Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Encarnado

Encarnado

Não eram cerejas
Escarlate,
Nem morangos
Carmim.
Eram uma provocação
Que me deixou assim:
A olhar-te.
Nesse sangue
Encarnado
E vivo
De desejo,
Nesse tom desenhado
A marcar-te a presença.
Para ti, só unhas.
Para mim, uma sentença!

Entras, simpática e gentil,
Saúdas a manhã,
E fico com este ar frustrado,
Servo e escravo
De teu incandescente
Encarnado!

jpv


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Vai, Estranha, Vai

Vai, Estranha, Vai

Era preocupado
O teu olhar
E a tua pose contrita
Mas havia
Nesse sobrolho franzido
Uma linha bonita.

Era um traço
Pesado e sério,
Uma mãe preocupada,
Uma mulher atormentada
Carregando na face o mistério.

E tinhas nessa escuridão
Uma aura e uma luz
Grácil e feminina.
Elegante porte de menina
Que nos conduz
A alma para o desejo.
Seio firme e redondo,
Lábios a pedir um beijo.

E vi-te,
Por trás dos óculos escuros,
Uma lágrima atrevida.
E apeteceu-me abraçar-te,
Saltar, do preconceito, os muros
E devolver-te à vida!
Com uma carícia,
Uma festa,
Singelo beijo na testa
Pousado.
Sem mácula
Nem pecado.
Só a ressurreição.

Mas é este
O mundo em que vivemos.
E não outro.
Um mundo onde vemos
Sofrer a elegância.
E deixamo-la
Entregue à sua triste
E solitária errância.

É este o meu abraço.
Este sou eu.
Não há entre nós
Qualquer laço
Para além deste
Gesto meu.
Anónimo.
E honesto.

E que a vida
Te sorria.
Que esta passagem
Breve e fugidia
Te traga o sol
E a alegria.
Que a singeleza
Da tua cintura
A abrir-se para a anca larga
Possa subjugar dos homens
A natureza amarga,
E frutificar em amor
E sucesso.
Em harmonia, como tu.
Sem excesso.

Vai, estranha, vai.
Leva contigo as intenções
E a fortuna.
Eu sou poeta,
Bastam-me da vida
Os estilhaços dispersos
Que vagueiam, indecisos,
No ondular dos meus versos.

jpv