreditei sempre que a atitude do TC pudesse funcionar como justificação para espoletar um conjunto de medidas abslolutamente violentas. Tão violentas que não tinha havido coragem para se pensar nelas.
O que li esta manhã no portal “Notícias ao Minuto” parece-me ser a ponta do iceberg dessa violência. Efetivamente, a notícia, que aparentemente é sobre os professores com mais tempo de carreira, logo, os mais velhos, retirando-lhes a redução da compenete letiva por compensação da idade e do desgate, a ser levada a cabo, terá desastrosas consequências nos mais novos. E a razão é simples. Muitos ficarão sem trabalho. A medida é aplicada no topo, mas as consequências recairão em professores a meio de carreira ou com poucos anos nos quadros. O mais curioso é que, desta forma, o executivo de Pedro Passos Coelho, com Nuno Crato à cabeça da Educação, nem precisa de falar em mobilidade especial, nem precisa de falar em despedimentos. Disso falará mais tarde, quando já for inexorável e não houver qualquer hipótese de recuar. São momentos muito difíceis os que vivemos e, se não temos cuidado, as medidas que tomarmos podem liquidar os serviços públicos e, liquidando-os, assassinam o tecido consumidor. O momento seguinte é a agonia do comércio e da indústria. Numa economia saudável, os consumidores têm de poder consumir.
Este é um iceberg com muitas pontas, mas, a ser verdade, poucos dias depois da decisão do TC, esta medida é o prenúncio de um despedimento massivo de docentes. A questão, agora, são duas! Uma, é saber se os docentes a dispensar são necessários ou não, ou seja, se fazem falta à sustentabilidade do sistema educativo ou se é um corte cego e puramente financeiro. A outra, é saber se o seu despedimento constitui efetivamente uma poupança ou se representa, a curto prazo, uma tremenda despesa… sim… não estou maluquinho, nem me falta a coerência, ora pensem lá bem…
jpv


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Crónicas de Maledicência – É P’rá Amanhã!

Crónicas de Maledicência – É P’rá Manhã!

Independentemente de se concordar, ou não, uma moção de censura apresentada pelo maior partido da oposição é um facto político inegável e, tendo sido debatida na Assembleia da República ontem, hoje é um assunto importante na vida política portuguesa.

Independentemente de se gostar da sua ação ou não, Miguel Relvas não é um político qualquer. Foi, até hoje, o Ministro dos Assuntos Parlamentares. A sua demissão não é coisa de somenos. É um facto político inegável e importante na vida social e política do país.

Independentemente do que possa pensar-se, se o Senhor Ministro da Educação tem em sua posse um relatório da Universidade Lusófona sobre a legitimidade da formação superior do, até agora, Ministro dos Assuntos Parlamentares, isso é um facto político inegável.

Independentemente da opinião de cada um, o Tribunal Constitucional está prestes a pronunciar-se sobre o Orçamento de Estado e isto constitui um facto político inegável com consequências nas vidas dos portugueses e até eventuais consequências ao nível do Governo como admitiu o Senhor Primeiro Ministro.

E é por isso que eu não percebo como é que, instado a comentar estas matérias, nomeadamente, a moção de censura e a demissão de Miguel Relvas, o Senhor Presidente da República diz, e cito, “Hoje não há política”. Ó Senhor Presidente, olhe que é precisamente hoje que há política. Eu bem sei que cai melhor fazer uma degustação de produtos gastronómicos portugueses, mas há matérias e momentos a que um Presidente da República não pode esquivar-se! Enfim, fica p’rá amanhã.

jpv


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Crónicas de Maledicência – Uma Questão de Oportunidade

Crónicas de Maledicência – Uma Questão de Oportunidade

A Coreia do Norte não podia ter escolhido pior semana para iniciar a terceira guerra mundial. É que ninguém lhes vai ligar nenhuma. Os militares norte coreanos informaram o mundo que iam atacar postos norte americanos uma vez que haviam obtido autorização, ontem, para o fazer.

