As Cores da Capulana
Uma Mão Negra Numa Mão Branca
Uma mão negra
Numa mão branca,
Umas calças
E uma camisa…
Pouco mais
Um homem precisa.
Uma mão negra
Numa mão branca,
Uma saia
E uma blusa…
Pouco mais
Uma mulher usa.
Uma mão negra
Numa mão branca,
Uma conversa arrolhada,
Uma carícia,
Um beijo na testa
E outra frase namorada.
Uma mão negra
Numa mão branca,
Um caderno
Debaixo do braço
E outro caderno
Debaixo do braço.
Um peito inflamado
Um olhar brotando ternura…
Entre a mão negra
E a branca mão
Há uma nascente da coisa mais pura.
Uma mão negra
Numa mão branca.
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O Sol ao Contrário
As Cores da Capulana
O Sol ao Contrário
Pela manhã
Fresca e inaugural,
A prosa estava ainda dormindo
E não me saía.
Olhando o astro formidável,
Deitei a alma no teu colo
E fiz uma poesia.
Escrevi essa sensação
De renascer
Que me assalta
A cada dia.
E escrevi as ondas do mar
Onde a luz amarela e forte
Vem bailar.
E escrevi esse paradoxo
Perturbante e sem fim
Que é o sol nascer,
Nestas paragens,
Ao contrário de mim.
Já havia perdido
O Norte,
Já havia perdido
O Sul.
Ficou-me só
A sorte
De, no Índico,
O mar também ser
Azul.
E, olhando a bola de fogo,
Sobre o líquido manto
Pintado com a cor do céu,
Sei que sou eu
E estou aqui.
Invade-me
A eternidade e a calma,
Quando me embalo
No mar
E tenho o teu colo
Para a minha alma.
O Tecido da Vida
As Cores da Capulana
O Tecido da Vida
É um pano colorido,
Enrolado ao corpo,
Às formas cingido.
Tem a luz da manga
E a forma da papaia,
Pode ser teu lenço,
Mulher,
Pode ser tua saia.
Saíste na rua,
No Sábado,
E foste comprar
Tua capulana,
Na Guerra Popular.
E logo ali,
Na porta da loja,
Te fez a bainha,
Com dedo certeiro
E uma máquina antiga,
O hábil costureiro.
Cobres a tua vida,
E quando vens de parir,
Colas ao teu corpo
Um menino a dormir.
Enrolado com o mesmo colorido
Do tecido em que tinhas nascido.
Tua capulana é teu mundo,
Teu limite
E tua fronteira.
Enrolam-te nela
De pequenina,
E enrolada ficas
A vida inteira.


