Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Crónicas de África – Abraços Grátis

Crónicas de África – Abraços Grátis

Maputo, 21 de fevereiro de 2013

Tal como referi no início destas crónicas, não usarei este espaço para falar do meu ambiente profissional. As razões foram apresentadas na altura e mantêm-se. Essa é a regra.

Hoje abro a exceção. Por justificados motivos, acho. No passado dia 14 de fevereiro, o tal dia dos namorados, odiado por uns, amado por outros, quase sempre sempre envolto em polémica e enfeitado com corações e rosas encarnadas, houve quem soubesse, lá na escola, interpretá-lo naquilo que de mais humano, de mais sensível e solidário ele pode ter.

A ideia é confrangedoramente simples. Daquelas que nos põe a pensar, Mas como é que eu não me lembrei disto?, e, contudo, teve um extraordinário impacto.

As colegas do primeiro ciclo, Ana Diogo e Zahirra Amade, puseram em prática, com miúdos do terceiro ano, a iniciativa “Abraços Grátis”.

A criançada fez cartazes e t-shirts com a inscrição “Abraços Grátis” e depois passeou pela escola como uma nuvem de afeto e bem querer e sempre que os miúdos encontravam alguém, era ouvi-los a gritar, com a alegria e genuinidade que se tem aos 8, 9 anos, Abraços Grátis! E corriam para as pessoas a abraçá-las só por que sim. E, num ápice, a escola inundou-se de adultos sorrindo, abraçando e sendo abraçados, numa corrente de afeto e ternura. Os funcionários dos corredores foram abraçados, os do refeitório, os da secretaria, os professores, a direção os outros alunos e tudo fácil, simples, com poucos recursos, mas a transpirar vida e esperança.
Afinal, sem preconceitos, nem pretensiosismos, o dia dos namorados ficou pintado de sorrisos, os nossos corações enamoraram-se daqueles abraços e as crianças mostraram que, não só são o melhor do mundo, como são a sua única e verdadeira esperança.

E porquê uma “Crónica de África”? Porque me parece que as colega sfizeram a leitura perfeita do que é ser professor na EPM-CELP. Conseguiram, a propósito de algo vagamente ou nada relacionado com a Escola, ir ao encontro do espírito alegre, bem disposto e francamente tátil que carateriza a sociedade moçambicana e conseguiram enquadrar na cultura do sorriso uma atividade dos alunos que envolveu toda a comunidade educativa. África, Moçambique, são um pouco isto. Ver muito no pouco, ser naturalmente feliz, partilhar um sorriso, trocar um abraço. Grátis, claro está!
jpv


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Crónicas de África – A Terra do Benfica

Crónicas de África – A Terra do Benfica

Maputo, 11 de fevereiro de 2013

Antecipemos juízos de valor errados: não é o benfiquista que vos escreve, é o mesmo João Paulo de sempre, o das “Crónicas de África”, o escritor, portanto. Equivale isto a dizer que estas palavras procuram, como sempre, a isenção, sem paixão clubística, neste caso.

Maputo é a terra do Benfica. Nunca vi, noutra cidade, como vejo nesta, uma manifestação de simpatia clubística tão acentuada, tão ferverosa.

Por exemplo, em dia de jogo do Benfica, seja ao sábado, seja ao domingo, seja mesmo durante a semana, são aos milhares, os habitantes de Maputo que envergam camisolas do SLB. Antigas, recentes, do equipamento principal, do secundário, genuínas ou falsificadas, tudo o que seja encarnado e tenha um emblema do Benfica serve. É engraçado vê-los atrás das esposas no supermercado, a empurrar o carrinho, é engraçado pararmos num semáforo e o carro ao nosso lado ter quatro homens lá dentro e todos estarem vestidos à Benfica. E eu perguntei:
– Bom dia, então para onde é que vão?
– Vamos ver o jogo! O Benfica é um orgulho nacional!

Esta resposta deixou-me perplexo. Ele disse vamos ver o jogo como se o jogo fosse em Maputo num dos estádios da cidade. E disse “orgulho nacional”. De que nação? Da Moçambicana? Da Portuguesa? Acabei por concluir que era o orgulho da nação benfisquista e a nação benfiquista é multinacional! E depois, à hora do jogo, os bares e os restaurantes que transmitem o jogo numa televisão enchem-se de camisolas do SLB a gritar ferverosamente goooolo!

