Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Sensualidade Humorada

Sensualidade Humorada

As linhas do teu corpo
Vistas à contraluz
Têm qualquer coisa que seduz.
E vistas à luz natural…
Também!

jpv


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O Clã do Comboio – Late Night Skirt

Late Night Skirt

Hoje regressei a casa terrivelmente tarde e cansado. Quando assim é, já nem costumo escrever. Por isso mesmo, peço desculpa se as carreirinhas de palavras não estiverem à altura, contudo, o pormenor foi… como hei-de chamar-lhe… muito interessante. Saí de casa às 6:45 da manhã. Regresso no regional das 20:48. Quer isto dizer que antes das 23h não há direito a sopas nem descanso. São 21:43 e estamos algures próximo do Cartaxo.
É uma daquelas mulheres que quer parecer ter menos idade do que realmente tem. Seja na roupa, nos cabelos, nas unhas, nos acessórios ou mesmo na atitude. Todos percebemos que tem mais de 50, mas ela não quer ter mais de trinta e picos. Está no seu direito.
Face arredondada com indisfarçáveis rugas. Olhos muito pintados de verde e rímel abundante nas pestanas. Cabelo comprido, liso, com madeixas loiras a cair-lhe por cima dos ombros. Traz um casaco branco, cintado, em fazenda rugosa com vivos de renda pérola nos bolsos. Um enorme cachecol de verde-escuro, muito escuro, quase a parecer preto. Por baixo, uma camisola de lã preta. Uma mini-saia de fazenda também preta, muito curta, e umas meias da mesma cor bem justas às pernas a deixar perceber o tom claro da pele. Sapatos, igualmente pretos, com um lacinho no calcanhar. Por cima de toda esta negridão e a saírem-lhe das mangas brancas do casaco, as mãos largas, bem tratadas, com unhas em encarnado Ferrari. Ao seu lado, uma mala de pele e tecido num lilás muito escuro com iniciais de Yves Saint Laurent.
O telefone é um daqueles desta nova geração sem teclado e todo a piscar no visor táctil. Passou quase todo o tempo da viagem a escrever sms e a fazer telefonemas sussurrados. Quando terminou a azáfama das comunicações, tirou da carteira uma revista de sudoku e entreteve-se. Depois, voltou às comunicações.
Porque é que escrevi este texto?
Para além da figura ousada numa mulher que luta desesperadamente contra o tempo, e nem sequer precisava, pois, com menos efeitos especiais, podia ainda ser bem interessante, houve algo igualmente ousado e descarado na sua atitude. Cruzou a perna e permitiu que a saia curta subisse até ao limite do decoro mínimo. E ficou ali de pernão curto e largo e bem feito em exibição consciente, voluntária e pública. De vez em quando, olhava-me enquanto falava ao telefone e, como quem se distrai, virava para mim a perna cruzada expondo o que exposto já estava.
Consequência prática: eu que normalmente quase não vejo o “picas” ou, no máximo, vejo-o uma vez por viagem, mostro-lhe o passe e perco-lhe o rasto, esta noite reparei que o “picas” passou vezes sem conta para trás e para diante. E nunca olhou para mim! Ela sim. Entre o telemóvel e o sudoku, foi-me deitando olhares. Uns com os olhos, outros…


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O Clã do Comboio – Manto Branco

Manto Branco
As pessoas que me conhecem sabem que eu sou um tipo inexoravelmente optimista. É como uma doença. Quase só consigo ver as coisas positivas da vida. A luz. A esperança. A bondade. A realização.
Isto para dizer que estou a escrever um apontamento positivo que começou num percalço. O interregional das 7:18, hoje, não foi às 7:18. Eram 7:25 quando a malta começou a esfregar as mãos, a bater com os pés no chão a ver se aqueciam, a olhar uns para os outros como quem pergunta, Atão mas isto não vem? Às 7:28 uma voz rouca no altifalante informou que chegaria às 7:34. Como as previsões em Portugal nunca falham, o comboio chegou às 7:46! Com 28 minutos de atraso, portanto. Como se não bastasse o incómodo do atraso, juntou-se-lhe um percurso penoso, repleto de paragens no meio do nada, ou melhor, no meio da lezíria, umas mais breves, outras mais longas.
Vamos, então, ao que isto teve de positivo. Para além das conversas dispersas a dizer mal da CP com claro efeito catártico na bílis colectiva, o mais interessante foi que, pela primeira vez desde 2 de Novembro último, quando comecei esta saga do comboio, foi possível cruzar toda a lezíria com luz do dia e emprenhar a vista da paisagem ribatejana. Oliveiras pontuais e olivais organizados, os campos de milho em repouso, as imensas vinhas com suas videiras de braços abertos e despidos, os canaviais, cursos de água, casinhas brancas e tratadas no meio do nada e, sobretudo, aquilo que me fascinou a alma, um amplo e silencioso manto branco de geada. O escuro da terra e o verde da vegetação deram lugar a uma imensidão branca de apaziguar corações. Antes e depois das nossas vidas, antes e depois do nosso tempo, haverá sempre um manto branco que nos cobre o espírito e nos conforta a existência.
Não. Não estou zangado com a CP. Estou agradecido, não sei se à CP, desconfio que não, pela paz hoje presenciada, pela simplicidade com que a mãe Natureza nos mostra que não precisamos de complicar a vida porque tudo começa e termina na tranquilidade de um manto branco.


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Citação à Bruta

“Se esta música não te fizer sentir nada, então és um peixe!”
jpv