Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


Deixe um comentário

Vermelho Direto – O Orgulho Português

Vermelho Direto – O Orgulho Português

Eu não posso dizer, em abono da verdade, ninguém pode dizer se o orgulho português, nos dias que correm, se resume à bola. Acho que não. Como disse Manuel Laranjeira, “Em Portugal ainda há coisas dignas de simpatia”, e eu acrescento que também há muitos motivos de orgulho para além da bola.

Não deixa de ser verdade que a bola tem uma dimensão, um impacto informativo e visual muitíssimo ampliado e difundido pelos Média e, nessa medida, é a face mais visível dos nossos motivos de orgulho.

A foto que aí está ao cimo pertence a um dos jogadores, João Moutinho, que registou os momentos de festa no balneário e publicou via Twitter. 

Ora, o que aí se vê são portugueses bem dispostos, sorridentes, rindo, abraçando-se, conquistadores e dominadores. O que aí se vê, à exceção de um ou dois, é um conjunto de jovens emigrantes que, estando fora de Portugal, é por esta maravilhosa nação que se empolgam e dão tudo.

Às vezes, olho para estas fotos e fico a pensar como seria extraordinário que todo o Portugal fosse um gigantesco balneário da nossa seleção. Com orgulho, com alegria, com determinação e com espírito pátrio.

O Cristiano Ronaldo anda um bocadinho às avessas de nós todos. Onde estamos cabisbaixos e desesperançados, ele mostra-se todo vigor, todo determinação, todo fulgor, todo conquista.

Há pessoas que dizem que nos alienamos com o futebol e depois cantam aquela cantilena antiga e esfarrapada dos três efes. Pois ontem, eu estava frente à televisão, num primeiro andar de uma rua pouco frequentada de Maputo, a mais de oito mil quilómetros de casa, e sempre que o Ronaldo corria, driblava, rematava e fazia golo, eu dava por mim de joelhos no sofá, braços abertos, a gritar alto muito baixinho para não incomodar os vizinhos e tudo à minha volta era esplendor, alegria, determinação, festa e Portugal. O meu sofá era Portugal. E essa alienação encheu-me o peito de alegria e, mesmo cá longe, cá muito longe, senti-me em casa. E essa alienação foi o meu regresso virtual, o meu reencontro com a Pátria, a minha satisfação e o meu orgulho português. Quanto aos outros dois efes, nada direi hoje, embora tenha coisas para dizer, já quanto ao efe de futebol, o mínimo que posso dizer é que ontem fui um feliz e orgulhoso português alienado. Graças ao Bento, ao Patrício, ao Coentrão, ao Alves, ao Pereira, ao Meireles, ao Moutinho, aos outros todos e graças ao mais fantástico jogador de futebol da atualidade: Cristiano Ronaldo. Alienado por hora e meia, sim, mas bué de orgulhoso!

E agora, espera-nos a mais fantástica das festas. Disputar o Mundial de Futebol em casa dos nossos irmãos brasileiros. Ei, galera, si sigurem, viu, Cristiano está a caminho e olhe que ele é bom de bola no gramado!

Portugaaaaal!!!
jpv

—————————————

A não perder: o dia em que um espanhol virou meio português:


Deixe um comentário

47

47

Olá fofinha.
Muitos parabéns!

Sem mais delongas, nem adjetivos, nem advérbios… que vivas outros quarenta sete adormecendo no meu ombro!

No outro dia reparámos que, no tempo das nossas vidas, já passámos mais tempo juntos do que até nos conhecermos. E isso acontece porque, não obstante todos os problemas, somos companheiros e queremos estar juntos.

Espero que tenhas um dia muito especial. Espero que sejas muito feliz. Espero saber contribuir para isso!

Um grande beijinho,

jp


Deixe um comentário

Crónicas de África – Eleições Autárquicas

Crónicas de África – Eleições Autárquicas

Hoje é dia de eleições autárquicas em Moçambique. Contudo, apesar disso e do título desta crónica, se esperava um texto político, desengane-se. O que nos move é a matéria social.

