Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Crónicas de África – Oriente

Oriente

Maputo, 19 de setembro de 2012

Hoje vivi um dia com diversas marcas orientais. O Marco, mais uma vez, perdeu uma manhã connosco à procura de alojamento. Numa das deslocações que fizemos, percorremos a avenida marginal na sua íntegra. A maré estava baixa. Havia uma imensidão de areia até se ver o mar. Grupos de pessoas completamente vestidas avançavam pelo areal dentro até chegar ao mar e entravam pela água vestidas, outras ficavam para trás e abriam os braços levantando a cabeça ao céu, outras sentavam-se no chão com as pernas abertas em V, outras ajoelhavam-se e dobravam-se como se beijassem o chão. Todas oravam. Informaram-me depois que não eram só muçulmanos procurando o Oriente, aqui o mar está virado para Oriente, eram também pessoas rezando à Deusa do Mar. O Imenso areal ficou ponteado do colorido das roupas, prenhe de fé.

As procuras foram infrutíferas, até que nos lembrámos de revisitar a primeira casa que tínhamos visto há uns dias atrás. Quando lá chegámos, percebemos logo que tinham sido feitas melhorias, limpezas, iniciei o negócio, o futuro senhorio não complicou, mostrou-se um homem simples e prático, com disponibilidade para nos colocar confortáveis. Eu não compliquei, não fiz exigências absurdas. No fim de fecharmos negócio, perguntei-me por que raio perdi tantos dias à procura de casa se a primeira era a melhor. O Marco acertou em cheio, Foi para não ficares com os ses na cabeça. Além do que seis dias para encontrar uma casa nesta grande urbe parece não ser muito tempo. Há quem demore meses! A casa é muito boa. Tem muita luz, uma varanda, todas as divisões necessárias incluindo um escritório e está equipada e mobilada quase na totalidade. E também ela teve o seu toque oriental. Eu vestia uma camisa de manga curta, o verão anuncia-se e o dia esteve a rondar os 30º, calças de ganga e sapatos. Ele calçava uns chinelos e tinha uma enorme túnica branca como veste. É muçulmano. E de repente, sou um europeu que trabalha em África e tem um senhorio muçulmano. O M. é uma pessoa serena e honesta. Perguntei-lhe se podia ter um cão. Ele respondeu que sim, a partir do momento em que aluga a casa, a responsabilidade pelas impurezas não é dele, mas agradeceu o facto de eu ter perguntado. Até ao discutir valores imperou o bom-senso de ambas as partes. Bom-senso aos preços de Maputo, entenda-se.


E assim, a primeira grande dificuldade está superada. Com a ajuda dos nossos primos, do tio e dos colegas que queriam ver o problema da nossa instalação resolvido. Sábado é dia de mudanças…

jpv


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Crónicas de África – O "Chapa"

O “Chapa”

Maputo, 18 de setembro de 2012

O dia começou às seis e teve um pequeno almoço muito europeu, Pão de Deus com fiambre e queijo e um café duplo na pastelaria Pérola. Além de ser muito confortável no interior, tem uma esplanada bem simpática pela profusão de plantas e árvores.

Depois, visitámos um conjunto de casas. Gostei em particular de uma por causa de uns enormes janelões envidraçados a rodeá-la. Como não chegámos a acordo, tudo porque as senhoras dão importância a coisas como o tamanho das cozinhas, continuámos a visitar. Tivemos uma interessante reunião de negócios com o senhor Bispo da Igreja Luterana, mas ele teima em não avançar com a colocação do telhado. Acha que aquela aguinha não tem importância. É pena, era a melhor de todas as casas que vimos.

Almoçámos junto ao mar, no Clube Naval, e a qualidade da refeição, bem como do serviço, foi muito boa e a um preço bem acessível, tendo sempre em conta que qualquer restauração em Maputo é cara. Quer dizer, adoro comprar fruta na rua e isso não é caro além do que a fruta aqui tem uma intensidade fantástica no sabor. Apostámos na massada de camarão que eu batizei lautamente com as malaguetas migadas. Cantámos os parabéns ao Marco e à Sandrine que fizeram anos de casados.

