Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Praia

Praia

Tinhas a presença leve.
Chegavas quase sem deixar marca
Na areia da minha emoção.
Vinhas como quem se atreve
A despertar um coração.
E ficaste passeando
A minha existência,
Entregando ao homem
A consciência
E o poder
De se reinventar.
Ficaste como areia
Que aguarda a batida suave
Do mar.

E os ventos sopraram
E depois mudaram
E voltaram a soprar.
Redemoinhaste-me
Os dias
Com palavras,
Jogos e fantasias
De encantar a alma
E o corpo.
E eu fiquei
Como um miúdo
Absorto
Que vê passar o comboio
Faiscando lume.

É já longa
A história
Desta praia.
Foram muitos os sois,
A luas mareadas,
A areia marcada
Pelas nossas pegadas
De amar.

É já longa
A história
Desta praia.
E isso
É que é preciso
Aceitar.

jpv


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ErotiKa – No início não era o Verbo

AVISO
Esta publicação contém um texto de teor erótico. Se se sente ofendido com textos, imagens ou quaisquer conteúdos sobre erotismo e sexualidade por favor não prossiga.
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Assim, caso prossiga com a leitura, o utilizador fá-lo por vontade própria e assume ter idade para aceder aos conteúdos.
Obrigado
jpv
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No início não era o Verbo

Por arrogância de tipo intelectual e errância assumida, vieram os homens a convencionar a divisão da História em duas macro-partes. A Pré-História e a História. E fez-se esta divisão com base num marco e num princípio. O marco é a escrita. O princípio é o de que, com a escrita, pode registar-se. Como tal, considerou-se História ao que houvesse para contar daí para a frente. Nada mais errado. Por várias razões. Primeiro, quando nasceu, a escrita não foi logo usada para organizar os factos entre os homens acontecidos. Segundo, porque antes da escrita já havia escrita. Outro tipo de escrita, bem entendido. E, por fim, e mais importante argumento de todos, para nós, neste contexto, antes da escrita já havia histórias para contar. E é precisamente uma dessas histórias que contaremos agora. Uma história do tempo em que os homens não escreviam, habitavam grutas, caçavam, recolhiam frutos, copulavam por instinto, comunicavam por urros e gritos e gestos.

O dia raiava com frouxa luz, o sol tinha ainda algum caminho a fazer antes de vir aquecer as carnes dos homens e dos animais. Dentro da gruta há já movimentos de acordar. Algumas fêmeas levantam-se, aconchegam as crias, aquelas que as têm, e dirigem-se em grupos a um curso de água frágil e escasso que atravessa a custo este vale árido, de vegetações secas e agrestes, rochas grandes e imponentes. As rapinas de largo porte cruzam os ares no ensejo do despertar das presas e do saciar das sedes matinais. As mulheres aproximam-se, ficam com a água correndo límpida e marulhante pelos tornozelos. Ajoelham-se e com as mãos em concha trazem a água à boca e quando estão assim bebendo, tombadas para a frente, são surpreendidas pelos machos que as perseguiram desde a gruta e as copulam por trás. Algumas, por razões que a Natureza percebe, evitam-nos e fogem-lhes. Outras deixam-se ficar. Não sabem como, nem porquê, mas sabem que chegou o tempo. A dança é rápida. Os grupos de mulheres regressam à gruta e revezam-se como se revezam seus perseguidores. Polígamos, eles. Poliândrias, elas. Todos sem pecado respondem ao instinto da carne e da continuidade da espécie. Não há nisto sexo, nem prazer. Há um copular matinal e fugaz, uma vezes profícuo e outras sem fruto. Este é o estado das coisas. Não é bom, nem é mau. É como é e assim perdura há muito tempo e por muito mais perduraria não fosse dar-se o evento que originou esta história.

