Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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As Cores da Capulana – Bola de Fogo

As Cores da Capulana

Bola de Fogo

Essa bola de fogo
Desce célere
E anoitece.
Com o fulgor
Que existiu
O dia fenece.
São rápidas, as auroras,
E vivas, as manhãs.
Passa o tempo
Pelas horas,
Mudam as marés.
Chega a tarde,
Canta uma ave exótica,
O astro rei arde
Em descida melancólica.
Corpos expostos
Aos olhos
E à luz.
Um colorido a envolver
Um corpo que seduz.
A noite é prematura,
Cai negra e funda,
Envolve num manto de ternura
Dois corpos,
Uma distância,
Um suor,
Um chegar,
Um amor,
Um frio quente,
Um arrepio,
Um dia irrepetível,
Algo que parte,
Uma saudade que fica,
Uma sensação indefinível
Que é jovem
E bonita.
Uma tristeza que é arte.
Uma melancolia
Nasce e vive.
E logo morre,
Em África,
O dia.

jpv


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Menino de Rua


As Cores da Capulana

Menino de Rua

Menino de rua,
De pé no chão,
Mão estendida
E alma nua…
Que vontade
É a tua?
Que história
Por contar?
Que destino
Por cumprir?
Que amores
Por amar?
Que fugas
Por fugir?

Menino de rua,
De alma nua…
Um homem por perto,
Um sorriso aberto,
E no olhar,
Sempre a mesma
Dança
Do desespero
E da esperança.

Mão estendida
À procura de vida.
Uma vida
Maior do que tu,
Menino de rua,
De corpo semi nu
E olhar terno,
Menino de rua,
Filho do tempo moderno,
Que vontade
É a tua?
Que reflexo
Tem na gente
A tua alma nua?

Filho do povo,
Órfão do ritmo novo,
Vagueias com o pé
No chão
E o vazio na mão.

Estendida.

Que homem
Nascerá no teu corpo
Semi nu?
Que responsabilidade
Terás tu?
Como agarrarás
A vida,
Se a tua mão
Estava estendida
E o teu olhar
Concentrado
Nesse homem por perto
Que não viu
A floresta no teu olhar
E plantou um deserto?

Menino de rua,
De alma nua,
Que vontade
Será a tua?

jpv
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O Tecido da Vida


As Cores da Capulana

O Tecido da Vida

É um pano colorido,
Enrolado ao corpo,
Às formas cingido.
Tem a luz da manga
E a forma da papaia,
Pode ser teu lenço,
Mulher,
Pode ser tua saia.

Saíste na rua,
No Sábado,

E foste comprar
Tua capulana,
Na Guerra Popular.
E logo ali,
Na porta da loja,
Te fez a bainha,
Com dedo certeiro
E uma máquina antiga,
O hábil costureiro.

Cobres a tua vida,
E quando vens de parir,
Colas ao teu corpo
Um menino a dormir.
Enrolado com o mesmo colorido
Do tecido em que tinhas nascido.

Tua capulana é teu mundo,
Teu limite
E tua fronteira.
Enrolam-te nela
De pequenina,
E enrolada ficas
A vida inteira.

jpv
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Aceda à secção “As Cores da Capulana”


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As Cores da Capulana

Caros Amigos e Leitores,

Estão a ser produzidos e serão publicados aqui, em Mails para a minha Irmã, poemas sob o título genérico de “As Cores da Capulana”.

São, naturalmente, textos de inspiração africana e, em particular, moçambicana.

Ora, como MPMI está a ficar mesmo muito cheio, criámos um sub-blogue onde se arrumarão os poemas da secção “As Cores da Capulana”. Eles serão publicados em MPMI, mas o índice remeterá para a nova página.

Os primeiros textos surgirão ainda este fim de semana.

Boas Leituras!


jpv