Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


Deixe um comentário

"Com Amor," – Documento 83

Meu Amor Querido, Meu Doce Eduardo, Meu Porto Seguro,

Achei quase um milagre ter-te encontrado e achei, isso sim, um perfeito milagre que nos entendêssemos tão bem. Uma tão preciosa harmonia parecia-me frágil, no início, mas depois fortaleceu-se e à medida que o tempo foi passando, eu fui acreditando cada vez mais nesse nosso cantinho de estar bem a que carinhosamente chamas de arrolhar de pombos.

Por vezes temia pela durabilidade deste nosso entendimento e tentava imaginar por onde poderia nascer um conflito. Fazia isto para nos defender, para poder antecipá-lo e evitá-lo.

Tenho conseguido. Temos conseguido. Mas fui surpreendida. Fomos surpreendidos.

Estes dias em que estivemos um pouco mais ausentes um do outro, criaram um certo distanciamento que me permitiu ver com mais clareza. E fiquei tranquila. Já reparaste que as razões do nosso desentendimento não nascem em nós, não provêm dos nossos actos directos? O motivo mais recente tem a ver com a forma como lidaste com o meu mais velho e esse problema, sejamos honestos, está relacionado com a forma como a tua filha encarou o nosso relacionamento desde o início. Com certo cepticismo e até alguma desaprovação. Acho que precisamos de dar-lhes espaço e tempo e acho que precisamos de ser serenos e crescidos e encarar com naturalidade as atitudes dos nossos filhos.

Resolvi escrever-te porque te quero muito e não gostaria que um problema paralelo tivesse o poder de inquinar a nossa relação.

Tua.
Sempre tua.

Verónica


Deixe um comentário

"Com Amor," – Documento 82

Olá Tânia,

Eu devo ser a pessoa menos indicada para ajudar-te e a razão é simples. Há alguns que vivo esse problema com a Patrícia e não o consegui resolver ainda. Com uma agravante, eu entreguei-me a essa ideia e a esse modo de vida. Fi-lo por amor e por isso assumo todos os compromissos inerentes, mas hoje sei que não me revejo nessa forma de estar e nesse modo de vida. É tudo demasiado efémero, Tânia, para que nos percamos nesses esforços hercúleos que não nos levam senão ao desgaste e à desilusão.

Vamos ao teu caso. Do teu texto retive dois ou três aspectos em que talvez possa ajudar-te ou, pelo menos, dar a minha opinião. Falas em dois conflitos, num com o Zé Pedro e noutro contigo mesma. O que tens de resolver primeiro, Tânia, é o teu. Tens de definir para ti, e até com uma boa dose de egoísmo, aquilo que queres da vida neste momento e aquilo que queres da vida a longo termo. Nessa vontade intrínseca encontrarás os teus princípios. Não te desvies deles. Esse é o preço que não podes pagar.

Sempre dizemos a quem atravessa esse tipo de problema para conversarem e comunicarem. Vejo que já fizeste isso, embora, de facto, nunca seja demasiado. O essencial, Tânia, é que tomes a tua decisão em paz contigo própria. Podes resistir a tudo, mas não resistirás à ausência da tua paz interior. Como te disse, fiz esse caminho de crescimento financeiro, patrimonial e social e acho que nunca me senti mal porque estive sempre em paz comigo, mas ultimamente ando agitado, sinto que me traí a mim mesmo e apetece-me começar do nada. A minha mulher, ao contrário, pretende continuar a “crescer” e este tem sido o motivo central do nosso conflito.

Não sei se ajudei ou… compliquei!
Tentei,

Até sexta.

Rui.


Deixe um comentário

"Com Amor," – Documento 81

Olá Rui.

Estamos combinados para sexta.
talvez não seja justo andar a espicaçar-te a curiosidade para depois te deixar sempre em suspenso. por resolvi escrever-te este mail em que te dou uma visão geral do meu problema, que é um problema bom. Aproveito para desabafar. Preciso de “falar” com alguém sobre isto.

