Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Curva

Curva

Essa curva que desenhas,
Adormecida,
Suspende-me,
Por momentos,
Da vida.
Abandonada
Ao trepidar impessoal,
Entregaste no colo do sono
Os teus sentidos.
E, assim, prostrada
E vencida,
Olhos fechados,
Cabeça caída,
Como se o Mundo não existisse,
Exibiste essa curva,
Essa deliciosa linha,
Inultrapassável fronteira
Entre a realidade
E a imaginação verdadeira.
São longas,
As tuas pernas,
Intermináveis
Rotas de prazer.
E despertam-me mais
Para a vida
No teu momento de adormecer.

jpv


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Crónicas de Maledicência – O Poder dos Faits Divers

Crónicas de Maledicência – O Poder dos Faits Divers

Ainda dediquei algum tempo a pensar se havia de escrever e, depois, publicar esta crónica. Porquê? Simples. Isto não é assunto. E se o é, se o foi, na minha ótica, isso aconteceu por razões perniciosas. Ponto.

Se o rei de Espanha gasta dinheiro do erário público espanhol para andar em caçadas, isso é problema dele e dos espanhóis. Não é assunto. Se mata elefantes em reservas de caça africanas, isso é problema dele e dos países africanos que autorizam isso. Eu sou contra esse tipo de violência gratuita. O matar por matar é condenável. Mas também é público que, mesmo tratando-se de espécies em extinção, há reservas que fazem a regulação desta forma. Condenável, mas um problema dos países onde vivem esses animais e das pessoas que lá vão caçar. Se o rei é casado e vai à caça com amigas, isso é problema dele e da senhora sua esposa, a rainha. Se partiu uma perna, isso é problema dele e dos contribuintes espanhóis que pagam a assistência que lhe é prestada.

Qual é o problema, então? O que me leva a escrever sobre isto? Acho ultrajante que estejamos todos os dias a ser assustados com austeridade, com cortes nos salários, cortes de subsídios, subida de preços, novos impostos, subida da taxa de desemprego e os noticiários abram com esta farsa, dediquem tempo e gastem energias a explorar nada e, pior do que isso, um nada que não nos diz respeito. Até mesmo alguns programas de análise, daqueles ditos sérios, fizeram análises exaustivas. Quem paga, se paga, se foi à borla… e o povinho distrai-se com uma não notícia do país vizinho na semana em que, mais do que noutra qualquer, se falou na possibilidade de um segundo programa de ajuda a Portugal. Se isto acontecer, não vamos ter dinheiro para pagar a luz com a qual as televisões funcionam e, enquanto a temos, o que fazemos nós? Discutimos as caçadas e os adultérios do rei vizinho. Eh pá, haja decência. A malta aqui, apesar de haver dúvidas quanto à tipologia, ainda é uma república!

Tenho dito
jpv


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Droga

Droga

O teu amor
É uma droga
Para as minhas palavras.
Um elixir,
Uma libertação,
Um café forte,
Uma infusão.
É uma musa libertadora
Que prende
A ideia confusa
E a converte em sedutora.
Um impulso,
Um excesso,
Um produto,
Um processo,
Uma vertigem criadora.

Não sou o que escrevo
Quando te amo.
És tu que conduzes
A minha mão.
Tomas para ti a função
Do meu ser.
Determinas
O meu escrever
E fazes de mim o homem que não sou.
Vou contigo,
Mesmo que não saiba para onde vou.
E quero.
E desejo
Inspirar estas palavras
Na dádiva do teu beijo.

jpv