Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Sabemos conversar em silêncio e na escuridão dos corpos

Sabemos conversar em silêncio e na escuridão dos corpos

Sabemos conversar
Em silêncio e na escuridão dos corpos.
No terreno dos afetos fundos
Onde as palavras não são precisas.
Onde te procuro com as mãos abertas e ávidas
E por baixo de mim contorces e deslizas.
Onde arqueias um grito,
Onde tudo é simples, suave e…
Bonito!
Onde o suor escorre
E nos banha
Nessa batalha sempre perdida,
Sempre ganha.
Não é uma conversa:
É um colóquio,
Uma conferência,
Uma aula em anfiteatro,
Um congresso,
De forças e excesso.

Sabemos conversar
Em silêncio e na escuridão dos corpos.
E em cada palavra por dizer
Há um gesto que se multiplica
Num verso por escrever.
Nessa coisa intensa e bonita
Que é ter-te sob mim,
Conquistar-te o espaço,
Olhar-te os olhos,
Rasgar-te a carne com doçura
Deixar-me tomar pela tua loucura
E ser feliz.
E infeliz.
Nunca nenhuma conversa se completa.
Habita em nós dois
Um só louco e insano poeta
Da escuridão,
Das palavras desenhadas com ânsia
E apetite voraz.
Ninguém sabe
Nem é capaz
De perceber esta doce
E suave poesia.
Esta tristeza,
Esta alegria…

Sabemos conversar
Em silêncio e na escuridão dos corpos.

jpv


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Ode à Esperança!

Ode à Esperança!

Vieste rápida e fulminante
E percebi, nesse exato
E preciso instante,
Que vinhas para cortar.
Sulcar a pele da alma.
Atraiçoar uma curva do sentimento.
E foi nesse preciso momento
Que te sorri.
E quando eu te sorri,
Começaste a cair.
Desboroaste as ideias
Até ficarem impercetíveis
E morreste emaranhada nas teias
Pegajosas
E perecíveis
Do teu labor
Insidioso.

Não vais longe.
Não é que não pudesses.
Mas ficas presa
Às tramas que tu mesma teces…

Adeus, esperança,
Adeus.
Por via dos teus erros
E dos meus
Termina aqui a nossa dança.
E enquanto ficas
Tentando perceber o que se passou
Agarro na vida e vou.
E vês-me!
E pensas que ainda sou eu.
Mas eu já lá não estou.
E esse pó que te ofusca
Pelo caminho que agora reconheces nefasto.
Não é nada, esperança, não é nada.
É só a nuvem gloriosa de meu rasto!

jpv