Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Crónicas de África em Imagens – Maputo 2

Crónicas de África em Imagens – Maputo 2

Maputo, 5 de maio de 2013

Na secção “Crónicas de África em Imagens” voltamos a Maputo. Com uma diferença. Desta vez não nos interessam tanto os ícones da cidade, os monumentos ou edifícios. Procuraremos mostrar-vos alguns instantes de vida. Com beleza ou com crueza, mas sempre sem preconceitos nem juízos de valor. Estou a gostar desta cidade. Muito. Só não é um amor fácil.


Nascer do sol ao largo de Maputo. Cerca das 5:30 da manhã.
Sim. Nasce sobre o mar! Disse ao condutor do barco que o sol,
em Portugal, nascia sobre terra e punha-se no mar. Não acreditou!

Av. 24 de Julho, umas das principais da cidade. A venda frutas,
legumes, flores, cães, laranjas é comum. O galo… não sei o
que estava ali a fazer, mas Maputo é assim. Imprevisível.
Ziones ou Maziones. Trata-se de uma religião que é um misto
de cristianismo com crenças pagãs. Os seus seguidores veneram a 
Deusa do Mar. Entram com suas vestes pelo mar dentro, sentam-se no areal
e executam rituais tais como o batismo. 

Viaduto de Santos com a Escola Naval ao fundo.
Faz parte do trajeto quotidiano para o trabalho.

As cabras são um animal comum nas avenidas de Maputo.

Já aqui se escreveu acerca da familiaridade com o chão.
Este homem está só na sua sesta depois de almoço.

Este também!

Esta pessoa não está a apanhar a roupa. Está a estendê-la.
E, sim, chove a cântaros. Acontece que a chuvada vai durar uns
minutos e depois tudo secará em pouco tempo…

Pode ser uma peça de museu, mas funciona.

Durante uma chuvada.

Após uma chuvada.
Antes da chuvada, onde está a lama, estava uma estrada.

Não é um buraco na estrada.
É um pedaço de estrada à volta de um buraco.
Este já foi arranjado. Vi vários eixos partidos neste local.

No dia seguinte à chuvada, as terras mudaram-se para a estrada.

A incomparável beleza da Avenida Marginal de Maputo.
É comum, como se vê na imagem, encontrar pescadores
reparando as suas embarcações.

O trânsito de navios de grande porte é quotidiano 
ao largo de Maputo.
Uma recarga de crédito telefónico.
Há milhares de jovens vendendo-as pelas ruas. Há de diversos
valores. No verso, raspa-se uma zona que tem um código que
se insere no telemóvel e já está.
Neste caso, não se trata de uma sesta, mas a consequência
de uma noite de sexta feira muito bem bebida!

A beleza de Maputo vista a partir da Costa do Sol.
Um dos muitos molhes de Maputo. Este tem a particularidade
de ser usado pelos noivos, no dia do casamento, para sessões
de fotos.

A marginal durante a maré vazia.

Maputo tem assimetrias brutais. Ao mesmo tempo que se veem
circular algumas das viaturas mais modernas do mundo, há
quem tenha um camião abandonado por casa e um pneu
por cama.

Poloni num passeio matinal pela maré vazia.

A piscina do Clube Marítimo. A paisagem é particularmente
agradável por estar projetada para o mar.

A Avenida Julius Nyerere é uma das mais arborizadas da cidade.

Percebe-se porque há tantos carros 4×4 em Maputo.
Conduzir nesta cidade nunca é monótono e exige uma 
atenção constante.

A beleza do enquadramento do Clube Naval.

Pôr do Sol sobre a cidade visto do mar.

jpv
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Foram captadas por mim ou familiares.
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Crónicas de África em Imagens – Na Beira da Estrada

Crónicas de África em Imagens – Na Beira da Estrada

Maputo, 30 de abril de 2013

Caros Amigos e Leitores,

As imagens que agora vos oferecemos não estão subordinadas a nenhuma temática em particular, nem servem para mostrar uma cidade ou a beleza paisagística de uma região.

O que estas imagens têm em comum é a estrada. Foram todas tiradas do carro, muitas delas em movimento, e mostram pormenores da vida africana na beira da estrada. Sinais de trânsito pouco comuns ou inexistentes noutras paragens, meios de transporte, formas de vida.

