Voz
Tem seda, a voz,
E um esgar de rouquidão
Que é sempre mais bonito,
O perfeito,
Com um traço de imperfeição.
E transporta tons
De sensualidade
E malandrice anunciada,
Pode ser séria e grave,
Ou rebentar
Numa gargalhada.
Tem promessas
E tem melodia.
Pinta palavras antigas
E desenha quadros
De sintonia.
É uma voz que vem de dentro
E preenche o espaço em volta.
É uma voz que prende
E é uma voz que solta.
E tem sexo e desejo,
Tem movimentos sensuais.
Tem o amor num gotejo
De palavras ideais.
E incita.
E motiva.
E conduz.
E cativa.
É um instrumento
De trabalho
E de amor.
E solta a cada momento
Uma força e um clamor.
Vive nela
Uma vida
Em pujança
E em emoção.
A minha voz traça sempre a dança
Da libertação.
E é com ela
Que me zango.
E é com ela
Que amo.
E é com ela
Que me entristeço.
E é com ela
Que me alegro.
É com a minha
Dolente e triste voz
Que me faço.
E dou,
Como num ritual antigo,
Um jogo de risco
E de perigo,
Ao mundo
A minha forma
Em palavras fundida.
É com a minha voz
Que escrevo a vida.
jpv

07/10/2020 às 09:19
Vozes que ecoam, deixam a sua marca e vestem as palavras. Mais um belo poema!
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10/09/2020 às 01:12
Dar palavras à voz e dar voz às palavras.
Escritas, faladas ou cantadas mas que tenham sempre voz.
Adorei
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26/05/2012 às 06:23
Adorei! São as vozes que dão o tom da nossa vida… Abraços.
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23/05/2012 às 21:09
Esta voz está suave, doce e ao mesmo tempo forte!
Muito bonita.
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