Tenho de ser justo. Também se veem por cá camisolas do FCP e do SCP, mas o fenómeno não tem, nem lá perto, a dimensão do fenómeno benfiquista. São situações pontuais. Ora, quando joga o benfica, mesmo antes do jogo, ao longo do dia, é impossível atravessar-se uma avenida da cidade, ir a um supermercado, a um restaurante ou a um café sem nos cruzarmos com diversos simpatizantes vestidos a rigor! A cidade pinta-se de encarnado.

Assim, cito aqui uma expressão do meu colega e amigo benfiquista, Francisco Carvalho, sobre haver, ou não, seis milhões de benfiquistas. Diz ele na sua página do Facebook: “Seis milhões? Façam lá o update!”

Se eu pertencesse aos corpos dirigentes do SLB, tratava de premiar os habitantes de Maputo pelo seu inquestionável benfiquismo, nomeadamente, visitando, com a equipa principal, a capital moçambicana com alguma frequência. Assim, podia ser que, um dia, quando me dissessem “Vamos ver o jogo!” estivessem mesmo a dirigir-se para o espectáculo ao vivo e a cores com o clube do seu coração, o tal que é orgulho nacional!

jpv


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Crónicas de África – A Slice of Heaven

Crónicas de África – A Slice of Heaven

Maputo, 5 de fevereiro de 2013

Era fim de semana prolongado. O carro necessitava manutenção. Um familiar e amigo, suporte fundamental na nossa chegada a Maputo, aconselhou uma oficina em Nelspruit. Descobrimos depois que metade de Maputo tinha ido de fim de semana a Nelspruit. Para nós foi óbvio. Juntar a necessidade da manutenção a uns dias de repouso. E foi assim que me pus à procura na web de um local para ficar. Encontrei. Mas encontrei um pouco mais do isso. Um cantinho do Paraíso a onze quilómetros do centro da cidade. O High Hide Lodge.

Pertence ao Norman e à Debbie Smith que têm ali mais do que uma forma de negócio. É onde eles próprios vivem. É um espaço de que cuidam com todo o amor e carinho e a que dedicam grande parte do seu tempo livre. Ideal para quem quer descansar num ambiente idílico. De jardins belíssimos e muito bem cuidados, muito enquadrados com a paisagem natural circundante, o High Hide Lodge oferece conforto, recantos belíssimos, uma piscina feita pelos próprios com um enquadramento delicioso, dezenas de espécies de pássaros, um lago artificial com peixes e a visita vespertina dos kudu, um antílope da zona. O lodge não tem muita oferta, mas isso é um dos seus encantos, uma das razões por que nos sentimos em família e em ambiente privado e acolhedor. Tem duas cabanas em cima da rocha, uma para duas pessoas e outra para quatro, uma tenda em canvas para 4 pessoas e uma casa maior para 6 pessoas. Diversos equipamentos para fazer uma boa grelhada, desporto nacional na África do Sul, e todas as condições para, com ou sem luz elétrica, passarmos uns dias de verdadeiro descanso, alheados de tudo, próximos de tudo. Depois, para o Norman e a Debbie, os hóspedes não são hóspedes, são amigos que estão de visita e é nesse espírito que nos convidam a assistir a alimentar os peixes, a esperar pelos kudu ou a apanhar fruta das árvores para a comermos fresca pela manhã. Se procura agitação, não é o local apropriado, embora esteja perto do centro da cidade. Se, ao contrário, procura relaxar ou levar a sua cara metade para um fim de semana romântico, é que nem hesite, passe pelo site deles e faça uma reserva… pois, a propósito disso, é importante dizer que os preços são muito acessíveis, um pouco abaixo da média praticada por aquele tipo de oferta, pelo menos a avaliar pelos preçários que se encontram na web.

E como há palavras que não chegam, aí ficam algumas das centenas de imagens que captámos no High Hide Lodge.

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Maputo, the 5th February 2013
(This text is not a translation of the above)

The past weekend we met Norman and Debbie Smith, a honest, hardworking couple who offers us a really quiet relaxing lodge with a fantastic  swimming pool and wonderful gardens. It’s a very comfortable and perfectly included in the surrounding environment place. Therefore, I took some time to advise all my friends (sorry guys in Europe, Asia and Americas!) that this is a perfect place for resting or, why not, a romantic time with your partner in the sweet crime of love!
To get to know more about this place, please visit the site of the High Hide Lodge, just 11km away from the centre of Nelspruit, in South Africa, and yet, a perfect slice of Heaven: http://highhide.webs.com/.

