Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Vinte e Cinco


Vinte e Cinco

Olá!

Foi ontem. O nosso 11 de setembro. Marcante, este. Completaram-se 25 anos desde que, ainda muito jovens, imberbes, literalmente (!), resolvemos casar. E, na altura, queríamos que fosse para sempre, mas não sabíamos quanto tempo duraria sempre. Olha, afinal, num ápice, num átomo de tempo, já vamos em vinte e cinco.

Uma coisa é certa, se fizéramos planos para sair do país e trabalhar longe de casa, se isso alguma vez cruzou as nossas mentes, acho que foi no início da nossa união. Nunca pensámos que, se chegássemos aqui, passaríamos o dia em Maputo. Do outro lado do mundo.

O percurso tem sido fantástico. Melhor do que alguma vez sonhei.

Se alguma coisa me fica destes anos é a certeza de que estão neles os mais extraordinários momentos que vivi. Estão neles, também, o nosso filho que, por via das sinuosas linhas do Destino, fez ontem 23 anos. Falámos com ele de manhã. Está lá longe. Está bem. É nosso. É como se estivesse aqui, onde está sempre. Nos nossos corações.

Sim, vivemos dificuldades, passámos por crises. A maior parte das vezes, responsabilidade minha, por esse espírito deambulante que me faz questionar tudo. Tu és mais como era o meu pai: uma rocha de firmeza. Outras vezes, também, por inconstância tua. Nada disso importa. Somos, como disseste, companheiros! E acho que somos mais do que isso. Uma metade da outra metade. Um amor que ficou e resistiu e perdurou e renasceu e que habita hoje, tranquilo, nossos corações. 

Mudei contigo. Para melhor. E, sei-o com convicção, não quereria ter passado o dia de ontem com mais ninguém. Sendo honesto: não quereria ter passado os últimos vinte e cinco anos com mais ninguém.

Foi um dia de trabalho. Mas também foi um dia de flores e bolo de chocolate. E, sobretudo, foi um dia sem a energia de outros tempos, mas com a ternura e a certeza da companhia um do outro. 

Agora, acho, inicia-se um outro caminho. Por mais que custe, é preciso dizê-lo, escrevê-lo. Meu amor, acho que começou a estrada onde envelhecemos juntos. É precisa, agora, a sabedoria para tirar partido destes anos que são aqueles em que tudo é melhor e, ironicamente, em que tudo caminha para o fim. Seja! Contigo a meu lado!

Com a ternura dos quarenta e muitos, com o amor de sempre,

jota


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O Nosso 11 de Setembro

Caros Leitores,
peço muita desculpa a todos quantos sofreram a tragédia do 11 de setembro em Nova Iorque e àqueles que ainda sofrem com a tragédia, mas, para nós, este é um dia de imensa, inqualificável e redobrada alegria.

Com altos e baixos, com certezas e dúvidas, com alegrias e tristezas, com regozijo e dor, hoje fazemos 24 anos de casados… e acresce a isso o facto de o nosso filho fazer 22 anos de vida. Efetivamente, o rapaz resolveu nascer no mesmo mês, no mesmo dia e, imaginem a pontaria, à mesma hora em que tínhamos casado dois anos antes.

Assim, o nosso 11 de setembro é de alegria, é de vida e júbilo e, se é importante para nós o marco do casamento, sem dúvida que a presença do nosso filho ofusca tudo o resto.

Costuma dizer-se que os pais só têm olhos para os filhos. Acho que é mais do que isso. É só ter bons olhos. É sentir a nossa vida suspensa a cada decisão deles. É protegê-los, guardá-los e guiá-los para depois os ver partir como se nunca nos tivessem sido nada. Esse desprendimento, esse reconhecimento de liberdade e autonomia a quem amamos mais do que a nós próprios é o verdadeiro amor!

Não nos interessa muito o que o nosso filho é ou possa vir a ser. Não nos interessa muito o que ele possa vir a realizar. Para nós, a única coisa que realmente interessa é que ele é nosso filho e, faça o que fizer, será sempre entendido, valorizado, relativizado, percebido como uma centelha de perfeição no Universo. Quem não sentir este aperto no estômago, quem não depender dessa vida terceira, quem não souber abrir mão daquilo que mais ama, não é verdadeiramente pai, nem mãe.

Quem me conhece, sabe que sou um homem de múltiplas facetas e realizações e posso dizer, aos 44 anos, que já fiz de quase tudo. Pois, amigos, olhando para trás, a única coisa de que me orgulho 100% e sem qualquer reserva, não sou eu. É essa fantástica criatura que me tem cativo, como cativa tem sua mãe: o nosso filho. Melhor do que todos os outros como todos os outros, para seus pais, serão melhores do que ele, e se assim não fosse, não estaria correto.

Parabéns filho!
Vive sempre e para além de nós. Isso, aceitamos com naturalidade e regozijo.

jp/ap