É cedo. Este e aquele e o outro e mais um bem constituído e outro mais baixo e ainda uma meia dúzia mais como eles saem de manhã para caçar. É importante, a caça. Longe estão os dias em que será um desporto desigual enfeitado com armas de fogo. Aqui, é uma atividade de que depende a sobrevivência de todo o grupo. A carne que se come, as peles que se vestem e calçam, as tripas com que há de atar-se, os dentes com que se corta e raspa, os ossos com que se ampara, bate e martela. Tinham aberto um buraco mal desenhado e pouco profundo no chão, mais como uma vala oval, correram, gritaram, urraram, bateram com paus no chão e na vegetação até isolar um búfalo da manada, assustaram-no e encurralaram-no, palavra fora de tempo, esta, que usamos à falta de melhor, até que se viu no fundo da cova rodeado de homens, de carne comedores, e apedrejaram-no e atiraram lanças com sílex na ponta e quando a besta sangrava e parecia ceder das agressões e do cansaço, saltaram-lhe em cima e acabaram de a matar e esquartejaram-na e dividiram-na e vieram as mulheres que carregaram o prémio em alvoroço. E não sendo isto feito por prazer, agora será consumido o animal e haverá um período de tréguas até que seja necessário caçar de novo. Até lá, recolhe-se lenha que se acumula em pilhas, apanham-se folhas e frutos e animais de pequeno porte e pesca-se à vista no rio. As noites, de luz a luz, são longas e os homens e as mulheres dormem encostados uns aos outros indiscriminadamente amontoados.

O dia nasce esperançoso. É preciso caçar de novo. E lá vai este e aquele e o outro e mais um bem constituído e outro mais baixo  e ainda uma meia dúzia mais como eles desde que sejam úteis e correm e gritam e urram e separam um búfalo da manada e acometem-no encurralam-no na cova que haviam escavado para ele e estava o animal entrando nela assustado quando faz uma última tentativa pela sua vida, vira-se repentino e investe sobre um magote de homens que se aproximavam ávidos, e quis o destino que na investida fosse colhido um dos homens na zona interior da coxa que ficou arranhada e cortada assim como o pénis golpeado. A caçada continuou e terminou-se. O homem tombado teria ali ficado se não conseguisse levantar-se. Mas conseguiu. Era forte e possante e coxeou até à gruta. Indistintamente e por uma estranha e natural organização, as mulheres vieram buscar a carne e demais produtos e trataram dela e deles e duas das mulheres dedicaram-se a curar o caçador ferido. Foram colher bagas e depositaram-nas numa pedra côncava junto ao rio e com outra pedra esmagaram-nas e amassaram-nas com água e, chegadas junto do caçador com a massa nas mãos, untaram-lhe a perna sangrante e o pénis arranhado. E ele ficou ali sentado durante alguns dias, comendo menos do que os outros, até que a massa curativa começou a perder a cor. Uma das mulheres aproximou-se dele para o limpar. E baixou-se e ajoelhou-se e lambeu-lhe o interior da coxa ferida e lambeu-lhe o pénis. E quando o fez, notaram ambos que ele teve a mesma reação das manhãs junto ao rio e ela continuou lambendo até que ele não se conteve e ela saboreou o que nunca antes mulher alguma saboreara.

O tempo passou e o caçador possante pôs-se melhor e combinou-se a primeira saída para caçar após o seu acidente.

É manhã, as aves anunciam o dia, as rapinas perscrutam as margens do rio, este e aquele e o outro e mais um bem constituído e outro mais baixo e ainda uma meia dúzia mais como eles saem em grupo para a faina do animal grande. Caminham lado a lado, uns. Outros mais à frente e outros mais atrás. E o da frente vira-se para trás e mesmo sem haver números nem matemática, à época, já se sabia contar e contou-os e faltou-lhe um. O caçador possante. Regressam em alvoroço, irrompem pela gruta e ele está sentado, recostado contra a rocha polida e ela está ajoelhada à sua frente, tombada sobre o pénis lambendo-lho em movimentos de vai e vem mais lentos do que o habitual. Eles param surpresos por estar a ser tratado o homem que já não precisava de tratamento e viram-lhe as costas e vão à sua vida. Eram simples e imediatas as decisões antes dos homens as complicarem. Ela continua o movimento, ele ajuda-a com uma mão na nuca, ela volta a saborear o líquido de que só ela conhece o sabor e o pénis dele mostra-se à luz da manhã ereto e limpo, sem massa de bagas esmagadas nem ferida que a justificasse. Levanta-se. Sai à rua. Ergue o olhar para o dia. Enche o peito de ar e esperança e larga a correr em busca dos outros.

