Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


2 comentários

Citação da Confiança

“Eu confio, mas preciso de ver isso escrito num papel!”

B.


6 comentários

Ausência

Ausência

Dois dedos de conversa
Entre conhecidos
De nós, estranhos
Um do outro.
Um olhar preso,
Um pensamento louco.
Dois corações perdidos
Sem uma só palavra
Pronunciada.
É fértil o verbo
Quando lavra
O campo da mente
E a semente
É a ideia
Onde tudo começa e acaba.
E uma mão
Abandonada, por momentos breves,
Na tua pele
E nas tuas vestes leves.
E nada mais
Foi preciso
Para atear o fogo ardente,
O pensamento flamejante
E o desejo incessante!
Quase te não vi
E já te despi lentamente
Com teu contributo e anuência!
É impressionante o poder
Que exerce em nós
A doce e inquieta ausência.

jpv


4 comentários

Espera

Espera

Goteja o tempo
Escorrido
Como chuva na janela.
Perdem-se na profusão
Dos gestos,
Os sentidos.
A chuva é bela,
O tempo difuso,
A alma emprestada,
O corpo adiado.
Não há mais o que fazer…
Em vez desta
Incerta espera,
Preferia a certeza
De morrer.
Dai-me uma estrada
De dor empedrada,
Coberta de passadas
Em sangue
E choro.
Mas uma estrada,
Um rumo,
Um horizonte
E um fim.
Perdi-me
De mim
E dos meus sinais.
Não encontro mais
Essa vontade antiga
E ansiosa.
Esse desejo
De conquista
Vitoriosa.
A única vitória
Que importa
E sou capaz
É a paz.

Goteja o tempo
Escorrido
Como chuva na janela.
Mas a chuva
Já não cai
Como era.
Morre fria
Na minh’alma
E chama-se
Espera.

jpv


Deixe um comentário

Lição de Anatomia


(Clique para Aumentar)

Aceitam-se teorias…


5 comentários

Penumbra

Penumbra

Recordo a penumbra
desse quarto
E sua cama de música.
O espaço amplo
E definido.
Os pés descalços,
Um livro aberto
Semi lido.
Um corpo deitado
Sobre um corpo vencido,
Um rasto
De sensualidade
E nudez discreta.
Um sexo que acolhe,
E um sexo à descoberta,
Abrindo caminhos
De conquista e merecimento.
Uma porta entre-aberta.
Poucas palavras.
Um sexo envolvendo
Um sexo abandonado dentro.
Um sono profundo.
O princípio
E o fim do mundo.
Uma luz ténue.
E, tal como na noite,
De dia, o mesmo traço,
Dois amantes
E a penumbra
Desenhando o espaço.

jpv


4 comentários

100 Seguidores

MPMI atinge hoje os 100 seguidores. Para um projeto que começou de forma tão humilde, é o céu do reconhecimento.

MUITO OBRIGADO A TODOS OS LEITORES E AMIGOS!

jpv


5 comentários

Instante

Instante

Passaste célere
E pediste pouco.
Olhaste em frente
E viste
O amor louco
Avançando como locomotiva,
Trepidando
Na tua paixão cativa
Da minha cativa paixão.
O teu sexo
Na minha mão.
O meu peito
Sobre o teu coração
Sulcando jeiras inexploradas,
Sementes nunca dantes semeadas,
Palavras por dizer. Indizíveis.
Os meus olhos
Nos teu olhos.
A minha língua
Nos teus seios apetecíveis.
Amores eternos.
Almas perenes.
Sentimentos tragicamente perecíveis.

Olhei em frente e não te vi.
Algures no caminho esqueci-me
De ti.
E fica-me esta lembrança
Grata e viva
Do teu olhar rompendo
O fumo branco da locomotiva
Agora em meu peito
Trepidante.
Viveu-se uma vida
Num singular e efémero instante.

