Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Conversas Vadias – Solidão

Conversas Vadias – Solidão

– Olá.
– Olá.
– Sabes qual é o expoente máximo da solidão?
– Não sei, mas suspeito que me vais dizer…
– É quando precisamos de uma pessoa em cujo ombro possamos chorar e não temos.
– Admito que sim. Acho que estás deprimido. Sabes que mais? Ofereço-te o meu.
– És uma querida. Sabes qual é a maior das tragédias?
– Mais uma vez, suspeito que me vais dizer…
– É quando precisamos de uma pessoa em cujo ombro possamos chorar e não temos, uma mulher linda, inteligente e sensível como tu nos oferece o seu ombro, mas, tragicamente, ela não é a pessoa em cujo ombro possamos chorar.
– Foda-se… hoje não estás para meiguices!
– Ou bem que queres um amigo, ou bem que queres um tipo que te trate com meiguices! Não sei se percebeste, mas o que te fiz, foi a manifestação maior de respeito, consideração e amizade.
– Sim, eu sei.
– É por saberes, que te disse!

jpv


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Vendo Land Rover Defender

VENDO O MEU DEFENDER

4000€

Especificações, preço e contactos:


Ano: 1988. Modelo: Defender 90TDi. Cilindrada:2495. Potência:113cv. Combustível: Gasóleo. Cor: Branco. Km: 210000. Tração: integral. Portas:3. lotação: 7 lugares registados em livrete. Muito bom estado de carroçaria e excelente mecânica. Pneus novos. Escape novo. Rótulas de direção e cruzetas novas. Não estou interessado em trocas. Preço:4000€. E-mail: jpvideira@gmail.com Tlm: 914701273


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Histórias do Autocarro 28 – Quiiiiinze

Quiiiiinze

Paragem do Autocarro 28. Estamos à espera e somos muitos. Uma fila de proporções intermináveis. Ao meu lado uma senhora baixinha, loirita, cabelo liso e pelo ombro, calças de ganga e blusa de algodão rosa.

E eis que eles chegam. Dois idosos. Daqueles alemães com o cabelo já branco, com pernas que começam no chão e terminam sabe-se lá onde, sandálias com meias, calções e a inevitável mochila às costas.

Não diziam uma palavra de português e falavam um inglês muito fraquinho. Qualquer aluno meu do ensino básico é mais fluente. A loirita, por sua vez, não dizia uma palavra de inglês e de alemão, então, é que nem deve saber que existe.

Conversa.
Começam eles, dirigindo-se para a senhora. Dobram-se como se fosse preciso encurtar distâncias para ela os conseguir ouvir:

– Please, to… Algés…

Claro que, para perceber que tinham dito “Algés”, foi precisa muita imaginação. Ainda assim, a senhora respondeu em português para alemães. E o que é isso? É português como todos nós falamos mas dito muito alto, muito lentamente e com a boca muito aberta. Ou seja, neste momento, temos dois gigantes alemães curvados sobre uma anã portuguesa que abre muito a boca, fala muito alto e diz:

– Quiiiiinzeeee… tem de aaapanhaaar o quiiiiinzeeee…
– What? Algés?
– Ai, valha-me Deus, o quiiiiinze… para Algés tem de aaapanhaaar o quiiiiinze…

E virou-se para a estrada à espera do autocarro. Os alemães voltaram a endireitar-se e a colocar a cabeça nas alturas e, claro, começaram a falar alemão. Consegui perceber que diziam que não tinham percebido nada e o melhor era verem o mapa.

