Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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De Negro Vestida – XXXIII

 

Despertar – VII

É um problema de perspectiva. De atitude. De sensibilidade. Querendo um homem conquistar uma mulher, confunde frequentemente este conquistar com sexo. Constrói para ela um conjunto de dicas, de expressões indirectas do seu desejo, de sugestões, de brincadeiras e até de elogios que, em menos de nada convertem o sexo no centro da questão, o objectivo em si, o tema de conversa recorrente. Este homem ainda não percebeu. Não percebeu que não é assim. Não percebeu a mulher que tem na frente e, de facto, não percebeu nada. Para uma mulher, o sexo não é, nunca, o centro da questão e do processo. Não é menos importante por isso. Pelo contrário. O sexo é, para as mulheres, de suma importância e é por isso que não pode ser imediato.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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De Negro Vestida – XXXII

 

Despertar – VI

Maria de Lurdes regressou à sua mesa no passo mais firme que conseguiu. Ainda não sabe mas o encontro com António Pedro não terminou. Assim que chegar junto das colegas fará um ricochete, um caprichoso arco de bumerangue e regressará à promissora conversa com um sorriso nos lábios.
Que estás aqui a fazer Lurdinhas? Pareceu-nos que a conversa estava agradável ali com o jeitoso do fato azul. E estava, mas seria incapaz de deixar-vos. Afinal de contas este jantar é uma simpatia vossa em minha homenagem. Olha, Lurdinhas, em primeiro lugar, este jantar era para veres gente. Agora que viste, não faz sentido estares aqui. Em segundo lugar, nem compreendemos como é que trocas o jeitoso por nós. Nenhuma de nós hesitaria em fazer a troca ao contrário…

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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De Negro Vestida – XXXI

 

Despertar – V

Chegados a este ponto, não nos resta senão contar-vos como foi o encontro entre Maria de Lurdes e o homem do fato azul-escuro com uma risquinha cinza. Já sabemos agora que estava Maria de Lurdes com as amigas, ao meio da mesa, ladeada por duas à sua esquerda e outras duas à sua direita. E sabemos também que tinha o homem dos olhares insistentes de frente para si, a uns metros de distância, onde jantava com dois amigos. E sabemos que pegou ela na sua mala e se dirigiu para a casa-de-banho em passo firme sendo forçoso que passaria junto à mesa dele.

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Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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De Negro Vestida – XXX

 

Despertar – IV

As pessoas, mormente as mulheres, não estão bem arranjadas e pronto. Estão bem ou mal arranjadas consoante a situação ou evento para que se arranjam. Tanto é isto verdade que aparecer um homem de fato e gravata para um trabalho pesado ou para a prática de desporto, por melhor e mais bonito que seja o fato, forçoso será concluir que ia o homem mal arranjado. O mesmo se aplica à escolha da indumentária feminina. Pois que sendo os vestidos de noite lindíssimos, quando o são, sempre ficam inapropriados se usados em eventos diurnos. Logo à partida, contrariam a sua própria designação, seu fim e propósito e indo com ele de dia, vai a mulher que o levar mal arranjada. Saber arranjar-se é, antes de mais, procurar a harmonia entre a nossa presença e o evento em que estaremos presentes. Depois, se a esta harmonia conseguirmos juntar pormenores de bom gosto, tanto melhor.

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Setembro de 2013

João Paulo Videira

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De Negro Vestida – XXIX

 

Despertar – III

Maria de Lurdes gosta de ser a última da casa a ir deitar-se. Não sabe porque é que as coisas são assim. Sabe só que se sente melhor. No fundo, comporta-se como uma guardiã de templo que vigia enquanto os outros descansam. É sempre a última a deitar-se e a primeira a levantar-se. Por isso, quando os filhos recolheram aos seus quartos, esperou um pouco até que a poeira sonora do dia assentasse. E quando sentiu a casa tranquila, agarrou as calças que estava arranjando com uma mão por baixo e outra por cima, pousou-as cuidadosamente no assento de uma cadeirinha em frente da sua e levantou-se. Colocou uma mão ao fundo das costas como quem as ajuda a endireitar-se, fez um esgar de dor que era mais cansaço, olhou o tecto, respirou fundo e abandonou a marquise feita atelier. Comeu pouco. Fez a sua higiene de antes de deitar e foi dormir. Antes de adormecer, arrumou o dia seguinte na cabeça e relembrou-se o propósito de mudar. Cumpri-lo-ia.