As aulas correram bem. Começo a conhecer muito bem os miúdos a perceber a capacidade de resposta deles. Tratei de mais alguns assuntos de trabalho e saí para a rua com o meu tio Zé que vive aqui há dezassete anos e desde ontem que anda connosco de um lado para o outro também a tentar encontrar alojamento. Terminámos a tarde fazendo mais uma visita através de um contacto de uma colega da escola. Começo a ficar cansado desta tarefa. 
Embora a adaptação esteja a correr bem, começa a ser cada vez mais importante encontrar um local onde assentar e poder organizar o quotidiano.

Maputo está povoada de uma imensidão de aves. Rouxinóis, uns pássaros de porte mediano, cauda comprida e popa, corvos de gola branca e corvos comuns e, a emoldurar a cidade, vão-se encontrando aqui e ali belíssimos pavões.

Hoje presenciei um momento interessante. A cidade está povoada de “Chapas”. Um “Chapa” é um 
táxi não registado, penso eu, e é o transporte mais barato que se encontra em Maputo. Um homem compra uma carrinha Toyota Hiace, sempre estas e a razão é simples, aguentam tudo, e depois ganha a vida a transportar pessoas. O curioso é que nos nove lugares da carrinha viajam com frequência vinte ou mais pessoas. Já vi uma tão cheia que a porta, de correr, não fechava. Então, o viajante do banco da frente esticou o braço para trás e garantiu que ela não deslizava durante o percurso. Às vezes também vão pessoas lá dentro com partes do corpo cá fora, o rabo, por exemplo! Pois, e nada de arrogâncias europeias, caros amigos, porque nos últimos dois anos fiz viagens de Metro em Lisboa onde os pezinhos quase não iam ao chão. Enfim… durante uma boleia que nos deram, parou ao lado do nosso carro um “Chapa” carregado de gente, o passageiro da frente baixou o vidro e falou com a pessoa que nos conduzia. O diálogo foi mais ou menos assim:
– Eh, manda aí cinquenta meticais…
– Olha lá e porque é que eu te hei de dar 50 meticais?
– Ora, eu peço, tu dás!

E pronto, à falta de melhor justificação, a franqueza pura e dura também serve. No fim do episódio, a pessoa perguntou, Então ainda muito assustados? E nós respondemos quase em coro, Não, nós gostamos disto!

África é assim, estranha-se e… entranha-se!
jpv


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Crónicas de África – O Local de Trabalho

O Local de Trabalho

Maputo, 17 de setembro de 2012

Por razões de ética profissional não revelarei nunca nada acerca da vida interna do meu novo local de trabalho, a Escola Portuguesa de Moçambique (EPM-CELP) e penso que os leitores compreenderão isso com facilidade. Contudo, há aspetos genéricos que impressionam qualquer alma que ali trabalhe e que posso dar-vos a conhecer.

A receção foi muito afável e acolhedora. Quer a direção, quer todos os outros colegas tiveram o cuidado de nos integrar no trabalho e no ambiente da escola e até ajudar em assuntos paralelos. A escola é um mundo de uma multiculturalidade transversal assombrosa. As crianças gostam da escola e a diversidade social, cultural, étnica, religiosa é tão vasta que ensinar se torna um desafio muito interessante e difícil, mas, ao mesmo tempo, não tenho dúvida alguma de que será recompensador.

A Escola tem excelentes condições, está muitíssimo bem equipada e muitíssimo bem organizada. Dá gosto.

Como o mundo é pequenino reencontrámos uma colega de curso, ou seja, uma amizade com cerca de 25 anos. Isto ainda facilitou mais a nossa entrada na escola. Agora será necessário dar tempo ao tempo e esperar que, para além dos contactos iniciais, se inicie a nossa apropriação dos mecanismos e dos ritmos da escola.

Para já, o local de trabalho foi o ambiente mais fácil de integrar no nosso dia. Ou seja, uma vez professor… professor para sempre e acredito que em qualquer lugar. 

Aproveitamos para agradecer pela receção caso, entretanto, descubram aqui o cantinho.