O assunto parece grave e até parece, em última análise, dizer-nos respeito a todos. Mas, quem lê os jornais portugueses, ouve e vê os noticiários portugueses e consulta a imprensa portuguesa na web, apercebe-se de que os coreanos não percebem nada de política, nem de guerra. Para haver uma guerra mundial, é preciso que o resto do mundo nos preste atenção. Ora, senhores coreanos, fiquem sabendo que hoje à tarde se demitiu o Senhor Ministro, Miguel Relvas, hoje à noite joga o Benfica, amanhã à noite fala o Nuno Morais Sarmento na RTP e, no domingo à noite, à mesma hora, na TVI e na RTP1, falam Marcelo Rebelo de Sousa e José Sócrates. Ou seja, vocês até podem querer essa coisa lá da guerra mundial, mas haja decência, falamos nisso lá para segunda feira. Daqui até lá, fazem favor de aguardar que a nação lusitana está em suspenso por via de motivos primeiros. Fachavor não incomodar com coisitas de somenos… lá agora guerra… um par de estalos é o que é!

jpv


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Crónicas de Maledicência – O Regresso de Sócrates

Crónicas de Maledicência – O Regresso de Sócrates

Amor, Ódio e Indiferença
Pode gostar-se de José Sócrates, pode não se gostar de José Sócrates, pode amar-se Sócrates, pode odiar-se Sócrates, pode achar-se que foi um bom primeiro ministro ou pode achar-se que arruinou o país. O que não se pode, é ficar indiferente a Sócrates.

Ontem, a RTP arrasou a concorrência. Toda a gente, mesmo os que diziam que não iam ver, estive a ver e/ou a ouvir a entrevista do ex-Primeiro-Ministro.  O programa até ultrapassou, em audiências, as transmissões dos jogos de futebol do Benfica. Ou seja, independentemente do que os portugueses pensam dele, ontem quiseram ouvi-lo. Já hoje, a imprensa nacional e internacional, o parlamento e até o Senhor Primeiro-Ministro, na defesa que fez do Senhor Presidente da República, demonstraram não ter ficado indiferentes à reaparição pública de Sócrates.

Também não fiquei indiferente. Ouvi com atenção e tentarei comentar brevemente a sua entrevista naquilo que penso foram os seus pontos fortes e os seus pontos fracos. Não vou analisar a governação de Sócrates nem a do atual executivo. Vou cingir-me à entrevista de ontem. Só isso. E, claro, fá-lo-ei de forma racional e isenta.

Tomar a Palavra
Não percebo porque é que Sócrates não haveria de falar. Manifestar a opinião é algo normal em democracia. E não percebo como é que o mesmo povo que votou em António Oliveira Salazar para melhor português de sempre, fez uma petição para que José Sócrates não falasse na televisão. Aliás, mesmo aqueles que são contra Sócrates podem ter aqui uma oportunidade de pegar nas palavras dele e no facto de estar a expor-se para o contrapor, rebater e desautorizar. Já acho sintomático que o astuto engenheiro tenha usado a expressão “tomar a palavra” e não, por exemplo, “usar a palavra”… acaso? Não me parece!

Passado e Presente
O que menos gostei na entrevista foi o facto de ser tão centrada no passado e tão pouco projetada para o futuro. Percebo a ideia do ajuste de contas com as acusações de que foi alvo, mas penso que, se a intenção é participar, então que o engenheiro se centre no futuro e nas soluções que são precisas.

Pontos Fracos
Fundamentalmente, a visceral incapacidade de assumir erros. Sócrates não mudou muito em dois anos. É um político completo. Goste-se ou não, concorde-se ou não, é dos poucos políticos com um discurso claro, assertivo e intrinsecamente convicto. É um orador como há poucos em Portugal. Contudo, tem uma tendência quase instintiva para afastar de si a possibilidade de ter errado e centrar tudo nos outros. Mesmo sendo verdade que não será culpado de tudo o que o acusam, o seu segundo mandato está ligado a uma subida vertiginosa da dívida pública e a crise internacional explica algumas coisas, mas não justifica tudo. Por outro lado, foi pouco convincente em relação às PPP. Mesmo só tendo criado oito das vinte e duas, fê-lo quando todos os indicadores o desaconselhavam e apontavam no sentido contrário: extinguir as que se considerassem não ser absolutamente indispensáveis. Ou seja, é um comunicador muito bom, excelente registo discursivo, mas não consegue disfarçar alguns números e alguns erros que poderia e deveria ter assumido.

