Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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"Com Amor," – Documento 32

Cara Senhora,

Permita-me que a trate pelo seu nome próprio. Gesto invulgar, por certo, não mais invulgar do que a forma como nos conhecemos.

Perdoe-me o atrevimento. Sou um homem respeitador. O gesto que tive para consigo é, a todos os títulos, inusitado. Há uma verdade, um reduto último de defesa pessoal, de justificação para a minha ousadia: não resisti à sua elegância. E perdoe-me, de novo, se lhe não falo de beleza. Não questiono. Contudo, a beleza insere-se na esfera da arbitrariedade do gosto. A elegância não. Ou se tem, ou não se tem. E a Verónica tem elegância, uma fina elegância no porte, uma presença distinta.

Quando a vi no café, julguei estar enganado, julguei não ser possível, uma mulher com o seu porte e a sua presença estar desacompanhada e veio-me aquele impulso de sorrir-lhe, de cumprimentá-la de conversar consigo… já não sei se lhe paguei o café… espero que sim… Verónica… penso que podemos conversar… gostaria imenso de corresponder-me consigo e agora com estas tecnologias fica tudo mais acessível e rápido.

Com deferência,
Eduardo Luís dos Santos


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A Quarta Folha do Trevo

A Quarta Folha do Trevo

Joguei a minha vida
Às sortes,
Entreguei-a ao capricho
Da Fortuna.
E por entre vivas de esperança
E traços de morte,
Descobri a miraculosa lacuna.
Tem o trevo
Três folhas
Que representam
As acertadas escolhas.
E tem aquele que me deste
Uma folha mais,
Uma falha da Natureza
Que sendo espúria e indesejada,
Pela brisa da Fortuna
Veio a ser bafejada.
É o quebrar da linha
E o infinito para além do horizonte.
É o sol nascendo
Por trás do elevado monte.
É a chuva regando
Em tempo e medida certa,
É a água jorrando na fonte
Quando o calor aperta.
E é o amor.
O encontrar-te na turba,
O desenhar da tua figura
Na multidão.
Em manhã clara
E em noite escura.
E é o sorriso de uma mulher que ama,
De um homem que é amado.
E é o canto do pássaro
Na frescura da tarde,
A criança que nasce,
O fogo que arde.

É o que faltava
E o que vem trazer sentido à ordem.
É o amanhecer da vida
Na neblina púrpura da alvorada.
É a perfeição contida
Na quarta folha do trevo,
Enjeitada.

jpv