Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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"Com Amor," – Documento 31

Meu Homem Rui,

Trago ainda o teu cheiro de homem no meu corpo, o teu perfume na minha pele, e trago o teu toque em mim, como se a cada momento do dia me segurasses com doçura e firmeza, me estreitasses nos teus braços.
E foi enlevada por este amor na memória ainda fresca das carícias no corpo e na alma que fui reler-nos. Reli todas as tuas palavras, Rui, e soaram-me a actos. Reli todas as minhas palavras. Voaram para ti ao ritmo do compasso apaixonado do meu peito. Reli as minhas palavras e não eram já minhas… saíam aladas do meu controlo e procuravam-te na tua existência digital e humana.

Soas-me tão homem, Rui. A tua virilidade emerge das palavras como dos gestos quando amas com firmeza e ternura.

REVELAÇÃO: Reconheço-te, Rui. Reconheço a tua presença em mim. Na minha vida. E surpreendi-me reconhecendo de novo os homens na minha dimensão! Andas a reconciliar-me com o Universo. Em particular, o universo da masculinidade.

Com Amor,
Verónica.


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"Com Amor," – Documento 30

Minha Menina Verónica,

Quando li o teu e-mail fiquei preocupado.
Será que tanta pergunta é sinal de tanta dúvida? Depois de tudo o que nos amámos? Parece-te incerto este amor?

É preciso acreditar. Acreditar nas pessoas, acreditar no amor. Acreditar no azul do céu e no brilho intenso do sol. É preciso acreditar que estamos vivos e que cada dia, cada pulsação, cada temor, cada realização e cada alegria são verdadeiros porque são os nossos barómetros de vida.

Amar é a solução, minha menina Verónica, amar é a solução. Quando duvidares, ama. Quando temeres, ama. Se negares o amor, negas a vida. E isso não é opção… a menos que queiras ser, como disse o poeta, “cadáver adiado que procria”. Ama, Verónica, ama! Nem me refiro em particular a mim. Refiro-me ao mundo, às coisas boas da vida e às más também. Ama-as todas, Verónica. E, claro, ama os homens. Os homens não são bons nem maus, são homens. E é como homens que devem entrar na tua vida. Só isso.

Eu percebo porque falas em culpa. Claro. E posso até dizer que, sendo essa culpa nossa, a sinto mais minha do que tua. E, sendo claro com as palavras, porque eu tenho limitações que tu não tens. Carrego uma responsabilidade de que estás livre. Há, contudo, algo que me perturba. Talvez porque não perceba as razões, ou percebendo-as, as não valide intrinsecamente. Se o que sentimos é tão puro, tão verdadeiro e tão belo como se tem manifestado, onde está a culpa? Pode um amor assim ser culpado? Eu percebo as limitações e os constrangimentos. Logo à partida, de ordem moral. Mas é isso que me assusta: numa análise aos meus pensamentos, aos meus actos e aos meus sentimentos dos últimos meses, não encontro nada senão a pureza inocente de quem se descobre e entrega.

Eu também tenho culpa em mim, Verónica, e, contudo, sinto-me inocente ou, se quiseres, não sou capaz de sentir-me culpado.

Anseio ver-te. Ter-te nos meus braços e fazer-te minha sendo teu. A tua ausência magoa-me. A tua presença pacifica-me. Uma paz de entrega e resiliência.

Não consigo pensar senão em ti. Não te prenderei, meu amor, mas jamais te soltarei do meu coração.

Com Amor,
Rui