Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Por causa dA Dívida – XVII

Por causa dA Dívida – XVII

– Ventoiiiiinha!
– Sim, chefe, diga, chefe.
– Abra a porta!
– Não prefere uma janela, chefe?
– Irrraaa que é burro! Não é para arejar, sua cavalgadura, é para entrar quem bate!
– E quem é que bate, chefe?
– Irrraaa que é burro! E como é que eu sei se a porta está fechada e as pessoas estão do lado de fora?!
– Chefe…
– Sim, Ventoinha…
– E se o chefe e nomeadamente não vê e como é que sabe que são pessoas e não é pessoa?
– Bem visto, Ventoinha!
– Bem visto e com a porta fechada!
– Abra a porta, cavalgadura!

– Bom dia, Senhor Inspetor Patilhas.
– Olha quem são eles! O Marinho e a Belinha… Ventoinha, aplique o código 666.
– O Livro do José Rodrigues dos Santos, chefe?
– Irrraaa que é burro! Quero lá saber do livro de um jogador de futebol! O nosso código 666!
– Mas ó chefe e nomeadamente o número não é esse, o do livro, bem entendido, e o José Rodrigues dos Santos não é um joga…
– 666! Já!!!
– E temos um problema, chefe…
– Irrraaa que nada acontece consigo! O que é agora?
– Esqueci-me, chefe, a gente trabalha tão pouco que eu esqueci-me do código!
– Irrraaa que é burro! É uma ordem de prisão! Meta-os na cela!
– Mas, Senhor Inspetor…
– Calem-se! Aqui a autoridade sou eu…
– Chefe, e temos e nomeadamente um problema…
– O que é que foi agora?
– Só temos um par de algemas, chefe, e os suspeitos…
– Culpados!
– Certo, chefe, os suspeitos culpados são dois!
– Irrraaa que é burro! Prenda cada um a uma argola das algemas e meta-os na cela!
– Ó chefe, mas a cela não tem porta!
– Meta-os na casa-de-banho!
– E depois onde é que a gente se alivia chefe?
– Irrraaa que é chato! Meta-os na cela do Brutamontes Quebra-Ossos!
– Ó chefe, e o chefe sabe porque é que lhe chamam Quebra-Ossos…
– Faça o que eu disse!
– Ó Senhor Inspetor, não faça isso, nós somos inocentes!
– Quais inocentes, quais quê! Tenho ordens superiores para os enjaular para sempre.
– Superiores? Nem houve julgamento!
– Nem foi preciso. A Dona Dulce e o Senhor João Paulo é que mandam nisto. Ou era isso, ou passavam uma borracha na minha existência. Perceberam?
– Safados! Autores malvados! Isto é uma injustiça! Ó Senhor Inspetor, foram eles que mataram a Alice Ferrier!
– Não sei nada disso e se soubesse fingia que não sabia!
– SOCORRO! INJUSTIÇA, INJUSTIÇA!!!

– Dulce…
– Sim, JP…
– Tenho de te tirar o chapéu. Grande Plano! Pões a Belinha e o Marinho a assinar um contrato que dá plenos poderes sobre o destino deles a uma tal de Alice Ferrier que não é mais do que um pseudónimo teu, matas o pseudónimo, enfias com o casal maravilha na cadeia para a vida inteira e livras-te, perdão, livras-nos, daquelas chagas para todo o sempre. Genial!
– Estás a ver, JP, nunca me subestimes. Eu disse que resolvia e resolvi.
– Dulce…
– Sim, JP…
– Mas a verdade é que eles não cometeram o crime e vão passar o resto da vida a apodrecer ao pé do Quebra-Ossos.
– Deixa-te de lamechices, JP. Eles são só personagens. Nem sequer são de carne e osso e estavam a tentar tomar conta da nossa história e a tentar tramar-nos.
– Está bem, mas, mesmo assim, não cometeram o crime…
– Queres que eles voltem?
– Não, não!
– Então, JP, caso encerrado.
– Caso encerrado, Dulce. E o que é que lhes vais fazer? Como vais escrever o último capítulo?
– Vou optar pelo óbvio. No último capítulo vou deixá-los presos com o Quebra-Ossos, vou indemnizar todos os que eles prejudicaram e vou dar uma lição ao Huguinho e à Joaninha que são dois adúlteros sem emenda. Que me dizes, JP?
– Acho bem, Dulce, acho bem. Tenho de reconhecer que o teu plano livrou-nos de boa… olha, olha, estou aqui a receber um e-mail da ISA E., a autora do Blogue “Diário de Um Ano Bom”. É bem simpática, não achas?
– Claro que acho. É muito carinhosa e muito generosa… olha, também estou a receber um e-mail dela. Qual é o assunto do teu?
– O meu chama-se “Mudança de Planos”.
– Olha que engraçado, JP, o meu também… acho que a ISA E. nos mandou aos dois o mesmo e-mail. Lemos em conjunto?
– Lemos. No meu telefone ou no teu computador, Dulce?
– No meu computador, JP.
– Ok, abre lá isso.