Pontos Fortes
Sócrates voltou em boa forma. Foi corajoso na forma como enfrentou as questões mais difíceis. Foi claro na forma como arrasou a ação do Presidente da República. Foi contundente na forma como se anunciou de regresso ao mundo político. Fez uma ponte lógica entre o chumbo do PEC 4, o pedido de resgate financeiro à Troika e a voracidade política do PSD. Foi generoso na forma como tratou a atitude do seu partido em relação a si próprio. Foi muito inteligente, e até leal, ao falar criticamente de ação governativa sem nunca pessoalizar em nenhum ministro, nem mesmo no Primeiro. E foi inteligente ao defender o que a sua governação teve de mais interessante, como, por exemplo, a mudança do panorama nacional no que respeita a energias renováveis e investimento estrangeiro.

Saldo
Se convenceu? Em alguns aspetos, naqueles de pendor mais político, admito que sim. Sabemos que sim. Nas questões técnico-financeiras foi demasiado generalista para ter convencido. Foi demasiado fugidio numa fase em que os portugueses, e bem, querem ver rolar cabeças. Uma coisa é certa, a cena política portuguesa ganhou mais um ator. Um comentador que aqueceu o ambiente político. Um homem gerador de polémicas e contradições. E mentiu. Disse que não voltaria à política ativa. Sócrates que me desculpe, mas o que eu vi ontem foi política do mais ativo que há… até já mexeu com meio mundo hoje. E o país a precisar de atenção em tantas outras coisas…

jpv 


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Crónicas de Maledicência – Francisco e os Outros

Crónicas de Maledicência – Francisco e os Outros

O Papa Francisco não poderia ter começado de melhor forma o seu pontificado.

É verdade que, assim que foi eleito, mesmo antes de dizer as primeiras palavras, dar a primeira missa, fazer os primeiros gestos, já havia uns senhores, mais ou menos anónimos, a anunciar desgraça e a tentar denegrir a figura do Santo Padre. Mas o Papa, de forma genial, calou-os a todos e hoje já quase não se ouvem. A receita foi simples. Francisco concentrou-se na sua missão, concentrou-se na Igreja e em quem ela deve servir e deixou os outros senhores a falarem sozinhos ou uns com os outros que é quase a mesma coisa. E o que era suposto ter sido um bruá universal, transformou-se numa pífia, envergonhada e rapidamente auto-silenciada tentativa gratuita de denegrir uma pessoa só porque sim.

Num segundo movimento, também ele muito perspicaz, o Papa decidiu, e bem, mostrar ao mundo ao qe vinha e decidiu fazê-lo de forma célere e inequívoca. Quebrou protocolos e arrasou formalidades. Viajou no autocarro comunitário em vez de usar o PapaMobile (este nme sempre me fez lembrar o Batman…), olhou os fiéis nos olhos e desejou-lhes um bom Domingo e um bom almoço, assumindo claramente que estas coisas do espírito não se separam das do corpo, anunciou uma igreja pobre para os pobres, em coerência assumiu o nome de Francisco e esclareceu porque era o de Assis e não o Xavier, foi bem humorado com cardeais e fiéis, dispensou os seus seguranças para abraçar pessoas que entravam para a missa e cumprimentou-as, todas, à saída. Consciente do sofrimento dos carenciados e, porque não assumi-lo, do poder de uma imagem, prostrou-se diante de uma criança com deficiência e beijou-lhe os pés.

O Papa Francisco é um homem, mas não é um homem qualquer. É um homem igual aos outros todos!

Assumiu a humildade como orientadora da sua ação e conduz a Igreja, para já, de forma pragmática e simples na direção do seu povo. É um comunicador nato. E tudo muda quando à frente de uma instituição está alguém que, além de saber comunicar, percebe o valor primordial e a importância da comunicação.

Resta-nos desejar que seja coerente, que mantenha esta linha de ação, e que continue a mostrar a todos quantos lhe chamaram velho que é muito mais jovem do que eles. Ainda sorri. Ainda Crê. Ainda quer. Oxalá possa!

jpv


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Crónicas de Maledicência – O Salário Mínimo

Crónicas de Maledicência – O Salário Mínimo

António Borges, consultor do Governo, disse e defendeu que “o ideal era que os salários descessem”.

