Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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"Com Amor," – Documento 73

Meu Querido José Pedro,

Nunca, por um momento só que fosse, duvidei das tuas intenções. Percebi, desde logo, a tua dádiva, a tua intenção de todos ficarmos melhor. Entendi a tua estratégia de unir-nos e isso eu amo em ti. Oque me assustou foi o detalhe e o acabamento da proposta. Ela é linda, mas contém opções que hão-de determinar a forma como educamos os nossos filhos e essas necessitam ser ponderadas e debatidas e as decisões que daí advierem precisam ser partilhadas.

Sobre património nem sei que hei-de dizer-te. Que te compreendo. Que até certo ponto concordo contigo. Mas também que o maior património que podemos deixar aos nossos filhos é amá-los e ensiná-los a amar, é proporcionar-lhes ferramentas com que possam defender-se quando já cá não estivermos, é o respeito, o trabalho, a paixão, o amor colocado em cada pensamento e em cada gesto. Casas e carros e terrenos não são património, José Pedro, são uma amálgama de coisa nenhuma, perecível e efémera. O verdadeiro património, meu querido, é o carácter que conseguirmos construir neles, a força que lhes incutirmos e a capacidade de resistirem às adversidades.

Eu amo-te muito, meu amor, mas é a ti que eu amo. Não àquilo que possuis. E quero que o meu filho seja capaz deste amor puro e genuíno antes e depois de todas as outras coisas…

Tua, sempre tua,

Tânia.


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"Com Amor," – Documento 72

Fofinha,

Em primeiro lugar deixa-me dizer-te que me considero um privilegiado por ter-te conhecido e, sim, é-me muito difícil terminar uma conversa contigo sem pensar em fazer amor, em devorar-te, em encher-te de carícias, em entrar em ti e fazer-te minha.

A minha proposta que, admito, foi um tanto teatral, tal como eu, estava plena de boas intenções e não passava disso mesmo, uma proposta. Não quis impor-te nada. Seria incapaz de trilhar esse caminho sem partilhar cada pormenor ctgo. Simplesmente quis que percebesses que sei muito bem para onde quero ir. E, claro, mais do que tudo, quero ir ctgo. Construí para nós um cenário geral de bem-estar, de soluções que, a meu ver, nos poderiam proporcionar uma boa vida juntos, mas é evidente que estarei disposto a discutir cada aspecto e cada solução ctgo. Só assim poderá chamar-se vida a dois, certo?

Minha querida, eu, como tu, já vivi com outra pessoa uma vez e falhei. E sei que, entre outras razões, um dos principais motivos por que falhámos enquanto casal foi por andarmos um pouco à deriva, foi por não sabermos o que cada um queria da vida ao pormenor.

Eu valorizo os bens, Tânia, mas não no sentido de ser escravo deles. O que penso é que tudo desvaloriza e desaparece, nada deixas ao teu filho senão a educação que lhe deres e o património que construíres. E não falo de dinheiro, meu amor, o dinheiro não tem valor. Mas se deixarmos os nossos filhos ancorados num património sólido, mesmo que a vida lhes corra menos bem, eles têm algo a que agarrar-se. Trata-se só de segurança, minha querida, mais nada.

Anseio por estar ctgo.
Mil beijos.
Com Amor,

José Pedro.


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"Com Amor," – Documento 71

Olá Fofinho,

Desde que me fizeste A proposta há dois dias atrás que não consigo pensar noutra coisa e nem sequer se trata de nenhuma ânsia de racionalização. Somente não quero dar esse passo em falso de novo. Por um lado, penso que não nos falta maturidade. Eu tenho 44, tu tens 42, ou seja, já somos crescidinhos. Por outro lado, já os dois vivemos uma numa situação conjugal falhada que em ambos os casos deixou marcas, creio que até mais profundas em ti. Eu tenho um filho ao meu cuidado e tu tens uma menina ao teu. Embora já sejam crescidos, vivem aquele momento complicado de passarem do 2º ciclo para o unificado o que quer dizer que quer tu, quer eu, poderíamos precisar de uma ajuda extra nesta fase, um apoio mútuo. Por fim, e não menos importante, eu amo-te muito e confio muito no teu amor por amor por mim.