Não faremos comparações entre Moçambique e Portugal para mostrar que um é melhor do que o outro. Esse é um caminho que não nos interessa. Esse não é um caminho. Faremos comparações para percebermos as diferenças profundas que existem no encarar de um fenómeno aparentemente igual.

Ora, vamos às tais diferenças e o leitor faça os restantes juízos de valor por si mesmo.

O Dia
O dia de eleições, em Portugal, há muito que é ao domingo, ou seja, é num dia de descanso que se pratica o ato de cidadania de votar. Em Moçambique, esse ato, porque se quer útil, pratica-se num dia útil. Excetuando os serviços que não podem mesmo paralisar, polícia, exército e médicos, todos os outros, enfim, quase todos, paralisam no dia de eleições. Por exemplo, imagine-se isto em Portugal, os supermercados e os hipermercados encerram. Num dia útil. Que os moçambicanos querem útil e esperemos seja.

Caça ao Voto
Em Moçambique a expressão caça ao voto não é pejorativa, ou seja, não designa um político que vai para o terreno prometer fingidamente mundos e fundos com o intuito único de angariar votos. Em Moçambique, os jornalistas e as pessoas usam a expressão caça ao voto de uma forma natural significando uma ação de campanha em que um candidato vai para o terreno contactar com as populações. Assim, o telejornal pode abrir com a frase “Fulano de tal saiu hoje à rua para a caça ao voto” e isso não constitui uma crítica ou um juízo de valor pejorativo. É só a constatação de que ele está em campanha junto dos eleitores.

A Marca
No dia da votação, os eleitores dirigem-se às mesas de voto, tal como em Portugal, mas não vêm de lá como em Portugal. O ato de votar inclui colocar o dedo numa esponja com tinta indelével assinalando que aquele eleitor não pode apresentar-se de novo às urnas. A consequência mais interessante é que as pessoas, após votarem, exibem orgulhosamente a sua marca como que assinalando o facto de terem cumprido o seu dever cívico.

Número de Municípios
Portugal tem 308 municípios. Moçambique tem 53. De Maputo (Sul) a Nampula (Norte) é como de Lisboa a Düsseldörf. Portugal tem 10 milhões de habitantes. Moçambique tem 23.


Programas e Promessas
E aqui reside a principal diferença. Aquela que é, afinal, a principal razão desta crónica. O teor das promessas e dos discursos eleitorais é profundamente diferente. Em Portugal é já muito abstrato e, nesse, sentido, muito prudente. É generalista. Cabe lá tudo e pode não caber lá nada. Por outro lado, as eleições autárquicas, em Portugal, têm uma dimensão nacional que lhe é atribuída sobretudo pelos Média. Em Moçambique, as autárquicas não têm amplitude nacional. São mesmo autárquicas, municipais, regionais. O que conta é o trabalho de cada candidato naquela região e as leituras partidárias de amplitude nacional esbatem-se. Os programas e as promessas que resultam deles são muito concretos, muito específicos, o que resulta na possibilidade de haver uma avaliação muito visível do trabalho do edil. Vamos a exemplos. Em Portugal pode prometer-se melhorar equipamentos sociais, aqui promete-se umas casas de banho num determinado mercado. Em Portugal promete-se melhorar a rede de transportes, aqui promete-se uma carreira específica de transporte público entre dois bairros e identificam-se quais. Em Portugal promete-se melhorar as vias de circulação, aqui promete-se uma estrada que vai de tal ponto a tal ponto. Em Portugal promete-se melhorar as infraestruturas de saneamento básico, aqui promete-se fornecimento de água para o bairro tal e identifica-se especificamente qual.

Eu diria que a política portuguesa está mais abstrata e mais depurada, mais estéril, mas, por outro lado, mais abrangente. Em Moçambique a política está num estado mais puro e concreto, numa relação de “dou para que dês”, à maneira romana, entre eleitor e candidato.

O dia está a decorrer com grande civismo e tranquilidade. Nem outra coisa seria de esperar de um povo que tanto batalhou pela Paz e que a preservará a todo o custo. E, como se diz na gíria da bola, que ganhe o melhor!
jpv