Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Quando vier a Primavera


Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro, in “Poemas Inconjuntos”


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Natureza em Mudança

Natureza em Mudança

Cais forte e vigorosa
Dum céu negro
E fechado
Em manhã chuvosa.
És água
E és pedra
E fustigas a superfície
Da enorme e antiga serra.

E fecha-se a luz,
Banhado está o universo
Em tamanho breu
Que não cabe em verso
O medo que me deu.

E estavas assim,
Assustando-me o coração
Quando se abre
O brilhante astro
Como uma canção
À Primavera
À alegria, ao calor.

E agora já tenho tudo.
Só me falta
O meu amor.

jpv


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The Platters

“Se esta música não te fizer sentir nada, então estás com um problema sério no sistema nervoso central”
jpv