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The High Hide Lodge Experience

Casa na Rocha


Lago dos Peixes


Uma das muitas zonas para Grelhadas


Piscina


Escorrega e Piscina


Pormenor dos Jardins


Piscina


A Árvore do “Rei Leão”


Piscina e Escorrega


Piscina e Cascata


Casa na Rocha


Interior de Alojamento para duas pessoas


Entrada


Explosão Laranja


Pormenor de Jardim


Casa na Rocha


Ave no Jardim

jpv


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Crónicas de África – Sem Preconceitos

Crónicas de África – Sem Preconceitos

Maputo, 30 de janeiro de 2013

Hoje, vou falar-vos de um assunto sensível. Acho mesmo que a maioria das pessoas em Maputo, portuguesas e moçambicanas, evita falar sobre ele. Percebo que seja sensível porque mexe com as emoções das pessoas. E com os conceitos. Ora, onde estão conceitos, normalmente, estão também preconceitos. Acontece que tenho sobre o assunto uma visão terna e conciliadora e, mesmo que não tivesse, prometi escrever nas “Crónicas de África” (ver 1ª crónica) sobre tudo o que visse, ouvisse e sentisse.

Moçambique e Portugal são duas grandes nações com uma história construída em comum, com momentos maus e momentos bons, como em todas as relações, mas com uma inexorável consequência: moçambicanos e portugueses há muito que sabem relacionar-se, há muito que se conhecem, há muito que contam uns com os outros e há muito que… se casam!

E arrisco dizer, sem grande margem de erro, que a segunda nacionalidade com que os moçambicanos mais casam é a portuguesa, depois dos próprios moçambicanos, como é natural. Também arrisco que uma grande parte dos portugueses emigrados em Moçambique casa com moçambicanos. Às vezes, à custa do fim de relacionamentos que já existiam e encontram o seu termo por essa razão. É preciso respeitar a dor e o sofrimento dos envolvidos nesses momentos de rutura, mas é igualmente preciso reconhecer, sem preconceitos, que as pessoas mudam e, por vezes, terminam relacionamentos para iniciar outros sendo isso um direito que lhes assiste.

Ora, veio todo este introito a propósito de algo que observo com frequência e que faz parte da abertura e da multiculturalidade da sociedade maputense. Há muitos casais compostos por homens portugueses de idade visível e incontestavelmente superior às mulheres moçambicanas com que resolvem juntar os trapinhos. Não sei, nem me interessa, se casam, ficam em cohabitação, são amigos, companheiros ou outra coisa qualquer. Interessa-me que fazem parte da paisagem e do quotidiano desta cidade. Vemo-los às compras nos supermercados, vemo-los a tomar o pequeno-almoço ao fim de semana pelas pastelarias disponíveis, vemo-los a almoçar ou a jantar nos restaurantes, vemo-los lado a lado dentro dos automóveis, vemo-los a passear pelos jardins e pelas ruas da cidade. Normalmente, transpiram harmonia e bem estar. São homens que nunca casaram, que enviuvaram, que se divorciaram ou que por qualquer outra razão vieram a ficar sozinhos e procuram o conforto e o apoio de uma companheira na juventude de moçambicanas mais novas que sabem percebê-los e preencher o vazio das suas vidas. Olhando para este fenómeno de forma preconceituosa, podemos fazer juízos de valor terríveis, desde a diferença etária, às razões que levaram a tal união. Acontece, caros amigos, que os preconceitos não são bons conselheiros. E a vida torna-se bastante mais honesta e repleta de lisura se olharmos para ela de forma despreconceituosa. E a verdade é esta, nunca nenhum elemento destes casais me pareceu contrariado, e nunca nenhum me pareceu tão jovem e inocente que não soubesse no que estava a meter-se e porquê. E é aqui que eu quero chegar: se as pessoas conheciam os contornos da situação e sabiam no que estavam a meter-se, o resto, o que fica, para mim, para o meu eterno e amanteigado coração de romântico sem emenda, é a experiência casada com a juventude. A perfeita aliança, impossível de alcançar num mesmo corpo por inultrapassável problema da condição humana, vá-se lá saber como é que o Criador não reparou nisso, pode ser alcançada por esta união. Saibam e queiram eles, os elementos destes casais, encontrar a disponibilidade para aprender. Até lá, é vê-los por Maputo, passeando a sua felicidade. Onde ela vai dar, não é problema nosso.
jpv


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Crónicas de África em Imagens – Inhambane

Crónicas de África em Imagens – Inhambane

Maputo, 27 de janeiro de 2013

Situada a cerca de 500km a norte de Maputo, Inhambane sofre, nos dias que correm, com as cheias provocadas pelas fortes chuvas que têm assolado a região. Uma palavra de coragem a todos os que que têm sido atingidos pela tragédia.

