Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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"Com Amor," – Documento 56

Meu Amor,

Recebi a tua carta em papel perfumado que fiquei beijando infinitamente. Agora mesmo, enquanto alinhavo estas palavras no teclado, tenho-a aqui comigo.

Até ao falecimento da minha esposa, vivi um matrimónio feliz, mas nunca, efectivamente, com a ilusão e a fantasia que há em ti, em nós.

Quero que sejas a minha princesa, quero ajudar-te nos momentos de dificuldade e dor e quero partilhar contigo os sucessos e as conquistas. Sim, acho que ainda temos muito tempo para conquistar coisas à vida.

Senti-te sempre tão feliz, tão natural e relaxada… É assim que quero a vida contigo, um fruir sereno da companhia e da vida.

O trabalho toma-me muito tempo, mas preciso roubar esse tempo às obrigações para estar contigo.

Enamorado, serodiamente enamorado e feliz

Eduardo Luís.

PS: Precisamos combinar como conhecerei os teus filhos. Se não te incomodar a ideia, gostava de conhecê-los.


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Os Três Pastorinhos

Passam-se dias a fio que não vejo um pastor. Nem falar deles oiço. E há dias em que se me cruzam na mente os pastores todos. Hoje, mal acordei, esbarrei na ideia dos três pastorinhos!
Primeiro, o grande pastor da nação, que nos tem a todos grande estima não obstante sermos ovelhas tresmalhadas e pouco cuidadosas. É enternecedor ver o ar pedagógico e condescendente com que o senhor Presidente da República nos trata, assim ao jeito de Andais perdidos, mas eu vou mostrar-vos o caminho do bem. E fala e dá conselhos e lá diz o que é melhor para a Nação e os nacionalizados nela como que atirando dogmas ao vento.
Hoje veio falar de um segundo pastor e lembrou, pelo discurso, um terceiro.
Falou do pastor que vai ou ia para a serra apascentar seu rebanho e não tinha feriados, nem fins-de-semana nem pontes. E será que o senhor Presidente da República advogava essa realidade para Portugal? Pergunto, e peço desculpa pela ousadia da pergunta, porque, da última vez que vivemos essa realidade éramos um dos países mais pobres e menos desenvolvidos do Universo… E tínhamos um pastor. O terceiro pastorinho desta história. Nessa altura, também ele era um iluminado que guiava as reses perdidas nos terrenos escuros da ignorância pelos caminhos da castidade, da fome e da alegre subserviência. Acontece que até as ovelhas pensam e anseiam liberdade. E o grande pastor da nação foi à sua vida após quase meio século de manhãs e tardes e noites de bornal cheio de ilusões e enganos a apascentar um rebanho sem férias, nem fins-de-semana, nem feriados, nem pontes.
Ora, cada um dos três pastorinhos teve fortuna diferente. O ditador foi deposto. A liberdade, esse incómodo da mente, venceu. O pastor das serras continuou a apascentar, atividade respeitosa, de resto, mas, ao que parece, nunca foi pedreiro, nem canalizador, nem engenheiro, nem mulher a dias, nem médico, nem professor… filósofo, talvez, de filosofias perdidas. Mas de pouco lhe valeu. Quanto ao terceiro pastorinho, haja sempre esperança, parece que está bem. Tem honroso lugar na nação e honrosa pensão de aposentação e, ao que consta, está bem, faz discursos e invoca as virtudes de um pastor, lembrando a atitude do pastor, mas não as aplica a si. Nem as de um. Nem as de outro…
Confuso? Talvez não… Ora leia lá outra vez!


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A mim, se me chamarem branco, está tudo bem!