África, e Moçambique é um exemplo vivo disso, ainda não foi esterilizada pelas autoestradas. A estrada fervilha de gente e de vida. Mesmo num local inóspito, há sempre gente à beira da estrada e quando não há, se paramos, passados alguns minutos, aparecem pessoas à nossa volta. A estrada é viva.

Estas fotos foram tiradas em estradas de Moçambique e da África do Sul nos meses de dezembro de 2012 e janeiro de 2013. Divirtam-se!

Meio de transporte semi-coletivo. É pago.
Todas as pessoas à volta da carrinha subiram e viajaram nela.

O mesmo que o anterior, mas coberto.
Este tipo de transporte serve para cobrir grandes distâncias.
Os atrelados são quase tão comuns como os carros.
Há autocarros de passageiros com atrelado!
Todas as vilas e povoações de Moçambique 
fervilham de gente e vida.

Porta aberta? Qual porta?
Não se está mesmo a ver que é um suporte?

Doces, aromáticos e baratos! 
É comum encontrar prédios completamente pintados com 
publicidade à Vodacom, à Mcel ou à Coca-Cola.

Hotel em Maxixe, Inhambane.
Esta alegria e esta simpatia são comuns e 
contagiantes em Moçambique

Iupiii, estivemos lá!
Travessia de quê?
Mas há aqui algum zoo ou quê?

Eh, isto nunca acontece!
Mas este tipo não gosta mais de aguinha e laminha?!
Assim sendo, vendem-se lá sorvetas!
Assim… aqui… de repente… em 50 metros…
não estou a ver… e logo agora que tinha urgência numas fotos!
Vai cansadinho da viagem?
Ó aqui tão confortáveis.

Camineta roubada,

Cordas às portas!

Comum.
De pequenino…

Comum.
E quando passam por nós numa descida a 130 à hora?!
– Quanto vale, mamã?
– 50, papá.
– Cada uma?
– Cada balde, papá!
(50meticais = 1,25€)
O STOP é para o trânsito, não é para o casório!
Felicidades!

Pelas minhas contas, vão três lugares vazios.
A tampa do motor aberta?
Naaa… é o sistema de arrefecimento.

Piri-piri da Tia Rachida… pica que farta!
Olaria tradicional.
Ai andas, andas!
À espera do chapa.
Olha a lenha fresquinha!
Carvão. 
Mercado antigo.
A Coca-Cola é a bebida mais consumida em Moçambique.
A sede acaba ali. Dançámos naquela esquina.

Comum.
De pequenino…
Olhó caju fesquinho!
Em Maputo é caro e aqui fica baratinho!

Não vai mais vinho para a mesa daquela carrinha.
Eixo partido é uma doença comum em Moçambique.

Porque será?

Boa vista!
Vendas na periferia urbana de Maputo.
Vendas na periferia urbana de Maputo.
Comum. Muito comum.
Transporte de minério.

Circular pela berma também é uma simpatia comum.

-Tens algo para vender?
– Sim, tenho algum algo para vender.
– Não vendas aqui nenhum algo que é proibido.
Hã?! Muita informação ao mesmo tempo!
E já aparecem em voo?
Eh lá! Um tradutor de códigos de estrada, por favor!
Hã?! Mas afinal, o carro pode ou não pode usar phones?!
Afinal acontece!
‘Tás cheio de sorte que o tipo não vem fora de mão!

jpv
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Crónicas de África em Imagens – A Rota das Quedas de Água

Crónicas de África em Imagens – A Rota das Quedas de Água

Pilgrim’s Rest, África do Sul, 9 de janeiro de 2013

A província de Mpumalanga, na África do Sul, tem, no seu seio, a região turística de Panorama. As principais cidades são Nelspruit, Barberton, Sabie, Graskop, Hazyview e Pilgrims Rest. À exceção de Nelspruit, que é uma cidade desenvolvida e moderna, as outras são uma espécie de aldeias grandes, de aspeto rústico, sendo que em Barberton, Graskop e Pilgrims Rest estamos sempre à espera que apareçam os cowboys com as pistolas à cintura, montados em seus cavalos.

A paisagem é avassaladora. Composta por montanhas e desfiladeiros, os cursos de água proliferam e rasgam a rocha dando a origem a espetaculares quedas de água. É uma zona verdejante que, precisamente porque tem montanhas, tem, também, esplendorosos vales. Ora, esta combinação proporciona paisagens de cortar a respiração.

