1) Este texto constitui uma reação a quente ao texto “O Fascismo do Grândola Vila Morena” que Henrique Raposo publicou no Expresso e se pode ler aqui.
Raposo classifica quem canta a “Grândola Vila Morena” de fascista porque, ao cantar, não deixa os outros expressarem-se. E eu pergunto a Raposo como é que ele classifica os políticos que estiveram no poder nos últimos trinta anos e delapidaram o erário público e as poupanças dos portugueses? E pergunto-lhe também como é que ele classifica os proprietários e administradores dos bancos que “deram prejuízo”, que praticaram fraudes e que agora estão a ser pagos com o suor dos trabalhadores portugueses mesmo continuando a anunciar publicamente lucros de milhões? E como classifica aqueles que aos 40 anos têm várias pensões de reforma milionárias? E como é que ele classifica as pessoas que por terem poder, por terem influência política, por terem dinheiro, roubaram a Nação? Esses, caro senhor, esses sim, são os fascistas. Os jovens não podem ter atos de violência e falta de civilidade, mas podem e devem manifestar a sua indignação e, se o fizerem ao som de “Grândola Vila Morena”, só mostram bom gosto, sentido patriótico e memória coletiva. Esses jovens a que se refere como aprendizes de fascista, senhor Raposo, estão condenados a aprendizes de mendigo pelos verdadeiros fascistas e, por isso mesmo, não só lhes assiste o direito à indignação, como a manifestá-la.
Henrique Raposo é um verdadeiro profissional do fascismo. Porquê? É simples. Todos os profissionais do fascismo se disseram sempre adeptos da democracia. É o que faz Raposo. Todos os profissionais do fascismo tentaram sempre, em nome da democracia, calar os oprimidos e os insatisfeitos. É o que faz Raposo. A sua crónica não é mais do que um “Chiuuu, meninos, vamos lá a calar e a fazer poucas ondas, não perturbem a democracia que está tão bem assim, adormecida!” Raposo faz lembrar o tipo da PIDE que dizia aos jovens que era melhor estarem caladinhos se não… E depois faz esta coisa fantástica que é invocar para si o conhecimento do que é a democracia, armar-se em vítima e acusar os jovens que cantam o “Grândola Vila Morena” de serem praticantes do ódio, da intolerância e da violência! A ver se as pessoas se sentem culpadas e se calam por si. Temo, caro cronista, que esteja com pouca sorte. A intolerância dos fascistas profissionais está a fazer faltar o pão em cima da mesa dos aprendizes de fascista e, reza a história, quando falta o pão, a malta põe-se a cantar cantigas de intervenção…
Eu penso que o Governo de Portugal não agradece estes arrufos literários aos henriques deste mundo. E percebe-se. O Governo tinha pela frente uma tarefa difícil, uma tarefa cuja solução iria exigir uma governação pouco simpática e facilmente alvo de críticas e contestações. Ora, como Governo, cabe-lhe ouvir as críticas e as contestações e governar tendo em conta uma grande variedade de vetores, incluindo as ditas críticas e contestações. O que não lhe cabe é não ouvir as pessoas e, muito menos, calá-las! Ora, Henrique atreveu-se a fazer o que nenhum governante fizera antes, disse aos meninos para estarem caladinhos. Isto só mostra que onde os governantes têm tido consciência democrática, a Henrique, tem-lhe faltado!
Ó Ruiquito, só para chatear:

27/02/2013 às 16:21
Olá Mana, ainda há essas leituras! Há dias vi uma comparação da atitude dos gregos com a dos portugueses…
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27/02/2013 às 14:49
E o povo português manifesta-se com uma canção! (não contam os carolos no Relvas…foram só uns carolozitos!)Imaginem só se reagissemos como na vizinha Espanha?? Se nós somos aprendizes de fascistas por usarmos uma canção para nos manifestarmos o que serão os nuestros hermanos???
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