Somos colegas há muitos anos, conheceste-me solteira e boa rapariga 🙂 depois casada e agora divorciada. E, à distância, tens assistido à minha relação com o Zé Pedro. O Zé Pedro, como sabes, é uma excelente pessoa. Temo-nos apoiado mutuamente e esse foi um dos pilares do nosso relacionamento. O irónico é que eu comecei por não esperar muito desse relacionamento e um dia convenci-me de que talvez pudesse confiar nele e esperar dele algo de mais sólido, assumido e definitivo, e quando isso aconteceu, eu reagi mal, muito mal. Quando finalmente o Zé Pedro me propôs que vivêssemos juntos como um casal, eu assustei-me. Não tanto pela proposta que eu esperava  mais tarde ou mais cedo, mas pelo teor dela.

Tu conheces-me. Sabes que sou uma pessoa livre e despreocupada e gosto de viver um dia de cada vez. Ora, o Zé Pedro fez-me a proposta-maravilha, mas ela pareceu-me demasiado calculada, muito como um negócio, com tudo previsto num contrato de compra e venda. Ele vendia o apartamento dele e eu o meu e íamos comprar um muito maior e mais caro, comprávamos um monovolume, também mais caro, mobílias, cortinados, televisão frigorífico… ufa… assustei-me. Agora que eu me habituara a meu canto e ao meu pouco e achava que era já muito, vejo-me confrontada com um homem que eu amo, que me ama, que me quer assumir, mas sinto a minha vida a ser enfiada numa folha de cálculo do excell. O compromisso de amor com o Zé Pedro não me assusta, mas tudo o resto me deixa aterrada e sufocada. Eu quero-o a ele, mas não preciso destas mudanças todas, destas coisas todas, destes compromissos todos. É evidente que lhe fiz sentir isso, mas ele está muito convicto do que quer, muito seguro dos passos a dar e começa logo a argumentar e eu até percebo que, racionalmente, tudo aquilo faz sentido, mas não consigo apropriar-me da ideia nem consigo sentir-me confortável com ela.

De repente, já não estamos a falar de nós, nem do muito que nos amamos, mas estamos a discutir o valor e a importância do património. Algures, nestes dois anos de namoro sério, eu devo ter dado a entender que aceitaria um tal cenário, mas, se o fiz, juro que foi involuntário. Há aqui um conflito que é meu e do Zé Pedro, mas também há aqui um conflito que é só meu.

Vês, eu não te disse que era um problema bom? Eu não te disse que qualquer outra mulher teria aceitado?

Pronto, já desabafei.
Não precisas comentar nem dar conselhos, mas podes, claro! 🙂

Tânia.


Deixe um comentário

"Com Amor," – Documento 80

Zé Pedro,

Deixa-me pensar em tudo… percebo a intenção do teu gesto, mas acho que é melhor digerirmos tudo o que se está a passar.

Jantamos outro dia, tá?

Beijinho,
Tânia.


Deixe um comentário

"Com Amor," – Documento 79

Fofinha,

Não é que o fim-de-semana tivesse corrido muito bem. Correu mal, sejamos honestos. A intenção era boa, era darmos um passo em frente na nossa relação. Não era, claro, provocar rupturas. Não sei se as provoquei, acho que não, mas, em todo o caso, precisamos conhecer-nos bem e estas conversas, mesmo tensas, podem servir para isso.

Venho convidar-te para jantar. Hoje não posso, mas posso amanhã. Se tu também puderes, escolhemos um sítio simpático. Pago eu.

Beijinho.
José Pedro.


Deixe um comentário

"Com Amor," – Documento 78

Oi Tânia,

Já liguei à Micaela. Eu levo a caipirinha e a máquina de picar o gelo. Claro que passo a buscar-te. Eu tolero bem o álcool. Em última análise, bebíamos uns cafés antes de sair. Nós não combinámos nada, mas penso que não haverá qualquer problema se trouxeres o Zé Pedro contigo.