A presente nota foi escrita num quarto de recriação vitoriana no Royal Hotel de Pilgrims Rest. Esta cidade parece perdida no tempo. Fortemente marcada pela corrida ao ouro dos finais do século XIX, a sua estrutura e as suas construções mantiveram-se inalteradas. Visitar Pilgrims é como fazer uma viagem no tempo.

Aqui ficam algumas imagens da visita:



Graskop Falls.


Graskop Falls
‘Tá quase…


Graskop Falls
Irreversível.


God’s Window


God’s Window


Lisbon Falls


Berlin Falls


Berlin Falls


LoneCreek Falls


LoneCreek Falls


Bourke’s Luck Potholes


Bourke’s Luck Potholes


Pilgrims Rest


Pilgrims Rest – Royal Hotel En Suite Room


Pilgrims Rest – Royal Hotel Saloon


Pilgrims Rest


Pilgrims Rest


Pilgrims Rest – Post Office


Pilgrims Rest


Pilgrims Rest


Pilgrims Rest – Post Office
Trouxemos a telefonista connosco


Pilgrims Rest – Royal Hotel Living Room
A Dama e o Cavalheiro


Pilgrims Rest – Royal Hotel Living Room


Pilgrims Rest


Pilgrims Rest Gas Station
Funciona mesmo!


Pilgrims Rest – Gas Station


Pilgrims Rest
Reconstituição de Acampamento de Garimpeiros


Mac Mac Falls


Mac Mac Pools


Mac Mac Pools


Mac Mac Pools

jpv
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Crónicas de África – A Avenida da Guerra Popular


(Alex)                                           (Iago)

Crónicas de África – A  Avenida da Guerra Popular

Maputo, 27 de abril de 2013

Foi um namoro difícil. E, mesmo assim, ainda não acabou.
Eu gosto de andar na Avenida da Guerra Popular. Há milhares de pessoas em todas as direções, compra-se e vende-se tudo e mais alguma coisa. Se precisamos de alguma coisa que não estamos a encontrar, aproximamo-nos de uma banca de venda que pode até nem ter nada a ver com o que procuramos, dizemos o que queremos e, em minutos, o artigo aparece. O artigo, ou alguma coisa parecida! E aí é que está o busílis da questão. Em Maputo acontece com frequência não ser o vendedor a adaptar-se às necessidades do cliente, mas o cliente adaptar as suas necessidades à oferta do vendedor.

Há três semanas atrás conheci o Dinis. Pedi-lhe um equipamento do Sporting, tamanho L, para o meu filho, e dois equipamentos do Benfica, deste ano, temanho 3XL, um para mim e outro para o Alex. Ele disse que só tinha o do Sporting. Dei-lhe uma semana para conseguir o que eu queria. A semana  passada tinha o do Sporting e os do Benfica, mas em tamanho L. Lá lhe expliquei que não serviam, eu precisava mesmo do 3XL. Voltei a dar-lhe uma semana e hoje ele tinha o que sempre teve, o do Sporting e do Benfica tinha um 3XL do ano passado e dois L deste ano. Enfim… comprei-lhe o do Sporting e o do Benfica 3XL… É p’ró Alex, o gajo tem de se contentar… ainda por cima é bem giro. Preço em Portugal: 125€. Preço na Avenida da Guerra Popular: 250 meticais que é como quem diz 6,25€. Com etiqueta e tudo! Para a semana ainda lá volto… vi lá uma camisola para o Iago muito gira…