Hoje, tudo parece mais fácil.

jpv


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A Morte da Inocência

A Morte da Inocência

Ainda me lembro
Do tempo em que não duvidava.
Das manhãs de sol
Só porque o sol era sol.
Das tardes com chá e torradas
Só porque havia chá e torradas.
Ainda me lembro da dádiva
Natural
De um sorriso,
De uma mão aberta
Numa mão deserta.
Ainda me lembro quando aceitar
Era só isso,
Sem perguntas
Nem respostas para elas.
Ainda me lembro dessa inocência
Pueril e feliz.

Depois vieram as coisas boas
E tudo isso morreu.
Depois veio o controlo
Do Universo
E tudo isso se perdeu.
Veio a sombra,
Vieram as confirmações,
As respostas
Antes das interrogações.
E veio o tempo de ser homem,
A maravilha das conquistas,
E encurtaram-se as vistas
Da alma.

E cresci.
E vivi.
E vi que não vi.
E chegou,
Aos poucos,
Cedência a cedência,
A sombra grande e escura
Que havia de ocultar a ternura
Dos gestos serenos
E semear a dúvida adulta
Nos corações pequenos.

E quando vim a escrever
Estas palavras,
Já não havia vida nem conforto.
Era homem.
E estava morto.

jpv


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A DÚVIDA – CAPÍTULO XI


Caros leitores,

Dulce Morais acabou de publicar o Capítulo XI de “A Dúvida” no Crazy 40 Blog, naquela que foi a sua última contribuição para esta interessante história.

Cabe-nos agora TERMINAR a história, o que faremos em breve.


Boas leituras!


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Soluções para a Crise…

Deixar de ir ao barbeiro e aproveitar os momentos
da intimidade do casal para tratar desses pormenores.
Poupa-se dinheirinho e apimenta-se a vida a dois!
Da Net


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Soluções para a Crise…

Fazer uma peregrinação a ver se lhe aumentam o vencimento,
ou se não lho cortam!
Da Net


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Soluções para a Crise

Arranjar meios de transporte mais económicos,
com combustíveis alternativos!
Da Net


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ErotiKa – Roma

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jpv
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Roma

