Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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14 Frases de nAMORados – 1




“O AMOR É QUANDO A GENTE MORA UM NO OUTRO”

Mário Quintana


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14 Frases de nAMORados – 2

“Nem palavras duras e olhares severos devem afugentar quem ama ; as rosas têm espinhos e no entanto colhem-se.”

Shakespeare


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O Clã do Comboio – Mudança

Mudança

Da Mudança

Esta minha ideia de viajar às 7:47 em vez de às 7:05 traz-me uma dor. A ausência do meu Clã. Acho que nunca o senti tão meu como agora. Nem sequer, NUNCA, nas 100 histórias que escrevi sobre ele, o tinha chamado de meu. Faço-o agora porque aquela rede de partilhas tem uma força própria, mas essa força própria começou em mim e com os meus textos. Eu sou responsável por isso. Há quinze meses atrás, estas pessoas, estes meus preciosos amigos, não se conheciam, não se falavam, não tinham a teia de interações que têm hoje, não iam almoçar juntos, não empreendiam aventuras como a dos coiratos ou a da ginginha, não faziam pequenos-almoços nem festas a bordo para cantar os parabéns. E hoje, felizmente, fazem tudo isso. Em breve lhes dedicarei algumas linhas neste mesmo espaço.

Acontece que a vida evolui como organismo vivo e em constante mutação que é. E eu estou a descansar mais, a dormir mais e a viver as manhãs da minha existência com menos violência. Em vez de apanhar o interregional das 7:05 em Entroncamento, apanho o regional das 7:47 em Riachos. Apanho o comboio com o breu vencido pelo sol glorioso e pagarei menos. Já para não dizer que em Riachos tenho estacionamento gratuito à porta da estação. Menos despesa, mais tempo. As minhas manhãs começavam às 5:30. Agora podem começar às 6:45.

Feliz Coincidência

No entanto, e apesar das coisas bonitas que ficam para trás, a vida surpreende-nos sempre com novas realizações. Ontem, por uma feliz coincidência, na viagem de regresso, encontrei vários elementos do Clã. E foi fantástico. Vieram comigo, a Senhora da Revista de Culinária, a Rapariga com Brinco de Pérola, a Senhora das Tripas à Moda do Porto e o Rapaz do Fato Cinzento. A Senhora da Revista de Culinária tinha trazido um bolo e resolveu partilhá-lo connosco. E lá fomos os cinco sentados em quatro lugares, escrevendo textos, contando anedotas, comendo bolo, sacudindo a farinha, matando saudades. É bonita, a vida. Pode mudar, mas há amigos e amizades que ficam para sempre. A ver vamos se aguento esta mudança.

Riachos

A mente humana é muito complicada. Mesmo muito. E, às vezes, desnecessariamente. Há uma estação de comboio que se chama Riachos/Torres Novas/Golegã mas que, efetivamente, fica em Riachos. Claro que os homens entenderam que, sendo Torres Novas o município de que Riachos é freguesia e sendo a Golegã um município, não podiam aquelas duas edilidades deixar de estar representadas no nome da estação. Claro que o argumento foi ter a estação o nome das localidades que serve. Pura hipocrisia. Senão vejamos, tivesse a estação de Entroncamento o nome de todos os municípios limítrofes que serve, incluindo os dois que constam do nome da que estamos agora a comentar, e precisaríamos de uma placa com 50 metros de comprimento para registar tanto nome. Pois eu, que nem sequer sou de Riachos, nem lá moro, não me importo nada de dizer que hoje apanhei o comboio em Riachos. E foi bonito. E por isso estas linhas.

Eram 7:42. Faltavam cinco minutos para o comboio chegar. No interior da estação, um relógio antigo de madeira com um mostrador de números romanos a reluzir reflexos. Lá fora o sol desponta no edifício tradicional, antigo mas reparado, da estação. Há palmeiras no horizonte e nas minhas costas, uma inusitada sinfonia de passarinhos canta a manhã. É a melodia do acordar. Há terrenos com oliveiras frias e o chão é um manto branco de geada onde brincam coelhos selvagens em correrias loucas de aquecer, em disputas que só eles percebem. Lisboa é já ali, mas esta ruralidade agrada-me. A minha alma mora aqui.

jpv


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We will always love you too, Whitney!

