Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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"Com Amor," – Documento 53

Porque não completamente ao lado? (resposta obrigatória!).

As mulheres, Rui, salvo excepções, erram menos nesse departamento. Acho que os homens são mais dispersos e predadores. As mulheres têm um maior sentido de família. Só por isso vos aturam as sacanices e as criancices todas. O sentido de lealdade é mais apurado nas mulheres. Talvez seja genético. Não estou a pôr em causa as suas motivações nem a bondade delas, mas se há esse amor tão forte e pungente porque não se decide por ele?

Em todo o caso, há uma justiça que quero fazer-lhe. De facto, nunca havia visto, ouvido, lido, uma explicação tão certeira para o fenecer de um relacionamento. Nós, mulheres, talvez por estarmos mais ligadas à zona afectiva das relações, tentamos encontrar explicações para o sucesso e insucesso delas numa axiologia do “haver amor” vs “não haver amor”. A sua explicação é interessante porque preserva, em hipótese, o “haver amor”, preserva até a intenção de cada elemento do casal manter-se nele, mas trata o casal como um organismo autónomo, com vida própria, logo, morte própria, também. O casal pode estar em falência independentemente das vontades individuais… Engenhoso. Muito provavelmente correcto. Pelo menos para mim, que me revi inteiramente na sua teoria.

Não se esqueça da resposta obrigatória.

Laura


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"Com Amor," – Documento 52

Laura,

Posso reconhecer-lhe algum espírito e até algum atrevimento, ainda assim, garanto-lhe que se tratou de um lapso, mais nada. Desolé!

Não foi longe. Foi ao lado. Talvez não completamente ao lado, mas, em todo o caso, ai lado.

Grato por haver destruído a mensagem.

Por fim, a farpinha, o espinho que quis deixar a incomodar-me o espírito; “Ai, ai, os homens…”
Os homens, Laura, tal como as mulheres, também podem cansar-se de uma companheira, de uma relação e de uma forma de vida.
Eu estou casado com a Patrícia há quase vinte anos e se vejo em mim um homem de muitos defeitos e algumas virtudes, garanto-lhe que a Patrícia tem muitas mais virtudes do que eu e a maioria das pessoas que conheço. Como tal, não é ela, a mãe, a esposa, a companheira que está em causa. Nem o amor que me tem ou lhe tenho. É o casal que foi vítima dos anos que passaram, dos desgastes, das crises e das rotinas e acabou crescendo em direcções opostas e acabou deixando de funcionar como um casal. Neste momento, o meu casamento resume-se a duas pessoas que vivem juntas, cumprem a sua parte de um contrato e têm filhos em comum. Não é pouco, mas não chega.
Não estou a justificar-me. Os meus actos são os meus actos e assumo-os. Estou só a dizer-lhe que os homens também sentem e também têm motivações nobres para os seus actos menos nobres. Os homens não são todos uns sacanas, Laura. Há homens que amam e há-os também que erram por amor.

Não sei porque lhe escrevo isto. Desculpe.
Maldito engano.

Rui


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Com Amor, – Documento 51

Errado, Rui, errado.

Nada nasce do acaso. Em última análise, foi mesmo e só um engano, mas e se não fosse? Que razões estariam por trás de um lapso desse tipo? Sendo a mensagem privada e importante, seria de presumir que tivesse todo o cuidado no envio, a menos que possa inferir-se que, na sua cabeça, ou no seu coração, ou num recôndito qualquer das suas intenções, quereria, gostaria, de enviar-me uma mensagem com aquele teor.

Ok. Fui demasiado longe! Peço desculpa. Só escrevi para dizer que já apaguei o e-mail e que já nem me lembro dele.

Volte tranquilo à sua vida.
Ai, ai, os homens…

Laura.


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Com Amor, – Documento 50

Laura,

Retomo, sem querer voltar a ele, o assunto do meu engano porque me esqueci de comentar uma frase sua que me pareceu deveras intrigante: “Não sei porque se enganou…”

Um engano é um engano. Não há outra razão para que exista. Certo?

Rui.


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Com Amor, – Documento 49

Verónica,

A tua vida já corre desenfreada e está tomando conta de ti, da tua existência. Isso quer dizer que estás no caminho certo.

Voa, minha amiga, voa…

Desejo-te tudo de bom. Todas as realizações.

Rui


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Com Amor, – Documento 48

Meu homem Rui,
Agora sim, apaixonada.
Tranquila e serenamente apaixonada.