Roma fervilha de atividade e emoção… não é a capital da Europa. É a capital do Universo civilizado. O mercado de víveres está povoado de patrícios, de escravos e de estrangeiros de todas as partes do mundo. As matronas apontam para o que querem e continuam deslizando, os escravos ficam para trás apurando as escolhas e depois seguem-nas. Ervas, óleos, frutos, verduras, animais vivos e esfolados, homens e mulheres apregoando o negócio. Depois, o bairro das sedas e depois o do calçado e, por fim, o dos metais. Com o desmoronar da república e a abolição da democracia, seria de esperar do regime imperialista uma recessão nos hábitos e costumes, um recrudescer do ambiente social. Nada disso. Não só a vida não veio a ser assim, como do ponto de vista cultural, político e social, a civilização romana teria o seu auge logo no início do império. E tudo, como sempre acontece, por influência de um homem. Os regimes são o que são. Nem melhores, nem piores, diferentes. Os homens que lideram os regimes é que podem fazer a diferença. E Octávio César Augusto fez a diferença. O imperador aprofunda o culto e o desenvolvimento das letras e das artes. A obra secular de Cícero é estudada e debatida nas escolas. Os contemporâneos Horácio e Virgílio são declamados em saraus, nas bibliotecas, em jantares de amigos e nas ruas. Os concursos de teatro multiplicam-se. Os romanos preparam farnéis, fazem uma algazarra descomunal na comédia e compenetram-se até às lágrimas na tragédia. Podem estar cinco dias no teatro sem sair. Apesar do poder absoluto do imperador, Augusto mantém o senado  a funcionar como órgão consultivo e isso fortalece o seu poder de decisão. Solidifica o direito romano e promove políticas de fortalecimento e proteção da mulher como seja o divórcio unilateral por iniciativa desta desde que se prove emancipada para o que deve ter três filhos. Pode parecer ridículo aos olhos de um cidadão europeu do século XXI, mas o estado de coisas antes de Augusto dava ao marido direito de vida e morte sobre toda a família incluindo a sua mulher. O progresso social é tremendo. Augusto consegue o equilíbrio entre a austeridade e o luxo permitido e isso traz o mundo romano satisfeito e feliz. O fenómeno cristão é ainda jovem e incipiente, mas até nisso o Imperador é hábil. Decreta a liberdade de credo religioso para os patrícios e as hostes acalmam-se. As ruas de Roma atafulham-se de liberdade e movimento, há tabernas, bordeis, lojas de todos os comércios imagináveis, há bibliotecas, tribunais, templos e monumentos e há esse espaço indispensável ao quotidiano dos romanos, o lugar onde correm todas as notícias verdadeiras e os boatos todos, onde se constroem as intrigas domésticas, onde se fazem os negócios e onde, espante-se, se descansa e se trata do corpo. São os banhos públicos. Roma está apetrechada com diversos destes locais onde a oferta é vasta e cobre todos os gostos e necessidades. Ginásio, salas de óleos e massagens, espaços para leitura, normalmente, ao ar livre, e, claro, os banhos nas suas três vertentes. O frigidarium, banhos frios; o tepidarium, banhos mornos e o caldarium, banhos escaldantes. Pela manhã são espaços desertos, mas à tarde, à medida que os afazeres profissionais vão terminando, estes espaços enchem-se de gente e ação.

É nesta Roma rica, crescente, multilingue e alucinante que vimos encontrar Cornélia, filha de Cornélio, esposa de Terêncio Emílio, mulher educada e perspicaz, de alma arguta e corpo insaciável. Ela cuida da casa, gere os escravos, lê, escreve, faz compras, planifica e executa meticulosamente a educação dos filhos que tem com Terêncio e quando, à noite, o procura no leito para a satisfação dos seus desejos e prazer das suas carnes, normalmente, encontra um homem cansado do trabalho e das jantaradas e com o sexo satisfeito por rapariguinhas que enfiou à socapa e a troco de subornos chorudos na ala masculina dos banhos ou ainda por rapazes de barba a despontar que aí acorrem, o acariciam e satisfazem e sabem que no dia seguinte o dinheiro ou os presentes baterão à porta.

Terêncio dá hoje um jantar. O triclínio está pronto. Foi preparado para nove convivas a quem foi dito para trazerem os seus guardanapos de refeição para poderem regressar com eles recheados das iguarias a servir. O rumorejar do espelho de água cria uma sensação de frescura, há uma música tocada suave ao fundo da sala. Os convivas reclinam-se sobre um cotovelo que apoiam nas costas do longo assento todo forrado de mantas e almofadas. Terêncio ordena ao escavo que quer um vinho forte.

– Pouca água nisso, ouviste. Faz uma mistura de 1 por 3.

