Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Crónicas de África – Mundo Pequeno


Mundo Pequeno

Maputo, 19 de novembro de 2012

Este blogue é absoluta e completamente independente e o seu proprietário e gestor não deve nada a ninguém, exceto à Caixa Geral de Depósitos, logo, por aqui se fala do que quero e me apetece desde que me dê na gana, que não é real, e faço a publicidade e promovo quem muito bem entendo. Ou seja, nesta crónica vou referir marcas e/ou produtos e assumo a responsabilidade.

Um dos ex-libris de Maputo é o Café-Bar-Pastelaria Continental. Fica ali próximo do Bazar (Mercado Central) e do Mercado do Pau e é um espaço amplo de mesas generosas e uma colunata altíssima e imponente com uns feitios em “L” escrito à mão a encimá-las. Tudo aquilo transpira bem estar e paira no ar um odor adocicado a pastelaria acabadinha de confecionar. Acresce, ainda, uma esplanada em cima de um estrado em madeira de dimensões consideráveis. A pastelaria é muito boa e o café de excelente qualidade. Quem for um bocadinho cusco não dispensa um pequeno almoço de sábado ou domingo naquela esplanada porque faz esquina e dá para ver quem vai, quem vem e quem fica.

No domingo, fomos lá tomar o pequeno almoço. Arrofada mista com um toquezinho de manteiga, café e chá. E estávamos muito descansadinhos a cuscar o passar das gentes, escondidos no nosso anonimato de recém-chegados, quando passa por nós um homem alto e bem constituído que para a olhar para mim, dá dois passos na minha direção e diz:

– Olá! Então o que é que faz por aqui?

E quando me levantei por educação e lhe estendi a mão, reconheci-o, mas não o identifiquei:
– Eu estou a conhecê-lo, mas tem de me dar uma ajuda.
– Então, da Pizaria Catita!
– Mas isso é no Entroncamento!
– Era! Tive de a fechar!

E relembrei uma mãe trabalhadora que em tempos se sacrificou educando dois filhos, uma rapariga e um rapaz, e o rapaz cresceu no negócio e fez-se nele e a simpatia com que nos tratámos nesses dias distantes da
Pizaria Catita guardou emoções nos corações e essas emoções vieram reencontrar-se em Maputo onde me julgava anónimo, mas, ao que parece, não sou assim tanto.

É pequeno, o Mundo. Sobretudo quando os corações dos homens são grandes. O rapaz, hoje um homem, já brevemente descrito, reconheceu-me. Conversámos um bocadinho, trocámos números de telefone e, claro está, estabelecemos um elo.

Depois, quando saímos dali, demos uma volta pela marginal de que vos mostro algumas fotos, e eu fui pensando, Quantas pessoas mais estarão em Maputo que eu conheço de outras paragens? É pequeno, o Mundo.
jpv

Avenida Marginal, sentido Costa do Sol, 6:30 a.m.

Avenida Marginal, sentido Costa do Sol, 6:30 a.m.

Avenida Marginal, sentido Maputo Centro, 11:30 a.m.

Avenida Marginal, sentido Maputo Centro, 11:30 a.m.


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Crónicas de Maledicência – Vá para fora cá dentro… ao contrário!

Crónicas de Maledicência – Vá para fora cá dentro… ao contrário!

Este slogan, “Vá para fora cá dentro”, gravado na memória de todos nós, tinha, na altura, o saudável intuito de promover o produto português. Há pouco, andava pela net numa voltinha de final de dia e apercebi-me de que o produto português era realmente muito bom, mas… não estava em Portugal!

O vídeo que coloco abaixo, é um excerto de 46 segundos de um jogo de futebol na Turquia e mostra um golo que é uma obra prima, um momento de qualidade que messis e ronaldos gostariam de ter protagonizado, mas não protagonizaram. Foram jogadores medianos, com salários inferiores ao que ganham alguns futebolistas estrangeiros em Portugal para produzirem coisa nenhuma.

Eu, que gosto da bola pela bola, do espetáculo pelo espetáculo, pergunto-me onde é que andam os olheiros do FCP, do SLB e do SCP que não “importam” estes portugueses de volta?!

Manuel Fernandes, de seu nome, faz um passe absolutamente genial e mata uma defesa inteira e Hugo Almeida fatura à ponta de lança.

O que é nacional é bom, mas está na Turquia!

jpv


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Palavra Indizível

Palavra Indizível

Arde no peito
E sempre volta
Uma coisa sem jeito
Que se chama revolta.
Vem de longe,
De tempos sem data.
É um nó denso
Que não se desata.
É um fulgor
E um peso mudo.
É um nada
Que às vezes é tudo.
É uma gente perdida
Sem esperança
Nem vida.
É uma história
Sem raça nem glória.
É um dobrar vencido,
Um diálogo perdido,
Um caçador mirando a corça…
Uma gente sem vontade
Nem força.
É uma palavra indizível
Que se diz.
Outrora foi uma nação,
Hoje,
É só um país!

jpv