Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Março de 2011

Caros Leitores,

Quando, no final de Fevereiro, quebrámos a barreira das 4000 visualizações, pensei que tínhamos atingido os nossos máximos. Acontece que Março trouxe novas superações. Mais de 4600 visualizações em mais de 2300 visitas.
Efectivamente, não nos resta senão agradecer a vossa dedicação, as leituras diárias e o acompanhamento que fazem de Mails para a minha Irmã. A única coisa que posso fazer para vos recompensar, é continuar a escrever. A escrever tudo aquilo que vos tem atraído. Em Abril, continuarão as histórias do Clã do Comboio, do Autocarro 28, as Curtas do Metro e chegaremos ao fim do Romance “De Negro Vestida”.
Além disso, sempre muita música, citações, pensamentos e crónicas diversas. A minha vida é escrever, logo, a minha vida só faz sentido enquanto os meus leitores continuarem a ler. Sois o meu oxigénio e também por isso vos agradeço.
Até ao próximo post.
João Paulo Videira


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De Negro Vestida – LXXIII

 

Abandonar o Negro – X

A chave acabou de rodar na fechadura. Carolina entrou, largou a mala numa cadeira forrada que havia na entrada, foi ao seu quarto, poisou o casaco e voltou à cozinha. Percebeu que, ou havia movimento, ou tinha havido. Franziu o sobrolho, inspeccionou o ambiente em volta e perguntou para o ar levantando a voz mais à procura de uma confirmação para a sua desconfiança do que para saber se Maria de Lurdes estava em casa:
– Mãe?!… Mãe…
Maria de Lurdes havia colocado um dedo na vertical sobre os lábios de Carlos José pedindo-lhe silêncio, vestiu um roupão e foi ao encontro do destino.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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Curtas do Metro – Mamadu

Mamadu

Como já repararam, a Curta do Metro de hoje não tem a tradicional imagem da composição mas sim este simpático papelinho que me foi gentilmente oferecido à entrada do Metro do Cais do Sodré, assim como quem me salva a vida.

O nome, só por si, é sugestivo. Os erros ortográficos são poucos quando comparado o papelinho com os da concorrência, mas o que efectivamente atrai no Professor Mamadu é a extensa lista de especialidades. O tipo tem de ser um génio. Ele tem de ser o Cristiano Ronaldo da Astrologia e da Vidência. Mais ou menos o mesmo que termos um médico que seja psiquiatra, otorrino, cardiologista, andrologista, sexólogo, psicólogo, conselheiro matrimonial, economista e padre! Com a vantagem de só se pagar no fim dos resultados. Depois, tem uma excelente ideia para acabar com as filas de espera nos nossos hospitais. Nem sei como é que os sucessivos governos ainda não se lembraram disso: a malta é muita? Consulta-se por carta, onde é que está o problema. Professor Mamadu, por e-mail também serve ou isso das novas tecnologias interfere?

Aqui, no Mails para a minha Irmã, não costumamos fazer publicidade porque não somos uma agência dessa arte, contudo, abrimos umas excepções gratuitas porque quem merece, merece! O nome está mesmo a dizer tudo… ma… ma… du!

jpv


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Curtas do Metro – Saciado

Saciado

A moça tinha aí uns dezoito ou dezanove anos. Era alta e esguia, o cabelo pintado de loiro, uma camisola de lã preta, botas da tropa enormes e umas meias pretas que lhe subiam pelas pernas acima até à mini-saia. A mini-saia tinha três características. Era verde exército. Tinha bolsos a toda a volta da cintura a imitar os que se vêem nos fatos dos militares. Era curta. Exígua. Tão curta que mais parecia um cinto. Eu fiquei de pé junto às portas. Ela foi-se sentar. Sentou-se de costas para mim, ao pé da janela, logo, eu não conseguia vê-la, mas não era difícil imaginar que, com uma saia tão curta, sentada, o pano não era suficiente para tapar o que quer que fosse. Por isso, fiz uma dupla aposta comigo mesmo. Apostei que, na próxima estação, um homem ia sentar-se de frente para ela e não ia resistir a contemplar o que a saia curta não tapava. Meu dito, meu feito. Entrou um homem com fato de fazenda azul-escuro e gravata. Tinha um casaco comprido e impermeável por cima do fato. A primeira parte da aposta estava ganha. Agora, só faltava que ele olhasse. Eu sabia que ele ia fazê-lo, só não sabia como ia fazê-lo. Sentou-se. Olhou de relance. Nem parou a vista. Volvidos uns segundos, voltou a olhar de relance. Olhou uma terceira vez, mas, desta vez, demorou-se um pouco mais e deve ter gostado porque olhou uma quarta vez. Demorou-se mais. Ficou com o olhar fixo e, no meu conceito de perceber as coisas, estava a exagerar um bocadinho. Cada vez demorava menos a voltar a olhar e cada vez se demorava mais no olhar. Ainda se saciou mais duas ou três longas vezes.

Saímos os três. Já nem olhei para a moça. Ele tinha-a visto toda! Achei piada porque mudei de Metro e fiquei à espera, sentado no banco de pedra ao longo da plataforma. O Metro do outro lado da linha chegou primeiro e vi a moça entrar através dos vidros da carruagem. Entrou e sentou-se. E adivinhem quem se sentou de frente para ela? Não queriam mais nada, não?! Foi uma senhora qualquer que ainda não tinha entrado nesta história! Mas lá que o homem do fato e do impermeável seguiu saciado… lá isso seguiu!

jpv


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Breve História da Humanidade

Desde já informo que o trabalho que aqui se publica não é meu. Encontrei-o aqui e aqui. Desde já se avisa que é violento e explícito do ponto de vista imagético. É contudo, um retrato sintético daquilo que andamos a fazer no Universo desde que a ele viemos. E tem denominadores comuns: Sexo, Violência, Poder. Eis uma Breve História da Humanidade.

