Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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"Com Amor," – Documento 61

Caro Senhor,

Permita-me registar a forma digna e honesta como abordou um assunto tão delicado. Não obstante eu considerar que a maneira como chegou à informação não se inscreve em tal dignidade nem, sobretudo, em tal honestidade, devo referir, por justiça, que, uma vez de posse da informação, comportou-se com uma estatura moral que invejo.

Não presuma conhecer tudo, muito menos as motivações, mas no essencial tem razão. As famílias estão primeiro.

O seu pedido será atendido. Prontamente. E estas mensagens cuja destruição aconselho serão mantidas no mais estrito sigilo.

Cumprimentos,

Rui Daniel.


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"Com Amor," – Documento 60

Caro Senhor,

Chamo-me Alberto Honorato e conheço-o vagamente do ambiente profissional onde já nos cruzámos algumas, poucas, vezes.

Tomo a liberdade de contactá-lo por haver entre nós um conflito de interesses. Não é um assunto de índole profissional mas sim pessoal e até familiar. Irei directo ao assunto pois não me parecem proveitosos quaisquer rodeios nesta matéria. Eu sou marido, como sabe, de Laura Duarte com quem o senhor mantém uma relação afectuosa há mais de dois anos. Por favor, nem se dê ao trabalho de contestar isto. O problema precisa ser resolvido e ignorá-lo não ajudará. A Laura tem, como eu tenho, um computador portátil. O meu precisou ser arranjado pelo que um dia destes pedi à Laura para consultar o meu e-mail no computador dela ao que ela acedeu, naturalmente. Acontece que a Laura deve ter fechado a janela do Gmail sem encerrar a sessão e quando eu abri a janela, a caixa de correio da minha mulher ficou na minha frente. Normalmente, eu fecharia a sessão dela e abriria a minha. Não sou, nunca fui, uma pessoa invasiva. Contudo, não pude deixar de reparar, nem de estranhar, que todas as mensagens na caixa de correio da minha mulher tivessem um único remetente: Rui Daniel Sousa. Depois de quase três horas de leitura furtiva, pela qual não posso deixar de sentir-me culpado, fiquei a saber que mantém há pouco mais de dois anos uma relação intensa e íntima com a minha mulher.

Senhor Rui,

O meu papel não é censurá-lo. Todos teremos as nossas responsabilidades no curso dos acontecimentos e eu próprio não me arrojo a hipocrisia do direito a proclamar-me um homem sem falhas. Mas é precisamente essa perspectiva, a individual e individualista, que, penso, urge evitar. Não pensemos em mim, em si, na minha mulher ou na sua. Pensemos no que representamos juntos: família. E pensemos que vale sempre a pena lutar pelas nossas famílias.

Peço-lhe que não revele este e-mail a ninguém. Além de desnecessário, obrigar-me-ia a revelar que li as mensagens a partir do e-mail dela e isso, como calcula, não ajudaria. Peço-lhe que se afaste reconhecendo-me o direito a lutar pela união da minha família. Só isso!

Espero seja possível. O resto, são aspectos acessórios e circunstanciais que não interessa debater.

Cumprimentos,
Alberto Honorato.


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"Com Amor," – Documento 59

Digo-lhe que sim!

Pode almoçar comigo na próxima quinta-feira? Íamos ali à “Churrasqueira do Januário”, o frango é bom e tem uma sala lá em cima que é confortável e menos concorrida.

Podíamos conversar.

Laura.