Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Menino de Rua


As Cores da Capulana

Menino de Rua

Menino de rua,
De pé no chão,
Mão estendida
E alma nua…
Que vontade
É a tua?
Que história
Por contar?
Que destino
Por cumprir?
Que amores
Por amar?
Que fugas
Por fugir?

Menino de rua,
De alma nua…
Um homem por perto,
Um sorriso aberto,
E no olhar,
Sempre a mesma
Dança
Do desespero
E da esperança.

Mão estendida
À procura de vida.
Uma vida
Maior do que tu,
Menino de rua,
De corpo semi nu
E olhar terno,
Menino de rua,
Filho do tempo moderno,
Que vontade
É a tua?
Que reflexo
Tem na gente
A tua alma nua?

Filho do povo,
Órfão do ritmo novo,
Vagueias com o pé
No chão
E o vazio na mão.

Estendida.

Que homem
Nascerá no teu corpo
Semi nu?
Que responsabilidade
Terás tu?
Como agarrarás
A vida,
Se a tua mão
Estava estendida
E o teu olhar
Concentrado
Nesse homem por perto
Que não viu
A floresta no teu olhar
E plantou um deserto?

Menino de rua,
De alma nua,
Que vontade
Será a tua?

jpv
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Vendedeira de Medos

As Cores da Capulana

Vendedeira de Medos

Vendes o sabor
Da tua terra
Num saquinho de plástico.
E, nas tuas palavras,
O saco encerra
O sabor mais fantástico.

– Caju, papá?
– Não, Obrigado.
– Vá lá, tá bom preço.
E, no resgate da alma,
Sou eu que te peço:
– Como está hoje?
– Está cem.
E o dinheiro
Vai e vem
Nesse bailado
E nesse ritual
Que é ser trocado 
Por caju sem igual.
Vendes o exotismo,
O sabor,
E o cheiro de Moçambique.
Vendes até que o tempo deixe
Crescer a sombra
Da árvore grande
Junto ao mercado do peixe.

Capulana à cintura,
E um saquinho
Suspenso dos dedos,
Encaras a vida que é dura
E vendes um punhado de medos.

– Caju, papá?
– Dá lá.
jpv
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