Quando morre uma figura pública como aconteceu com Whitney, sobretudo sendo encontrada em casa, multiplicam-se as teorias e as conjeturas sobre o que poderia ter acontecido.

A mim, nada disso me interessa. Interessa-me só que perdemos uma voz fabulosa que marcou a nossa juventude. Quantos de nós não namoraram ao som da sua música, quantos não usaram as suas canções para jantares românticos? E, de todas as interpretações, a mais marcante é sem dúvida “I will always love you”

We will always love you too, Whitney!


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Motorcycle Chronicles – Life and Death

Life and Death

Busted John sai de casa vestido com o seu fato negro impermeável, anti-frio, anti-vento, anti-chuva. A porta número 17 da casinha em que habita fecha-se nas suas costas. No pequeno jardim à frente da casa repousa a moto. Companheira. Com ela já viveu aventuras inimagináveis. Tudo o que a lei permite e proíbe. Monta-a. As botas negras de pele assentam nos estribos, passa o portão para a rua ronronando força e, assim que chega à estrada, mergulha na cidade a alta velocidade. Hoje, vai desafiar a morte! Percorre a mais longa avenida da cidade a 150 km/hora, passa os oito semáforos que a pontuam sem sequer olhar para eles. Desvia-se da traseira de um camião que, num deles, circula perpendicular ao seu sentido. Aproxima-se de uma rotunda, reduz duas mudanças, a máquina agarra ao chão com força, fecha os olhos e entra na rotunda sob um coro de buzinas reclamantes, sai do lado oposto ao que entrou e investe direito à estrada nacional.

Na cidade, a morte não quis nada com ele. Circula agora numa estrada com dois sentidos. O limite máximo de velocidade são 90 km/hora. Mantém-se nos 150. Tem dois carros à sua frente, inicia a ultrapassagem, percebe que tem de percorrer 200 metros, quando está na faixa da esquerda fecha os olhos e só os abre quando calcula que os passou. E passou. Retoma a sua faixa. O risco foi grande, mas nada parecido com o que está capaz de assumir. Agora tem uma carrinha de caixa aberta à sua frente, em sentido contrário vem um ligeiro, tomba para a esquerda, avança na direção do ligeiro, ele faz-lhe sinais de luzes, Busted John espera mais um pouco e quando está a 20 metros dele, já com a carrinha de caixa aberta ultrapassada, tomba para a direita. Nada. A morte não quer nada com ele. É covarde. Só ataca criancinhas de seis anos. Finalmente encontra um desafio à altura do que procura. Tem um camião de longo curso no seu sentido, à sua frente. Outro se aproxima em sentido contrário. Se iniciasse agora a ultrapassagem, teria muito tempo, mas isso seria tratar mal a morte, ser injusto com ela, não lhe dar uma verdadeira oportunidade. Espera. O camião à sua frente vai cuspindo fumo. O outro aproxima-se célere, está a 100 metros. Busted John fecha os olhos e inicia a ultrapassagem, a vida toda passa-lhe pela vista em imagens e uma delas é mais forte que todas as outras. O seu filho Mark, de seis anos, numa cama de hospital com leucemia. A moto engole estrada a alta velocidade, o condutor do camião em sentido contrário faz sinais de luzes, segura o volante com força e trava. Busted John está a escassos 10 metros dele, mal ultrapassou o que ia à sua frente, abre os olhos, vê o monstro metálico, um flash de milésimos de segundo passa-lhe pela cabeça, é Mark jogando à bola no parque antes de ter adoecido, e essa imagem traz-lhe um instinto de esperança, tomba, súbito, para a direita, passa entre os dois camiões sob buzinas fortes e impropérios gritados. Sai da nacional, entra na auto-estrada, rola ao máximo que a máquina pode dar. Vai a 240 km/hora. O tracejado descontínuo que separa as faixas fica-lhe debaixo da roda dianteira a uma velocidade estonteante. Segue sempre pelo meio, entre as faixas, os carros que circulam pela direita e os que circulam pela esquerda são surpreendidos pelo ronco fundo da moto. Um deles estava a iniciar uma ultrapassagem, logo, a mudar-se para a faixa da esquerda, Busted John tomba para a direita e passa-os todos usando a berma larga da auto-estrada. Retoma a nacional, sobe a serra, chega ao “Alto da Águia” onde tantas vezes veio com a mulher nesta mesma moto só para ver o vale. Uma vez lá em cima, estaca junto ao precipício e fica a olhar a pequenez humana. É tudo minúsculo. As casas, as pessoas, as alegrias delas, as infelicidades, as conquistas, os conflitos e as mesquinhices. É tudo do tamanho de formigas. Vê outra vez a vida em imagens. Agora num desfiar mais lento. Vê a mulher antes da ecografia, antes das suspeitas, antes das biopsias, antes da quimioterapia, antes do calvário da perda de dignidade. Vê tudo. Vê a sua Mary e o seu Mark vítimas da mesma fatalidade e vê a sua cobardia. A sua vontade de partir antes deles porque não concebe a ideia de partir depois.

