Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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O Clã do Comboio – O Comentário do RB

O Comentário do RB

Caros leitores, acompanhantes das mirabolantes histórias que aqui se vão escrevendo, hoje, a história não será uma história mas um comentário. O comentário do RB ao post que aqui se publicou intitulado “O Clã do Comboio – O RB Fez Anos” e que narrava a celebração que improvisámos em pleno interregional das 7:18 no dia do seu aniversário. Já uma vez fiz isso com as “Curtas do Metro”. Efectivamente, este blogue tem poucos comentários, mas quando os tem, normalmente vêm de pessoas que realmente se interessam. A verdade é que, assumindo eu o papel do Escritor ou Escrevedor como alguns me chamam, há momentos em que os meus companheiros do Clã do Comboio produzem autênticas pérolas de escrita e de sensibilidade. O comentário do RB está tão interessante, tão sentido e tão belo que seria uma pena ficar escondido nos comentários, por isso mesmo aqui se publica na íntegra.
E nem vou comentá-lo, muito menos explicá-lo (ouviste VM?!), vou só deixá-lo aqui para memória futura. Obrigado RB! Como sabes, podia haver Clã sem ti, mas não era a mesma coisa.
O Escritor
———————————————–
“Meus caros

Fui efetivamente surpreendido pela festa no meu aniversário. Não sabia nem esperava nada no género. Vocês transcenderam-se e pelo facto fiquei e estou muito grato. Nada como sermos colocados perante situações destas para se ver como uma sã amizade nasce e frutifica…
No dia em questão, em que cheguei aos 47 e não 48, a MV julgou ou pensou que eu estava «esquisito». Cansado, sim, estupefacto, também, contente e muito agradecido com a lembrança muito mais.
A todos estou muito agradecido.

E é claro, caro «escrevedor», que me irei redimir com uma caixinha de celestes. Naquele dia, não era para nenhuma chefia, como foi aventado, até porque eu não sou nem nunca fui de dobrar as costas. «Antes quebrar que torcer…»
O que no dia 9 levei foi a quantidade necessária para entre os pares e entre todo o pessoal que trabalha na mesma Direção pudessem comemorar comigo esse particular momento.
Assim sendo, a promessa que vos fiz no comboio foi a de que iria levar, num outro momento, uns celestes. E eu faço e cumpro o que digo. Assim sendo, numa próxima viagem lá iremos trincar uns docinhos…

Aos meus amigos do clã do comboio aquele especial e saudoso cumprimento. Aos restantes, que nos aturam, um apelar à vossa paciência e a que se envolvam, para assim minimizarem o efeito do passar do tempo e da perda que é o se poder começar o dia a rir, em vez de continuar com aquele ar sorumbático e sonâmbulo pelo qual tantos ficam caraterizados.

Um bem hajam

RB”


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Não é por falta de opções!

Hoje fui visitar uns tios e uns primos de que gosto muito, gente muito boa, ali para os lados de Penacova. Em determinado cruzamento deparo-me com esta maravilha das estradas de todo o Portugal: uma placa de sinalização com 13 (!!!) localidades assinaladas TODAS no mesmo sentido… Era caso para perguntar se não seria mais fácil fazer uma só placa a apontar na outra direcção com a inscrição “Para ali não há nada”.


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Crise? Mas qual Crise?!

Ontem colocaram no vidro do meu carro, preso com o limpa pára-brisas, este simpático cartaz. E, caros leitores, até pode haver crise, mas não é para todos. Ora vejamos: o Sr. Paulo para já, para já, é Senhor. Depois, compra todo o tipo de carro, nem interessa nada que esteja avariado. Depois ainda, desloca-se a expensas próprias ao local e, a cereja em cima do bolo, PAGA NO ACTO.
Eu não sei se o Sr. Paulo sabe, mas é bem provável que tenha uma avalanche de ofertas…
Mas nada disto teria muita piada não fosse o mesmo cartaz ter sido colocado no vidro do carro do meu cunhado que é… vendedor de automóveis! É a chamada concorrência desleal!


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Aleixo

Aleixo

Gosto de ver-te assim,
Entregue a nada
Abandonada a mim.
Fica desenhado
Nesse teu desleixo
O ar apaixonado
Duma quadra do Aleixo.
És mulher e menina
E tens nessa figura fina
Tudo o que me encanta.
Tudo o que me surpreende
E espanta!

jpv


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Pormenores

Pormenores

Não é em ti que penso
Mas nos teus gestos,
Não é a tua figura fina
Que rememoro,
Mas as posições que te apanho
Na distracção dos dias.
Aquele olhar que fazes quando pensas,
A forma como franzes a testa
Quando procuras
O que não encontras.
As meias que vestes
Nas pernas nuas,
O corpo abandonado ao sono
Após as carícias.
E são estas as delícias
Que levo da vida.
Outras não quero.
É aquela ponta de cabelo
Por apanhar.
Aquele teu ar
Desentendido
Que transpira um amor sentido.
Não é o quadro geral
Da tua formosa figura
Que ando à procura.
São os detalhes,
Aquelas expressões
Que não preparas.
Aquelas imagens raras
De ti
Que vivem em mim
E me alimentam…
Este amor sozinho e louco
Que sendo já tanto
Me sabe sempre
A tão pouco.
Não é a pessoa
Partilhada e pública
Que recordo.
É a amante exclusiva e privada
De dar-me a vida a conhecer,
Um amor inteiro a amar.