É uma localidade de casas baixinhas, uma enorme baía acompanhando o recorte da cidade, praias belíssimas, inúmeras palmeiras de coco e a elegância dos flamingos a marcar a paisagem. Chegámos no dia trinta e um de dezembro, um pouco tristes porque tínhamos esquecido em Maputo três garrafas de “Plexus” rosé, um vinho espumoso produzido no Ribatejo que a Sandra e o Luís trouxeram de propósito de Portugal, por ser bom, por ser da nossa região e… por não haver cá. Como não queríamos festejar a passagem de ano sem bolhinhas nos copos, entrámos no primeiro supermercado que encontrámos em Inhambane, era chinês. Fomos à prateleira dos vinhos e o que é que lá estava? “Plexus”! O que tem de ser, tem mesmo de ser!

Inhambane, Doca.
Inhambane, Doca.
Inhambane
Inhambane
Inhambane
Inhambane, Estátua de Samora Machel.
Inhambane
Inhambane
Inhambane
Inhambane
jpv
Todas as imagens foram captadas
 por mim ou por familiares.


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Crónicas de África em Imagens – Vilankulo

Crónicas de África em Imagens – Vilankulo

Maputo, 13 de janeiro de 2013

Vilankulo fica a cerca de 740km a norte de Maputo. É uma terrinha pequena e acolhedora cuja principal atração é o mar e naturalmente tudo o que se relaciona com ele, nomeadamente, o peixe. Vivo para se observar nas barreiras de coral do arquipélago de Bazaruto que fica em frente, e cozinhado, no prato! O azul das águas e a diversidade da fauna marinha fazem ter vontade de voltar. Já vi o nome da terra escrito de quatro formas diferentes, Vilanculos, Vilanculo, Vilankulos e Vilankulo. Optei por esta última por ser a que está na placa de sinalização à entrada da localidade.



Praia de Vilankulo


Praia de Vilankulo


Praia de Vilankulo


Ilha de Magaruque, Arquipélago de Bazaruto.


Baobab Beach Lodge, Vilankulo.


Ao largo de Vilankulo.


Ilha de Magaruque, Arquipélago de Bazaruto.


Estrada Nacional 1, a cerca de 200km de Vilankulo.


Nascer do Sol na Praia de Vilankulo.


Nascer do Sol na Praia de Vilankulo.


Baobab Beach Lodge, Vilankulo.


Maré Baixa em Vilankulo.


Nascer do Sol na Praia de Vilankulo.


Baobab Beach Lodge, Vilankulo.


Maré Baixa em Vilankulo.


Baobab Beach Lodge, Vilankulo.


Baobab Beach Lodge, Vilankulo.


Hotel Dona Ana, Vilankulo.
Um ex-libris da localidade, agora em requalificação


Praia de Vilankulo.


Ilha de Magaruque, Arquipélago de Bazaruto.


Ilha de Magaruque, Arquipélago de Bazaruto.


Nascer do Sol na Praia de Vilankulo.


Ilha de Magaruque, Arquipélago de Bazaruto.

jpv
Todas as imagens foram captadas
 por mim ou por familiares .


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Crónicas de África em Imagens – Maputo

Crónicas de África em Imagens – Maputo

Maputo, 12 de janeiro de 2013

Caros Leitores e Amigos,

Inicio hoje a publicação de algumas Crónicas de África com poucas palavras. Porque um amigo moçambicano a viver em Portugal, o Jorge, me pediu. Porque diversos leitores sugeriram que colocasse imagens nas crónicas. Como não colocarei imagens nas crónicas por uma questão de princípio, farei algumas só com imagens. A escolha é aleatória, sem qualquer critério que não fosse o de captar alguns dos espaços mais conhecidos. Começo pela Capital. Desfrutem.


Restaurante Mundus, Av. Eduardo Mondlane.

Restaurante/Pizaria Pirata, Polana.


Hotel Polana, Av. Julius Nyerere.


Av. Julius Nyerere.


Museu de Geologia, Av. 24 de Julho.