A Avenida da Guerra Popular é uma das mais concorridas e movimentadas de Maputo. É também uma das mais esburacadas. As coisas estão relacionadas, como se compreende. Vende-se fruta, verduras, amendoim, caju,  sapatos, sapatilhas, roupa comum, roupa de noite, roupa de cerimónia, antenas de televisão, cabos elétricos, cabos de vídeo e som, pilhas, baterias, telemóveis, champô, perucas, extensões para o cabelo, unhas, detergentes,  cães, mochilas, capulanas, rádios, pens, etc, etc, etc… não se negoceia a 50% do preço pedido, mas a cerca de 30% do preço pedido. Andar por ali, entre as gentes, perguntado, oferecendo, regateando, comprando, rejeitando, é sentir o verdadeiro pulsar da genuína Maputo. Nunca me senti em perigo, pelo contrário, sempre muito bem acolhido, com toda a gente a querer resolver as minhas necessidades. Um dia destes estava lá e diz o Dinis para um moço atarracado mas de estatura sólida:
– Sai daqui rato grande!
Eu estranhei:
– Oi, que é isso? Porque é que estás a chamar rato grande ao rapaz?
– Ora boss, ele é pequeno para gente, mas é grande para rato!
E pronto. Calei-me. Ou melhor, perguntei:
– Então os meus equipamentos?
– Eh boss, só tenho pequeno… mas olha, anda comigo…
E fui. E percorremos toda a avenida de amigo em amigo até eu estar razoavelmente satisfeito…
– Olha lá, irmão Dinis, donde é que vem este material todo?
– Eh boss, isto vem tudo do Vietnam.
– Então, são cópias!
– Nada boss, isto são cópias originais!

E pronto, contra esta argumentação, há pouco a dizer… é a Avenida da Guerra Popular no seu melhor!


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Crónicas de África em Imagens – Kruger Park

Crónicas de África em Imagens – Kruger Park

Kruger Park, África do Sul, 7 de janeiro de 2013

O Kruger é um dos maiores parques naturais de África. Tem cerca de 400km de comprimento (norte-sul) por 200km de largura (leste-oeste) numa área de quase dois milhões de hectares. A variedade de espécies animais é assombrosa bem como a quantidade das mesmas uma vez que é possível observá-las com relativa frequência.

Tem vários campos para a estadia dos seus visitantes. Há um limite de velocidade de circulação dentro do parque que é de 40km/hora. É obrigatório permanecer sempre dentro das viaturas e os animais têm prioridade de circulação caso surjam na estrada. Ou seja, deve parar-se o caro e esperar que lhes dê na tola a vontade de ir embora! Normalmente, os portões do parque abrem pelas 5:30h e fecham pelas 18h. Estes horários variam de acordo com as épocas.

Ao contrário do Hlane, o Kruger, embora seja muito bom para descansar, apela mais à aventura e à descoberta dos espaços onde se podem avistar os animais. Nós ficámos no Skukuza Rest Camp e, em três dias, tirámos cerca de 3000 fotos! Ou seja, escolher as 32 que aqui apresentamos foi uma dor de cabeça.

Se, por acaso, passar por África, sei lá, ia ali na avenida da Liberdade a caminho do Terreiro do Paço e, de repente, perde-se e dá consigo em África, então não deixe de visitar o Kruger. Aqui ficam as “capturas”:


Este preguiçoso, curiosamente, foi fotografado da “Crocodile Bridge!


Já não há respeitinho nenhum!
A deitar a língua de fora aos visitantes!


Também deves ter a mania que és alto!


– Vamos às compras?
– ‘Bora lá que eu preciso de vegetais.


– Sou muito gira não sou?


– Anda cá, não vás para aí incomodar esses senhores…


– Olha aqui a pôpa do je!


Um dos símbolos do Kruger.
São muito giros, dinâmicos e há aos pontapés por todo o parque.


É raro conseguir apanhá-las poisadas tão perto.


– Eu sou do FCP! Ó p’ra mim tão azulinho!


Momento de rara beleza.
Foto LHBF.


Ainda não amadureceram. Estão verdes!
A posar para a foto.


Outro dos símbolos do Kruger.


A família saiu à rua.
– Espera, mamã, espera!


Espécie rara!


– Ó pá, por acaso ’tás a ver aí alguma passadeira?


Quem é que usou o inseticida para leões?


 Andas com esse mau humor desde que perdeste com o Benfica.


É penalti, é penalti! Está um leão no chão, tem de ser penalti!
Sorna!


Ajoelhou?…


Gosto de teu casaco!


– Eu sou do SLB. Ó p’ra mim tão encarnadinho!


Olha lá não te engasgues.
O springbok é um símbolo do Kruger e da RSA.


– Ó môr, o que é isso aí nos cornos?
– É limpeza automática!


– Cais leão, cais quê? O Rei sou eu. Ó tira lá uma foto, anda!


– Ó querido, és tão retorcido!


Alvo fácil!