Parecendo tudo tão óbvio e tão simples, perguntei-me séria e profundamente porque não te disse logo que sim anteontem. Ainda para mais naquele contexto romântico de jantar à luz das velas que o menino preparou. Por duas razões. Primeiro, porque a meio da conversa, o menino começou a deixar as suas mãos viajarem por onde não deveriam e a conversa teve de ser interrompida por motivos de força maior – és um malandreco, depois porque, meu amor, com verdade te digo, tenho reservas e não queria tomar esta decisão com reservas.

A tua proposta para vivermos juntos, sob o mesmo tecto, e formarmos um casal apaixonado em partilha plena da vida é a tentação é a tentação do céu e, além do mais, seria a consequência natural do nosso namoro, já tão assumido, já tão longo. Meu Deus, parece que foi ontem que te conheci e já faz dois anos que namoramos.

Mas, meu amor, sem querer julgar-te mal, e por isso resolvi escrever-te, para usar o meio que nos aproximou e para medir bem as palavras, eu penso que a tua proposta é demasiado elaborada, demasiado acabada. José Pedro, eu preciso de um homem que me dê segurança, mas também quero ter um papel activo nas nossas escolhas. Meu amor, tu decidiste que venderíamos os nossos apartamentos para comprar um em comum, decidiste onde seria, como seria. Até os electrodomésticos e as cores das paredes tu definiste. Tu decidiste que carro compraríamos, qual dos nossos dávamos à troca. Tu decidiste em que escola colocar os miúdos e quem ia buscá-los e a que dias e, pior do que tudo, tu decidiste como dividiríamos os bens se nos separássemos! Meu amor, se eu for viver contigo, não vou querer estar a pensar que me vou separar e muito menos vou querer estar a pensar nos bens. Por outro lado, meu amor, temos de deixar algum espaço à espontaneidade, ao improviso, à vida que acontece de uma determinada maneira porque foi esse o seu curso, sem pré-determinações.

Meu amor, como tantas vezes te disse, eu quero essas coisas todas contigo, mas quero que aconteçam e as façamos acontecer no quotidiano. Não quero viver a vida como quem descarrega itens numa lista de supermercado. Por favor, não me interpretes mal. Esta semana estaremos juntos e conversaremos sobre isto. Entende este mail só como uma contribuição para a nossa reflexão. Nada mais.

Beijo Imenso.
Tânia.


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"Com Amor," – Documento 70

Ok, miúda!
Vejamos onde é que isto vai dar… com uma condição: para já, fica estritamente entre nós! Somos amigas e mais nada. O resto virá com o tempo.
Precisamos MUITO falar.
Beijo suave, com amor.

Laura.

PS1: Tentarei não ser preconceituosa… comigo!

PS2: Já despachaste o sonso?


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"Com Amor," – Documento 69

Sim, tonta, 2 vezes é mais do que uma! E agora? Que tal sermos felizes para sempre?

Acho que o que combinámos foi para nos tranquilizarmos, mas depois não resistimos à nossa presença mútua.

Eu gosto muito de ti e de conversar ctgo e de estar ctgo e não me incomoda nada que sejas mulher, pelo contrário, dá-me alguma segurança. Acho que as mulheres são mais fiáveis. Eu não me importo de ver onde é que isto vai dar. E tu?

Beijo Meigo,

Madalena.

PS1: Não sejas preconceituosa. Os teus filhos não usariam essas palavras. Talvez dissessem só que a mãe é muito feliz com a sua companheira.

PS2: Acho que preciso de dar um chuto no rabo àquela tentativa mal conseguida de homem a que chamo namorado.


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"Com Amor," – Documento 68

E AGORA, MIGA?

Duas vezes é mais do que uma?!E já é suficiente para ser oficial? Estou a stressar!
Não me apercebi de que ia acontecer de novo. Por um lado não queria que acontecesse, por outro, não fiz nada para o evitar porque não quis. Precisava de ir segunda vez ao pote! Mas não trouxe de lá certezas a não ser que… foi muiiito booom!!!

Já viste os meus a dizer, A minha mãe é gay?!…

Pensei que a conversa tinha sido conclusiva. Concordámos que tinha sido uma coisa esporádica e seríamos as mesmas amigas de sempre. Mas as amigas não fazem umas com as outras as coisas que fizemos ontem, pois não?!