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De: ISA E.
Para: Dulce Morais
Cc: João Paulo Videira
Assunto: Mudança de Planos

Caros amiguinhos portugueses,
Estou adorando essa história “Por causa dA Dívida”, é muito engraçada, repleta de aventuras, como dizemos aqui no Brasil, é uma história jóia, muito legal. Sês são uns escritores maravilhosos e fazem uma excelente dupla. Suas personagens são muito cômicas e algumas são mesmo intrigantes. Foi uma excelente idéia escreverem juntos. Sês têm todo o meu carinho. Quando for o Carnaval, podem vir ao Brasil que eu ofereço o alojamento! Tenho acompanhado o desenvolvimento dos acontecimentos. O Patilhas e o Ventoinha são fantásticos e a Belinha e o Marinho são dois errados mas tem bom coração. E aqui surge a motivação deste e-mail. Eu penso que eles abusaram um pouco da sua paciência, mas também me parece que condená-los a prisão perpétua junto com o Quebra-Ossos é um castigo demasiado pesado até porque sendo sês os autores, os defeitos deles são só o reflexo dos vossos.

Assim, meus queridos, me permiti a liberdade de tomar algumas providências. Contratei um hacker, um pirata do ciberespaço, para entrar na área de trabalho dos vossos blogues, depois pedi para ele mudar as senhas de acesso e os bloqueei para sês.

E porquê eu fiz isso? Eu, ISA E., vou ser a autora do último capítulo de “Por causa dA Dívida” e nesse capítulo farei justiça e trarei algum equilíbrio a essa trapalhada que sês chamam de história. Claro que, para proteger o capítulo, ele será publicado no meu blogue, “Diário de Um Ano Bom”.

Foi o melhor a fazer para o bem de todos! Vos deixo com muita paz e muito carinho. Sua incondicional amiga,
ISA E.

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– JP…
– Sim, Dulce…
– Não consigo aceder à área de trabalho do meu blogue!
– Nem eu do meu, Dulce…

jpv


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Crónicas de Maledicência – A Loja do Verdadeiro Cidadão

Crónicas de Maledicência – A Loja do Verdadeiro Cidadão

Caros leitores e amigos,
Cá estou, como prometido, a dar notícia da minha aventura numa Loja do Cidadão da província. A ideia era comparar com a mais central Loja do Cidadão do país: a dos Restauradores, em Lisboa, onde tive uma experiência lamentável e para esquecer. Ou melhor, para não esquecer e servir de exemplo do que não se deve fazer.

Aventurei-me pelo Portugal profundo e fui a essa bela e ribatejana localidade que dá pelo nome de Vila Nova da Barquinha. Pois é amigos, nem sei como descreva. Para começar, deixei de me sentir um coitado de um cidadão e passei a sentir-me um verdadeiro cidadão. 

Na Loja do Cidadão da Barquinha tudo é fantástico. Um edifício antigo completamente recuperado por dentro com excelente bom gosto, impecavelmente asseado, com uma primeira triagem de assuntos digital, efetuada numa máquina que tem mais de vinte assuntos. Ou seja, se clicamos em “Passaportes”, a máquina, a seguir, oferece as várias hipóteses do que se quer fazer com o passaporte. Lembro que em Lisboa havia, ao todo, quatro opções na triagem. Depois, duas pessoas a atender por assunto, ar condicionado que funciona, plasmas grandes e a cores ao invés dos monitores exíguos, a azul e branco dos Restauradores e, sobretudo, a diferença no atendimento. Em Lisboa atendiam quatro pessoas por hora, na Barquinha atendem uma pessoa a cada cinco minutos. E se em relação às primeiras diferenças se pode dizer que decorrem de haver menos afluência na Barquinha, a verdade é que, quanto à rapidez no atendimento, esse argumento não é válido. O tempo de atendimento de uma pessoa é o tempo de atendimento de uma pessoa quer estejam duas à espera, quer estejam duzentas. O que, de facto, faz a diferença, é a impecável organização que reina na Loja do Cidadão da Barquinha por oposição ao caos dos Restauradores.

E pronto, agora que já sou um verdadeiro cidadão resta-me esperar que chegue o passaporte… 

jpv