Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Higiene e Segurança Alimentar para Mariquinhas

Higiene e Segurança Alimentar para Mariquinhas

Se eu fosse cavalo, e não há provas irrefutáveis de que não tenha sido ou não possa vir a ser, estava pior que estragado. Ou então, ao contrário do que a malta pensa porque nos ensinam na escola, a bicharada é bem menos seletiva do que se diz e no mundo animal vai a maior das rebaldarias.

O pior é que, ultimamente, a tal da rebaldaria parece ser unânime em desprestigiar o outrora nobre e garboso cavalo. Vamos a factos que de argumentos a coisa vai fraca. Há uns meses surgiu num site da Globo.com, este, uma notícia que depois correu mundo em que uma pesada, patusca e deliciosa vaca, saltava obstáculos qual Pegaso alado. Que eu me lembre não houve reação do universo equídeo nem seus humanos representantes, ainda assim, a coisa foi vergonhosamente humilhante. Toda a gente sabe que, excetuando multinacionais de fast food onde se aprecia mais a minhoca e certas culturas orientais, a carne de vaca serve é para comer, mal passada de preferência, e não é cá para andar aos saltos.

Ora, ultraje dos ultrajes, o jornal Público, que devia andar a analisar assuntos sérios como, por exemplo, a crise nacional ou a inusitada moda da condenação de autarcas portugueses, publicou aqui uma notícia sobre o facto de ter sido encontrado ADN de cavalo em hambúrgueres de vaca. E o mais grave não é a descoberta em si. O mais grave é que isso é visto como algo de negativo ou mesmo prejudicial à saúde porquanto se informa que tais e suculentos hambúrgueres foram retirados do mercado. Com que direito? Pergunto eu. Acaso o cavalo é menos bom de comer que a vaca? É o aparecimento de tal ADN algo de extraordinário? A meu ver, se uma vaca pode saltar obstáculos por que raio não pode um cavalo aparecer num hambúrguer depois de uma noite bem bebida em que se embrulhou com a fêmea errada cuja prole acabou no matadouro? A mesma notícia refere-se aos hambúrgueres como produtos adulterados. Só pode ser engano. Quanto muito serão produtos adúlteros, mas, em minha modesta opinião, isso é lá com o cavalo e com a vaca e mais ninguém tem nada a ver com o assunto. Respeite-se a privacidade de cada um!

Depois, eu acho que anda por aí uma síndrome de 
Higiene e Segurança Alimentar para Mariquinhas. Eu ainda sou do tempo em que as Bolachas Maria se arrumavam na mercearia ao pé do sabão azul e vá-se lá saber porquê sabiam a… sabão! Eu ainda me lembro do que se fazia quando um garfo caía ao chão num restaurante. Não se fechava o negócio ao homem nem se despedia o empregado, apanhava-se do chão e limpava-se ao guardanapo e servia na mesma. Ainda me lembro, nas mercearias e supermercados dos gloriosos anos oitenta, dos pasteis de nata na vitrina do balcão onde, em baixo, figurava a carne de porco. Aquilo cheirava, mas nada que um assopro não resolvesse. Ainda sou do tempo em que o padeiro punha o pão para o saco com as mesmas mãos com que se coçava… não, não era nas costas. Aí ele não chegava. E ainda me lembro de haver pessoas a vender comida sem toucas na cabeça. E olhem para mim, quarenta e cinco anos, um metro e setenta dois quando endireito as costas e oitenta e seis orgulhosos quilos, felizmente, a transpirar saúde e humidade de Maputo.

Ora, porque é que se foi embirrar agora com o cavalo? Ou com uns vestígios de cavalo num hambúrguer de vaca? Vai-se a ver e aquilo eram as hormonas da vaca que queriam ser cavalo e saltar obstáculos! Por amor da Santa, deixem-se de mariquices alimentares e tratem da saúde ao país enquanto a malta come os hambúrgueres se os houver!

É claro que tinha de estar envolvida uma cadeia de supermercados com nome esquisito. Nestas coisas, é sempre bom que o mal aconteça onde os nomes são esquisitos. Até porque o cavalo é um bicho caprichoso, não se deixa vender em qualquer tasca! Foi no Lidl. E o que diz o Lidl? O costume, que nunca comercializou tais hambúrgueres 
“nem quaisquer produtos que contenham carne de equídeo”. Aliás, se os jornalistas do Público continuassem a fazer perguntas, o senhor do Lidl acabava a dizer que o Lidl não existia. Lidl? O que é lá isso? Cavalo? Não, aqui não, cavalos é na Golegã!