O escravo coloca uma medida de água para cada três de vinho numa ânfora e serve copiosamente os convivas. Primeiro, é servido um prato de peixe. São robalos assados, servidos com verdura e passas de uva. Depois, um extraordinário lombo de javali recheado com ameixas secas e acompanhado com castanhas cozidas. Há pão e carnes de aves frias. Há mel e queijos e há fruta. Os escravos vão servindo as iguarias e os convivas, seis homens e três mulheres, vão conversando, comendo e bebendo. Bebendo muito. Os escravos vão trazendo tabuleiros de comida donde os convivas se servem com as mãos que limpam aos guardanapos e esses tabuleiros são levados e substituídos por outros e o vinho continua a jorrar. Conversam, debatem, contam histórias libidinosas e chegam as frutas que são despejadas no triclínio em taças enormes e é nesse momento que o gesto acontece, que se dá o evento, que se inicia uma sucessão de acontecimentos que não têm como ser parados.

Cornélia estende um braço para as uvas e estica um pouco o corpo para chegar-lhes e, no momento em que se encontra tombada para a frente, a visão do seu peito sardento e sensual abre-se para Marco António, um companheiro e amigo de Terêncio. Ele vê o que há para ver e deixa os olhos presos à visão. Ela apercebe-se do que mostra e, mais do que tudo, apercebe-se que ele vê observando-lhe a excitação colada no olhar.

E chegam as dançarinas e bailam à volta dos homens simulando carícias. Ela sorri. E chegam os dançarinos e bailam à volta delas, um deles poisa um pé na beira do assento dela e oferece-lhe a perna musculada à visão. Ela trinca o lábio inferior, encolhe os ombros em sinal de traquinice e passeia dois dedos ao longo da perna do dançarino. Marco António está excitado, entusiasmado, e os seus olhos faíscam cólera por não estar ele no lugar do dançarino.

É a hora nona. Os banhos públicos começam a encher-se de gente. Marco António estava a levantar pesos e agora está deitado de barriga para baixo à espera que os rapazes lhe façam uma massagem retemperadora. Está nu. Cornélia passou umas ligaduras à volta dos seios para os disfarçar, apanhou os cabelos, subornou quem devia e entrou na sala de massagens. Estava com dois rapazes massajando o corpo musculado e bem definido de Marco António que quase adormecera. Ela dispensa os outros massagistas com um aceno de cabeça e com as mãos lubrificadas empreende uma massagem forte e tonificadora. Sem abrir os olhos, sem mexer um músculo, Marco António pronuncia em tom pausado:

– Quem pensas tu que enganas Cornélia?

A surpresa ruboresce-lhe as faces e quando recupera o fôlego, ela responde tentando continuar a simulação de que é um rapaz:

– Como disse, meu senhor?
– O teu senhor é Terêncio. E deixa-te de simulações. Eu conheceria essas mãos em qualquer circunstância.
– Perdão, meu senhor, creio que estas mãos nunca lhe tocaram.
– O corpo não, mas têm remexido a minha alma desde o momento em que passearam na perna do dançarino. Conheço-te a forma das mãos, a espessura, sei qual a pressão que pode fazer na minha carne e conheço-lhes o toque mesmo que não me tenham tocado.

Cornélia não respondeu com palavras no início. Continuou a massajar-lhe as costas, depois as nádegas, depois as coxas, em movimentos até ao  joelho e de regresso às nádegas e de cada vez que regressava a elas estendia mais os dedos até acabar por acariciar-lhe os testículos e o pénis. Quando o sentiu ereto e excitado, quase levado à loucura, falou:

– Amanhã, à hora quarta no caldário.

Ele percebeu que o convite para aquela hora significava que ela queria estar a sós consigo, acabar o que começara. À hora quarta, os banhos estavam desertos.

Marco António entrou, despiu-se na sala de óleos e massagens, untaram-lhe o corpo e rasparam-no para que ficasse limpo e suave. Ele dirigiu-se para o caldário. A sala estava já repleta de vapor, quase não se via nada, na piscina não havia ninguém e no anfiteatro à volta dela, aparentemente, também não. Ele sentou-se e esperou.