E vive nestes pormenores
À sombra de coisas maiores
O que realmente interessa nesta passagem.
A vida vivida,
E sentida,
A única que faz parecer eterna
A efémera viagem.

jpv


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Curioso Exercício

Eu nem sequer sou um tipo muito céptico, mas por vezes não consigo deixar de achar piada às coincidências da vida. Se é que são coincidências!
Ora vamos lá a um pequeno exercício:
1) Abra o word.
2) Escreva a palavra Casado com maiúscula, claro.
3) Clique com o botão direito do rato.
4) Passe com o cursor na opção Sinónimos.
Qual é o último sinónimo da lista?
Pois… eu não dizia que não há coincidências?!


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O Clã do Comboio – O RB Fez Anos

O RB Fez Anos
Nas primeiras histórias do Clã do Comboio nasceu essa múltipla personagem, absolutamente fantástica, que são os Três Amigos que Querem Salvar o Mundo. A pouco e pouco, com o desenrolar das histórias, fomos conhecendo alguns pormenores de cada um deles. O JJ, O RB e o VM.
Já aqui se escreveu como é curioso o facto de um conhecimento informal e espontâneo ter vindo a transformar-se numa amizade bem disposta e cúmplice. Efectivamente, todos sabemos que estes laços são precários, mas todos sentimos a vontade de nos reencontrarmos, de conversarmos e brincarmos uns com os outros como que tentando que cada dia de trabalho comece bem para poder correr bem. Não constitui um problema quando um de nós falta, mas é muito melhor quando estamos todos. E esta união, precisamente porque é espontânea e natural, acaba por ser mobilizadora.
Ontem o VM teve uma ideia. Sabíamos que o RB fazia anos hoje, mas não combinámos nada. O VM pediu-me o número de telefone e a meio do dia ligou-me:
– Olha lá, o que é que combinámos para amanhã?
– Nada. Mas podemos combinar.
– E se a malta levasse um bolito?
– Quem leva um bolito, leva uma garrafita…
– Mas eu entro em Santarém com ele. Dá nas vistas.
– Não te preocupes. Traz os pratos, os copos e uns guardanapos que o resto arranja-se. Falo com a Rapariga do Riso Fácil.
E assim foi. O VM trouxe o hardware, a Rapariga do Riso Fácil cozinhou um esplêndido bolo do Lidl e o Escritor levou uma garrafinha de espumante italiano. Como Deus nosso Senhor protege os audazes, o Senhor da Mala Térmica, que é uma presença habitual, mas nada regular, nunca sabemos quando vem, hoje apareceu e trazia com ele a mala térmica! Ora, quando os Três Amigos que Querem Salvar o Mundo entraram em Santarém no interregional das 7:18, já lá ia a Senhora da Provecta Idade, a Rapariga com Brinco de Pérola, o Senhor da Mala Térmica, a Rapariga do Riso Fácil, o Escritor, o Ceguinho, o Aluno do Escritor e a Mulher Vampiro. A Stôra também ia, mas, como sempre, a dormir. Pelo menos, enquanto a malta deixa! E, um grupo de gente que há seis meses nem sequer se conhecia, entoou o Parabéns a Você em pleno comboio, houve palmas, o Escritor abriu a garrafa com estrondo e o VM confiscou a mala térmica ao Senhor da Mala Térmica para fazer de mesa. Ele não só não se aborreceu nada, como se voluntariou para cortar o bolo às fatias o que não foi difícil porque, de repente, vindas não sei de onde, apareceram diversas armas brancas com assinaláveis e proibidos tamanhos. Todos comemos um bocadinho e, em abono da verdade, ainda não eram oito da manhã e o Clã estava a beberricar espumante italiano. Deve ter sido um dia produtivo nos diversos locais de trabalho! Como sobrou um bocadinho, o Senhor da Mala Térmica levou a garrafa aos queixos e desfez-se do resto. Estragar é que não!
O ambiente ficou fantástico, disseram-se piadas várias e parvoíces diversas. A Mulher Vampiro e o VM tentaram, mais uma vez, denegrir a imagem do Escritor, mas sem sucesso. Virou-se o feitiço contra o feiticeiro. Porquê? O Escritor é um tipo superiormente culto! Por exemplo, o VM estava a tentar gozar com o Escritor e vai daí, no meio do discurso, diz “almentolia” em vez de almotolia. Vergonha. Muita vergonha! A Mulher Vampiro tenta dizer piadas a gozar com o Escritor, mas quando se ri, ronca! Vergonha. Muita vergonha! Hoje, a Mulher Vampiro não dormiu e, mesmo sendo de manhã, deu um arzinho da sua graça vespertina. A Rapariga do Riso Fácil falou pelos cotovelos, o Aluno do Escritor não só não dormiu, como bebeu um copinho e, espanto dos espantos, a Rapariga com Brinco de Pérola falou alto, riu-se e, claro, corou! A careca do JJ rebrilhou mais e a veia humorística do VM esteve particularmente apurada. O RB estava espantado. Ele sabia que nós éramos capazes disto, mas não tinha a certeza de que o faríamos. O rapaz estava sem palavras! Claro que todos gostámos de o ver feliz e claro que todos reclamámos com ele. Porquê? É simples. Então não é que o tipo, dizem as más línguas, levava uns celestes (deliciosa doçaria regional) para oferecer lá no trabalho aos chefes e, em vez de deixar a malta atirar-se aos celestes, escondeu-os nas profundezas da mochila e levou-os mesmo às chefias! Claro que o VM, que não tem vergonhita nenhuma, denunciou-o. Mas o tipo é resistente. Fomos toda a viagem a chateá-lo para morfarmos os celestes ali mesmo e ele nada! É mesmo de ideias fixas!
Enfim, a algazarra atingiu níveis inimagináveis e a camaradagem sentia-se nas vozes e nos olhares do Clã.
Resta dizer, Parabéns RB! Que contes muitos. Tens uma bonita idade: 48 anos! O quê? Não era para dizer? Ops! Tivesses partilhado os celestes!
O Clã está a crescer. Não em número de elementos. Isso também, mas em abono da verdade qualquer passageiro pode pertencer, já pertence, ao Clã. Está a crescer nas partihas, nas cumplicidades, nas entre-ajudas, na afabilidade. O melhor e mais significativo sinal é que gradualmente as viagens constituem um sacrifício menor, um peso mais fácil de suportar. Há até um certo prazer e um certo gosto em viajarmos juntos. Eu não sei quanto tempo vou andar neste vai-e-vem diário de comboio, mas sei que já sinto as saudades que terei no primeiro dia que os deixar.
O RB fez anos. E o Clã não foi indiferente num tempo em que a indiferença e a solidão são autênticas pragas a alastrar na Humanidade.
O RB fez anos. E o Clã não foi indiferente a isso. Eu gosto deste informal e extraordinário Clã do Comboio. Faz-me sentir menos anónimo num universo de anónimos. Menos só num mundo de solidão. Faz-me sentir entre amigos que é onde devíamos estar sempre.
O Escritor.


