Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Histórias do Autocarro 28 – Amigas Conversadeiras

Amigas Conversadeiras

Voltei ao autocarro. Não foi bem no 28, mas foi num percurso partilhado com o 28.
Entrei e entraram atrás de mim duas amigas conversadeiras, bem simpáticas, que tiveram excertos de diálogo interessantes. Daqueles que nos acordam o espírito pela manhã.
Como estava de costas nem me apercebi bem do seu aspecto. Sei só que uma era loira e a outra morena. Uma delas agarrou-se ao varão e a sua mão ficou mesmo à frente dos meus olhos. E aí começou o espectáculo. No espaço minúsculo de uma unha, a senhora tinha um malmequer branco com o centro negro e, ao lado, também em negro, uma ramagem a fazer lembrar o acanto. Não sei como, mas ainda houve espaço para uma tira diagonal em brilhantes minúsculos. E quando entraram, vinham a falar de unhas.
– Eu mostrava-te a minha unha, mas não consigo.
– Isto está apertado.
– Ao menos vamos quentinhas. Olha lá, como é que vai a tua ansiedade?
– Vai boa. Durmo pouco. Eh pá, tenho de fazer umas merdas… e tu amiga, tens conseguido dormir?
– Muito Bem. Eu durmo sempre bem. Às vezes, depois do meu namorado sair de casa ainda vou dormir mais um bocado!

Pois é, caros leitores, se eu podia viver sem transportes públicos pela manhã? Poder, podia, mas não era a mesma coisa!

jpv


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Curtas do Metro – Está Cá?

Está Cá?

Os tempos são o que são. Os costumes mudam com eles. E estes são tempos de tecnologias. Um dia destes, chegou-me por e-mail um daqueles PowerPoints que ninguém abre mas todos conhecem e trazia a história do pai que chama o filho para jantar via e-mail, estando ele no andar de cima da mesma casa. Achei aquilo exagerado, mas depois do que assisti hoje no Metro, resolvi reconsiderar.

Uma estava sentada. Teria aí uns dezassete anos e vestia as roupas e as cores da sua idade. A outra ia de pé com roupas e cores para a mesma idade. A que ia sentada viu a que ia de pé junto à porta. A que ia de pé não viu a que ia sentada. É importante que se esclareça que não distavam uma da outra mais do que dois metros. Estavam a um passo uma da outra!

A que ia sentada sacou do telemóvel, marcou um número e esperou. Tocou uma música metálica e a que ia de pé tirou o seu telemóvel da mala e atendeu:
– Está lá?
– Olá!
– Olá!
– Olha, senta-te aqui ao pé de mim.
A que ia de pé olhou em volta, detectou a outra, olharam-se mutuamente e ela disse num tom de voz que tanto se ouvia dentro como fora da maquineta:
– Ah, estás aí!
– Estou.
– Bom dia.
– Bom dia.
Trocaram um beijinho e depois desligaram os telemóveis.

jpv