Selvagem, eu?
Naaa… até venho aqui ao restaurante beber um cafezinho.


Outro que não atravessa na passadeira.
Ainda venho aqui dar uma formação de prevenção rodoviária.


Quem pode, pode. Quem não pode, espera.
Neste caso, esperámos uns 20 min. que a brincadeira acabasse.


Pormenor do alojamento.


A Coke by the river.

jpv

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Crónicas de África em Imagens – Hlane Park

Crónicas de África em Imagens – Hlane Park

Hlane Park, Suazilândia, 26 de dezembro de 2012

Começámos, em janeiro último, a publicação de algumas “Crónicas de África” com menos palavras e mais imagens. Entretanto, interrompemos devido a razões de ordem diversa, nomeadamente, falta de tempo e prioridades de publicação. Contudo, ficaram algumas coisas por mostrar que, pensamos, valem a pena. Mostrá-las-emos por estes dias.

O Hlane Park (lê-se Chelane) situa-se na Suazilândia. É pequenino, não tem a variedade nem os recursos do Kruger. Simplesmente não é comparável. Mas tem aspetos encantadores. O primeiro deles é ser um parque ideal para repouso. Precisa de dormir, ler, estar em paz e não se importa de tropeçar em alguns dos animais que caraterizam a vida selvagem africana? É aqui. O Hlane tem um restaurante de frente para um enorme lago onde a bicharada vem beber ao fim da tarde ou pela manhãzinha. As cabanas não têm luz elétrica, os frigoríficos, por exemplo, são a gás. Ao final da tarde, os funcionários visitam as cabanas e acendem os candeeiros de petróleo deixando um grande à porta da cabana. Assim, quem vier espreitar a rua pela noite encontra o breu cortado pelas chamas tremeluzindo aqui e ali. É um local simpático, muito bom para descansar e para um primeiro contacto com a vida selvagem.  Para quem se desloca de Moçambique, apresenta outra vantagem, é que a fronteira mais próxima não é a de Ressano Garcia, mas da Namaacha que é muito mais tranquila. Demora 15 minutos a passar para o lado de lá, já incluindo uma conversa com o guarda. Aqui ficam algumas “capturas”:


As boas vindas.
A primeira foto do dia e à chegada foi tirada pelo Iago. Olá!


Fazem-se uns passeios agradáveis nestas coisas.
Uma adaptação do melhor carro do mundo.
Defender way of life.


Quase passava despercebido.


– Ó malta, já saíam daí ou quê?
– Ou quê!
– Pronto, deixem-se estar que a gente espera.


O Iago “à porta” do restaurante.
Já se comia qualquer coisa…


Foto tirada pelo Iago a 5m da criatura.
Deu para sentir o poder!


Olha, como dizia o outro, a avaliar pelas manchas, esta sofre do fígado!


Acolhedor!


Sala de convívio.


Já bebias qualquer coisa…


As horas que eu esperei para este artista sair do banho!
Tinha muito o que lavar, é o que é…


Muito acolhedor…

jpv
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Crónicas de África – Correio Registado

Crónicas de África – Correio Registado

Maputo, 17 de abril de 2013

Aconteceu hoje. Está fresco na memória e por isso escrevo. Não há, da minha parte, nenhum juízo de valor implícito. Há só uma conclusão: África é, efetivamente, diferente de tudo o resto. Os ambientes são diferentes, os ritmos são diferentes, as pessoas são diferentes e, claro, o quotidiano resulta diferente. Há uns dias, lia numa revista sul africana que não há nada igual a África. É bem verdade.

A minha irmã quis fazer-nos um miminho e enviou-nos uns presentinhos assim como quem tenta encurtar distâncias, atenuar saudades. Ainda por cima são coisas feitas por ela. Eu bem lhe digo que ela podia fazer negócio com as coisas que faz, mas ela limita-se a ir vendendo umas peças a amigos. Se quiserem ver mais, visitem a página dela no Facebook, aqui.