Dá meia volta com a moto. Foi tomar balanço. Está agora a escassos 50 metros do precipício, de frente para ele. É uma ravina com mais de 300 metros de altura. Será o voo perfeito. Faz duas acelerações para ouvir o ronco da moto, avança direito ao precipício, está determinado. A morte não veio buscá-lo, entregar-se-á nos seus braços. As imagens da vida percorrem-lhe a mente, despede-se de tudo, de todos e quando está a chegar ao momento do voo, a última de todas as imagens crava-se-lhe no olhar da memória como se fosse hoje, mas é uma cena com seis anos. É uma senhora jovem e feliz numa cama de hospital com um bebé deitado entre o seu braço e o seu peito. A jovem sorri. O bebé dorme em paz. É o dia em que Mark nasceu.

À beira da morte, quando esta esfregava já as mãos de contente por mais uma conquista, a vida que há em Busted John faz uma última tentativa. Ele trava a fundo, tomba o corpo e a máquina para a esquerda, faz um peão e fica de costas para a ravina, de costas para a morte, com o pneu de trás meio em terra, meio no ar.

A moto entra vagarosa no pequeno jardim de frente para o número 17. A porta abre-se. Uma criança pálida e frágil e uma mulher frágil e pálida correm-lhe para os braços:
– Papá!
– Meu amor, onde foste?
– Fui travar uma batalha.
– E ganhaste?
– Ganhámos!
– Ainda bem, meu querido, precisamos tanto de ti. E agora que ganhaste essa batalha, que vamos fazer?
– Vamos lutar até ganhar todas as outras que nos esperam. Sabes, Mary, antes da morte, mesmo antes da morte, há sempre uma porta para a vida!

jpv

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Dedicado a todos os seres humanos que abraçam a vida.
Dedicado à D.


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A pedido…

Roseira brava, roseira
Barco sem leme nem remos
Roseira brava é a vida
Que amargamente vivemos.
Roseira brava não tem
Rosas abertas nos ramos
Roseira brava é espinho
Que em nosso peito cravamos.
Roseira brava, roseira
Rosa em botão desfolhada
Roseira brava é teu rosto
Rompendo da madrugada.
Roseira brava no vento
Vai espalhando a semente
Roseira brava é lembrar
Quem se não lembra da gente.
Roseira brava, roseira
Que o sol de Verão não aquece
Roseira brava é o amor
A quem amor não merece.
Roseira brava é o ódio
Que vai minando a raiz
Roseira brava, roseira
Roseira do meu país.
Roseira brava é o ódio
Roseira do meu país.

Adriano Correia de Oliveira


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Citação da Porta para a Vida


“Sabes, Mary, antes da morte, mesmo antes da morte, há sempre uma porta para a vida”

Busted John
In Motorcycle Chronicles – “Life and Death”
A publicar brevemente neste blogue.


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A DÚVIDA – CAPÍTULO IV

A DÚVIDA
CAPÍTULO IV

– Ó cabrão, ó meu grandessíssimo filho de um cabaz de cornos, tira daí essa lata velha…

Este gajo ia-me matando! A bófia não vê estes tipos nem os multa, mas se eu passo numa passadeira sem parar ou vou a 55 em vez de a 50 como logo com uma coima. A vida está-me toda a correr mal. Tenho quase a certeza de que a Isabel me anda a enganar com o meu cunhado. Se ao menos pudesse apanhá-los em flagrante… Eu bem lhe disse para cuidar da mulher dele e deixar a minha comigo, mas o tipo não sai lá de casa. Tenho quase a certeza que esta semana esteve lá em casa sozinho. Não sei se fale com a minha cunhada sobre essa possibilidade. Claro que quero apanhar o gajo, mas não queria lançar a dúvida sobre o casamento deles. A dúvida corrói. A dúvida mata.