Eu acho que é de uma incompetência atroz não conseguir decifrar uma palavra dita com tanta precisão, tanto cuidado e tanta hospitalidade. Afinal de contas quem é que não percebe quinze quando é tão bem traduzido para quiiiiinze?!

jpv


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Surpresa

Surpresa

Não pensei que magoasse
Mas magoou.
Não pensei que doesse
Mas doeu.
Não chegou a começar
E terminou.
Não chegou a nascer
E morreu.

jpv


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Por causa dA Dívida – XV

Por causa dA Dívida – XV

– Ventoiiiiiiiinha!
– Sim, chefe, diga, chefe…
– Vá abrir a porta!
– Ó chefe, a porta está aberta, chefe, tá aqui na minha mão… ó, tá a ver? aberta, fechada, aberta, fechada…
– Ventoiiiiiiiinha! Seu cabeça de burro! A porta da rua, homem, vá abrir a porta da rua!
– Ó chefe, e o chefe não acha que é perigoso?
– Perigoso?!
– Pois, chefe, ficarmos com a porta aberta.
– Irrraaa que é burro! Está alguém a bater à porta da rua! Vá abri-la!
– E desculpe, e não ouvi, chefe, e estava e nomeadamente e a ouvir música no aifóne…
– No quê?
– Eu explico, chefe, primeiro foram as cassetes…
– Cale-se! Deixe lá isso e vá abrir a porta!
– Sim, chefe, certo, chefe…

***

– E olha, e nomeadamente, e quem é ele! Como vai senhor João Paulo Videira?!
Vou bem, senhor inspetor Patilhas, e o senhor?
– Vou a investigar! E é para isso que me pagam, certo?
E investigou o que eu pedi?
– Ó senhor autor, nós e nomeadamente e até investigámos e nomeadamente e até usámos tecnologia de ponta, o aifóne, por exemplo!
O quê?! O que é que tem a ver o… esqueça! Será que quis dizer i-phone?
– Na… isso é coisa estrangeira, aqui o Patilhas é pelo produto português. Acontece que a mulher não existe. Nem sombra, nem rasto, nem nada… Alice Ferrier é alma que não veio ao mundo!
Tem a certeza, senhor inspetor?
– Tanta certeza quanto a pata direita do cavalo de D. José ser a esquerda!
Obrigado, senhor inspetor.
– Até mais ver, senhor escritor! Ventoiiiiiiiinha!
– Sim, chefe, diga, chefe…
– Vá fechar a porta.
– Qual porta, chefe?
– Irrraaa que é burro!

***

– D..
– Sim, JP…
– Estou preocupado…
– Não te preocupes…
– Hã?!
– Eu sei quem ela é!
– Hei, como é que sabes o que me preocupa?!
– JP, vais no comboio a escrever ao meu lado o próximo capítulo da Blogonovela…
– Tu espreitaste?
– Sim, JP e…
– E…
– O Patilhas não encontrava um elefante mesmo que estivesse a ser pisado por ele… que ideia foi essa de lhe pedir ajuda?
– Sei lá, afinal de contas o homem é inspetor.
– JP…
– Sim, D…
– Eu sou a Alice Ferrier!
– Hã?!
– JP, já reparaste que nos últimos capítulos passas o tempo com a boca aberta a dizer hã?
– Hã?!
– JP, Alice Ferrier é um pseudónimo meu. Quando te mostrei o texto que publicaste no teu blogue, não te revelei logo que era eu a verdadeira autora para não influenciar o teu julgamento.
– Mentiste-me, Dulce!
– Não. Só não revelei um facto. Isso pode ser omitir, mas não é mentir…
– Mas, assim… assim..
– Assim… temos de ser cuidadosos e discretos, mas a verdade é que temos a Belinha e o Marinho na mão. Eles assinaram um contrato com a Alice Ferrier para ela acabar de escrever a história deles com TODA a liberdade e eu sou a Alice Ferrier…
– D…
– Sim, JP….
– Mas a Belinha encontrou-se com a Alice Ferrier e a Belinha conhece-te, como é que fizeste?
– Simples… lembras-te do Clã do Comboio, certo?
– Como podia esquecer-me, Dulce, fui eu que os juntei a todos, fui eu que os criei, são nossos amigos… mas o que é que o Clã tem a ver com esta trapalhada de história?
– Simples… marquei o encontro com a Belinha, escrevi o contrato e pedi à nossa amiga, a Senhora da Revista de Culinária, para se encontrar com ela…
– Estás maluca? Já viste o risco?
– Resultou, não resultou?
– Sim, finalmente boas notícias. Agora podemos acabar a história em paz sem as personagens se estarem sempre a intrometer.
– Exatamente!
– D…
– Sim, JP…
– Obrigado.
– De nada, JP. Até amanhã!
– Até amanhã!