Ela fê-lo esperar. Ele duvidou. Tinha a cabeça entre as mãos olhando o chão, ouviu um restolhar de passos e olhou em frente. Da névoa densa do vapor emerge Cornélia com seu corpo esguio e sardento, traz somente uma túnica transparente. Vem andando devagarinho, medindo cada passo. Quando está a um passo dele deixa tombar a túnica. Marco António vê-lhe os seios, o abdómen perfeito, um triângulo de seda geometricamente desenhado no púbis, arde em prazer e sabe que ela também. E diz-lhe:

– Vem.
– Irei.

Dá o passo que falta, senta-se no colo dele, estão frente a frente olhando-se nos olhos, e é olhando-se nos olhos que o sexo dele mergulha lentamente no universo quente e húmido que ela tem para oferecer-lhe.

A poderosa Roma estava, finalmente, a seus pés!

jpv


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A DÚVIDA – CAPÍTULO X

A DÚVIDA
CAPÍTULO X

É patético.
Ainda me lembro dos tempos em que virmos juntos ao cinema era um evento. A escolha do filme, as pipocas, a Coca-Cola, as mãos dadas durante a sessão, as conversas sobre o filme. Era interessante. Agora, é só patético. Sinto-me mal. Sei que ela se sente mal. Estamos ambos desconfortáveis. Ambos a tentar. Ambos por sacrifício e não pelo prazer de estarmos juntos. É claro que um filme sobre casais que se separam também não ajuda, mas escolhi-o de propósito a ver se ela percebia a mensagem. A ver se percebia que, quando lhe falei em divórcio, não era uma ameaça ou uma daquelas coisas que se diz para não fazer. Nem sequer estou a seguir a história no grande ecrã. Ela também não. Acho que está a chorar e não é por causa do filme. Tudo isto é desnecessário. Desnecessário e patético.

Temos falado imenso ultimamente, mas a verdade é que se tem dito pouco ou, pelo menos, avançado pouco. São conversas exaustivas e extenuantes onde comparamos comportamentos, fazemos um balanço da relação, a contabilidade dos afetos e da dedicação e, no fim, cada um volta ao seu ponto de partida e está pouco disponível para abandoná-lo. É uma tentativa desesperada de procurarmos um compromisso, mas a dúvida permanece. Acho que ela nunca mais confiará em mim, nunca mais superará a mágoa que me tem. E acho que sinto por ela coisas semelhantes. É tudo tão difícil. Sinto algum desprendimento da parte dela. Não digo que não me ame. Acho que ama, caso contrário, que sentido faria esta ideia da viagem a Roma? Mas também acho que a sinto preparada para tudo. É como se tivesse desistido depois da luta por cansaço. Vejo-lhe isso nos olhos. Sinto-lhe isso nas palavras.

Tentarei retomar a nossa harmonia nesta viagem, mas é como se tudo fosse feito em esforço, é como se partisse para uma corrida sabendo que ia perder. Isto não vai resultar. Porque ela não quer. O que ela quer é dar-me uma oportunidade para eu mudar. Porque eu não quero. Não sinto alegria nem felicidade neste casamento. É como se continuar casado representasse um prolongar da dor.

Eu gosto da Bela. Detesto vê-la sofrer. Detesto vê-la fragilizada. Tenho pena dela, mas acho que a pena é a última das razões por que se deve estar com uma pessoa. E é por isso que nada disto faz sentido. Vou cancelar a viagem. Nós precisamos de resolver os nossos problemas, não de adiá-los. Por mais que me doa, esta relação terminou. Nem mesmo esta vinda ao cinema tem qualquer nexo:

– Olha Bela, eu acho que não estamos aqui a fazer nada senão a enganarmo-nos. Eu vou-me embora. Queres vir? Acho que era o melhor para ambos…

jpv


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Soluções para a Crise…

Ora vejamos, também neste caso, com dupla vantagem:
calças baratas (onde é que se arranja material deste a 10€?)
e com a possibilidade de escolha…
Mai nada!
Foto jpv