Quanto aos teus anjos e demónios, paraísos e infernos, fica à vontade para falares disso quando quiseres. Como te disse, só estranhei estares “contra tudo” no outro dia porque não costumas ser assim. Nem assim, nem tão tensa. Tu és o nosso oásis de tranquilidade e de calma perante as situações e nesse dia reagias letal e tensa a qualquer coisa que te contrariasse. Mas depois notou-se que acalmaste.

Desabafa miúda…
Se quiseres, claro! 🙂

Rui


Deixe um comentário

"Com Amor," – Documento 77

Olá Rui,

E alguém leva caipirinha? Eu entro com as limas e o açúcar amarelo! Estou mesmo a precisar de um jantar entre colegas para descomprimir. Apetece-me um bom convívio. Podias levar-me para eu poder beber à vontade. A menos que seja chato para ti. Passavas por aqui à ida e à vinda. Assim como assim, não te fica muito fora de mão.

No último dia tive pena de me vir embora, mas teve de ser… ando aqui entre o céu e o inferno. Não é inferno porque seja mau, mas porque é desconhecido… enfim, não te chateio mais com isso. As pessoas são muito complicadas. Qualquer outra mulher no meu lugar não hesitaria em avançar, acho eu… esquece!

Até Sexta.

Tânia Varela.


Deixe um comentário

"Com Amor," – Documento 76

Olá Tânia,

espero que abras o correio electrónico ao fim-de-semana. Ontem, apesar da tua evidente má disposição na reunião, o momento seguinte foi muito interessante. Aquele grupinho informal que se juntou ali a falar das coisas da vida funcionou muito bem. Acho que, sem entrarmos em muitos pormenores, todos conseguimos dizer coisas e expor assuntos que normalmente o trabalho não permite abordar.

Foi pena teres de sair mais cedo, ainda ficámos um bom bocado mais e a conversa esteve sempre interessante. É impressão minha, ou aquele momento acalmou-te. Estavas muito tensa. Achei-te piada, ontem estavas contra todo o tipo de capitalismo e propriedade. Advogaste a teoria do “small is beautiful” umas poucas de vezes. Que se passa, miúda, andas numa onda mais espiritual?

Olha, combinámos jantar todos juntos em casa da Micaela na modalidade “cada um leva uma coisa”. Fiquei de enviar-te um e-mail a avisar. Esperamos que apareças. Eu gostava muito que fosses.

Beijinho,
Rui Sousa


Deixe um comentário

"Com Amor," – Documento 75

Meu Amor,

… amanhã tenho uma reunião de trabalho ao final da tarde e posso atrasar-me um bocadinho. Não fiques preocupado. Assim que estiver despachada envio-te uma sms.

Há algo mais por que valha a pena lutar senão aquilo que está na nossa essência? Eu espero que os nossos jovens, mais do que comida, tenham fome de sonhos e realizações.

Vou pensar com muito carinho na tua proposta, mas acho que a temos de trabalhar os dois…

Adoro-te.
Tua.
Tânia


Deixe um comentário

"Com Amor," – Documento 74

Eu compreendo-te, fofinha. O teu pensamento é, por assim dizer, um pensamento mais feminino. Quero com isto dizer que está mais centrado na essência do ser. Legítimo e natural. O meu pensamento é mais predador, mais pragmático. Não há filosofia de vida que valha aos nossos filhos quando não houver comida em cima da mesa. O património dá-lhes, e a nós, essa segurança.

Tu já me conheces, meu amor, sabes que não deixaria que nada lhes faltasse, daí esta minha preocupação com o património e com o futuro. Não me leves a mal, é só uma preocupação.

Estou ansioso para ter-te nos meus braços. É já amanhã!

Beijos mil,

Com Amor,

José Pedro.