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Setembro de 2013

João Paulo Videira

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De Negro Vestida – XXVIII

 

Despertar – II

Voltou. Mas não foi já.
Não alteremos a ordem dos acontecimentos que é esse um abuso dos contadores de estórias. Um abuso e uma prepotência. Trazer os leitores perdidos procurando o fio à meada narrativa. Contemo-la onde ia. Quando a mulher se levantou para ir à casa-de-banho. Nessa altura estava o leitor curioso por saber se ela falaria com o homem de fato azul-escuro.

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João Paulo Videira

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De Negro Vestida – XXVII

 

Despertar – I

A verdade é que não nos conhecemos. Enfim, sabemos quem somos, como nos chamamos, que roupas gostamos de vestir e que comida preferimos comer mas, de tempos a tempos, surpreendemo-nos a nós próprios com um pensamento, uma frase, um gesto. Esta ignorância de nós, cristalizamo-la com expressões simples e vulgares do dia-a-dia que dizem pouco, parecem dizer pouco, mas que emanam esse inconfundível perfume de desconhecimento em relação àquilo de que somos capazes. E é por isso que estando, por vezes, a falar, os lábios e a língua e o céu da boca articulam sons que são palavras e podem elas dizer verdades que não esperávamos.
– Onde é que eu estava com a cabeça?
– Nem parece coisa minha!
– Como é que fui capaz?
– Nem acredito no que fiz!
E outras tantas e tantas mais ainda andam bailando nos lábios e no ar dizendo-nos que não nos conhecemos. Que não percebemos a origem de certos pensamentos em nós. De onde vêm sentimentos inesperados. Comportamentos inusitados. Palavras desabituadas.
A mulher de que vos contarei agora está vivendo um desses momentos.

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De Negro Vestida: XXVI

 

Solidão – VII

Há entre nós, os humanos, independentemente da condição, da raça, do género, da cultura, da religião, da idade, da posição social, da estrutura financeira e do carácter, diversos impulsionadores de pensamento e acção. E há um, aquele que agora desperta em Maria de Lurdes, pouco valorizado, subestimado mesmo, mas que, em nossa opinião – que o leitor poderá aprovar ou rejeitar – é o mais importante de todos. Não escondendo a importância do dinheiro, não é dele que falamos. Reconhecendo o valor da educação, não é a ela que nos referimos. Nem à alimentação, nem ao sexo, nem à religião, nem à segurança, nem à solidariedade, nem à investigação, nem à saúde, nem à família, nem a nada que tenha um motivo. O móbil principal da acção humana é o saber a pouco. A insatisfação.

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De Negro Vestida – XXV

 

Solidão – VI

Carolina Maria terminou o banho, seu retempero do corpo e da alma. Para si a água quente e o perfume do gel são bálsamos que limpam e acariciam e este ritual é um espaço de reflexão. Fecha-se no círculo que a água desenha tombando do chuveiro. Não ouve nada. Não sente nada a não ser o calor da água massajando-lhe o corpo. E pensa. E revive as tristezas, as alegrias, os pormenores. Hoje está voltando à biblioteca, ao jantar, às mãos largas e aos cabelos encaracolados. Acaricia-se levemente como que para senti-los mas depressa percebe a ilusão e a insatisfação com ela. Pára. Fica-se pelo rememorar delicioso que nestas coisas, ainda para mais sendo-se mulher, a mente pode mais do que o corpo. Termina o banho. Limpa-se. Faz o périplo dos cremes e vai à cozinha.

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João Paulo Videira

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De Negro Vestida – XXIV

 

Solidão – V

Maria de Lurdes está na marquise convertida em atelier de costura tentando fazer, refazer e reunir os gestos necessários para engrossar um pouco mais a coluna das receitas no seu orçamento familiar. Está sentada numa cadeirinha branca, tem a máquina de costura preparada, caixas abertas com linhas e acessórios à volta, as costas curvadas para a frente, uma linha presa entre os dentes e pressente. Pressente os filhos que chegam num rumor escadas acima. Sabia que chegariam tarde. Alguma utilidade têm os telemóveis e as SMS. Mas não sabia que, por via da mesma utilidade, chegariam mais ou menos à mesma hora. Estava já preocupada. Sem razão, é certo. Mas, sendo-se mãe, mais razões não são precisas para que uma ansiedade funda marque o ritmo do coração.
Sente-os aproximarem-se.

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João Paulo Videira

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