Beijo.
E, acima de tudo, gosto muito de ti!

Laura.


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"Com Amor," – Documento 67

Oi miúda,

Eu percebo a tua preocupação com os filhos, mas eles estão uns homens, hão-de compreender que o amor e a atracção entre duas pessoas se podem manifestar de muitas formas diferentes. Ou é censurável porque passou a ser entre duas pessoas do mesmo género?…

Pensa assim, quando ainda estavas com o Alberto e tinhas uma segunda vida com o Rui, vivias uma situação mais censurável e, no entanto, viveste-la em nome do Amor. E acho que fizeste muito bem. Era o teu caminho e a tua aprendizagem. Mas, se isto for alguma coisa, amor, por exemplo, porque razão há-de ser mais censurável?

Café na “Tendinha” logo à noite? Não posso antes das 21h.

Bj.

Madalena.


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"Com Amor," – Documento 66

Eh pá, tu lembras-te de MUITA coisa!!!

Ok. Quando disse preocupada e envergonhada, não era por mim, nem por ti, nem pelo que fizemos. Sei lá, acho que pensei nos meus filhos.
Imagina que isto queria dizer alguma coisa, e sinceramente acho que não quer, foi uma bebedeira e um desabafo emocional, sei lá… mas se quisesse, já viste o que os meus filhos iam pensar da mãe?…

Quanto ao resto, concordo ctgo, textura da pele incluída. Acho que foi divertido. E, a sério, precisamos conversar.

Bjs.
Laura.


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"Com Amor," – Documento 65

Oi Laura,

É giro que tenhas colocado “Rescaldo” no assunto. Rescaldo é o que fica depois de um fogo quente. Acho que foi isso o que aconteceu. Um fogo quente que não tinha por onde arder e de repente encontrou.

Fizeste bem em escrever. Se não o fizesses eu fá-lo-ia, por certo. Eu não sou muito de explicar e dissecar as coisas. Limito-me a vivê-las. Como tu pareces ter essa necessidade, cá vai a minha interpretação. Não estou zangada. Seria parva se estivesse. Espero que acredites que eu não planeei nada disto. Foste tu que me convidaste para os choquinhos fritos e quanto ao resto, fiquei tão surpreendida como tu. Mas não preocupada e muito menos envergonhada. Acho que somos adultas e responsáveis e isto terá o significado que quisermos dar-lhe. Todo ou nenhum. Num caso e noutro, a decisão é nossa, só nossa. E a nós cabe assumi-la ou resguardá-la se for caso disso.

Eu lembro-me dos choquinhos fritos e das garrafinhas de rosé, também me lembro das caipirinhas e lembro-me de uma noite divertida que acabou em minha casa a falarmos alto dos homens que são uns trastes, a beberricar vinho do Porto e a fumar uns cigarros. Lembro-me de me teres perguntado sobre aquela história das mulheres terem a pele mais suave e lembro-me de termos feito amor com quanto carinho conseguimos.

Acho que começámos a tentar ensinar uma à outra como é que os homens deviam beijar e onde e como deviam pôr as mãos, etc…

Também me lembro de teres saído com um sorriso nos lábios. Não parecias nada preocupada nem envergonhada.

Aliás, até estavas muito bem-humorada. Antes de saíres, quando te despedias, disseste algo como, Deixa lá, ao menos não corremos o risco de engravidar!

Laura, isto, ou não foi nada, ou foi alguma coisa. Nós é que decidimos. Precisamos conversar sobre isso. Mais nada.

Beijo

Madalena.


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"Com Amor," – Documento 64

Oi…

Pensei muito se havia de escrever-te ou dar um tempo. Somos amigas há tanto tempo que resolvi não deixar “azedar”.

Fui eu que sonhei, ou o senhor Mário da “Toca”colocou alucinogénios nos choquinhos fritos?

A sério, não sei como chegámos a tanto, mas lembro-me de me sentir muito feliz e depois e depois preocupada e depois envergonhada.

Está tudo bem ctgo?

Estás zangada?

Diz coisas.

Laura.

PS: pensei ligar-te, mas pareceu-me que a escrita mantinha uma certa “distância”…