– Djamal, o presumível homem sem cor, em ação. –
Ontem houve um jogo de futebol entre o Sporting de Braga e o Benfica.
Hoje, surgiu uma notícia em que um jogador do Braga, o que está na foto acima, se queixava de que um jogador do Benfica lhe tinha chamado preto.
Quem me conhece, sabe que sou um tipo sensível e longe, muito longe, de ser racista. Contudo, também não sou “racista ao contrário”, ou, se quiserem, desnecessariamente “mariquinhas”. Ou seja, um insulto é um insulto e deve ser evitado e, a existir, condenado, mas também não convém ser tão sensível que já não se possa dizer nada. Por outras palavras, se o jogador do Benfica chamou preto ao Djamal há duas coisas que eu penso. Uma é que é verdade. Outra é que o Djamal já é crescidinho e vive num país democrático onde pode defender-se, por exemplo, chamando branco ao Javi Garcia, seu presumível agressor com palavras.
A mim, por exemplo, se me chamarem branco, está tudo bem. Mais, se me chamarem cor-de-rosa, também está tudo bem. E se me chamarem cara pálida continua tudo bem. Porquê? Porque é verdade e porque já lá vai o tempo de se empolar esse tipo de linguagem. Felizmente, muito caminho se fez, muito se conquistou e muita mentalidade se mudou. Se o Djamal queria um caso de jogo, deveria ter-se queixado das sucessivas faltas de luz no estádio do seu clube porque cortaram o ritmo de jogo prejudicando o espetáculo e impedindo que os jogadores se vissem uns aos outros e à bola. Isso sim, é um facto importante na vida da sociedade portuguesa.
Resumindo, é importante respeitarmo-nos todos uns aos outros, mas também é importante todos sermos honestos e não inventarmos problemas onde os não há!


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A Coisa Boa

A Coisa Boa

Não há povo,
Não há gente,
Não há raça,
Capaz de reter entre as mãos
O tempo que passa.
Não há prisão,
Não há grilhões,
Não há tortura,
Capaz de amordaçar
A força de uma Cultura.

Enfunaram as velas
Na ambição da partida
E traçaram com elas
A rota cometida.
Iam negros,
Do Sol queimados,
Desenhando na amurada
Os temores superados.
E investiram.
E conquistaram.
E desenharam nos mapas
Os mares navegados.

E foram conquistados, também,
Por armas estranhas e diversas.
São coisas que acontecem a quem
Anda unindo as terras dispersas.

E sangraram.
E ganharam.
E perderam, e viveram… e morreram!

Já ricos e enfeitiçados,
Gordos, já, e ensanguentados,
Entregaram-se às terras e às gentes
E, de conquistadores,
Se fizeram conquistados permanentes.

Vencidos os dias, os bons e os maus,
Atracaram o cordame das naus
E desembarcaram em rituais de alegria e festa
Anunciando pelas sete partidas
Que não havia gente como esta.

Numa praça,
Em meio de um festim,
Entre os odores e a alegria que atordoa
Sobe a um palanquim
Um marinheiro de Lisboa,
E grita:
Já percebi!
Já vi o tesoiro!
Já sei qual é a coisa boa…

É a gente de Goa!
É a gente de Goa!

jpv

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Poema lido na cerimónia de lançamento do livro “Índia” de Amanda Sousa,
em 5 de novembro de 2011, no auditório EquusPolis, na Golegã.


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O Clã do Comboio – Um Ano a Contar Histórias do Clã do Comboio

Um Ano a Contar Histórias do Clã do Comboio

São 19:10h. Hoje é dia 2 de novembro de 2011. De manhã viajei no interregional das 7:18 e agora regresso no das 18:18. Até aqui, nada a assinalar. Contudo, embora não me tenha manifestado junto dos companheiros de viagem, o dia é muito especial para mim. Faz exatamente UM ANO que comecei as minhas viagens regulares de comboio.