Passaste
E eu fiquei,
Triste e só,
No lugar que te dei.

jpv


7 comentários

Abandono

Abandono

Abandonado o meu desejo
À tua vontade.
Abandonado o meu tempo
À tua idade.
Abandonado o meu corpo
Ao teu momento.
Nascido para o mundo
Nesse abandono,
Adormecido no teu colo
O meu sono.
No teu seio embrião
Estende-se o braço,
Abre-se a mão
E toca-te.
E a luz brilha
No caminho que o desejo trilha…
E em ti cresço,
Exuberante e excitado
Nesse corpo
Onde vive
Meu corpo abandonado.

jpv


6 comentários

Orvalhada

Orvalhada

Manhã fresca
E perfumada,
Roseira singela
Gotejando da orvalhada.
Vida transparente,
Verde fresco,
Folha vertente.
Sopra, a brisa,
Os odores
Em profusão.
Cheira a terra,
Brota essência,
O Chão.

E vivo.
E renasço.
E tenho saudades
De ter partido.
É esta terra húmida,
É este chão,
É esta chuva,
Que me dá sentido.

Caminho descalço
E sinto a água lavar-me
Os pecados.
É fresca e límpida.
Veio do Céu,
Gotejando milagres,
Fecundar os rasgos semeados.

E vejo nisto
Um renascer,
Um ciclo que recomeça,
A força de viver
Na luz que atravessa
Cada gota que brilha
E promete
O Sol que reflete.

Tenho no peito
A esperança renovada
Porque é fresca, a manhã,
E perfumada!

jpv


5 comentários

ErotiKa – O Perfume e os Espinhos

AVISO
Esta publicação contém um texto de teor erótico. Se se sente ofendido com textos, imagens ou quaisquer conteúdos sobre erotismo e sexualidade por favor não prossiga.
Do mesmo modo, o conteúdo desta publicação só pode ser acedido por pessoas maiores de 18 anos.
Assim, caso prossiga com a leitura, o utilizador fá-lo por vontade própria e assume ter idade para aceder aos conteúdos.
Obrigado
jpv
——————————————————————-

O Perfume e os Espinhos

Era ainda cedo na madrugada. Estava escuro, mas já não era aquele breu cerrado de não conseguir ver-se nada. No céu, ao longe, anunciava-se uma ténue claridade como se alguém no outro lado do mundo tivesse deixado uma luz de candeeiro acesa. Ele virou-se na cama e ao virar-se a mão dele tocou a perna dela, ali junto à coxa, e sentiu-lhe a suavidade da pele e o calor dos quarenta. Foi o suficiente para não conseguir dormir mais. Como seria possível estarem a viver uma crise tão profunda? A verdade é que amava aquela mulher em todas as suas facetas. O sorriso, o tom de voz, a doçura no olhar e  o perfume da pele. Cheirava a rosas mesmo sem colocar qualquer água-de-colónia, ou creme ou o que quer que fosse. Sempre tinha sido assim. E apesar de já ter entrado nos quarenta, mantinha certa frescura e alguma energia. Contudo, tirando o sexo, que era formidável, nos últimos dois anos pareciam o cão e o gato. Ralhavam um com o outro, estavam sempre em desacordo, ainda um não tinha falado, já o outro estava a contrariá-lo, havia mesmo momentos em que se desprezavam. Sofriam ambos. Por se quererem e não saberem como. Por se amarem e se desprezarem. Como chegaram àquilo? A ver o que acontecia, deixou ficar a mão na perna dela. Ela virou-se para ele, segurou-lhe a mão, levou-a ao púbis, depois um pouco mais abaixo até terrenos visivelmente húmidos e disse-lhe, Está aqui o que queres. Vem buscar! E ele foi. Beijou-lhe os seios enquanto as suas mãos iam em busca do prometido, depois queimou-lhe o ventre com a língua e por fim bebeu-a até que ela perdesse a noção de onde estava e se esvaísse em gritos despudorados e excitantes como tantas vezes acontecia, Vem malandro, come-me toda, vem fazer-me tua, vem, quero vir-me na tua boca. Excitado e incitado, ele foi e cumpriu as ordens dela e quando a sentiu saciada, mudou o jogo súbito e sem aviso, Agora é a minha vez, acaricia-te, prepara-te para mim… ela preparou e aconteceu o que tinha de acontecer e adormeceram profundamente até que a luz ténue venceu completamente o manto negro e começaram a fazer pequenos gestos, viraram-se na cama, afastaram-se, ela levantou-se e foi para a casa-de-banho. Ele ficou um pouco mais e depois levantou-se também e seguiu-a e ao aproximar-se da casa-de-banho veio-lhe aquele aroma a rosas que ela sempre exalara e o deixava inebriado, mesmo quando sofria. Entrou e antes que pudesse dizer alguma coisa, ela atalhou:
– O que aconteceu esta noite foi um engano, ouviste?
– Não parecias enganada. Bem pelo contrário.
– Mas estava. De resto, já tivemos esta conversa montes de vezes. O sexo é ótimo, nós é que não nos entendemos.
– Bom dia!
– Bom dia! E vê se deixas a tampa da sanita em baixo.
– Foda-se, tu não páras. Não me dás um minuto de paz…
– Paz? Atreves-te a falar-me de paz? Eu dei-te a minha vida e tu transformaste-a num inferno…
– Como? diz-me ao menos como? O que foi que eu te fiz?
– Tudo. Basta que sejas tu!
– Não dá, sabes, não dá para suportar mais essa agressividade gratuita. Para mim acabou. Vou fazer uns telefonemas, vou pedir o dia e vou-me embora. Esta noite já cá não fico.
– Boa viagem! Já devias ter ido há mais tempo. Há vinte anos, sua besta!

