Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Sugerido

Alicante

Une orange sur la table
Ta robe sur le tapis
Et toi dans mon lit
Doux présent du présent
Fraîcheur de la nuit
Chaleur de ma vie”

Jacques Prévert


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A Receção do Acordo

Independentemente da polémica que tem gerado, das muito debatidas problemáticas, das causas, das razões pro e contra, o acordo ortográfico entra em vigor em 1 de janeiro de 2012. No caso das escolas o começo é já no início do presente ano letivo.
Não sou um dos adeptos mais convictos do acordo, mas lei é lei.
Assim sendo, de hoje em diante os textos publicados em “Mails para a minha Irmã” passarão a ser escritos de acordo com a nova norma. Podem escapar-nos pormenores de redação e, se tal acontecer, todos os reparos são bem-vindos.
De resto, aqui fica uma ajudinha. Se quer começar a escrever respeitando o acordo ortográfico, passe os seus textos por um conversor. Quer o “lince”, disponível no portal da Língua Portuguesa, quer o da Porto Editora, me parecem eficazes:


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O Clã do Comboio – La Rentrée

La Rentrée


O Clã está ao rubro. Outra vez! As férias de uns, mais ou menos desencontradas, não abrandaram a convivência e a agitação destes companheiros de viagem. Houve actividades extra-curriculares. Quando regressei, no dia 1 de Setembro, fui logo informado de que o Rapaz do Fato Cinzento tinha levado a Rapariga do Riso Fácil e a PL ao Museu do Oriente e, dias depois, a jantar num simpático restaurante chinês. Neste segundo evento, a PL pisgou-se a meio do jantar. Só pode ter sido para não pagar a conta. Se pagou, então não faço ideia porque é que deixou os outros companheiros sozinhos… Uns dias depois foram comer sushi. Entretanto, o Escritor mais a sua Mulher e a sua Mana, sim a que dá nome ao blogue, foram almoçar peixinho grelhado ao Alamal com a Rapariga do Riso Fácil e seu Mano. Foi um dia precioso e memorável de que se guardam extraordinárias recordações. Claro que o facto do Mano da Mana e da Mana do Mano serem ambos solteiros é mera coincidência! E mais não digo. Sei que, alguns dias volvidos, a Rapariga do Riso Fácil e o Mano foram à Lousã, onde mora a Mana do Escritor e almoçaram com ela mais sua mãe. A coisa está engraçada.
No dia 5 de Setembro, primeira segunda-feira do mês, a CP teve o grandioso gesto de devolver as três carruagens que roubou ao Interregional das 7:18 em Junho. Isto devolveu ao Clã o seu espaço habitual. Algum conforto foi recuperado e, imagine-se, a Mulher Vampiro voltou. Foi uma alegria revê-la.
Entretanto, ultimam-se os preparativos para o 1º Almoço do Clã do Comboio que será algures num restaurante em Belver. Houve algumas alterações ao plano inicial, mas, sem dúvida, será um evento memorável! O sistema de inscrições está a funcionar muito bem, e está até a preparar-se um teatrinho! Nada menos que Shakespeare! Ah pois, a ser que seja logo em grande!
Mas, o que mais me fascina é que estão a regressar as conversas estimulantes e bem-dispostas. Hoje, o Rapaz do Fato Cinzento e o Escritor fizeram corar a Rapariga com Brinco de Pérola, em francês (!), e conhecemos uma senhora a que chamámos Isabel mesmo sem saber o nome dela. Ela ficou triste por não ser passageira frequente, mas nós achamos que ela vai mudar de vida por nossa causa!
Entretanto, o JJ anda a tentar vender Bimbis a todo o Clã. Que eu visse, já marcou uma mão cheia de demonstrações. Ele é Bimbiodependente. Acho que se levanta a meio da noite e vai fazer uma receita de chu-chu com que estava a sonhar. O vício é tal que já tem duas Bimbis. O VM vai retomando a sua veia humorística, mas, hoje, o verdadeiro herói foi o Américo. O nome dele não é Américo, mas nós chamamos-lhe Américo porque… sei lá, porque nos apetece. É uma longa história: um dia enganei-me, chamei-lhe Américo em vez do nome dele e depois ficou assim para todo o sempre. No Clã, claro. Estávamos a falar da Bimbi e do advento das tecnologias e do facto delas também falharem e vai o Américo e diz:
– Ai falham, falham! Um dia destes estava numa dessas portagens automáticas e ela só me dizia naquele tom artificial, Cartão mal introduzido. Foi então que surgiu uma voz de uma senhora que se apresentou como supervisora e ordenou, Dobre-o um bocadinho, introduza-o e retire-o de uma só vez!
Gargalhada geral. A Senhora da Revista de Culinária, que tem uma blusa toda gira com um laçarote no ombro que o VM quer desapertar para ver se lhe calha um cadeau ou um gâteau, foi às lágrimas com a história do retire-o de uma só vez. A Isabel, que não nos conhece de lado nenhum e não sabia que se chamava Isabel, não conseguiu esconder o riso e daí até ao Oriente foi um não mais acabar de contribuições voluntárias para a boa-disposição geral.
Meu Deus, as saudades que eu já tinha do trabalho! Se eu podia viver sem o Clã do Comboio? Poder, podia…
PS: a rentrée trouxe um novo e fantástico elemento ao Clã do Comboio: a Miss América. Será apresentada em breve. Promete…


