Daily Archives: 12/10/2011
"Com Amor," – Documento 54
Laura,
Sendo franco e directo: não completamente ao lado porque, noutras circunstâncias, vejo-me a escrever-lhe aquilo, ou, se quiser, é para mim plausível que um dia pudesse nutrir por si aqueles sentimentos. Claro que entre “onde estamos” e “aquela situação” há um mundo de barreiras.
Depois da resposta obrigatória, uma pergunta inquietante. Revê-se inteiramente na minha teoria porque a teoria é boa ou porque vive, neste momento, aquela situação?
Rui
"Com Amor," – Documento 53
Porque não completamente ao lado? (resposta obrigatória!).
As mulheres, Rui, salvo excepções, erram menos nesse departamento. Acho que os homens são mais dispersos e predadores. As mulheres têm um maior sentido de família. Só por isso vos aturam as sacanices e as criancices todas. O sentido de lealdade é mais apurado nas mulheres. Talvez seja genético. Não estou a pôr em causa as suas motivações nem a bondade delas, mas se há esse amor tão forte e pungente porque não se decide por ele?
Em todo o caso, há uma justiça que quero fazer-lhe. De facto, nunca havia visto, ouvido, lido, uma explicação tão certeira para o fenecer de um relacionamento. Nós, mulheres, talvez por estarmos mais ligadas à zona afectiva das relações, tentamos encontrar explicações para o sucesso e insucesso delas numa axiologia do “haver amor” vs “não haver amor”. A sua explicação é interessante porque preserva, em hipótese, o “haver amor”, preserva até a intenção de cada elemento do casal manter-se nele, mas trata o casal como um organismo autónomo, com vida própria, logo, morte própria, também. O casal pode estar em falência independentemente das vontades individuais… Engenhoso. Muito provavelmente correcto. Pelo menos para mim, que me revi inteiramente na sua teoria.
Não se esqueça da resposta obrigatória.
Laura
"Com Amor," – Documento 52
Laura,
Posso reconhecer-lhe algum espírito e até algum atrevimento, ainda assim, garanto-lhe que se tratou de um lapso, mais nada. Desolé!
Não foi longe. Foi ao lado. Talvez não completamente ao lado, mas, em todo o caso, ai lado.
Grato por haver destruído a mensagem.
Por fim, a farpinha, o espinho que quis deixar a incomodar-me o espírito; “Ai, ai, os homens…”
Os homens, Laura, tal como as mulheres, também podem cansar-se de uma companheira, de uma relação e de uma forma de vida.
Eu estou casado com a Patrícia há quase vinte anos e se vejo em mim um homem de muitos defeitos e algumas virtudes, garanto-lhe que a Patrícia tem muitas mais virtudes do que eu e a maioria das pessoas que conheço. Como tal, não é ela, a mãe, a esposa, a companheira que está em causa. Nem o amor que me tem ou lhe tenho. É o casal que foi vítima dos anos que passaram, dos desgastes, das crises e das rotinas e acabou crescendo em direcções opostas e acabou deixando de funcionar como um casal. Neste momento, o meu casamento resume-se a duas pessoas que vivem juntas, cumprem a sua parte de um contrato e têm filhos em comum. Não é pouco, mas não chega.
Não estou a justificar-me. Os meus actos são os meus actos e assumo-os. Estou só a dizer-lhe que os homens também sentem e também têm motivações nobres para os seus actos menos nobres. Os homens não são todos uns sacanas, Laura. Há homens que amam e há-os também que erram por amor.
Não sei porque lhe escrevo isto. Desculpe.
Maldito engano.
Rui