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Curtas do Metro – Multiculturalidade de Mãos Dadas

Multiculturalidade de Mãos Dadas

Cada uma das situações que observei hoje, separadamente, não tem nada de extraordinário. O interessante é que todas estas pessoas se cruzaram comigo no mesmo dia e no Metro.

8:55 – Estação do Metro de Baixa/Chiado
Ele já vinha no Metro. Ela entrou comigo. Ele tinha pele preta. De um preto cerrado de onde emergiam as unhas claras que ainda pareciam mais claras por via do contraste com as mãos. Estava agarrado a uma pegadeira do tecto. Ela era muito branca, quase pálida. A carruagem vinha cheia, mas não insuportável, contudo, ela não hesitou, quando chegou a altura de agarrar-se, colocou a sua mão branca em cima da mão preta dele. Quando saíram, separaram-se. Não se conheciam. Tinham dados as mãos por conveniência na segurança.

17:58 – Estação do Metro do Cais do Sodré
Quando cheguei, elas já lá estavam. Uma de fato de treino. A outra com calças de malha e uma camisola de lã às riscas. Estavam lado a lado, de frente para a linha, de mãos dadas. As palmas claras das mãos pretas entregavam-se com generosidade e carinho. Trocaram um beijo discreto nos lábios e desapareceram na composição quando as portas se abriram.

18:12 – Estação do Metro de Baixa/Chiado
Estou sentado no longo banco de pedra de frente para a linha e paralelo a ela. Dois rapazes descem as escadas ao fundo e encaminham-se para aqui. Os dois têm a pele clara. Um deles está com calças de ganga, um casaco de penas e traz botas de montanha. O outro veste um fato-de-treino branco com vivos lilás. O primeiro tem a barba por fazer. O segundo tem a barba feita e o cabelo muito bem penteado. Vêm de mãos dadas. Aproximam-se e sentam-se, encostados e cúmplices, à espera do Metro.

18:18 – Estação do Metro de Santa Apolónia
Vamos em corrida acelerada, galgando degraus da escada que desagua rios de gente junto à linha do comboio e vamos em busca de um interregional que já perdemos mas ainda não sabemos. São os dois brancos. Ele e ela. Os dois têm porte atlético e roupas práticas. E correm ofegantes, subindo os degraus dois a dois, mas nunca se largam. Correm de mãos dadas. Lá em cima vêem, como eu vejo, o interregional a deslizar ao fundo. Nada a fazer. Perdeu-se. Respiram fundo e beijam-se suavemente nos lábios.

Hoje, foi o dia da multiculturalidade ir de mãos dadas nas curtas viagens do Metro de Lisboa.

jpv


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O Clã do Comboio – Iago

Iago

Um destes dias, os três amigos que querem salvar o mundo iam na conversa com o escritor e a mulher vampiro e, a propósito do facto do RB ir ser pai, começou-se a falar em nomes para crianças. Quando o escritor disse que o filho se chamava Iago, lá veio a sacramental pergunta que oiço há vinte anos:
Tiago?
– Não, sem T.
Como os sobrolhos se franziram e as caras ficaram com um ar interrogado, lá se explicou a origem do nome. Que vinha de Iachus, Iagus, Iago e que o nome do santo se começou por escrever Sanctus Iagus, Sant’Iago e, finalmente, por corruptela, São Tiago sendo que o T não era do nome mas da palavra santo.
A malta desmobilizou. Foi ao trabalho e, no dia seguinte, quando os três amigos que querem salvar o mundo entraram no comboio, o RB disparou:
– Olha, aquela história do nome… a minha mulher adorou e já deu a sentença: Miguel Iago.
É engraçada a vida, são engraçadas as pessoas. Ainda há uns meses não sabíamos da existência uns dos outros e já andamos trocando destinos. Ora, acontece que há já uns dias que o RB não aparece, por isso impõe-se perguntar:
– Então RB, diz lá à malta se já nasceu o quarto amigo que quer salvar o mundo…


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Curvas Formas

Curvas Formas

A redonda curva
Que o teu seio fazia
Acompanhava a linha
Elegante da baía.

A prenhe forma
Que o teu peito traçava
Tinha a linha da areia
E do mar que a banhava.

jpv


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São só Poemas


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Muda a Hora

Muda a Hora

Muda a hora.
E onde estava o sol
Ainda agora,
Lá se mantém,
Que os relógios mudam
Pela humana mão,
Mas o sol não quer saber
De ninguém.

E mantêm-se os passarinhos
Aconchegados em seus ninhos,
E correm os rios desvairados
Por montes, cabeços e valados,
E ribomba com pujança o mar
Lavando as mágoas da areia,
E tece a aranha
Sua letal teia,
E zumbem no ar silvestre as abelhas
Reencontrando-se na colmeia,
E balem as ovelhas
Pela manhã,
E continua a crescer-lhes a lã.
E o galo anunciou
Orgulhoso e altivo
A aurora de mais um dia,
Enquanto passava furtivo
Um lagarto de figura esguia.
E as formigas fizeram seu carreiro,
E a Natureza reproduziu
Um dia por inteiro.

E meu coração
Continua a bater assim
Como se não soubesse
Que um dia terá fim.
E porquê?
Porque só tem aqui e agora
E não lhe interessa para nada
Se mudou, ou não, a hora!

jpv