Um ano de observação, de histórias, de personagens intrigantes e fantásticas. Um ano de amizades a crescer, um ano de viagens muito bem passadas, um ano. Até agora, redigi 92 histórias. É um acervo considerável. Tudo começou com histórias avulsas, de personagens dispersas e anónimas e foi evoluindo para um grupo de amigos que têm em comum andar todos os dias no mesmo comboio. Já fizemos o primeiro almoço do Clã do Comboio, esta semana será o primeiro jantar, na feira de gastronomia de Santarém, e já partilhámos aventuras diversas, centenas de histórias em muitas horas de conversa e boa disposição. Os seres humanos, quando querem, conseguem o milagre da partilha!

Quero agradecer aos companheiros de viagem por este último ano. Ainda me lembro como tudo parecia um sacrifício e como tudo se converteu em momentos interessantes e quase indispensáveis nas nossas vidas. Às vezes perguntam-me se não é um sacrifício desumano fazer tantas horas de transportes todos os dias e eu respondo com honestidade que pode ser cansativo, mas não é um sacrifício e a razão é simples. A amizade nunca é um sacrifício!

No último ano fiz cerca de 240 viagens de comboio, ou seja, quase 400 horas numa carruagem, gastei cerca de 2000€ em títulos de transporte, fui afetado por 4 ou 5 greves, conheci cerca de trinta pessoas que viajam comigo regularmente, Picas incluídos, e quase uma centena de personagens anónimas foram motivo para as minhas histórias. 92 histórias. Mais do que um acervo de escrita, o Clã tornou-se num inestimável acervo de vida e solidariedade. E mais, desenvolvi um enorme respeito por todos os trabalhadores que usam o comboio para se deslocarem para o trabalho.Um respeito feito, também, de comunhão e cumplicidade.

Para além dos anónimos, relataram-se aqui as aventuras ferroviárias do Escritor, do Aluno do Escritor, da Mulher Vampiro, dos Três Amigos que Querem Salvar o Mundo, a saber, o JJ, o RB e o VM, da Stôra, do Cunhado da Stôra, do Ceguinho, da Senhora da Provecta Idade, da Rapariga do Riso Fácil, da sua Prima e seu Mano, da PL, do Rapaz do Fato Cinzento, da Rapariga com Brinco de Pérola, da Senhora da Revista de Culinária, da Mamã das Duas Crianças, do Homem da Mala Térmica, do Músico, do Américo, da Rapariga da Voz Doce, do SuperPicas, do Picas Malandro, do Picas das Teorias e dessa fugaz mas inesquecível Rapariga das Palavras Claras… E ainda, dessas duas promessas de futuro, o Iago e o pequeno Iago. Uma plêiade de companheiros, de personagens a preencherem os dias, a ajudarem os minutos a passar, a colecionarem peripécias, frases, olhares, tudo o que faz da vida humana única e irrepetível.

Sempre fui um homem positivo, otimista e com capacidade de adaptação, mesmo às circunstâncias mais difíceis, mas a este Clã não foi difícil adaptar-me. Bastou ser igual a mim próprio, estar com eles, conversar, partilhar e é por isso que estou grato à vida por ter colocado no meu caminho as histórias e as fantásticas personagens que as compõem.

Um ano de Clã do Comboio.
Um ano de partilha voluntária.
Um ano de camaradagem genuína.
Um ano… e outro ano se inicia.

Atenção, senhores passageiros, vai dar entrada na linha número 5 o comboio interregional proveniente de Tomar com destino a Lisboa, Santa Apolónia…

jpv


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O Clã do Comboio – Mista de Picas

Mista de Picas

[Texto Removido Pelo Autor]


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Diz o Roto para o Nu…

Um dia destes, ao passar os olhos por um jornal online, detive-me num fenómeno que agora existe muito: as caixas de comentários. São assim como que uma espécie de ferramenta catártica onde toda a gente vai descarregar as angústias. Mas a coisa fica séria. A linguagem torna-se vulgar e o insulto emerge.
Houve um que me chamou a atenção e que não resisto a transcrever:
“Para todos os que escrevem asneiras encobertas.

Deixem de fazer comentários parvos, isso só demontra o vosso baixo indice de iliteracia.”