Às vezes gosto do meu país, das pessoas nele, do jornalismo, das prioridades, das políticas… outras vezes prefiro os cavalos, nem que seja num hambúrguer de vaca! Olha, agora que estou aqui por África e vou conhecendo isto, esta notícia tinha um efeito engraçado era se aparecesse na África do Sul. Estou mesmo a ver um Sul Africano com dois metros e dez de altura e cento e cinquenta quilos de peso a reagir:
– Hã?! O quê?! Hambúrgueres de vaca com cavalo? Grelha-se já! onde é que isso está que a gente grelha já?! Mal um Sul Africano suspeita que haja proteínas animais por perto, agarra-se ao carvão e aos forfes e, pelo sim pelo não, faz uma fogueirinha! Isso é que é de homem. Agora lá estranhar o cavalo na vaca. Não faltaria!
jpv


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Divulgando

AVISO | A EPM-CELP retoma parcialmente as aulas amanhã (17JAN13)

A EPM-CELP vai retomar amanhã (17JAN13) a atividade letiva para todos os níveis de ensino, com exceção do Pré-Escolar, uma vez repostas as condições mínimas de segurança ambiental após as fortes chuvadas registadas ontem.

Mais comunica que, a partir deste momento, também retoma o contacto com a comunidade educativa, amigos e simpatizantes através da Internet na sequência da reposição do respetivo sinal a partir das 16H30 de hoje, que fora interrompido ontem pelos nossos fornecedores.

A DIRETORA
Dina Trigo de Mira


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O Efeito Devastador das Chuvas em Maputo

Lamento ter de reproduzir este aviso pelas razões que o provocaram, mas a divulgação torna-se importante. Agora, é altura de deitar mãos à obra e colocar a Escola a funcionar o mais rapidamente possível.
jpv

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AVISO | Amanhã (16JAN13) a EPM-CELP vai interromper a atividade letiva

A Direção da EPM-CELP comunica aos pais e encarregados de educação que, em consequência dos efeitos das fortes chuvadas caídas nas nossas instalações e respetivas imediações, haverá amanhã (16JAN13) interrupção das atividades letivas. Mais se informa que durante o dia de amanhã será emitido novo comunicado a anunciar a reabertura das aulas.

Devido ao facto de a EPM-CELP não dispor de sinal de internet, por impedimento técnico dos seus fornecedores, deverão os pais e encarregados de educação seguir a evolução da situação através desta página do Facebook, uma vez que o acesso à nossa página oficial na Internet poderá não estar disponível enquanto durar aquele impedimento. Neste sentido, solicitamos aos pais e encarregados de educação o apoio na difusão e partilha deste aviso através das suas redes sociais de contactos.


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Elas, Eles e os Supermercados