Amanhã, voltaremos a visitar casas. É uma tarefa muito difícil encontrar alojamento. De momento, a casa de que mais gostámos seria perfeita se… tivesse telhado! Oops!
jpv


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Crónicas de África – Meio Dia às Dez

Meio Dia às Dez

Maputo, 17 de setembro de 2012

À hora em que vos escrevo são exatamente dez da manhã e já vivi meio dia de trabalho. Levantámos às seis o que não foi particularmente cedo. Duche, vestir e pequeno-almoço. Caminhada no bairro da Polana, avenida Eduardo Mondlane e Armando Tivane e, salvo erro, 24 de Julho. Comprei 200 meticais de telefone numa esquina, 3 pães e uma água.

A cidade estava fresca e havia aquele movimento do despontar, mas às sete já tudo estava aberto e a funcionar. Cheguei um pouco antes das oito à residencial e tenho estado a estudar e a preparar aulas! Agora vou ver uma possível casa para arrendar e depois… escola: meu Deus, que saudades eu tinha da escola!

Até já!

jpv


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Crónicas de África – O Primeiro Impacto

O Primeiro Impacto

Maputo, 16 de setembro de 2012.

Chegámos na sexta-feira, 14 de setembro, e só hoje, domingo, consigo escrever duas linhas sobre essa chegada e a razão é simples. Foram dois dias e meio absolutamente alucinantes, divididos entre conhecer uma cidade que é um universo onde coabitam vários mundos, aprender onde ficam os locais básicos de suporte de vida, procurar alojamento e… preparar as aulas para amanhã. Nada de mais, portanto!

Fomos recebidos pelos nossos primos, Marco e Sandrine, que nos ofereceram transporte e serviram de guias nos mais diversos aspetos. Há milhares de coisas novas para aprender.

Não farei juízos de valor. Apenas relatarei o que vi, ouvi e senti.

A cidade é fantástica e está repleta de assimetrias, há tanto para reter e para contar que não sei mesmo por onde começar, mas sei que me vou esquecer de alguma coisa. É simples, não é contável numa crónica tudo o que se viveu nos últimos dois dias. Quem entra em Maputo precisa imediatamente de saber quanto vale um euro em dólares e em meticais, quanto vale um dólar em euros e em meticais e quanto vale um metical em dólares, em euros e, já agora, em rands. A nossa referência é o euro, em Maputo o referente para tudo é o dólar, mas a moeda com que se transaciona é o metical. De repente damos connosco a perguntar, Ele quer oito mil em quê? 

Na capital moçambicana encontram-se áreas de grande cosmopolitismo e evolução tecnológica como em qualquer grande capital do mundo e, lado-a-lado, meia dúzia de metros à frente, para lá de um simples cruzamento, uma zona completamente tomada pelo caos e pela desorganização. As estradas são disso um bom exemplo. Podemos ir a circular numa avenida que termina de repente e fica só uma estrada de terra. Nota-se, contudo, que há obras de restauração por todo o lado e a cidade está a progredir e a melhorar as suas infraestruturas. Há mercados a fervilhar de gente e movimento, lojas para tudo, pneus, colchões, roupa, calçado, frutas, tubos de escape, tudo, porta com porta, não sei mesmo como se sabe o que é de quem. Vendem-se cargas de telemóvel em raspadinhas, compramos duzentos meticais de chamadas numa tira de cartão que se raspa e aparece um código que se insere e a verba é creditada no nosso número. A oferta de habitação é muito heterogénea! 
E caríssima! Um apartamento t2 pode custar entre 1500 e 2000 euros/mês. Uma casa, por exemplo t3, pode custar entre 3000 e 4000 euros/mês.   Tanto há casas muito bem equipadas como, ali ao pé, nos mostram uma casa sem telhado como se estivesse tudo bem, Não há problema, hei de fazer… A restauração é boa, mas cara. No âmbito dos eletrodomésticos, há de tudo em Maputo, mas também é caro. As pessoas são muito afáveis, muito simpáticas e sempre prontas a ajudar. Umas fazem-no só mesmo para serem simpáticas, outras esperam algo de volta… dá-se… facilita-se a vida a quem nos rodeia e quem nos rodeia facilita-nos a vida a nós! Sinto a população, em geral, mais autónoma, menos presa a regras e a preconceitos do que no nosso país. Aqui, coabitam nas ruas grandes comunidades de etnias e religiões diferentes. Os moçambicanos são, claro está, a maioria, mas mesmo entre eles há católicos, protestantes, adventistas, islâmicos… Há comunidades portuguesas, francesas, sul africanas, hindus, islâmicas, americanas, etc… etc… etc… E há templos para todos os credos, e restaurantes e mercearias para todas as comunidades. E há este ritmo africano de fazer as coisas sem stressar. Não sei bem, ainda é muito pouco tempo, mas os portugueses parecem-me os mais inquietos…