Por falar em dúvida, esta minha secretária, a Manuela, está a fazer-me duvidar. Mas que mulherão! Aquele cabelo loiro e sedoso, aquelas formas, o tom de voz, o olhar, o sorriso, a simpatia e, sobretudo, a disponibilidade. Até onde irá aquela disponibilidade?! Eu podia sondar, dar um passo na direção dela mas se corre mal, fico com o ambiente do trabalho todo estragado… Enfim, tenho de pensar nisso… mas, por outro lado, não quero dar àquela maluca que tenho lá em casa razões para desconfiar… razões para ter razão, porque desconfiar, ela já desconfia, ou a tipa pensa que eu não sei que ela me foi ao telemóvel vasculhar tudo? Estava lá uma SMS que eu tinha a certeza que não tinha aberto e hoje de manhã encontrei-a como lida… A espertinha! Não havia lá nada que me comprometesse porque não tenho nada comprometedor, mas o certo é que, quando se desconfia, até as coisas mais simples e naturais podem ser vistas como comprometedoras. Sinto-me devassado. E aposto que me viu a pasta e a carteira. Felizmente tinha deixado os recibos do hotel no escritório. Bem, isso é que ia ser um caldinho se ela os chegasse a ver… mas porque é que eu me estou a enganar? Eu quero mesmo é pensar na Dulce, a minha cunhada. Temos falado imenso ao telefone, ela tem sido fantástica, somos o suporte um do outro, o desabafo, o ombro amigo um do outro… ela tem sido maravilhosa. Ajuda-me imenso a conhecer melhor a Isabel. Se a minha mulher foi ver as chamadas feitas, deve ter estranhado tantos telefonemas meus para a irmã dela, mas acho que não é pecado conversar com a cunhada… Embora seja pecado o que às vezes penso fazer com ela. Acho que esta proximidade está a gerar uma atração. Acho, não, tenho a certeza. Do meu lado. Dela não sei. Ela é certinha. Não vou arriscar a estragar todo o ambiente da família… Isso é que seria uma bronca das grandes, mas lá que ela me enche as medidas… Enfim, nunca dei à Isabel nenhum motivo para desconfiar de mim, mas lá que as tentações não me largam, lá isso não! Será pecado fantasiar?

Telefone a tocar? Quem será agora?

– Estou? Bem, obrigado, e tu? Sim… sim… claro que sim, sem problema. Não, não acho estranho. Adeus.

Porra, que estranho!! O meu cunhado quer encontrar-se comigo para falarmos a sós! Não podia ser mais estranho. Não disse sobre o que era, quer que estejamos só os dois. Cá para mim vem aí chatice. Se a coisa corre mal, ainda lhe dou dois bananos naquela tromba de nonhinhas!

– Saí daí cabrão, queres a estrada toda para ti?!

Estes gajos são uns assassinos na estrada!

jpv


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Briooooooooosaaa!

Brioooooooosaaa!

Quarenta e três anos depois, a Briosa volta, finalmente, a uma final da Taça de Portugal.
Depois de ter protagonizado, em 1969, a mais emblemática final da Taça de Portugal de sempre uma vez que converteu a festa do futebol num momento de afirmação social e numa manifestação de mudança em pleno regime salazarista, a Briosa, de novo em tempos de crise, com contornos forçosamente diferentes, volta ao Jamor! 

Então, o adversário foi o Benfas que ganhou porque o Ósébio não perdoou. Desta vez é o Sportengue, mas isso não interessa para nada. A Taça é nossa! E o Domingos vai ter de ter paciência!

Brioooooooosaaa!

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Um cheirinho do fantástico documentário Futebol de Causas


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Ele e Ela

Ele e Ela

Nasce
No seio das tuas certezas
A força
Para as minhas fraquezas.

Morre
No vórtice da minha alegria
O silêncio
Da tua teimosia.

Germina
Na impossibilidade de pedires perdão
A essência
Dessa inexorável solidão.

Vive
Na solidariedade da minha ausência
O fim
Da tua pobre inconsciência.

jpv