É claro que não se referia ao seu, que é de milhares, é claro que não se referia aos dos gestores das empresas, dos Bancos, das PPP, dos institutos, dos tipos que, como ele, não têm quaisquer problemas financeiros nem estão a pagar a crise que não criaram. Borges referia-se ao salário mínimo que é um dos mais baixos da Europa.

Ora, eu nem vou pela argumentação fácil, ainda que verdadeira e pungente, de dizer que as pessoas já estão em dificuldades, algumas em rutura, outras em miséria, milhares a fugir do país, sim, porque o que está a acontecer não é imigração, nos dias que correm, os portugueses fogem de Portugal e não o fazem porque queiram, fazem-no porque são perseguidos dentro do seu próprio país. Eu nem vou dizer que é uma imoralidade e de uma total falta de ética baixar os vencimentos dos que ganham menos. Eu nem vou perder tempo a demonstrar que há outros caminhos para combater o desemprego, isso é tudo fácil.

O que venho trazer-vos, a propósito das declarações do senhor conselheiro, é um raciocínio sobre os efeitos diretos de uma tal medida. E o raciocínio é este. Nós, humanos, somos defensivos por natureza, autoprotegemo-nos e somos umbilicais porque é esse o segredo de termos sobrevivido num Universo agressivo e com diversas outras espécies concorrentes. Nessa medida, só uma pessoa muito ignorante, muito ingénua ou muito mal intencionada é que se atreve a acreditar que baixar o salário mínimo aumentará o emprego. Efetivamente, os empresários, quando puderem pagar menos pelo salário mínimo, tendo em conta a crise em que o país vive, não vão contratar mais pessoas, vão é reduzir os vencimentos dos empregados que já tenham e, assim, a medida transforma-se em mais um mecanismo de defesa e poupança daqueles que já têm muito e transforma-se em mais uma atitude de violência e agressividade para com um povo que está já desgastado não obstante a forma cívica e estóica como tem aceitado a austeridade. Isto é básico. E Borges só não vê isto, ou não quer ver, porque se está a defender. Afinal de contas, todos sabemos de que lado da barricada é que ele está!
jpv


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Crónicas de Maledicência – Tudo ao Contrário

Crónicas de Maledicência – Tudo ao Contrário

Serei breve. Não há razão para ser longo. Nem matéria.
Não admira que o nosso país esteja em crise. Está tudo ao contrário!

Barack Obama anunciou hoje ao mundo o seu novo Secretário de Estado da Energia, o homem, nas palavras do presidente de uma das maiores economias do mundo, que irá relançar a economia dos Estados Unidos da América. Até aqui, nada de novo. Nos EUA fabricam-se heróis a uma velocidade estonteante. Mas, já repararam no apelido do novo secretário de estado? Isso mesmo. Ernie Moniz é português! OK, está bem, sejamos rigorosos, neto de portugueses. Isso não interessa nada. O que interessa é que os genes, o sangue, o ADN do homem que vai salvar a economia dos EUA são portugueses. Como é que o nosso país não há de estar na mó de baixo? Nós produzimos os genes do tipo que vai tirar a maior economia do mundo da lama, mas depois não conseguimos que o tipo salve a nossa própria economia que, ainda por cima, deve ser mais fácil de salvar. O tio Gaspar, quando ouviu esta notícia, deve ter pensado, Que jeito me dava o Ernie aqui em Portugal. Pensou ele e pensei eu…

Claro que houve logo umas más línguas a dizer que o Ernie era conservador e não servia para o lugar. Tudo inveja. A mim, deixa-me orgulhoso ver tanta qualificação portuguesa a ter sucesso lá fora. Por exemplo, na Casa Branca há quase mais portugueses do que americanos. Ele é o Secretário de Estado da Energia, ele é o Diretor de Marketing, ele é o motorista não sei de quem, ele é o cão. Sim, o cão. De resto, se um cão português pode trabalhar na Casa Branca porque é que não pode um secretário de estado?

Eu cá, se mandasse alguma coisa, repatriava o cão e o Secretário de Estado da Energia e obrigava-os a salvar Portugal primeiro. Em troca, devolvia aos americanos esse tipo que matou por lá umas pessoas, refugiou-se no Algarve e nunca mais quis saber do tio Sam para nada. Eu não digo que está tudo ao contrário? Os criminosos vêm para cá. Os salvadores de economias vão para lá. Eles, e os cães!

jpv