Para já, sinto um misto de preocupação por haver tanto para aprender e fazer ao mesmo tempo que se aprende e aquele entusiasmo que é recomeçar a vida. Ainda por cima, fazendo-se aquilo de que se mais gosta.

Termino estas linhas com a sensação de que não disse nada. Tantos pormenores ficaram para trás. Alguns, preciso regurgitá-los. Outros, preciso confirmá-los. Outros, não contei ainda por prudência, porque acabei de chegar e ainda não sei bem do que estou a falar. Uma coisa é certa, desenrola-se na nossa frente uma aventura fantástica, numa cidade fantástica que é capital de um país maravilhoso, a fervilhar de gente simpática e oportunidades!

jpv


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Crónicas de África – Um Dia Especial

Um Dia Especial

Joanesburgo, 14 de setembro de 2012

À partida parece um aeroporto como qualquer outro, mas hoje para mim não é. É o ponto mais a Sul do Globo em que alguma vez estive e tem marcas culturais próprias. Passear no aeroporto de Joanesburgo é como andar numa daquelas grandes lojas de artesanato africano, mas em tamanho mega. As representações dos animais selvagens estão por todo o lado, o falar das pessoas é absolutamente impercetível e tem aquele ritmo bailado de África. Houve outra curiosidade que me chamou a atenção: do imenso quadro eletrónico com voos e portões de embarque só consta uma cidade europeia, Londres. Todas as outras são cidades do imenso continente selvagem. Um euro vale cerca de dez rands e as pessoas são simpáticas, mas nem todas têm um ar simpático e aberto. Olhando à minha volta a única coisa que sinto é que, onde quer que estejamos, estamos muito longe de casa.
Estou de volta a África. Trinta e seis anos depois da última vez em que respirei o ar desta terra. Quando saí do avião e pisei o chão, não senti nada de especial a não ser que esta era a terra do passado do meu pai e, quem sabe, um dia, a terra do futuro do meu filho.

O voo de Lisboa para Londres foi tranquilo. As duas horas do costume. De Londres para aqui foram dez horas cansativas, mas confortáveis. A South African Airlines esteve bem no serviço, na qualidade da alimentação e na atitude da tripulação, sempre muito atenciosa. Além disso providenciou uma série de comodidades que ajudaram a passar as dez horas.

Daqui a cinco minutos vamos embarcar para o último troço da viagem. Falta só uma hora. Falta uma vida inteira de experiências e aprendizagens. Maputo é já ali. O trabalho, a aventura e o quotidiano africano aguardam. Meu Deus, o que fui eu fazer? Resta integrar-me! Conhecer as gentes, aprender os ritmos e prestar um bom serviço.

Amanhã começa outra luta: é preciso encontrar alojamento. Até já!
jpv


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Notícias e Agradecimento

(Maputo, Avenida Marginal)
Caros Amigos, Leitores e Familiares,

Chegámos. Depois de uma viagem longa, 19 horas, mas confortável, cá estamos. Saímos às 15h do dia 13 de setembro, de Lisboa, chegámos às 17:30 a Londres donde saímos às 19h. Por pouco, muito pouco, não perdemos este avião. Chegámos às 5:30 da manhã do dia 14 a Joanesburgo donde saímos às 10h e aterrámos em Maputo às 11h.