Acontece que, para proteger o conteúdo do correio, resolveu registá-lo! Ora pois bem, isto é África, não é a Europa, onde remetemos tudo e mais alguma coisa em envelopes, caixas e caixinhas e ninguém quer saber de nada à custa da livre circulação de bens e pessoas. Aqui, não só se quer saber, como se quer saber muito bem sabido. Ainda por cima, se está registado, o controlo é mais apertadinho. Assim que cheguei aos Correios, mostrei o papelinho que me mandaram para a escola, e disseram-me logo que encomendas não era ali, era noutro edifício. Chegado ao tal edifício, voltei a mostrar o papelinho e vai de me pedirem para me identificar. Foi o que fiz. Ao cabo de meros três minutinhos, a senhora apareceu com a minha encomenda e olhei para ela todo guloso, mas a coisa não ia ser fácil. Eu estava a ver a encomenda. Deitar-lhe a mão é que ia ser mais complicado:
– Senhor João, chegue aqui. Acenou ela com a caixa na mão. E eu, rapazinho bem mandado, cheguei.
– O Senhor João tem de ir na alfândega.
– E onde é isso?
– É aqui nesta porta. E indicou-me o caminho.
Eu entrei. Estavam ao fundo de uma sala enorme quatro agentes da polícia alfandegária, armados, que, durante todo o processo, só olharam. Ao balcão estava uma agente já com alguma idade. Pegou na caixa e perguntou:
-Posso abrir, senhor João?
Eu ainda hesitei… quer dizer, poder, poder, não podia, aquilo era correio privado, mas depois pensei que se lhe dissesse que não, ela ia abrir na mesma e, mais para o fim do episódio, até descobri o que acontece se dissermos que não podem abrir. Pedem-nos a nós para abrir. Ela abriu. Dentro da caixa vinha um saco de cartão fechado com agrafos.
– Posso abrir o saco, senhor João?
Nem respondi. A senhora já tinha aberto a caixa… ela percebeu e de faca em punho abriu o saco que, lá dentro tinha um envelope grande daqueles almofadados. A esta altura, quer os guardas, quer a senhora, estavam mesmo curiosos e à espera de qualquer coisa extraordinária.
– Posso abrir o envelope, Senhor João?
Sorri. Ela abriu. A desilusão foi geral. Afinal, ele era caixas, sacos e envelopes e só lá vinham uns marcadores de livros, uma carteirinha e uma pulseira. Ela olhou para mim, franziu o sobrolho assim como quem diz, Eu não desisto às primeiras, e atacou:
– Isso aqui é uma carteirinha?
– Pois, parece que sim. Também quer abrir?
– Abra o senhor João.
E eu abri e, para desespero geral, a carteirinha estava vazia. Foi então que, no meio dos presentes, surgiu uma folha de papel A4 dobrada e, visivelmente, com coisas escritas lá dentro. Ela deitou a mão à folha de papel e disse:
– Isso aqui é uma fatura?
– Não. Não é uma fatura, é uma carta da minha irmã, é privada e isso a senhora não pode abrir!
Ela percebeu que o caldo estava a entornar e percebeu também que era desnecessário um conflito porque dali não levava nada a não ser artesanato. E foi aí que resolvi testá-la. Como sei que os moçambicanos são genuinamente alegres e bem dispostos, sempre quis ver se aquela capa da fiscal durona que abre tudo resistia a um gesto simpático. E a coisa foi assim: agarrei na pulseira e disse-lhe:
– A senhora ajuda-me a colocar a pulseira? Dizem que as mulheres dão melhor os laços…
Ela largou-se a rir, agarrou na pulseira e enquanto ma atava ao pulso respondeu:
– Ah, o senhor também já ouviu dizer isso. Olhe que é bem verdade, as mulheres, quando dão o laço, amarram mesmo! – E largou-se a rir com a ambiguidade do que havia dito – Uma mulher quando amarra é para sempre, senhor João!
Ri-me com ela. Ela perguntou se podia deitar fora a caixa, o saco e o envelope e eu disse para me dar o envelope e deitar o resto fora. Ela chamou um dos guardas ao fundo da sala e disse:
– Estás a ver esta caixa? Vou deitar fora, és testemunha!
– Estás a ver este saco? Vou deitar fora, és testemunha!
E já tinha vestido outra vez a pele da fiscal.

Despedimo-nos e quando ia a sair, a primeira senhora que me atendera chamou-me:
– Senhor João…
– Sim…
– Tem um papel carimbado da alfândega?
– Tenho sim.
– Pode me dar?
– É todo seu.
– São 120 meticais, senhor João.