***

Olá Amor!
– Olá Amor!
Então, como foi o teu dia?
– Bom. E o teu?
No trabalho foi cansativo, mas a viagem de regresso foi divertida. Vim com a Dulce a terminar a Blogonovela. Acho que finalmente dominámos as personagens.
– Olha, Môr, conversamos depois. Está uma pessoa na sala à tua espera. Já cá está há uns 15 minutos.
Quem?
– Não sei, é muito simpática, mas limitou-se a dizer que era uma colega de trabalho tua. Achei muito esquisito porque é tua colega, mas, pelos vistos, não fala português… vai lá despachá-la para irmos jantar…

***

Boa tarde! O meu nome é João Paulo Videira. Esteja à vontade. Com quem tenho o prazer de estar a falar e… em que posso ser útil?
– Bonsoir, monsieur, c’est un plaisir de vous connaître finalement. Mon nom c’est Alice Ferrier…

jpv


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Crónicas de Maledicência – O Descrédito das Cimeiras

Crónicas de Maledicência – O Descrédito das Cimeiras

Ora, caros leitores e amigos, parece que vem aí mais uma cimeira. Não sei qual é, nem onde é, nem com quem é. Desliguei. Sei que será determinante e definitiva. Como as últimas 19!

Eu não sei se os políticos sabem que a malta sabe que, se eles reúnem 19 vezes, em 19 reuniões determinantes e definitivas e não sai de lá nada de determinante e definitivo, então, nós sabemos ou, pelo menos, intuímos, que “determinante” e “definitivo” são só palavras. Vãs.

O Mundo está na mesma. O Ambiente piora, a Economia piora, as Pessoas sofrem mais, os Problemas agravam-se e estas Cimeiras determinantes e definitivas são rituais de acasalamento absolutamente fúteis. Em linguagem popular: uma palhaçada! O facto é que as cimeiras caíram no descrédito total porque já ninguém acredita nelas e constituem só mais uma forma de gastar dinheiro dos contribuintes desnecessariamente.

Meus Senhores, e que tal reunir menos e trabalhar mais?

Tenho dito!
jpv


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Via Crucis – Décima Quarta Estação

XIV – Décima Quarta Estação

Jesus é Sepultado

Seria só um corpo sobre uma laje
Envergando exíguo traje,
Não fosse o corpo do meu sofrimento,
A casa da minha alma
Neste breve momento,
Nesta doce passagem.
Já o vivi,
Já o sofri,
Já o despi.
Já não sou eu.
Olho-o de fora
E vejo pouco de meu.
A carne é uma ilusão,
O corpo é uma prisão,
Mas é com ele que se espera
E é com ele que se ama.
O corpo é pouco,
Mas é o corpo
Que dá forma à alma.

Bastou o espírito
E o Divino desejo
Para que se conseguisse
O ensejo
De rolar a pedra.
A única pedra que conta
Vive na nossa cabeça.
Não há pedra que impeça
A liberdade da mente,
Aquela que ilumina a gente
Quando a escuridão se abate.

É preciso ser visto por uma mulher
Antes de voltar a correr mundo.
A mulher tem o olhar fecundo
E a alma prenhe de liberdade.
É preciso alguém que acredite
E saia a correr
Contando ao povo
Que viu o Homem Novo.
E é preciso, depois,
Que se grave pela escrita
A notícia bonita
Do mundo limpo
do pecado.
E é preciso, ainda,
Quem ouvir
Esta história linda,
Conheça também
O mundo conspurcado.