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O Luar Quando Bate na Relva

O Luar Quando Bate na RelvaO luar quando bate na relva
Não sei que cousa me lembra…
Lembra-me a voz da criada velha
Contando-me contos de fadas.
E de como Nossa Senhora vestida de mendiga
Andava à noite nas estradas
Socorrendo as crianças maltratadas …
Se eu já não posso crer que isso é verdade,
Para que bate o luar na relva?
Alberto Caeiro,
in “O Guardador de Rebanhos”


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31000

Obrigado a todos os leitores e amigos.
Este espaço é, antes de mais, vosso.

31000 leituras para um blogue que começou como uma brincadeira é, de facto, um número interessante e motivante!

jpv


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Curtas do Metro – Contradição Vocabular

Contradição Vocabular

Há já muito tempo que não presenciava um daqueles fugazes, mas insubstituíveis momentos no Metro em que, da amálgama de normalidade, emerge uma situação digna de nota. Esta, vale pelo requinte vocabular.

Foi ao fim da tarde, na plataforma da linha amarela no Marquês de Pombal. Eram três senhoras com a idade situada ali no fim dos trinta, princípio dos quarenta. Duas estavam muito bem vestidas, cabelos arranjados, maquilhagem aprumada. E vociferavam para a terceira que estava vestida de forma mais humilde e penteado mais descuidado. Tentavam provar-lhe por A mais B que uma colega lá da clínica era desleixada, preguiçosa, não colaborava nem fazia nenhum e, ainda por cima, era queixinhas. E falavam para ela como se estivessem a ralhar com a outra. O discurso era audível e algumas pessoas sentiram-se incomodadas. Outras sorriram. E os sorrisos tinham a ver com o facto de os berros irritados delas serem produzidos em tom elevado e exaltado, mas com um sotaque afectado de “tia”.

Ora, o verdadeiro contraste aconteceu quando a moça de aspecto mais humilde e desgastado fez uma última tentativa para defender a ausente. Aí, nesse momento, a mais produzida das queixosas levantou a voz e exclamou em tom muito VIP:
E a tipa foi fazer queixa ao Dr. Ricardo, que eu não estava lá!… Então uma gaja já não pode ir fazer xixi?!

Risos abafados em volta.
Eu achei piada à contradição vocabular. É que a acompanhar com “gaja”, “fazer xixi” é muito suave. Ou bem que endurecia a formulação do “fazer xixi”, ou bem que suavizava a “gaja” e dizia, por exemplo, senhora gaja…

jpv


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Oportuno!

Até nem gosto muito do jornal em causa, mas nunca perco uma piada do “Sistema2”. São as melhores piadas da imprensa escrita/online. Muito certeiras e mordazes. Supostamente eram só sobre desporto, sobretudo futebol, mas algumas ultrapassam essas fronteiras e têm um cariz social mais abrangente como é o caso. Infelizmente para todos nós, esta é muito oportuna.


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A Super-Mulher Existe!

Nasceu nos anos 40.

Sobreviveu às cheias do Tejo.
Emigrou para África.
Apaixonou-se irremediavel e eternamente e casou-se.
Teve dois filhos.
Construiu uma vida.
O processo de descolonização destruiu-lha.
Viveu uma guerra por dentro.
Refez a vida.
Educou, instruiu e formou os dois filhos.
Viu nascer um neto.
Uma grave doença do marido destruiu-lhe a vida de novo.
Refê-la outra vez.
Viu morrer o marido, paixão, até ao fim, de uma vida.
Viu morrer os pais.
Foi vítima de cancro.
Derrotou-o com coragem e determinação.
Nunca perdeu a capacidade de amar nem de sorrir à vida.
Recentemente tirou um curso de formação em computadores.
E criou a sua própria página no Facebook!
Depois disto tudo, um dia apeteceu-lhe tirar uma fotografia.
Saiu essa que aí está!
Obrigado, Mãe.
Mana e Mano


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Au Clair de Lune… tudo fica mais lindo!

Clair de Lune

Votre âme est un paysage choisi

Que vont charmant masques et bergamasques

Jouant du luth et dansant et quasi

Tristes sous leurs déguisements fantasques.

Tout en chantant sur le mode mineur

L’amour vainqueur et la vie opportune,

Ils n’ont pas l’air de croire à leur bonheur

Et leur chanson se mêle au clair de lune,

Au calme clair de lune triste et beau,

Qui fait rêver les oiseaux dans les arbres

Et sangloter d’extase les jets d’eau,

Les grands jets d’eau sveltes parmi les marbres.

