Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Colar Cartazes – A Sustentável Leveza da Ruralidade

Caros Leitores e Amigos,

Como já vão sabendo, de entre as muitas coisas que me atraem nesta vida, a publicidade e as feiras têm lugar de destaque. A publicidade porque cristaliza momentos de inspiração ou… pura parvoíce! Sendo que a parvoíce é algo bem interessante de se analisar. É, como se diz da composição de certos detergentes, um princípio ativo. As feiras porque são autênticos viveiros de ruralidade, de genuinidade e estão repletas de motivos de interesse.

Hoje, faço um post que toca as duas áreas. De resto, não é fenómeno virgem neste blogue. Não vou contar o meu dia. Limito-me a descrever o que fui encontrando…
A caminho da feira, costumamos fazer uma paragem numa localidade onde está aberto um barzinho às primeiras horas de luz. Toma-se um cafezinho e acorda-se para o dia. Hoje, reparei pela primeira vez que se pode lá encomendar bolos. Não estranhei que fossem de aniversário, baptizado ou casamento, já quanto aos últimos… não pude conter uma risada sonora e matinal!

Já em plena feira, reparei nesta inovação da tecnologia que já chegou aos preços em conta: a bela da peúga medicinal. E o que é que ela tem de medicinal? Ora, não é o que ela tem, mas o que ela não tem. A peúga é medicinal porque vem sem elástico! Isto é que é olho para o negócio. Menos matéria prima, mais dinheiro, desde que haja um cartaz a anunciar!

Ainda a propósito da peúga medicinal e para os leitores não julgarem que estou a “regar”, aqui fica o testemunho, meia dúzia, cinco euros e repare-se que o toclante até tem uma cruz a indicar que é medicinal. Mai nada!

Crise? Qual crise? No Portugal profundo só vive mal quem não sabe viver… e só anda descalço quem não sabe calçar. Senão vejamos, é lá que está a promoção do ano onde se pode comprar calçado desde os 10€ . E mais, o amigo cliente não leva dinheiro consigo? Não se acanhe por estar numa feira. Aqui também há serviço Multibanco!

Quando o estômago começou a dar horas, procurámos um local para repasto. E não é que avia um onde avia sandes… Ai, ai, ai… os preços não eram maus, mas nada batia…

… nada batia a campanha de verão onde na compra de um frango por 5 euros se oferecia uma T-Shirt! Uma vez que se adquiria um frango, podia dar-lhes para oferecer uma bebida, umas batatas, sei lá, uma saladinha… mas qual quê… ele vai de T-Shirt e mai nada!
E, por fim, mas não menos importante, depois de tantos anos de escavações e buscas à procura do Minotauro, eis que estava, ainda viva e fresca, numa feira portuguesa, com certeza, a Minotaura… E então se aquilo é um par a valer… Muuuuuu!
jpv


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Baú das Memórias – ORION Nº3

Dois anos depois do Nº 2, em agosto de 1990, publicava-se o Nº3 da revista ORION.

Este viria a ser o último número da revista e trazia significativas diferenças em relação aos dois primeiros. Toda a conceção tinha o mesmo aspeto artesanal, mas, na verdade, o processo foi mais elaborado.

Na capa, a expressão “Revista de Poesia” foi substituída por “Revista de Criação Literária” por via da profusão de textos em prosa. No interior, surgiam, pela primeira vez, ilustrações junto aos textos. A revista foi impressa nos Serviços Regionais de Coimbra do Instituto da Juventude e, por essa razão, no verso foi impresso o logotipo daquela instituição bem como o preço de capa que os autores estabeleceram: 150 escudos. Não sei se alguma vez se produziu algum dinheiro com a sua venda. Todo o processo era agora gerido por Graça Nunes.

O elenco de autores deste número foi:
João Paulo Videira
Graça Nunes
Paulo Alexandre
Carmen Sofia Gonçalves
José Fernando

Destaco, deste número, um texto meu. Assim escrevia há 22 anos…

jpv
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Há três horas
Uma hora não chega.
Há três horas
Eram quatro.
Há três horas
Mil sonhos sonhei
Mil cantigas cantei…
O meu espectador não veio.

– Algum tempo mais tarde –

Há três vidas
Espero uma.
Há três vidas
E o espectador já morreu.
Há três vidas
Que não cesso
De procurar
O espectador que sou eu!

João Paulo Videira

Orion nº3 – 1990