O que é a luz
Sem a escuridão?
O que é o conhecimento
Sem a ignorância?
A vida
Sem a morte?
O rumo
Sem a errância?
O que é o filho
Sem o Pai?
O verbo
Sem o sentido?
Ninguém sabe para onde vai
Se antes não estiver perdido.

É preciso o sangue
E o suor
Para que se perceba
Melhor
O poder da redenção
Pelo Amor.

Perdei-vos, humanos,
Perdei-vos.
Sacrificai-vos,
Castigai a carne
E a mente.
Amai-vos uns aos outros
E pecai.
Experimentai
Todas as coisas da vida.
Correi os riscos todos,
Aceitai cada mão estendida.
Enfrentai todos os perigos
Com humildade
E altivez
Que é ténue e breve,
A estrada,
E só se percorre uma vez.

Não temais a morte.
É só um sopro,
Um breve instante.
Fazei da vida
A vossa constante
E sorvei cada momento.

Voai!
Navegai!
Correi!
E amai de novo.
E pecai de novo.
Eu hei de voltar!

Não negueis a tortura
Que só ela
Vos pode mostrar
Da vida, a doçura.
Tudo o resto se resume
A uma laje cobrindo
Uma sepultura.

E escrevei!
Gravai o que vos digo.
E quando a dúvida,
Na boca do viajante,
Vos perguntar
Quem vos ensinou isto,
Respondei
Com Fé e Esperança nas palavras
Que foi Vosso Senhor Jesus Cristo.
Condenado à morte.
Entregue à minha funesta sorte.
Já nascido,
Preparado, já,
Para a caminhada.
O pó nos pés,
Pela frente,
A imensa estrada…
jpv – Via Crucis – XIV

Termina aqui o projeto
Via Crucis. Um agradecimento
a todos os que foram enviando
mensagens de motivação.
jpv

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Via Crucis – Décima Terceira Estação

XIII – Décima Terceira Estação

Jesus é Descido da cruz

Os mesmos homens
Que me condenaram,
Esses mesmos
Que me rasgaram a pele,
Esses que me empurraram,
Me pregaram ao madeiro
E me içaram,
Esses homens me estão descendo.

Sou um homem morto,
Um Cristo renascido.
Abdiquei de ter vivido
Para que se fizesse
Esta justiça.

Morro,
Mas vivo.

Desço,
E à medida
Que se aproxima o solo,
As mulheres me recebem
Para consolo
De minhas feridas
E suas almas.
A mãe.
A irmã.
A companheira.
Irmanadas da mesma coragem,
Da mesma canseira,
Unidas na minha viagem.

Desço,
E com a minha descida
Ergue-se o que hoje represento.
O alento,
A confiança,
A Fé e a Esperança.
E puro, pujante e com fulgor,
Anuncio o Amor
Entre os homens.

Escrevei,
Apóstolos de mim.
Escrevei a minha queda,
Anunciai o meu fim,
Princípio da nova era.
Gravai a letras de Fé
Que é possível a quimera,
Chegou o tempo
Sem idade.
Morreu o filho de Deus
Para limpar o pecado
Da Humanidade.

jpv – Via Crucis – XIII


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Colar Cartazes – O Desconto


Posso afiançar que o cartaz acima está num quiosque de uma conhecida estação do Metro de Lisboa. E ocorreram-me de imediato 2 pensamentos:

      a) Menos 100€ do que quê? É que, sem saber o preço, até se pode acrescentar 200 para tirar 100!

         b) E traz as peças todas?!


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O Almoço do Predador

Com o devido respeito pela Pastelaria Chafariz, a verdade é que num dia da semana passada almocei o que a imagem documenta. Sabia bem, não obstante ser uma massa mais ou menos informe donde se divisava qualquer coisa cujo aspeto lembrava fiambre. Nham, nham..


A vida pode descer pouco mais quando o predador está reduzido a 120gr de coisa nenhuma… Andou uma mãe uma vida inteira a criar um filho para ele acabar a mastigar uma Milaneza Mista Folhada.

jpv