Monthly Archives: Fevereiro 2012
O Segredo
Desfolhada

Desfolhada
Bem me quer
Uma canção.
Mal me quer
Uma distância.
Bem me quer
No coração.
Mal me quer
Na errância.
Bem me quer
No palpitar.
Mal me quer
Na ausência.
Bem me quer
De tanto amar.
Mal me quer
Esta insuficiência.
Bem quer
Todo o dia.
Mal me quer
A noite inteira.
Bem me quer
Por magia.
Mal me quer
A sensação rotineira.
E vive em cada pétala
A energia e a paixão
Que alimenta o sonho de amar
Dentro deste coração.
E nasce
Na minha louca desfolhada,
A insanidade, o prazer e a morte,
De uma vida entregue à sorte,
De uma paixão conquistada,
De uma paixão abandonada!
Bem me quer!
Mal me quer!
jpv
Samba
Samba
Falem e teorizem os políticos e os politólogos,
Os democratas e os anarquistas,
Os comunistas e os estado-novistas.
Discorram os que sabem
E os ignorantes também,
Em nome de Jesus e de sua Mãe.
Digam que é natural.
Reclamem que é crime.
Invoque-se Marx,
Trotsky e Estaline.
O caso que importa analisar,
É que existe no balanço do sambar
Uma doçura e um ritmo nunca visto.
Calem-se, Senhores,
Liberdade de Expressão é isto!
jpv
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Aprender, sempre!
Mar Revolto

Mar Revolto
Andam ondinhas
Revolvendo meu coração,
São esperanças minhas
No poder da emoção.
E consigo senti-lo, por vezes,
Bravio, Selvagem e solto,
Arranca-me à alma o choro
Com a força de um mar revolto.
E fica, traçada, nesta contemplação,
A linha e a jogada,
A teimosia
E a razão.
O que quero
E controlo.
O que desejo
E me escapa.
O sentido
E o desnorte.
O Azar
E a sorte.
E ficam as pessoas,
As coisas más
E as boas.
A esperança
E o desespero.
O descuido
E o esmero.
E fico eu,
Sozinho, despido e nu,
Sem terra nem céu,
Sempre que me faltas tu!
jpv
A DÚVIDA – CAPÍTULO IX
A Estação Inverno-Primavera
A DÚVIDA – CAPÍTULO VIII

A DÚVIDA
CAPÍTULO VIII
Nunca pensei chegar a isto. Eu não duvido só do que ela me diz. Eu duvido dos meus próprios sentimentos. Dos meus próprios pensamentos. Por exemplo, esta coisa dela digitalizar o diário e me mandar como uma espécie de prova da verdade dos seus sentimentos, normalmente eu acreditaria nisto, mas não consigo deixar de pensar até que ponto aquilo é mesmo honesto e até que ponto é uma manobra para reconquistar a minha confiança e reconstruir a confiança do casal. Até que ponto aquelas palavras refletem a minha Bela e até que ponto são uma estratégia da Bela que me vasculha o telemóvel e a carteira para recuperar o clima de confiança.
Acusa-me de estar sempre a trabalhar e não ter tempo e não lhe dar atenção… mas como é que aquela alma acha que nós sustentamos o estilo de vida que temos? Casa, carros, roupas, almoços, jantares… nós temos padrões de vida muito acima da média. É quase um crime pensar isto, mas a verdade é que nem temos sentido muito a crise.
Pareceu-me honesta quanto ao Sebastião, aquele paspalho. Que raio de gajo a minha cunhada foi desencantar. Merecia bem melhor. Espero que seja verdade o que ela escreveu, mas, mais uma vez, pode só ser uma forma de me trazer descansado. Não sei que pense. Esta mulher está a dar comigo em doido. Preciso esclarecer e sistematizar as minhas ideias para saber o que fazer. Ora, deixa cá ver…
Trabalho: Acha que eu trabalho demasiado. Vive um profundo ressentimento pelos sacrifícios que fez. Ou seja, trabalho igual a ressentimento.
Filhos: Parece ser a grande questão da Bela. Eu pensei sempre que tinha sido uma decisão assumida pelos dois, mas agora percebo que não. Arrependimento é o que ela sente. Profundo! Ou seja, filhos igual a ressentimento.
Sexo: Um desencontro total. Eu quero, ela não. Ela diz que sim, eu acho que não. O sexo não é mau, pelo contrário. Mas quase nunca é! Estamos desencontrados. Ou seja, sexo igual a desencontro.
A nossa relação: Acho que ela se referiu a nós como se sentindo num atoleiro. Por mais que me ame, e é preciso ter em consideração esse amor, a Bela sente uma profunda e indisfarçável mágoa em relação a mim. E, se quiser ser honesto com os meus botões, eu também sinto essa mágoa em relação a ela. Ou seja, a nossa relação é igual a mágoa.
E tem estado entre nós a dúvida. E acho que esta dúvida nasce nestes aspetos todos. Repara, Mário, se a tua mulher sente por ti ressentimento, arrependimento, mágoa e… qual era a outra? Ah, já sei, desencontro sexual, em que é que tudo isto dá? Dá num clima de dúvida em que cada pequeno gesto ou pormenor pode ser mal interpretado. E depois, andamos desnecessariamente à defesa. Estou-me a lembrar dos recibos do hotel. Andei eu preocupado e afanosamente a gastar energias a esconder uns recibos de hotel que eram do aluguer de uma sala de reuniões. Desnecessário. E porquê? Por causa desta puta desta dúvida. O pior é que não sei se é só dúvida ou se tem fundamento.
Acho que nenhuma relação resiste a este clima. Eu sou um tipo pragmático e não convivo com estas situações. Vou mesmo conversar com ela. Tentarei ser meigo e delicado, mas não há dúvida que não acredito neste casamento, sobretudo, no ponto a que isto chegou. Amanhã, peço-lhe o divórcio. Tem de ser. É melhor uma má situação, mas definida do que o prolongamento da indefinição.
Só preciso esclarecer uma coisinha de mim para comigo. É que eu acho que ainda amo esta mulher… ou não? Não sei… preciso de um banho. Frio, de preferência!
jpv

