Restaurante/Pastelaria Cristal, Av. 24 de Julho.


Pastelaria Nautilus, Polana.


Museu de História Natural


Av. 24 de Julho.


Rotunda do Hotel Cardoso


Av. Vladimir Lenine


Fortaleza


Capitania do Porto Marítimo.


Estação do Caminho de Ferro.


Casa Elefante, Av. 25 de Setembro.


Edifício do Café Continental, Av. 25 de Setembro.


Edifício do Teatro Scala, Av. 25 de Setembro.


Jardim do Tunduro


Praça do Município e estátua de Samora Machel.


Bazar, Av. 25 de Setembro.


Catedral de Maputo


Rádio de Moçambique.


 Clube Naval.


Igreja da Polana.
jpv
Todas as imagens foram captadas por mim
ou por familiares enquanto eu conduzia. 
A esse propósito, um agradecimento ao Luís 
pela paciência e disponibilidade.


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Crónicas de África – Dear Velma

Crónicas de África – Dear Velma

Dear Velma,

The moment you started to talk with me, the moment your sweet voice said the word Africa, I couldn’t help recalling Meryl Streep in the role of Karen Blixen saying those wonderful and magic words: “I had a farm in Africa.”

Although we met briefly, our conversation was intense and emotional. I saw in your eyes that unique feeling that we, the Portuguese, call saudade. You had a farm in Africa and a husband that was a young courageous working man and you succeed. Days changed and so did the will of men. And you lost it all. But the thing is that Africa lives in your heart, in your memories and is brought to us by your tender wise words.

The reason I write you today it’s because in spite of all the suffering and doubts, I saw hope in your eyes. I saw the true love for this immense red continent. I saw that you really wanted things to work out well… So, I come to reassure you that everything is going to be ok. Don’t be afraid. You may no longer have a farm in Africa, but Africa is still the farm of your dreams.


jpv


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Crónicas de África – Dias Intensos

Crónicas de África – Dias Intensos

Pilgrim’s Rest, 9 de janeiro de 2013

Os últimos dias foram bastante intensos. De intensidades diferentes. Após nova incursão por terras e mares moçambicanos, com destaque para Vilankulo e Inhambane, resolvemos trazer o Iago, a Sandra e o Luís ao Kruger Park e a uma região denominada de Panorama, na África do Sul.

É claro que parte dessa intensidade se prende com o facto de sabermos que, à medida que os dias passam, se aproxima o momento em que eles, com particular ênfase para o Iago, vão partir.

Não sei se sou eu que exagero neste aspeto, mas a separação de pais e filhos é, para os pais, violentamente dolorosa. Para os filhos também será, mas atenuada pela força e pela energia da juventude.

A visita ao Kruger foi surpreendente. Ficámos no Skukuza Rest Camp que tem condições muito boas e uma vista soberba sobre o rio. A quantidade e a diversidade de aves, répteis e mamíferos que é possível observar em estado selvagem e a distâncias mínimas é entusiasmante. Aves de rapina, um arco-íris de pássaros, crocodilos, leões, elefantes, girafas, zebras, rinocerontes, hipopótamos, búfalos, gnus e toda uma extraordinária variedade de antílopes, donde se destaca o Springbok, são observáveis a meia dúzia de metros com comportamentos genuínos. Um dos momentos mais impressionantes para todos nós foi quando uma manada de elefantes, com mais de sessenta elementos, resolveu atravessar a estrada à nossa frente a não mais de dez a vinte metros. Um espetáculo de cerca de 10 minutos de cortar a respiração. Hoje, pela manhã, assistimos a uma “briga” de dois jovens elefantes que resolveram brincar no meio da estrada. Fosse em estrada asfaltada, fosse pelos trilhos de terra, os encontros e as surpresas foram inúmeros. Quando deixámos o Kruger, já levávamos a vontade de voltar.

A região de Panorama é montanhosa, verdejante, fresca e abundante em cursos e quedas de água altíssimas e de rara beleza. Visitámos a localidade de Graskop. É uma terra pequenina, com as casas baixinhas e em madeira. Parece que, a qualquer momento, vão surgir numa esquina cowboys montados a cavalo. Aqui produzem-se sedas e a especialidade da terra são as panquecas que nós comemos no emblemático “Harrie’s”.