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O Mundo das Palavras

O Mundo das Palavras

Não sou desta vida.
Não conheço estas palavras.
Não tenho estes juízos.
Não são minhas
Estas determinações.
Não vivo nestas ideias
Nem navego estas ilusões.
Há na minha vida
Uma vida que não é minha.
E sei que vive algures
Uma vida que não sabia que tinha.
Não cresce em mim
Esse mundo que construíste,
Não chega a ter fim
Porque não conheço o que sentiste.

Minha vida é um terreno árido,
Seco, estéril e abandonado.
E tudo o que falta neste deserto
Vive em verdejante e longínquo prado.
Queria tanto,
Queria mesmo tanto
Que não sofresses.
Queria que percebesses
Que não és tu.
São as palavras,
As que digo e te não tocam,
As que dizes e me não importam.
São só as palavras
E as palavras são um mundo
Onde se esconde este sentir profundo
Que vive adormecido.
Faltam-lhe só as palavras
Para acordar e ser vivido.

jpv


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Correcção

Caro senhor, sou humildemente a informá-lo de que se diz ALMOTOLIA e não como V. Exa, por lapsus linguae, estou certo, referiu: ALMENTOLIA!

– Óvistes, pá?!

O Explicador da Classe Operária


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Histórias do Autocarro 28 – ‘Tá Bué da Cheio

‘Tá Bué da Cheio

8:50h. Espero o 28 no Cais do Sodré. Demora-se. Entretanto, chega o eléctrico 15. Duas moças com menos de 20 anos esperam que ele pare. Depois, quando está imóvel, pressionam o botão para abrir as portas que deslizam para os lados e vê-se que vem cheio. Lá dentro há pessoas até ao limiar da porta. Uma das moças, desistindo de entrar, diz para a outra:
– ‘Tá bué da cheio.
Ambas se afastam um pouco. Nesse preciso momento chegam duas pessoas a correr, sobem para o eléctrico e empurram quem lá está dentro. Há quem reclame, mas elas não querem saber. As raparigas hesitam. Não entram. Chegam mais duas pessoas, fazem exactamente o mesmo, saltam e empurram. Elas olham uma para a outra. Hesitam. Ficam onde estão. Chegam mais duas pessoas, saltam lá para dentro e empurram. Elas olham uma para a outra e sorriem. Depois de terem desistido, ainda entraram 6 pessoas ali mesmo à frente delas. As portas fecham-se com custo, o eléctrico 15 arranca. Elas voltam a olhar-se e a que tinha estado calada remata como quem se conforma:
– ‘Tava bué da cheio!

jpv