Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Estranha (3)

Estranha (3)

Olá estranha!
Adivinha-se
Nesse sorriso matinal
A forma dos teus gestos,
Uma sensatez sempre igual.
E percebe-se
No teu bom-dia sussurrado
O desenho da companhia
No tempo partilhado.

Passam os dias
Na estranheza das manhãs,
E cresce este nada
E vive esta esperança
De não sei quê,
Um adiar constante,
Um eterno logo se vê.

Olá estranha!
Dou-te quase nada
E é como se me desses tanto
Que, mesmo sem saber quanto,
Me empolga
E satisfaz.
Podes tão pouco, estranha,
E, no entanto,
Se soubesses
Do quanto és capaz,
Talvez viesses
Inundar-me com a tua paz
Desenhada nesse breve aceno,
Nesse gesto efémero
E sereno
Que me acorda o dia.

jpv


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Chiclete

Chiclete

Sabes,
Quando te ofereci
A chiclete,
Não foi
Como quem se mete
E tenta arrancar um sorriso.
O teu sorriso é livre
E voa com facilidade.
Nasce nos teus olhos
De amêndoa
E desenha-se
Com sensualidade
E natural alegria.
Os teus cabelos
Contam-me histórias distantes
De mares revoltos
E cavaleiros andantes.

Vês?
És uma pessoa que promete,
E continuo a jurar
Que, quando te ofereci
A chiclete,
Não foi
Como quem se mete!

jpv


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Um Passo Por Dar

Um Passo Por Dar

Uma passada por dar,
Meia passada vencida.
Tenho um pé no ar
E trago suspensa a vida.
E vagueio pela mente arrebatada,
Procuro o sentido
Da caminhada
E ando sozinho
Procurando
No além
Tudo e nada,
Todos e ninguém.

E há em mim este mistério
Indecifrável,
Esta linha da vida
Que a cigana perdeu
Que é querer viver todas vidas
Menos a que o Destino me deu.
Há em mim esta errância,
Este sentir do certo e do errado,
E saber que nada disso influi
No passo a dar,
No passo dado.

Andarei.
Andarei sempre à procura.
E já não quero saber
Do que acharei
E do que deixarei por achar.
A única vida possível
Habita neste procurar,
Neste passo por dar.

jpv


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O Clã do Comboio – Citações Imperdíveis

Citações Imperdíveis


Eu podia limitar-me a fazer as citações, mas não seria suficiente. É preciso dizer que o Clã do Comboio nos fins de tarde de sexta-feira vem muito mais agitado. E cansado! Ora, seja pelo cansaço, seja pela antecipação de fim-de-semana, a conversa é trepidante, consecutiva, contínua e a viagem transforma-se num interminável desfiar de saudáveis disparates.
Os membros do Clã não se calam, falam uns com os outros e interpelam inocentes e incautos estranhos que começam por abrir os computadores e os livros, mas depressa desistem de tais intenções. São tardes memoráveis de companheirismo espirituoso. Fala-se de tudo. Das compras que se fizeram no intervalo do almoço ou ao fim da tarde, de política, dos problemas do trabalho, dos hábitos de cada um no comboio, da vida, dos homens e das mulheres e, claro, há disputas discursivas e desafios com tentativas de simulação de discórdias, desdém ou simples gozo com o carácter uns dos outros. Os finais de tarde de sexta-feira são electrizantes no Clã do Comboio e hoje não foi excepção. Para que os amigos leitores tenham uma ideia do que por lá se diz, hoje fiz uma colecção de citações a percorrer quase todos os elementos do Clã. Qual delas a melhor. Deixemo-nos de rodeios e vamos ao que interessa:
(1)
“Cuidado com a minha carne!”
Rapariga do Riso Fácil
(2)
“A tua carne nunca me estorva!”
Escritor
(3)
“Um país onde é tradicional NÃO cumprir prazos.”
Mulher Vampiro
(4)
“Fazer falcatruas é comigo!”
Mulher Vampiro
(5)
“Até eu ia a ouvir e sou surda.”
PL
(6)
O objectivo da vida dela é manter os 44 quartos.”
RB
(7)
“Eu hoje até me pus a jeito.”
RB
(8)
“Houve ali um desfibrilhar qualquer.”
RB
(9)
“9, só falta uma para 7!”
Escritor
(10)
“Acho que a carne dela não apodrece.”
JJ

(11)
“Os homens não fazem falta, só mesmo naquelas alturas cruciais em que não há hipótese nem substituição possível!”
Mulher Vampiro


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SMS

SMS

Sempre Muita Simpatia
Sabes, Mesmo Sinceramente,
Seria Magnífico Seguires
Sendo Mulher Sorridente.

Sei Muito Seguramente
Sobre Mesma Sedução,
Sinto, Mulher Sorridente,
Seres Maravilhosa Sensação

jpv
(Dedicado à Rapariga do Riso Fácil do
Clã do Comboio que passa as viagens
nas SMS com o namorado!)