E pronto, lá paguei para receber o meu correio. Pedi recibo e fui à minha vida! Claro que não pude deixar de pensar que os procedimentos nos Correios foram semelhantes aos de uma fronteira, o que se entende, mas, admitamos, se estranha um pouco.

Obrigado, Mana, as coisas estavam em muito bom estado como as fotos documentam e o bilhete valeu mesmo a pena ser lido em primeiríssima mão pelos seus destinatários!
jpv

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Crónicas de África – Another Day in Paradise


Crónicas de África – Another Day in Paradise

Nelspruit, 21 de março de 2013

São 20h. Estamos confortavelmente recostados na acolhedora cama da nossa casinha de madeira na rocha. Descansamos de um dia bem passado.

As últimas semanas foram intensas e, por isso, resolvemos visitar de novo os nossos amigos Debbie e Norman do High Hide Lodge. Aqui, consegue-se ouvir o silêncio à noite e, durante dia, o som mais agressivo que existe é o cantar da passarada.

Chegámos na terça-feira à noite e, assim que os cumprimentámos, fizeram-nos um convite com o entusiasmo estampado na face:
– Quinta feira é feriado cá, nós vamos à pesca e queríamos que viessem connosco.
– O vosso convite é muito simpático, mas temo que tenhamos um problema. Nós nunca pescámos nada na vida.
– Mas desta vez pescam. É garantido.

E pronto. Aceitámos a generosidade deles. Fomos na carrinha do Norman. Saímos às 8:30 de Nelspruit e às 9:30 já estávamos nos arredores de Sabie, numa pequena quinta chamada Horse Shoe. Tem um lago central e à volta dele vários pontos de descanso com cadeiras, mesas, grelhador, lenha e todos os utensílios necessários a uma boa grelhada. Podemos levar canas de pesca ou alugar lá. É tudo muito barato. Uma cana de pesca, já com isco, custa o equivalente a 3€/dia. O lago está repleto de trutas salmonadas criadas em cativeiro em represas feitas num rio que atravessa a propriedade. O difícil é não pescar. Sempre que se atira a linha para a água, não se espera cinco minutos para o peixe morder o isco. Depois, é uma questão de jeito, mas toda a gente pesca.

No fim da pescaria, leva-se o balde com o peixe a um balcão onde é limpo, amanhado e pesado e paga-se ao peso. O preço ronda os 7,5€/kg. Apanhámos nove trutas e pagámos cerca de 25€. Grelhámos umas quantas na brasa e as outras foram de imediato embaladas em vácuo para podermos levar para casa.

Fizemos um lume forte, grelhámos ananás e o peixe bem como alguma carne para o Norman que não vai muito à bola com peixe. À volta, uma paisagem verdejante, um sol doirado e pouco agressivo e uma brisa simpática ajudaram a construir um ambiente cordial e tranquilo.

Quando regressámos, sentimos aquele cansaço bom do descanso, de um dia passado entre amigos, pescando e comendo o peixe fresco, acabado de apanhar. Definitivamente, outro dia no Paraíso com os Smith.

Em baixo, algumas fotos a testemunhar um dia bem passado.

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Nelspruit, the 21st March 2013

(This text is not a translation of the above)


For the holyday of the 21st March, our friends, Norman and Debbie Smith, invited us for a fishing day near Sabie. I got suspicious for I have never fished anything in my life. Debbie kept saying it was guaranteed I would fish and she was right. We all end up fishing some very nice, fresh, tasty trouts.

Then, we’ve made a very nice braai and brought home, in vacuum, the fish we didn’t eat there. We had a wonderful day, telling stories, chatting with each other and, of course, fishing and eating the fish we had just caught. The Horse Shoe Farm is a very agreable place to spend a day with friends. The landscape is fantastic and they and they have all the conditions for a guaranteed successful fishing day. Another day in Paradise with the Smiths!


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A Debbie mostra como se faz!

Sorte de principiante ou um talento escondido?

Cá para fora!

Agradável.

Trabalho de equipa ou o professor e a aluna?


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Crónicas de África – Chamego

Crónicas de África – Chamego

Maputo, 28 de fevereiro de 2013
Qualquer texto é subjetivo. Todas estas Crónicas de África vivem da subjetividade da minha própria e pessoal visão em relação ao mundo que me rodeia. Logo, eu acredito no que escrevo mas sei que não estutuo verdades. Enfim, escrevo as minhas verdades. Vem esta introdução a propósito da consciência de que as palavras que se seguem podem estar feridas de imprecisão. Ainda assim, correspondem, rigorosamente, ao que observo.