Ao longo do caminho, parámos diversas vezes para ficar a observar paisagens imensas, intensas, de recortes quase impossíveis. Grandes vales, rochedos suspensos, quedas de água com várias dezenas de metros de altura. Estivemos em The Pinnacle, em God’s Window e em Wonder View. Visitámos as Lisbon Falls, as Berlin Falls e as quedas de água de Bourke’s Luck Potholes e demos um refrescante mergulho nas Mac Mac Pools, umas piscinas naturais no leito de um rio que desce a montanha em sobressalto. Por fim, dirigimo-nos para Pilgrim’s Rest. A cidade não existe. Quer dizer, ela existe, mas não é deste tempo. É uma autêntica visita ao passado, o regresso ao século XIX e à época da corrida ao ouro. Todas as casas estão preservadas e o mais possível mantidas no seu estado original. São construções em madeira com telhados de zinco, alpendres em madeira e todos os placares a anunciar um negócio reproduzem o estilo da época pelo que são em madeira com as letras e gráficos pintados à mão. As bombas de gasolina imitam as do início do século XX. Ficámos hospedados no “Royal Hotel”, também ele repleto de História e histórias. É um edifício em zinco por fora e todo forrado a madeira por dentro. As paredes dos quartos estão forradas a papel com motivos florais e os cortinados são daqueles antigos e pesados com os mesmos motivos. há quadros da época com cenas dos mineiros, dos garimpeiros e de caça. As camas são em ferro, os lavatórios são armários em madeira e as banheiras são em latão com aqueles pés curvos a suportá-las. Todos os candeeiros imitam a iluminação a petróleo. A sala de estar onde agora escrevo estas linhas é um imenso salão com vários conjuntos de sofás em tecidos estampados e naperons de renda a enfeitá-los. Não há televisão, nem mini-bar, nem ar condicionado nem serviço de quartos. De propósito. Há livros, uma luz amarelecida por todo o hotel e inúmeras ventoinhas de teto com as pás em madeira. O restaurante parece um saloon tirado de um filme do John Wayne. Tudo isto transpira uma ambiência vitoriana com um toque de faroeste e é quase impossível esquecermo-nos de que já passaram mais de cem anos.


Sim. O nosso filho parte em breve, mas ficam memórias comuns insubstituíveis. Memórias como a da conversa com Velma que contarei um dia destes. África surpreende-nos a cada dia, a cada quilómetro percorrido, a cada localidade visitada. Apetece ficar!

jpv


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Crónicas de África – Road Trip Maputo-Áustria-Suíça e Volta

Crónicas de África – Road Trip Maputo-Áustria-Suíça e Volta

Maputo, 29 de dezembro de 2012


O título desta crónica pode causar algum estranhamento. Se o fizer, fiquem os amigos leitores sabendo que a intenção foi precisamente essa. Tratou-se, de facto, de uma viagem de carro que durou alguns dias pelo que chamar-lhe Road Trip não é totalmente desadequado. A designação do percurso, Maputo-Áustria-Suíça e Volta, é que pode ser mais discutível. Literalmente falsa, mas metaforicamente correta. O trajeto real foi de Maputo para o Hlane Park, na Suazilândia, depois em direção à segunda cidade do pequeno reino suazi, Manzini, e por fim direito à Capital, Mbabane. Este troço entre Manzini e Mbabane é composto por uma estrada de asfalto cortando a montanha verdejante onde as vacas pastam e enfeitam a paisagem. Nem parece África. É uma paisagem evocativa da Áustria que em tempos visitei. Quando passámos a fronteira, entrámos na África do Sul pela Reserva Natural de Somgimvelo que cruzámos de ponta a ponta pois percorremos aquilo a que os sul-africanos chamam de “Genesis Road”. É um extensíssimo e muitíssimo denso bosque de pinheiros nórdicos, uma paisagem completamente verde, a estrada subindo e descendo emparedada entre montanhas e árvores. É sombrio e fresco. Não fossem os babuínos que por vezes se atravessam na estrada, dir-se-ia estarmos a cruzar os Alpes suíços. O percurso termina em Barberton que reclama para si o título de Berço do Mundo porque está rodeada das mais antigas montanhas do mundo onde estão, também, as rochas expostas mais antigas.

Foram dois dias completamente diferentes na medida em que se perdeu a paisagem tipicamente africana e se entrou num ambiente alpino. Quase deu a sensação de termos saído de Maputo, cruzado a Áustria, a Suíça, e regressado, dois dias depois, à Capital Moçambicana. É a diversidade africana a manifestar-se também na paisagem.
jpv