Tás, tás…


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Serviço Público

Este Blogue faz Serviço Público. Isso já todos sabíamos. Mas, o que não sabiam os leitores, é que também fazemos jeitinhos. Desta vez ao Vaticano, mas a pensar nas utentes e com o objetivo primeiro de prevenir alguns enganos nas contagens. Afinal de contas, seria muito inconveniente chegar ao pé do Criador e dizer, Eu fiz 52535 orações, e depois passar pela vergonha de ver umas quantas descontadas… Vamos lá, continhas em dia e certinhas. Aqui fica o aviso:


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Inovação Tecnológica

Há pessoas capazes de tudo, até de inventar estas maravilhas da tecnologia. Vou já comprar.


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Afinal, Havia um Coelho Escondido na Cartola Grega

Ora bem, por esta eu não esperava. Nem eu, nem a maioria das pessoas, sobretudo, e isso é que me espanta, as que era suposto perceber destas coisas e não se deixarem surpreender.
Afinal, a frágil Grécia, sempre à mercê da crise, dos analistas, com o papão de ter de entregar-se nas mãos de terceiros, tinha uma cartola onde ainda havia um coelho. O referendo.
Eu não percebo nada de finança, nem destas movimentações. A única coisa que sei é que há políticos responsáveis por esta situação, há uma banca a lucrar cada vez mais, mas a ser ajudada pelos estados. Há muitos focos de despesa, focos de dimensões inimagináveis e, contudo, continua a cortar-se no poder de compra da classe média. Esse pouco, eu sei.
Ora, tudo isto levou a que fosse preciso reavaliar a situação da Grécia e a semana passada essa reavaliação foi feita. Metade da dívida grega seria perdoada, a restante requalificada, tudo isto desde que as duras medidas de austeridade fossem implementadas. Até aqui nada de novo. É mais ou menos o rosário que Portugal está a percorrer mas num estado muito avançado. E esperemos nunca chegar tão longe. Ora, estava a Grécia de rastos, muito vulnerável, caladinha à espera de ser ajudada e salva do caos, quando o seu primeiro ministro anunciou que sim senhor, aceitariam novos pacotes e recentes perdões mas… desde que o povo grego os referendasse. E aqui a coisa complicou-se porque de imediato se descobriu que o referendo na Grécia é vinculativo. Ou seja, se o povo grego disser que não quer mais ajudas nem pacotes nem ser salva da eterna perdição pela bondade da banca europeia, então não há volta a dar.
E aqui, a surpresa! Os grandes líderes internacionais, na sua ânsia de ajudar o povo grego, vieram todos a terreno, pareciam combinados, mas, e aqui a minha surpresa, não para dizer, Deixem-se lá de referendos, a malta ajuda-vos na mesma, afinal de contas até há dívidas por pagar aos gregos desde a segunda guerra mundial… Nada disso. Vieram dizer que os gregos tinham de cumprir! Cumprir? Então, mas o que vai ser referendado? Não é um pacote de ajuda bem intencionada?
Enfim, cá para mim, o primeiro ministro grego até pode ter feito o que fez por falta de coragem política, até pode não ter sentido de responsabilidade, mas com um diabo, não é normal em democracia consultar-se o povo? E os gregos têm de querer ser ajudados? A que preço? Sabem, eu bem sei que é muito feio não estar de acordo com quem acha que vamos todos morrer pobre e miseravelmente, mas não me sai da cabeça aquela crónica que veio no Expresso sobre os belgas. Aqueles que estavam muito mal, tão mal como os outros todos, ou pior, mas que, por falta de um Governo democraticamente eleito não puderam aceitar as ajudas e respetivas medidas de austeridade. Sim, esses mesmos belgas que, afinal, não estão tão mal quanto isso!
Enfim, fico curioso. E, sinceramente, sempre quero ver se a ajuda internacional deixa o Governo grego consultar o povo grego… na Grécia!