No que respeita aos relacionamentos entre homens e mulheres, tenho observado algo de muito curioso que, penso, carateriza o comportamento dos moçambicanos e das suas doces moçambicanas. Em relação aos europeus, o povo moçambicano tem uma aproximação muito mais célere, são velocíssimos na palavra, no olhar, na insinuação e fazem avanços e progressos no processo de enamoramento que ultrapassam os europeus de longe em rapidez porque saltam barreiras, não querem saber de preconceitos nem salamaleques. Querem o querem, dizem com o olhar o que querem e concretizam-no em palavras. São fogo os moçambicanos. São brasa ardente as moçambicanas. Envolventes com as palavras, picantes e provocantes com o olhar e rápidos no chamego.

Ora, dito isto, seria de esperar uma atitude mais explícita e publicamente mais visível. Mas não é isso que acontece. São comedidos em público, têm um pudor particular nos gestos e nos atos de afeto que desacelera a impetuosidade do chamego inicial. Considero isto muito curioso, porquanto um homem europeu tem uma série de pruridos na aproximação, tem suas prudências, faz pequenos progressos e leva dias, semanas ou mesmo meses até se mostrar, de facto, interessado. Contudo, uma vez constituído o casal, as manifestações públicas de afeto são bastante explícitas. Abraços, beijos na face, nos lábios e um apaixonado beijo na boca acontecem na rua com facilidade. Eu, que já reparei que o povo moçambicano é muito tátil, nunca vi um jovem casal ir além da mão na mão ou, vá lá, da mão na cintura. E param por aí. Mesmo em situações de festa com etílicos vapores a pairar no ar. Tudo isto é muito interessante uma vez que têm uma expressão corporal muito sensual, a sua forma de dançar é muitíssimo erótica e, contudo, em público reservam-se.

A sedução é fogo. O acasalamento é à porta fechada. Faz sentido. Ora, giro, giro, é ver estas duas matrizes fundirem-se no tempo e no espaço e Maputo, caros leitores, é um espaço e vive um tempo de fusão multicultural, e, como já antecipámos noutros textos, as diferentes culturas que aqui se encontram não andam descompassadas, ai isso é que não!

jpv


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Crónicas de África – Invocação

Crónicas de África – Invocação

Maputo, 24 de fevereiro de 2013

Maputo é uma cidade emergente num país emergente. Percebe-se, pois, que tenha de conviver, no seu quotidiano, com assimetrias e disparidades de hábitos e recursos.

É assim que, na mesma cidade em que a tecnologia cresce e se mostra a cada dia que passa, há, em simultâneo, manifestações dos mais tradicionais e rudimentares processos de vida. Isto não é bom, nem é mau. É uma realidade com a qual a cidade e os seus habitantes se habituaram a viver.

Por vezes, este fenómeno pode ter uma faceta invocativa. E é por isso, por essa deliciosa faceta, que resolvi escrever esta crónica.

Ultimamente, temos feito umas caminhadas a pé cruzando diversas zonas da cidade. Faz-se um pouco de exercício, areja-se o cão e conhece-se mais de perto a urbe que nos acolhe. Ora, nesses passeios, quando passamos à porta das habitações, é muito frequente as nossas narinas serem invadidas pelo agradável e, lá está, invocativo cheiro do carvão em brasa.

Em Maputo é comum usar-se o carvão para cozinhar. Não só grelhados. Cozinhar tudo. Cozer arroz, fazer um guisado, assar um churrasco, fazer uma xima ou uma matapa. Uns porque ainda não estão em condições financeiras de recorrer ao fogão a gás, outros porque nunca desaprenderam a cozinhar no carvão, acendem os fogareiros a meio da manhã e a meio da tarde e pouco depois começam a confecionar as refeições.

E é assim que numa cidade repleta de veículos motorizados, computadores, telemóveis, caixas atm, onde os centros comerciais e a tecnologia assinalam a modernidade, de repente, numa breve caminhada, é possível sentir o cheirinho de um churrasco na brasa como fazia a minha avó há trinta anos atrás.
jpv