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O Clã do Comboio – O RB trouxe Celestes

O RB trouxe Celestes

Este Clã está a ficar mágico. O RB trouxe Celestes. Ele tinha prometido e fez questão de cumprir logo na primeira oportunidade.
O Celeste é um doce pequenino, mas muitíssimo saboroso. É feito de ovos, amêndoa e, claro, açúcar. O RB trouxe uma caixa. A Mulher Vampiro, cuja rabugice matinal não passa nem a poder de Celestes, recusou e fez um ar muito enjoado. Não era nada com o RB nem com os Celestes dele. O problema é mesmo dela que, antes do primeiro café, tem esta peculiar má disposição. Deixa lá, Mulher Vampiro, nós gostamos de ti na mesma. O Ceguinho ia a dormir, logo, não comeu. O Aluno do Escritor morfou o dele, tal como o Escritor, o VM e a Rapariga do Riso Fácil. A Rapariga com Brinco de Pérola também não quis. Ia a ler, claro. Agora anda a ler um livro do Salman Rushdie que diz que é uma fábula. Sim querida, espera lá que já acredito em ti!
A malta ficou bem disposta com a generosidade do RB e com o pretexto para se conversar até Lisboa. Oferecemos à Stôra, mas ela não quis porque ia dormir e a malta não insistiu porque ela tem lá as razões dela e um Celeste a mais não é um Celeste a menos.
O curioso, hoje, foi a afirmação de dois novos elementos no Clã. A primeira é a Mamã das Duas Crianças que já tem vindo com a malta. Tem andado dividida entre a vontade de andar connosco e o desejo de nos apertar o pescoço. Um dia, perguntou-nos, como quem intimida:
– Vocês não têm vida própria?!
A resposta foi pronta e em coro:
– Não!
E pronto. Se estava iludida, desiludiu-se. Mas fomos mais longe. Começámos a integrá-la nas nossas brincadeiras. De resto, ela dá-nos motivos. Eu, pelo menos, acho que adormecer no ombro do Aluno do Escritor é motivo para a integrar. O que é certo é que abriu um sorriso e agora quem quer vê-la é a viajar com o Clã. E tem uma vantagem, é desinibida o que sempre proporciona uns momentos interessantes. Hoje, por exemplo, disse a frase “Umas voltinhas de bicicleta durante o dia e à noite dormem melhor!” e julgou que passava despercebida. Não passou! Estou a referir-me a ela porque gostei de ver a naturalidade com que morfou vários Celestes do RB. Todos esperamos que a Mamã das Duas Crianças continue a resistir à nossa presença. Assim seja que sejamos mais difíceis de aturar do que duas crianças com mau dormir!
A outra personagem que anda a namorar o Clã e já está em avançado grau de integração é a PL. A PL é uma mulher baixinha com o ouvido muito atento e o olhar muito vivo como se quisesse ver a vida toda num instante. Sorri com simpatia ao dia que começa e percebeu-se imediatamente que não ia deixar-se intimidar pelo Clã e as suas piadas matinais. No primeiro dia que veio, atirou-se à caixa dos Celestes do RB como se não houvesse amanhã e aguentou umas histórias de violência física, agressões e coisas do género, que o VM ia a contar. Como voltou no dia seguinte, pensámos que tinha tido o seu baptismo de fogo.
Não sei se repararam, mas há aqui um ritual de iniciação que é novo no Clã. De facto, parece que quem quiser entrar para esta maravilhosa e espontânea família tudo o que tem a fazer é comer Celestes ao RB.
Isto até acabou por ser engraçado. Foi como se o RB tivesse duas festas de anos. Uma que nós lhe fizemos de surpresa e outra que ele patrocinou com Celestes. É o Clã no seu melhor!


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Pediste-me Versos

Pediste-me Versos

Pediste-me versos
E versos te dei
Sangrando meus excessos
No peito que rasguei.
E houve palavras soltas
A cantar sentimentos,
Notas esvoaçando
baloiçadas pelos ventos.
São de mudança,
Diz o profeta,
Mas no profeta vive a criança
E morre o poeta.
Pediste-me versos
E versos te dei
E neles foram impressos
Os hinos que te cantei.
Ah… musa minha!
Musa de minha solidão,
Vagueias pelo mundo sozinha
Sem castigo nem perdão.
E tens-me preso neste pulsar
E tens-me amarrado a este sentir,
Sem ti não sei amar,
Contigo não consigo fugir.

jpv


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Versos de Insuficiência

Versos de Insuficiência

Para
Um copo meio vazio
E outro meio cheio
Não chega uma noite de frio
Com afagos de permeio.
Para
um problema de simples contorno
E outro bem complexo
Não chega um corpo morno
E meia noite de sexo.
Para
Uma alma inteira
E uma mulher dentro dela
Não chega a forma ligeira
De um quadro sem tela.
Para
Ti que és a meta
Deste meu universo
Não chega um poeta
Armado de meio verso.
E para tudo isto
Que agarro e me escapa
Parece haver um misto
De vida que mata.

jpv


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Quadra ao Amarelo

Quadra ao Amarelo

Por entre o casario
Simples e singelo
Desliza, estridente,
O eléctrico amarelo.

jpv


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"Com Amor," – Documento 29

Meu Homem Rui,

Será que nos vemos na próxima semana? Inscreveste-te? Será que posso sonhar com o vigor da tua doce masculinidade fazendo de mim mulher inteira? Será que vou ver-te, cheirar-te, tocar-te? Será que és mesmo diferente? Será que posso olhar de novo os homens e pensá-los na minha vida? Será que há para nós mais do que e-mails e encontros furtivos e espaçados no tempo de desejar-te? Será que há vida melhor do que esta?

Não sei, meu homem Rui, é já tão bom, tão delicioso, tudo o que temos e contudo vai-me parecendo pouco…
Vivemos tempos difíceis, Rui, de gentes cinzentas e acabrunhadas com a vida toda nos ombros e é como se ficasse mais difícil respirar o ar da felicidade. É como se houvesse em mim um desejo irreprimível de aceitar as coisas boas da vida e incluir nelas os homens e acreditar que tudo pode mudar entre as pessoas e, ao mesmo tempo, não sentir esta culpa…

Há culpa em mim, Rui. Por ser feliz. Será que é mesmo possível olhar o horizonte e ter esperança?
Temo, Rui, temo acreditar na Humanidade e mais uma vez desiludir-me.
Tenta vir até mim, meu homem Rui. Preciso dos teus braços à minha volta.

Com Amor,
Verónica.