Elas, Eles e os Supermercados

Fábula Antiga de Moralidade Duvidosa

Eu não sou, nunca fui, o tipo de homem que fica em casa enquanto a mulher vai às compras. Não é que me importasse, mas há qualquer coisa em mim que me diz que sou eu que devo acartar os sacos. Este pensamento até pode ser machista, mas quanto a isso, sejamos frontais: é um pensamento honesto e o machismo, na sua versão de cavalheirismo respeitoso, faz muito mais falta do que a igualdade da violência doméstica. Mas não me liguem. Eu sou um tipo esquisito.
Ora, assumindo que o supermercado é um destino para gajos e gajas, há alguns fenómenos sobre os quais importa refletir. E depressa antes que tão importantes pensamentos escapem ao resto da Humanidade, distraída que anda com a crise internacional.
Em primeiro lugar, nós somos mais honestos e pragmáticos na incursão ao supermercado. Eu explico. Se um tipo diz à mulher, Espera aí cinco minutos que eu vou ali ao supermercado buscar seis latas de cerveja, há duas coisas que ela pode ter a certeza. Ele demora mesmo cinco minutos, ou menos, e traz mesmo seis latas de cerveja e só não as trará se a fila da caixa estiver muito longa e o tipo resolver deixá-las no corredor e sair dali depressa que a bola está quase a dar, perdão, a mulher está no carro a esperar. Um homem, quando entra num local desses, leva na cabeça ou, preferencialmente, escrito num papel, o que quer trazer, vai direito às coisas, despeja para um cesto, vai à caixa pagar e sai dali depressinha. Com elas, a coisa funciona de forma ligeiramente diferente. Vejamos, ela diz uma frase mais imprecisa e que pode bem enganar os mais novatos, soa a algo como isto, Vem comigo ali ao supermercado que eu preciso de umas coisitas. Ora, se são só umas coisitas, para que é que nós somos precisos? Ah pois é. Cavalheiros, habituem-se ao seguinte, umas coisitas são dois carros de compras e mais uma esfregona! Os mais batidos, antes de irem perguntam, Precisas do quê? Mas isto não adianta nada por causa do Também me faz jeito. Eu explico outra vez. Ela responde, Ah é só um champô e umas ervilhas. E um homem vai todo lampeiro a julgar que volta daí a dez minutos. Errado! Um champô implica um amaciador que implica tinta para o cabelo que implica umas rodelas de algodão em sacos que parecem da bolacha Maria mas não são que implica pasta dentífrica que implica… duas horas na secção de higiene. E as ervilhas… enfim, quem vai às ervilhas, entra no complexo mundo de abastecer uma cozinha e perdeu a tarde! E porquê? Porque Também me faz jeito!
Ora, isto não é bom para o matrimónio. Por várias razões donde destaco duas. A malta tem de se distrair durante aquelas secas infindáveis e nem sequer podemos reclamar senão levamos com a sacramental frase, Também gastas as coisas, não gastas? Ou, pior ainda, Também vives lá em casa, não vives? Que raio de pergunta! Claro que vivo. Eu sou o tipo que liga a televisão! Então, inventamos passatempos. Ou vamos olhando para as outras compradeiras, tirando medidas, analisando formas e comportamentos ou, para não arranjar chatices porque 99% anda a fazer o mesmo que a nossa mulher, vamos à secção dos vinhos, olhamos para os rótulos, lemos as descrições e tornamo-nos em enólogos de supermercado. Ora, qualquer destes tipos de passatempo pode trazer dissabores ao matrimónio seja porque elas embirram com a ideia da malta olhar para as outras, seja porque acham que ver garrafas de vinho pelo lado de fora faz de nós membros dos AA.
Outra coisa tão engraçada quanto exasperante é a capacidade que as mulheres têm para dizer que duas coisas iguais são diferentes ou mesmo que uma delas é melhor. E fazem teorias. Um exemplo. Se um tipo for ao supermercado buscar uma lata de atum, procura a secção das conservas, dirige-se às latinhas amarelas, agarra na primeira que vê e põe para o carro. Nós sabemos que há lá mais latas da mesma marca e de outras marcas, mas só queremos uma e atum é atum em qualquer parte do mundo. Uma mulher avalia todos os tipos de atum, da consistência à cor, do preço ao número de calorias e consegue saber que há uma lata que é melhor que as outras e mesmo assim, no fim, pode bem decidir-se por sardinhas por causa da consciência ecológica ou animal ou lá o que é porque comer atum parece que faz mal aos golfinhos… não há pachorra!
Eu cá tenho uma teoria de moralidade duvidosa. Um tipo quando vai ao supermercado vai lá com instinto predador. O que lhe resta. Ai é atum? Então seja. E traz atum. Já uma mulher, quando vai ao supermercado, é como se estivesse a cuidar e a proteger a sua prole, como se estivesse a garantir a segurança e a qualidade de vida da sua manada. E então torna-se seletiva e açambarcadora. E é isso que leva tempo. É um bocadinho como aquela história de fazer amor. Para elas implica mesmo amar e distinguem com toda a clareza e pormenor do sexo. Para eles, fazer amor e sexo são duas formas possíveis de nos referirmos à mesma coisa. E não digo qual, caso contrário desvanecia-se a dúvida da moralidade. Ou falta dela!


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Crónicas de África em Imagens – Vilankulo

Crónicas de África em Imagens – Vilankulo

Maputo, 13 de janeiro de 2013

Vilankulo fica a cerca de 740km a norte de Maputo. É uma terrinha pequena e acolhedora cuja principal atração é o mar e naturalmente tudo o que se relaciona com ele, nomeadamente, o peixe. Vivo para se observar nas barreiras de coral do arquipélago de Bazaruto que fica em frente, e cozinhado, no prato! O azul das águas e a diversidade da fauna marinha fazem ter vontade de voltar. Já vi o nome da terra escrito de quatro formas diferentes, Vilanculos, Vilanculo, Vilankulos e Vilankulo. Optei por esta última por ser a que está na placa de sinalização à entrada da localidade.



