Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Rasgo

Rasgo

Rasga a pele.
Rasga o desejo.
Rasga a fuga.
Rasga a palavra.
Rasga o gesto.
Rasga o rasgão.
E faz do corte
A matéria da união.

Rasga a noite.
Rasga o dia.
Na covardia
De um amanhecer por rasgar
Jaz um homem
Por realizar.

Só incompleto
Estás completo.
Só rasgando o teto
Vês a constelação.
Rasga o peito.
Rasga a mão.
E rasga o olhar,
Que há nessa imperfeição
A única perfeição
A contemplar.

Rasga e divide.
Rasga até doer,
Que não sabe se viveu
Um homem que não rasgou
Até morrer.

E a morte rasga
A existência dos vivos,
Que, dos mortos,
A essência
Rasgada está.
Não adies o rasgar,
Rasga já!

Trago uma bandeira
Rasgada
Ondulando ao vento.
Tem um rasgo de cor,
Um estilhaço de momento,
Uma mensagem de dor!
Rasguei-a em tiras
E embrulhei meu coração atormentado.
Entreguei-o à letra
De um fado rasgado.

Rasgo o mar
Num bote pequeno.
Rasgo a sorte,
Rasgo o veneno,
E dou à morte
Meu rasgar sereno.

Já exangue,
Por fim,
Mergulhado no sangue
Rasgado de mim,
Rasgo a fronteira,
Rasgo a eternidade.
Na vida,
Como na morte,
Só se não rasga
A saudade!

jpv


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Muito Obrigado!

É sabido que, neste espaço, por regra minha, não escrevo acerca do meu trabalho nem das pessoas que partilham essa vivência comigo. Faço questão de separar o ambiente profissional daquilo que é a minha realização pela escrita em Mails para a minha Irmã. Só quebraria esta regra por razões muito excecionais e, em todo o caso, com palavras que expusessem pouco as pessoas e o próprio ambiente.

Hoje, abro uma dessas exceções. Ao contrário do que noticiaram quando aceitei este trabalho, não vim para um alto cargo nos corredores do poder. Vim para um cargo de uma tremenda responsabilidade e num regime de trabalho extenuante exercido em corredores, e salas, acrescente-se, onde estão trabalhadores extraordinários, pessoas dedicadas e diligentes que, todos os dias, dão o seu melhor sem limitações.

Ora, este breve texto é sobre essas pessoas e, na sua essência, é-lhes dirigido.

Caros colegas e amigos,
No passado dia 27, anteontem, portanto, vocês surpreenderam-me e comoveram-me. Fiquei quase sem palavras e as que saíram foram atabalhoadas. Ainda agora sou acometido por ondas de emoção em refluxo e por um incomensurável sentimento de gratidão.

Encontrei em vós profissionais dedicados, empenhados em resolver problemas, com espírito crítico, participativo, com sentido de equipa, de compromisso, de cumprimento do dever e de Serviço Público. E, além disso, encontrei pessoas com uma fantástica dimensão humana, dotadas de solidariedade e prontas a colaborar comigo, a aceitar-me, a acolher-me, mesmo sem me conhecerem de quase lado nenhum.

E cresceu em nós e connosco o espírito de grupo, a coesão, a partilha, a autonomia responsável e responsabilizada. E prestámos contas aos outros, mas, sobretudo, a nós próprios. E trabalhámos, meu Deus, como trabalhámos. E resolvemos tantos problemas! E passámos por tanta coisa complexa que atacámos sempre com convicção e empenho e, em abono da verdade, com firmeza, tranquilidade e um sorriso, uma saudação calorosa pela manhã. Sempre.