A vida é tão bela com serenidade, Rui. Sem sobressaltos. O Eduardo passeou comigo de mão dada pelas Ramblas, visitámos o Parque Guel, a Sagrada Família, comemos paella numa ruela estreita nos arredores da Catedral de Barcelona. À noite fomos assistir a um espectáculo musical e o amor… Rui… o amor… as pessoas encontram outras formas e outros caminhos e outros ritmos para as carícias e são sempre formas íntimas de entrega.

Ele quer conhecer os meus filhos, Rui. Parece um jovem entusiasmado com a perspectiva de uma nova família. Quis partilhar contigo porque… porque tu és tu!

Com carinho,
Verónica.


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"Com Amor," – Documento 47

Caro Colega,

Não sei como lhe diga isto. Pensei mesmo se deveria dizer-lho. Decidi fazê-lo e da forma mais simples e directa possível. O mail que escreveu e segue abaixo não me era dirigido. Enganou-se, por certo.

Não sei porque se enganou mas isso não interessa nada. Não vou fingir que não li. O mail vinha endereçado a mim. Quando me apercebi do engano, o primeiro impulso foi ignorar que o tinha recebido, mas depois assaltou-me a ideia de não saber de o Rui ia reparar e, consequentemente, se a verdadeira destinatária receberia alguma vez a mensagem.

Por isso resolvi devolver-lha com esta nota. Faça de conta que nunca a li.

Laura Duarte.

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From: ruidaniel.sousa82@gmail.com
To: lauraduarte1960@gmail.com

Querida Verónica,

Como foi esse fim-de-semana? Conta-me, conta-me, conta-me…

Sou um homem de paradoxos. Queria que esse fim-de-semana fosse comigo e, ao mesmo tempo, queria que fosse tão maravilhoso quanto desejaste com esse teu tranquilo e sereno companheiro.

Como te amo, Verónica! Tanto que sou capaz de abdicar de ti pela tua felicidade. Há algo de perverso nisto, eu sei.. mas… é assim.

Com Amor,
Rui


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"Com Amor," – Documento 46

Querida Verónica,

Como foi esse fim-de-semana? Conta-me, conta-me, conta-me…

Sou um homem de paradoxos. Queria que esse fim-de-semana fosse comigo e, ao mesmo tempo, queria que fosse tão maravilhoso quanto desejaste com esse teu tranquilo e sereno companheiro.

Como te amo, Verónica! Tanto que sou capaz de abdicar de ti pela tua felicidade. Há algo de perverso nisto, eu sei.. mas… é assim.

Com Amor,
Rui


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"Com Amor," – Documento 45

Querida Verónica,

Como havia dito, partiremos sexta de manhã. Incluirei na viagem uma reunião de trabalho que tenho em Mérida. Depois descemos à Andaluzia e fazemos todo caminho pela costa. É demorado, mas maravilhoso. Vamos de carro, portanto.

Ficaremos num hotel. Escolhi para nós um dos hotéis mais bonitos e acolhedores de Barcelona. Traga só roupa de vestir e os seus produtos de higiene… chamam-se assim? As senhoras percebem disso melhor do que os outros.

Apesar da sua imaginação fértil e literária ser entusiasmante, infelizmente não tenho nenhuma tia que me deixe uma pequena e acolhedoracottagenos arredores de Barcelona.

Será romântico. Será como quisermos. Será perfeito.

Até sexta, minha querida.

Seu Eduardo.


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"Com Amor," – Documento 44

Querido Eduardo,

Uma mulher da minha idade vai a Barcelona com um homem da sua idade. E não espera nada menos do que dois dias inolvidáveis, plenos de harmonia e romance. E não pense o Eduardo que foi fácil. Houve que desmarcar reuniões, “despistar” serviço, encaminhar filhos… mesmo crescidos continuam a necessitar da atenção da mãe, enfim, toda uma arquitectura logística que fiz por… por amor! Não aquele amor jactante da juventude, mas o amor dedicado e sereno desta segunda juventude.

Preciso dos pormenores, Eduardo. Onde nos encontramos, a que horas, o que será prudente levar tendo em conta o tipo de alojamento que planeou. Uma mulher precisa saber essas coisas. Sei lá, é diferente preparar-me para um hotel do que será preparar-me para ficar em casa de uma tia materna velhota que nos acolhe na sua casa de Barcelona.

Aguardo notícias.
Com ternura,

Verónica.