Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Conversas Vadias – Universo

Conversas Vadias – Universo

– Hum… é estranho.
– O quê? Eu estar aqui?
– Nunca ninguém trouxe malas!
– Não é uma mala, é um saco.
– Não é um saco, é um universo…
– É um problema?
– Não. É como se viesses para ficar, mas sei que não vais ficar…
– Posso tomar um duche?
– Claro…
– A seguir cozinho para ti.
– Trouxe coisas…

jpv


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Conversas Vadias – O Departamento das Suspeições

Conversas Vadias – O Departamento das Suspeições

– Gosto de falar contigo.
– Eu também, pode-se dizer tudo.
– Sim, é libertador.
– O sexo é uma consequência, não é o início da nossa relação.
– Tens razão. Já tenho pensado nisso e acho que é aí que reside o milagre do que há entre nós.
– Sim, mas isto é tudo muito confuso…
– Estás com dúvidas?
– Não, pelo menos em relação a nós, mas…
– Mas…
– Preocupa-me que se descubra. Achas que a tua mulher suspeita?
– Tenho a certeza de que não e, para ser franco… já que pegas no assunto…
– Diz…
– Acho sinceramente que, no departamento das suspeições, o perigo vem da tua mulher.

jpv


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O Clã do Comboio – Pequenina como a Sardinha

Pequenina como a Sardinha

Há uma expressão popular que diz “A mulher quer-se pequenina como a sardinha”. Cá para mim, é reflexo do desejo português de compactação das mulheres, ou então, e mais provavelmente, emerge a expressão do facto das mulheres portuguesas serem, geralmente, pequeninas. Venha de onde onde vier, o curioso é cruzar essa expressão popular com uma outra que diz “Mulher pequenina, ou velhaca ou dançarina”.

Vem isto a propósito de andar há já algumas semanas a observar uma passageira que se senta sensivelmente no mesmo sítio e que é uma típica mulher portuguesa, pequenina, portanto. Tem a pele pintada de um moreno bronzeado, o cabelo liso pelas costas, os olhos muitos escuros e muito vivos. Dorme profundamente até Lisboa, veste de acordo com as exigências do trabalho porque alterna entre fatos muito formais e outros bem práticos. E sempre, rigorosamente sempre, com uns óculos de sol Ray Ban clássicos a lembrar o Tom Cruise no Top Gun. Em todo o caso, traz todos os dias a sua mochila e a sua lancheira onde, por certo, transporta o almoço.

E é precisamente no pormenor da lancheira que me quero deter. Quando entra no comboio, coloca, invariavelmente, a lancheira na prateleira superior. Uma vez em Santa Apolónia, não chega lá acima para a tirar. Nunca isso constituiu um problema. Põe um pé, com cuidadinho, na ponta de um banco, segura-se à prateleira superior onde está a lancheira, iça-se e saca-a de lá em menos de nada. Desce, recompõe-se e vai à sua vida.

O interessante nisto é que este gesto revela a determinação que também o seu olhar espelha. Mostra a atitude resoluta e determinada que se percebe pelas suas expressões faciais. É pequenina, sim, como a sardinha e a típica mulher portuguesa, mas isso não parece constituir para si um problema. Bem pelo contrário!

jpv