Paul Verlaine


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O Reflexo Naso-Digital

Ao ler os comentários e e-mails dos leitores, ontem, a propósito do texto “A Síndrome da Cueca Entalada”, apercebi-me de que muitos se sentem incomodados por uma outra praga social, de não menor dimensão, ainda que mais aceitável: o Reflexo Naso-Digital, também conhecido por “Limpeza das Fossas Nasais” e carinhosamente tratado por “Tirar Macacos do Nariz”.
É um fenómeno que abrange uma vastíssima camada da população portuguesa e a desgraça atinge sem aviso nem discriminação de qualquer ordem. Crianças, adultos, homens, mulheres, de todas as raças e credos, presidentes de república, rainhas, princesas, políticos, médicos, enfermos, altos, baixos, bons e maus e claro, os mais desgraçadamente atingidos: os condutores de automóvel em fila de trânsito!
As crianças perdoam-se por duas razões. Primeiro, porque não sabem o que fazem. Segundo, porque estão, efectivamente, em actividades de limpeza. Já quanto aos adultos, ele há sobretudo três ordens de pacientes. Os que o fazem em privado para limpar, os que se descuidam e o fazem em público, também para limpar, e os que fazem desta prática um entretenimento público e ostensivo, quase um desporto. É para estes últimos que deve ir a nossa preocupação, o nosso auxílio e a nossa compreensão.
Estas pessoas ficam presas no trânsito e aproveitam esses minutos, quiçá horas, para essa nobre actividade que é o pensar. Ora, pode não parecer, mas o pensar dá muito trabalho. E não havendo nada que se mastigue por perto, uma vez que normalmente nada há que se coma num carro, a forma que a mente encontra para distrair o corpo, enquanto pensa, é tirar macacos do nariz. Atroz! Mas verdade!
Os recursos são diversificados. As costas da mão ou de um dedo são recursos muito utilizados por aqueles que adiante designaremos de “Disfarçados”. Há os adeptos do mindinho. Estes podem, ou não, ter unha longa e um anel o que é indiferente. O que importa é que, sendo o mindinho mais delgado, permite actividades exploratórias de recolha mais bem sucedida. Há, ainda, a grande maioria que são os adeptos do indicador. Não sendo um recurso digital tão delgado quanto o mindinho, é mais comprido, logo, permite ir mais longe em menos tempo. E por fim, um requintado e conjugado recurso que a ciência apelidou de Pinça Digital. Trata-se de utilizar o indicador e o polegar em forma de pinça. A extraordinária utilidade deste recurso é que permite escarafunchar duas fossas nasais em simultâneo com grande rentabilidade de mão-de-obra, mais exactamente, dedo-de-obra.
As práticas são igualmente múltiplas e variadas. Há os Disfarçados. Estes costumam passar rapidamente com as costas da mão ou de um dedo a ver se naquele fugaz esfreganço trazem consigo o incomodativo macaco. Macaco chamado, precisamente porque é incómodo uma vez que todos sabemos que não é de macacos que se trata, mas de lixo que os pêlos nasais impedem que progrida para o interior do aparelho respiratório. Há os Arrogantes. Estes pacientes, após as actividades exploratórias, atiram violentamente o produto da busca para o chão do automóvel ou para a rua com um gesto semelhante àquele que fazíamos em cachopos quando jogávamos à carica ou ao berlinde e nem se despedem daquilo que ainda há momentos era parte integrante do seu ser. Os Laboriosos, por sua vez, são indivíduos persistentes, com grande capacidade de empenho e trabalho e, normalmente, são pessoas poupadas. Vão recolhendo pequeninos macacos e depois ficam a rodar com eles entre o indicador e o polegar até fazerem bolinhas de tamanho satisfatório. Os Observadores, ao contrário dos Arrogantes, após a recolha, viram para si o dedo com o produto e observam-no antes de o despedirem. Normalmente, estas pessoas têm espírito científico. Gostam de analisar os pormenores do volume, da forma e da cor. Por fim, há os mais requintados. A ciência Naso-Digital resolveu apelidá-los tecnicamente de Gastronómicos. Têm o espírito analítico dos Observadores, mas vão mais longe: degustam requintadamente o produto do seu labor naso-digital. Alguns destes homens e mulheres têm mesmo caderninhos pretos onde registam as notas de prova.
O mais extraordinário deste fenómeno é que pode acontecer entre uma luz encarnada e uma verde de um semáforo ou, simplesmente, até que o veículo da frente progrida mais 5 metros na fila. Nunca se deve confrontar um paciente do Reflexo Naso-Digital de forma repentina com a realidade. É perfeitamente inútil. Estes pacientes são como as pessoas que ressonam, ou seja, vivem em constante negação. Assim, se acordarmos uma destas pessoas dizendo, Então pá estás como dedo no nariz?, ou noutra versão, Então pá, vai haver baile logo à noite?, ou ainda, Então pá, estás a limpar o salão?, ela vai responder invariavelmente a mesma coisa, com um ar dissimulado: Não. Estava a pensar!
E estava. Aliás é aí que tudo começa! É por isso que eu não percebo porque é que Portugal tem problemas dos mais diversos tipos, inclusivamente, ao que parece, de cariz financeiro. A verdade é que o nosso país está repleto de pensadores. Eu sei porque vejo-os todos os dias!