Tive de vós tudo o que um líder pode desejar. Disponibilidade absoluta, sentido pragmático face aos problemas, mesmo os mais difíceis, competência científica e técnica e, como disse, sentido de cumprimento do dever. Deram-me o vosso tempo, a vossa opinião, concordaram e discordaram, mas partilharam sempre, cooperaram sempre e sempre se mostraram disponíveis para qualquer desafio, qualquer tarefa. Ora, com pessoas assim é fácil ser líder. É fácil ser bem sucedido porquanto as pessoas que colaboram connosco garantem pelo seu profissionalismo e pela sua competência o sucesso dessa liderança. E, em acréscimo, deram-me, ainda, a compreensão e a solidariedade que emanam da vossa inestimável vertente humana. Essa quase invisível componente, essa cola do quotidiano, sem a qual tudo arrisca perder-se.

E o que me ensinaram?!  Ora de forma mais explícita, ora mais subtil, consoante as situações, passaram-me o conhecimento das matérias e como lidar com elas, os procedimentos, a visão interna e externa da instituição. Até me ensinaram a conhecer-me melhor a mim próprio.

Dei-vos pouco. Pretendi poucas coisas. Manter claro e visível para todos o nosso rumo, coordenar a nossa ação e estar presente. Se algo posso dizer em causa própria é o facto de ter estado sempre convosco, de ter partilhado o nosso rumo com transparência e honestidade. E de ter procurado, pela proximidade, que não perdêssemos a essencial coesão.

É preciso agradecer-vos por cada dia, cada hora, cada minuto dos últimos dezoito meses. É preciso agradecer-vos por cada ensinamento, cada partilha, cada palavra amiga, cada olhar. É preciso agradecer-vos pela vossa generosidade. É preciso agradecer-vos, sobretudo, pelos sólidos laços de amizade que construístes comigo. Não só não tenho qualquer arrependimento, como sinto um orgulho enorme pelo tempo que passámos juntos, pelo caminho que trilhámos em conjunto, por cada revés e por cada sucesso.

Eu acho que as pessoas gastam pouco tempo com as pessoas, dizem poucas vezes por favor e obrigado. Sinto isto de tal forma que fiz questão de nunca me esquecer de pedir o que quer que fosse por favor e de agradecer por tudo. Desde as coisas mais significativas às mais simples e banais. E foi por essa razão que, em coerência, converti a expressão de agradecimento numa forma de saudação e assinatura dos meus textos, mesmo em ambientes formais. E é por isso que, penso, não ides estranhar a forma como hoje me despeço nestas linhas sendo que este é o agradecimento dos agradecimentos.

Muito Obrigado!

À consideração superior,
João Paulo Videira


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Crónicas de Maledicência – Uma ironia chamada Pedro Proença


Crónicas de Maledicência – Uma ironia chamada Pedro Proença

Caros amigos e leitores,
prometo que esta é uma das últimas vezes, senão mesmo a última, que escrevo sobre o Euro 2012. Ando farto e vocês, provavelmente, também. Mas a esta não resisto. Vamos a factos.

O árbitro da final do campeonato europeu de futebol chama-se Pedro Proença e é… PORTUGUÊS. Ou seja, afinal de contas, Portugal sempre vai à final, só que com equipamento Adidas!

É para mim, e penso que para todos os portugueses, mais ou menos interessados na coisa futebolística, um extraordinário motivo de orgulho.

Parabéns ao senhor Pedro Proença e votos que de faça uma excelente exibição que é como quem diz, passe o jogo despercebido!

Agora vamos à maledicência.
O destino é tramado. Tem ironias levadas da breca. Então não é que os excelsos dirigentes do futebol português, esses mesmos que querem aumentar o número de clubes no campeonato nacional, os mesmos que andam envolvidos em tudo quanto é processo suspeito, tiveram este ano a brilhante ideia de, em nome da isenção e da qualidade das arbitragens e da aprendizagem pela convivência com os melhores, introduzir árbitros estrangeiros no campeonato nacional. A ideia subiu aos órgãos que tinha de subir e veio de lá… APROVADA!