Praia de Vilankulo


Praia de Vilankulo


Praia de Vilankulo


Ilha de Magaruque, Arquipélago de Bazaruto.


Baobab Beach Lodge, Vilankulo.


Ao largo de Vilankulo.


Ilha de Magaruque, Arquipélago de Bazaruto.


Estrada Nacional 1, a cerca de 200km de Vilankulo.


Nascer do Sol na Praia de Vilankulo.


Nascer do Sol na Praia de Vilankulo.


Baobab Beach Lodge, Vilankulo.


Maré Baixa em Vilankulo.


Nascer do Sol na Praia de Vilankulo.


Baobab Beach Lodge, Vilankulo.


Maré Baixa em Vilankulo.


Baobab Beach Lodge, Vilankulo.


Baobab Beach Lodge, Vilankulo.


Hotel Dona Ana, Vilankulo.
Um ex-libris da localidade, agora em requalificação


Praia de Vilankulo.


Ilha de Magaruque, Arquipélago de Bazaruto.


Ilha de Magaruque, Arquipélago de Bazaruto.


Nascer do Sol na Praia de Vilankulo.


Ilha de Magaruque, Arquipélago de Bazaruto.

jpv
Todas as imagens foram captadas
 por mim ou por familiares .


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Filho

Filho

A minha mão
Na tua mão segura,
Não sei se te prende a mim
Ou se me prende a ti
Nessa sensação que perdura
Entre perder-te
E ter-te assim.

O meu peito
Ao teu peito entregue,
Não sei se bate o meu
Porque o teu quer
Ou se bate o teu
Porque o meu lhe empreste
A vida.

O meu olhar
No teu olhar preso,
Tem uma ânsia
E um fogo aceso
De libertar-te e reter-te.

Já foste.
Tinhas ido, já.
Estiveste cá,
Mas foste sempre de lá.
De onde a tua vida se faz,
De onde os demónios
Procuram a paz
E os anjos os atiçam com desejo.

Já foste.
E deixaste a tua presença
Forte.
E não há gume que corte
Este estares aqui,
Sempre.
Ausente do meu tato.
Presente no local certo e exato
De mim.

Sem ti
Não há universo
Nem motivo para que haja.

Morri já
E não sei.
Dei ao mundo a vida que dei
E resgatei a minha pobre
E atormentada alma
No momento em que te vi.
O primeiro,
E este último,
Ainda agora e aqui.

Gosto de ti
Cada vez mais
À medida que a vida se desenrola.
Seja a traçar sagaz teoria,
Seja a beber mais uma coca-cola.

E dói e sangra a tua liberdade
Em mim.
Esse sangue que precisa jorrar
Para que se realize
O homem
E eu possa, por fim,
Descansar na tua existência.
Ser pai não tem ciência,
Basta sofrer,
E ver-te crescer e partir,
E fingir
Que sou feliz com isso
E a espaços
Abraçar-te como se não houvesse amanhã.
Ser filho é bem mais difícil.
É a arte de navegar ancorado,
De partir amarrado
E nessa única
E singular partida
Reinventar toda a vida
E viver tudo de novo.

Gosto de ti
Cada vez mais
À medida que a vida se desenrola.
Seja a traçar sagaz teoria,
Seja a beber mais uma coca-cola.

jpv


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Crónicas de África em Imagens – Maputo

Crónicas de África em Imagens – Maputo

Maputo, 12 de janeiro de 2013

Caros Leitores e Amigos,

Inicio hoje a publicação de algumas Crónicas de África com poucas palavras. Porque um amigo moçambicano a viver em Portugal, o Jorge, me pediu. Porque diversos leitores sugeriram que colocasse imagens nas crónicas. Como não colocarei imagens nas crónicas por uma questão de princípio, farei algumas só com imagens. A escolha é aleatória, sem qualquer critério que não fosse o de captar alguns dos espaços mais conhecidos. Começo pela Capital. Desfrutem.


Restaurante Mundus, Av. Eduardo Mondlane.

Restaurante/Pizaria Pirata, Polana.


Hotel Polana, Av. Julius Nyerere.


Av. Julius Nyerere.


Museu de Geologia, Av. 24 de Julho.


Restaurante/Pastelaria Cristal, Av. 24 de Julho.