Saiu de casa exasperado. Telefonou para o trabalho. Explicou que ia separar-se e precisava de um dia. Deram-lhe autorização para usar mais dias. Esses processos são complicados. Resolva as suas coisas e venha quando estiver concentrado. Vencido este obstáculo, telefonou a um amigo, Olha lá pá, tu emprestas-me o teu carro por hoje, é que como tens um mono-volume dava-me jeito para tirar a minha tralha lá de casa! Eh pá, eu empresto-te, mas isso é mesmo a sério? Não tem emenda? Vocês já falaram um com o outro? O problema, pá, foi termos falado um com o outro. É mesmo a sério.

Por fim, lembrou-se de certa oferta que lhe fizeram há um par de meses atrás e telefonou-lhe:
– ‘Tou, Júlia…
– Sim, Miguel, já vi que és tu… que é feito de ti? Não te vejo há quase uma semana…
– Lembras-te da oferta que me fizeste há dois meses…
– Lembro… oh se lembro… fazer-te essa oferta foi uma das decisões mais difíceis da minha vida, não teres aceitado foi um golpe duro…
– Sim, mas eu aceito agora se ainda estiver de pé…
– Assim? De repente? Miguel, havia uma condição…
– A minha mulher já não é um problema. Acabámos tudo hoje!
– Hoje? E isso é a sério ou logo à noite vais voltar para ela a correr? Não achas demasiado fresco para te mudares já cá para casa?
– Tenho as minhas coisas no carro do Artur. O gajo foi um porreiraço e emprestou-me o  mono-volume. E como não tenho mesmo para onde ir, e também já não tenho a minha mulher, que era a tua condição, pensei, Porque fazer duas mudanças se posso fazer só uma?
– Eh pá… isso é repentino… mas olha, a oferta está de pé, porque não?! Eu saio às 18, aparece às 18:30. Dás-me tempo de chegar a casa…
– Ok. Obrigadão.
– Não te preocupes, vais pagar com o corpinho!

Quando acabou de tirar as coisas de casa e entrou para o carro atafulhado reparou com saudade que o perfume de rosas bailava no ar. Ainda não eram 18, mas não tinha mesmo para onde ir. Estacionou em frente ao prédio de Júlia, do outro lado da rua, e esperou. Às 18 viu-a chegar abraçada a um tipo novo, alto, boa compleição física e um ar tão saudável quanto parvo. Junto à porta do prédio, ela esticou-se, pendurou-se no pescoço dele e beijou-o longamente e com avidez. Percebeu que trocaram algumas palavras e o tipo foi-se embora.

Deu à chave do carro, meteu a primeira e arrancou para a vida…

jpv