Ora, eu não percebo nada de bola, só sei que sofro, que me entristeço, que me alegro, que grito, que festejo, que digo palavrões e dou murros na mesa e gosto de chamar nomes ao árbitro, razão por que sou contra as novas tecnologias. Para já não erram, e mesmo que errassem, não tem piada nenhuma chamar cabrão a um computador. Já a um árbitro, no calor do jogo, não só é catártico e muito macho, como faz parte da essência do jogo. Mas, embora não perceba nada de bola para além das minhas emoções, atrevo-me a dar um conselho aos tais dirigentes que querem os árbitros estrangeiros a atuar em Portugal: há um bonzinho, um tipo que faz umas arbitragens porreirinhas, era capaz de dar jeito convidá-lo para vir apitar em Portugal, é um tal de… Pedro Proença!
Tenho dito!
jpv


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É tão pouco, o Mar

É tão pouco, o Mar

O mar cabe-me num bolso
E enche-me a alma
De ilusão.
Tenho meninos navegantes
No coração.
É tanto, o mar.
E tão pouco.
Não o consigo navegar todo
E preciso navegá-lo todo.
É tanta a ilusão
Que trago na ideia
Que cresce e vive
E morre na areia
A olhar a imensidão
Do pequeno mar
Que trago na mão
Que está no bolso
Onde guardei o mar
Depois de o navegar.
Antes de o navegar.

É tanto
E tão pouco,
O mar.

jpv


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Crónicas de Maledicência – A Itália mostra como se joga à bola

Crónicas de Maledicência – A Itália mostra como se joga à bola

Esta crónica chama-se assim porque o título que lhe dei em primeiro lugar era demasiado extenso. Rezava: “O Porquê da Vitória da Itália sobre a Alemanha Constituir um Trauma para Portugal”.

Pode sintetizar-se em “A Itália mostra como se joga à bola”, mas, efetivamente, este resultado é, para a Seleção Portuguesa, traumático. Eu explico. Como é sabido, eu sou daqueles que se sente orgulhoso, genuinamente orgulhoso, com o desempenho dos nossos rapazes no Euro 2012. Foi uma presença digna e quando saímos, saímos sem perder e de uma forma aleatória. Fomos nós, podiam ter sido os outros.

Há, contudo, um interessante e inegável pensamento que, mais ou menos consciente, atravessa a nossa mente coletiva. Nós temos sempre, ou quase sempre, prestações dignificantes, honrantes, brilhantes, mas, seja por azar, seja por um jogo que correu mal, seja por infelicidade, seja pelo poste, pela barra, pela chuva, pelo vento ou por uma inusitada inspiração do adversário, ficamo-nos pelo quase. Quase, quase, quase… e o caneco nunca mais cá vem parar.

E é aqui que entram os italianos e o trauma que nos causaram esta noite, meras 24 horas após o nosso último quase. É que estes tipos são useiros e vezeiros em fazer precisamente o contrário. Geralmente fazem uma sofrível fase de grupos, ganham eliminatórias com um futebol mauzinho e com resultados tangenciais ou a poder de penaltis e, quando todos os damos por perdidos contra o “futuros campeões”, eles erguem-se não se sabe de onde e vencem as eliminatórias finais e chegam mesmo a vencer torneios.

As apostas davam-nos por derrotados esta noite. Até o Platini se esqueceu deles e apostou noutros cavalos mas a squadra azzura, em meros 30 minutos, arranca dois golos, faz um excelente jogo e elimina aqueles que, afinal, já não são os futuros campeões.

E isto é traumático porque nós fazemos tudo bem e ficamo-nos pelo quase e eles fazem tudo mal e vão longe. Tão longe que eu acho que, esta noite, o Casillas e os outros espanhóis todos, estão a pensar: antes nos tivessem calhado os bons e fortes do que estes reles e fracos. A Itália representa para nós uma inversão de valores: é assim uma espécie de o crime compensa do futebol!
Tenho dito!
jpv


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O Clã do Comboio – Riso Matinal

Riso Matinal

Entraram no comboio a conversar. Não prestei atenção, mas julgo que falavam de trabalho. A colega tinha um ar simpático e doce. Olhos de amêndoa a destacaram-se da blusa branca e das calças de ganga. Mas foi ela que me chamou a atenção. Há muito tempo que não via uma pessoa tão confortável consigo mesma. Não havia lugares sentados e por isso seguiram de pé até ao Oriente. Olhei-as de relance. Colhi alguns pormenores, não fosse precisar deles para escrevê-las. Ainda bem que o fiz. Viria a desenhá-las nestas linhas.