Pastelaria Nautilus, Polana.


Museu de História Natural


Av. 24 de Julho.


Rotunda do Hotel Cardoso


Av. Vladimir Lenine


Fortaleza


Capitania do Porto Marítimo.


Estação do Caminho de Ferro.


Casa Elefante, Av. 25 de Setembro.


Edifício do Café Continental, Av. 25 de Setembro.


Edifício do Teatro Scala, Av. 25 de Setembro.


Jardim do Tunduro


Praça do Município e estátua de Samora Machel.


Bazar, Av. 25 de Setembro.


Catedral de Maputo


Rádio de Moçambique.


 Clube Naval.


Igreja da Polana.
jpv
Todas as imagens foram captadas por mim
ou por familiares enquanto eu conduzia. 
A esse propósito, um agradecimento ao Luís 
pela paciência e disponibilidade.


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Crónicas de África – Dear Velma

Crónicas de África – Dear Velma

Dear Velma,

The moment you started to talk with me, the moment your sweet voice said the word Africa, I couldn’t help recalling Meryl Streep in the role of Karen Blixen saying those wonderful and magic words: “I had a farm in Africa.”

Although we met briefly, our conversation was intense and emotional. I saw in your eyes that unique feeling that we, the Portuguese, call saudade. You had a farm in Africa and a husband that was a young courageous working man and you succeed. Days changed and so did the will of men. And you lost it all. But the thing is that Africa lives in your heart, in your memories and is brought to us by your tender wise words.

The reason I write you today it’s because in spite of all the suffering and doubts, I saw hope in your eyes. I saw the true love for this immense red continent. I saw that you really wanted things to work out well… So, I come to reassure you that everything is going to be ok. Don’t be afraid. You may no longer have a farm in Africa, but Africa is still the farm of your dreams.


jpv


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Crónicas de África – Dias Intensos

Crónicas de África – Dias Intensos

Pilgrim’s Rest, 9 de janeiro de 2013

Os últimos dias foram bastante intensos. De intensidades diferentes. Após nova incursão por terras e mares moçambicanos, com destaque para Vilankulo e Inhambane, resolvemos trazer o Iago, a Sandra e o Luís ao Kruger Park e a uma região denominada de Panorama, na África do Sul.

É claro que parte dessa intensidade se prende com o facto de sabermos que, à medida que os dias passam, se aproxima o momento em que eles, com particular ênfase para o Iago, vão partir.

Não sei se sou eu que exagero neste aspeto, mas a separação de pais e filhos é, para os pais, violentamente dolorosa. Para os filhos também será, mas atenuada pela força e pela energia da juventude.

A visita ao Kruger foi surpreendente. Ficámos no Skukuza Rest Camp que tem condições muito boas e uma vista soberba sobre o rio. A quantidade e a diversidade de aves, répteis e mamíferos que é possível observar em estado selvagem e a distâncias mínimas é entusiasmante. Aves de rapina, um arco-íris de pássaros, crocodilos, leões, elefantes, girafas, zebras, rinocerontes, hipopótamos, búfalos, gnus e toda uma extraordinária variedade de antílopes, donde se destaca o Springbok, são observáveis a meia dúzia de metros com comportamentos genuínos. Um dos momentos mais impressionantes para todos nós foi quando uma manada de elefantes, com mais de sessenta elementos, resolveu atravessar a estrada à nossa frente a não mais de dez a vinte metros. Um espetáculo de cerca de 10 minutos de cortar a respiração. Hoje, pela manhã, assistimos a uma “briga” de dois jovens elefantes que resolveram brincar no meio da estrada. Fosse em estrada asfaltada, fosse pelos trilhos de terra, os encontros e as surpresas foram inúmeros. Quando deixámos o Kruger, já levávamos a vontade de voltar.

A região de Panorama é montanhosa, verdejante, fresca e abundante em cursos e quedas de água altíssimas e de rara beleza. Visitámos a localidade de Graskop. É uma terra pequenina, com as casas baixinhas e em madeira. Parece que, a qualquer momento, vão surgir numa esquina cowboys montados a cavalo. Aqui produzem-se sedas e a especialidade da terra são as panquecas que nós comemos no emblemático “Harrie’s”.