Muito boa receção com toda a gente a querer ajudar, mas, efetivamente sou forçado a distinguir alguém e faço-o com grande sentido de reconhecimento. Aos nossos primos Marco e Sandrine agradecemos a receção, a imersão na grande cidade que é Maputo, os ensinamentos sábios acerca das coisas mais básicas e também as mais complexas que eles nos deram entre ontem e hoje. Sem a ajuda deles, o apoio na mobilidade, nos contactos e na adaptação aos hábitos, teríamos a tarefa de integração e adaptação muito complicada. Assim está a ser fácil. Quer dizer, mais fácil…

Farei as “Crónicas de África”, para já, importa dizer que as gentes são muito simpáticas, que tudo é novo e entusiasmante, que estamos a renascer e a aprender a viver outra vez! É fácil gostar de África! Vir para África não é como visitar uma cidade europeia em que vemos coisas diferentes mas mantemos o estilo de vida. Aqui a VIDA, os hábitos, as práticas e, sobretudo, os conceitos são mesmo diferentes! Conceitos como o tempo, a distância, a posse, a transação, tudo isto muda!

Falar-vos-ei de tudo, mas agora preciso trabalhar e, fundamentalmente, preciso de me instalar e essa tarefa não é nada fácil!

Obrigado por todas as mensagens de e-mail e comentários de comunhão e encorajamento… vou contar-vos tudo com pormenor e, claro, escrever muita poesia e publicar o romance em curso, “A Paixão de Madalena”, em que tenho avançado no manuscrito.

Um abraço a todos e voltem sempre.
jpv


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Crónicas de África – Antes de África

Antes de África

Zibreira, 12 de setembro de 2012.

Pois, não é lá muito normal escrever uma crónica de África na Zibreira. Acontece que, bem vistas as coisas, a vida não é nada normal. Apresenta-se como se apresenta e nós, depois, na nossa pequenez, fazemos os juízos de valor e até inventamos conceitos impossíveis. Como o da normalidade, por exemplo.

Amanhã parto para África. Isto tem matizes diversos. Eu nasci em África, vivi lá oito anos, regressei há trinta e seis e amanhã é o dia de regressar. Este é um matizado especial. Um outro é a expectativa que familiares, amigos e colegas de lá têm manifestado. Toda a gente quer ajudar. Ainda não fui, mas os ventos africanos parecem já estar entrando na minha vida. E fazem promessas bonitas, Vem, vem, vais adorar, Isto aqui é a tua cara, Não precisas trazer boa disposição, há cá muita… assim se cumpram. E há um matiz de entusiasmo, as roupas pela cama, as malas abertas comendo o conteúdo e barrigudas de demasiado cheias, abri-las e deixar ficar aquilo que não era tão essencial assim, os alunos esperando. Dar aulas é sempre dar aulas, milagre ímpar, mas antecipo que o facto de serem outras terras e outras gentes traz também suas mudanças e suas aprendizagens e, claro, isso entusiasma. É um fervilhar de emoções…

E há tristeza. Lágrimas incontidas na noite. A mãe que fica, a mana, sim a deste blogue, a cunhada e o cunhado, os sogros, os tios, os primos, os amigos, a nossa casa, nosso lar, e essa falta, esse peso no peito que é deixar o menino para trás. O menino tem vinte e dois anos, feitos ontem, é um homem, o menino. Mas, se fosse ele a partir, acho que não me doía tanto. É natural os filhos buscarem vida. Partir eu e deixá-lo para trás implica dúvidas e dor e saudade antecipada. Espero que essa África de coração grande ajude a sarar estas feridas que agora se abrem.

Mas esse continente já se anuncia na nossa vida. E tens de ir não sei onde, E vais fazer não sei quê, E vais adorar isto e aquilo, E os dias são assado, E as chuvas, As estações, E o peixe, e as gentes que são maravilhosas… Sim… Essa África lá longe, hoje, e já tão perto aqui… Essa África de antes de África anda-me entusiasmando, só faltou levar o menino…

PS: Tinhas razão, mamã, um dia ia-me acontecer.
jpv