Ela trazia uma sandálias de cabedal, pretas. Umas calças muito justas, acetinadas, também pretas, por baixo de um vestido a dar-lhe um pouco abaixo do joelho, ainda preto, com uma renda nas costas, junto à nuca. É engraçado o facto de estar vestida num tom tão soturno e, contudo, ter constituído uma aragem de leveza e boa disposição pelo comboio dentro como quem o desinfeta do cinzento matinal e sonolento que todos os dias se arrasta no Regional das 7:47. Tinha duas estrelas tatuadas atrás da orelha onde figuravam brincos artesanais e uma terceira estrela, um pouco maior, num cotovelo. O do mesmo braço cujo pulso tinha um nome masculino tatuado na sua singeleza feminina.  Era, sem margem para dúvida nem necessidade de segundo olhar, uma presença alternativa em termos de opções estéticas.

O mais interessante, contudo, aconteceu ao longo da conversa que estava a ter com a colega do olhar doce. Explodiam na carruagem gargalhadas cristalinas a cortar o silêncio e a encher o espaço de uma sonoridade descomplexada e divertida. Era um riso com uma musicalidade alegre, a despertar-nos a todos para a manhã e a libertar-nos das crises e dos ronaldos e das barras da noite anterior. Para algumas pessoas, reparei pelos olhares, aquela risada a cortar a monotonia cinzenta da carruagem era excessiva e incómoda. Para mim não. Era genuína. Era mais do que momentânea. Percebia-se que fazia parte do seu caráter. Eu gosto destas pessoas que destoam, que nos desinquietam a alma e nos acordam o espírito. Gostei sobretudo da harmonia entre elas. A explosão e a serenidade. O vigor e a doçura. Não faz mal nenhum fazer uma viagem comum e igual às outras todas. Mas sabe muito melhor quando se encontra uma alma livre e confortável consigo mesma, ajustada e adaptada à sua existência e à sua personalidade, resolvida e capaz de rir à gargalhada perante a monotonia previsível da vida.

jpv


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Crónicas de Maledicência – O Patrocinador de Platini

Crónicas de Maledicência – O Patrocinador de Platini

Eu sei porque é que Portugal não foi à final do Euro 2012. Sei, até, porque é que nunca iria! Não vou ser macio. Não me apetece e o alvo destas linhas, Michel Platini, não merece maciezas. Platini foi tão bom jogador quanto é, hoje em dia, um mau gestor da UEFA. Mau e tendencioso.

É grave, a meu ver, que o presidente da instituição que promove um torneio de futebol com 16 equipas diga quais as duas que gostava que chegassem à final. A ele, mais do que a qualquer outro, se exige imparcialidade e isenção. Já nem falo do facto de Platini ser francês e a França ser uma das competidoras à altura das declarações. Isso é um problema dele com os franceses. A mim, o que me interessa é até que ponto é que Platini se limitou a desejar que a final do torneio fosse entre a Espanha e a Alemanha e até que ponto é que fez alguma coisa para que isso acontecesse. E digo isto porque, se a Alemanha superar hoje a Itália, a final será aquela que o Presidente da UEFA desejou. Ora, sendo o senhor francês, porque é que o seu desejo vai nesta direção? Como predição não deve ter sido porque se trata de uma predição óbvia. Juntamente com o eliminado Portugal, na lotaria dos penaltis, a Alemanha e a Espanha são as melhores seleções do torneio.