Ao longo do caminho, parámos diversas vezes para ficar a observar paisagens imensas, intensas, de recortes quase impossíveis. Grandes vales, rochedos suspensos, quedas de água com várias dezenas de metros de altura. Estivemos em The Pinnacle, em God’s Window e em Wonder View. Visitámos as Lisbon Falls, as Berlin Falls e as quedas de água de Bourke’s Luck Potholes e demos um refrescante mergulho nas Mac Mac Pools, umas piscinas naturais no leito de um rio que desce a montanha em sobressalto. Por fim, dirigimo-nos para Pilgrim’s Rest. A cidade não existe. Quer dizer, ela existe, mas não é deste tempo. É uma autêntica visita ao passado, o regresso ao século XIX e à época da corrida ao ouro. Todas as casas estão preservadas e o mais possível mantidas no seu estado original. São construções em madeira com telhados de zinco, alpendres em madeira e todos os placares a anunciar um negócio reproduzem o estilo da época pelo que são em madeira com as letras e gráficos pintados à mão. As bombas de gasolina imitam as do início do século XX. Ficámos hospedados no “Royal Hotel”, também ele repleto de História e histórias. É um edifício em zinco por fora e todo forrado a madeira por dentro. As paredes dos quartos estão forradas a papel com motivos florais e os cortinados são daqueles antigos e pesados com os mesmos motivos. há quadros da época com cenas dos mineiros, dos garimpeiros e de caça. As camas são em ferro, os lavatórios são armários em madeira e as banheiras são em latão com aqueles pés curvos a suportá-las. Todos os candeeiros imitam a iluminação a petróleo. A sala de estar onde agora escrevo estas linhas é um imenso salão com vários conjuntos de sofás em tecidos estampados e naperons de renda a enfeitá-los. Não há televisão, nem mini-bar, nem ar condicionado nem serviço de quartos. De propósito. Há livros, uma luz amarelecida por todo o hotel e inúmeras ventoinhas de teto com as pás em madeira. O restaurante parece um saloon tirado de um filme do John Wayne. Tudo isto transpira uma ambiência vitoriana com um toque de faroeste e é quase impossível esquecermo-nos de que já passaram mais de cem anos.


Sim. O nosso filho parte em breve, mas ficam memórias comuns insubstituíveis. Memórias como a da conversa com Velma que contarei um dia destes. África surpreende-nos a cada dia, a cada quilómetro percorrido, a cada localidade visitada. Apetece ficar!

jpv


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Crónicas de África – Road Trip Maputo-Áustria-Suíça e Volta

Crónicas de África – Road Trip Maputo-Áustria-Suíça e Volta

Maputo, 29 de dezembro de 2012


O título desta crónica pode causar algum estranhamento. Se o fizer, fiquem os amigos leitores sabendo que a intenção foi precisamente essa. Tratou-se, de facto, de uma viagem de carro que durou alguns dias pelo que chamar-lhe Road Trip não é totalmente desadequado. A designação do percurso, Maputo-Áustria-Suíça e Volta, é que pode ser mais discutível. Literalmente falsa, mas metaforicamente correta. O trajeto real foi de Maputo para o Hlane Park, na Suazilândia, depois em direção à segunda cidade do pequeno reino suazi, Manzini, e por fim direito à Capital, Mbabane. Este troço entre Manzini e Mbabane é composto por uma estrada de asfalto cortando a montanha verdejante onde as vacas pastam e enfeitam a paisagem. Nem parece África. É uma paisagem evocativa da Áustria que em tempos visitei. Quando passámos a fronteira, entrámos na África do Sul pela Reserva Natural de Somgimvelo que cruzámos de ponta a ponta pois percorremos aquilo a que os sul-africanos chamam de “Genesis Road”. É um extensíssimo e muitíssimo denso bosque de pinheiros nórdicos, uma paisagem completamente verde, a estrada subindo e descendo emparedada entre montanhas e árvores. É sombrio e fresco. Não fossem os babuínos que por vezes se atravessam na estrada, dir-se-ia estarmos a cruzar os Alpes suíços. O percurso termina em Barberton que reclama para si o título de Berço do Mundo porque está rodeada das mais antigas montanhas do mundo onde estão, também, as rochas expostas mais antigas.

Foram dois dias completamente diferentes na medida em que se perdeu a paisagem tipicamente africana e se entrou num ambiente alpino. Quase deu a sensação de termos saído de Maputo, cruzado a Áustria, a Suíça, e regressado, dois dias depois, à Capital Moçambicana. É a diversidade africana a manifestar-se também na paisagem.
jpv