E como é que eu chego a estes transviados pensamentos à laia de teoria da conspiração? Simples. De que vive o Futebol? De dinheiro. Não é de certo o dinheiro dos bilhetes que não dá nem para a água da rega dos relvados. Vive do dinheiro dos patrocinadores. Ora, é engraçado que a UEFA tenha um patrocinador, a ADIDAS, que, simultaneamente, patrocina veste e calça… a Alemanha e a Espanha! Se repararmos, das seleções que chegaram aos quartos de final, só a Alemanha, a Espanha e a Grécia são patrocinados pela Adidas. Portugal é pela Nike, tal como a França, a República Checa é pela Puma, tal como a Itália e a Inglaterra é pela Umbro. E, neste momento, pode muito bem acontecer que o patrocinador de Platini esteja completamente representado na final… incluindo, imagine-se… a equipa de arbitragem!

Eu acho eticamente condenável que o organizador do evento tenha patrocinadores similares aos de alguns competidores. Deveria haver um regime de exclusividade, mas acho, sobretudo, que ao presidente da UEFA se exige a isenção que não teve! Escrevo isto na madrugada do dia em que a Alemanha defronta a Itália. Se os alemães vencerem e a final for toda Adidas… alguém devia arranjar um parzinho de patins ao Michel. Mas isso nunca acontecerá e a razão chama-se impunidade!

Tenho dito
jpv


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Rescaldo

Pooortuuugaaal!

Miúdos, estivemos bem. Eles não conseguiram jogar o futebol deles. Nós toureámos os tipos com pinta. Só faltou a estocada final!

Temos todos de estar orgulhosos destes jovens que dignificaram Portugal. 
Perder com a seleção campeã da Europa e do Mundo nos penaltis, dói, mas não desonra!

E não me venham com táticas depois do jogo nem com ses, nem com choradinhos nem lamúrias. Os miúdos portaram-se bem e, como perderam, também podiam ter ganho.

Força Miúdos!
Força Portugal! 

(Em cada jogo de Portugal, Mails para a minha Irmã vai revelar uma virtude da Nação!)

Já Está!
Daqui a dois anos há mais!
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Alada

Alada

Na clássica e sugestiva pose
Em que o corpo se estende
Na chaise longue
Assim como se nos chamasse,
Tu te entregavas ao sono.
A cabeça recostada,
Uma perna sobre a outra deitada,
Ao abandono.
Curvilínea e sensual,
A nádega.
A face, gentil.
O olhar, perdido
E sonolento
Como se não percebesses o momento.
A juventude alva
Da perna estendida
A desafiar os perigos
Da vida.
Da tua,
Que minha não navega, já, esses rios.
São maiores os frios
Da alma
Que as excitações.
Para mim, és só um quadro
A despertar emoções.
Um desvario contido.
Um louco amor imaginado
Para não ser vivido.
Lembras-me a escultura
Da donzela recostada.
És mais donzela
Do que ela,
Tua libido não foi inaugurada,
Ou não te recostavas assim,
Oferecendo-me, a mim,
E à minha pobre vista gasta,
A emoção estendida
E vasta
De teu corpo
Usando dois bancos
Na carruagem
Onde fizemos esta viagem.
A tua, semi-nua,
corpórea e adormecida.
A minha, mais alada,
Etérea e imaginada.

jpv


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Despertar a Noite

Despertar a Noite

São lisos, os cabelos
E fartas, as sobrancelhas.
São finos, os lábios
E contidos, os seios.
É elegante, a pose
E generosa, a nádega.
São longas, as pernas,
E evocativas, as sandálias.
Estão fechadas, as mãos
E cerrados, os olhos.
São curtos, os calções
E fortes, as emoções.

Que despertam.
Que acordam.
Que inauguram o coração e a vida.
Assim vais,
Recostada e estendida,
Em pose sensual.
E meu coração, a bater bem e…
A passar mal.

Ah, doce despertar!
Lá fora
Desponta a aurora.
Cá dentro
Vence o luar.

Da minha noite.

jpv