Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Funéreo Rito

Funéreo Rito

Já sei como é o fim da vida.
É uma rua desolada,
Uma criança indigente e perdida.
E há nisto que sinto
Algo sincero,
Um fim que pressinto,
Um cenário de desespero.
E foi morrendo a vida
Em mim.
E fui morrendo eu.
Em agonia e fim
Um amor pereceu.
E eis-me morto,
Junto à urna em sentido,
Contemplando no meu peito
A lápide de um amor falecido.
E choro.
Choro o fim.
Choro o desprendimento.
Mas não posso ressuscitar-te
Em ausência de sentimento.
E choro.
E vou adiando o funéreo rito.
Mas nasce-me a manhã da vida
Com a urgência de um grito!

jpv


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Relance

Relance

A tanquilidade do teu sono,
A tua pose
E a tua postura,
Têm um misto de abandono
Ao sossego e à amargura.

jpv


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Adeus

Adeus

Adeus,
Minha vida,
Adeus.
Cumprimenta por mim
Os teus.

Adeus,
Meu amor,
Adeus.
Castiga-me os pecados
Que são todos meus.

Adeus,
Minha segurança
Minha matéria.
Adeus,
Que vou viver o risco,
Mergulhar na miséria.

Adeus
Temores
E recriminações.
Adeus
Fervores
E exaltações.

Adeus
Agora,
Que vou ao amanhã.
Adeus
A esta vida que jaz.
Oiço ao longe
O doce e suave canto
Da harmonia e da paz.

Adeus,
Minha vida,
Adeus.

jpv


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O Clã do Comboio – A Troca

A Troca.

Este brevíssimo apontamento está destinado a constatar e a relatar de forma isenta, logo, sem quaisquer conclusões e muito menos juízos de valor precipitados, um ritual que observei esta semana na viagem de regresso a casa.
Peço-vos, por isso, que também não façam os tais juízos… precipitados.
O trabalho deu para tarde. Tive de apanhar um InterCidades depois das 20h. À minha frente, na outra fila, logo, na diagonal do campo de visão, ia um homem comum, com roupa comum, com um comportamento comum. Nada a registar. Notei, só, como facto a realçar, que nem sequer daria um apontamento, que levava uma enorme aliança de casamento, lisa e larga, brilhante e dourada, no dedo anelar. Até aqui, tudo bem.
Pouco antes de chegarmos ao Entroncamento, onde ele também saiu, tirou a carteira do bolso interior do casaco, abriu aquele compartimentozinho que se fecha com uma mola e onde se guardam as moedas, tirou a aliança do dedo e colocou-a lá dentro. E foi de lá, de junto das moedas, que retirou uma aliança igualzinha mas num tom diferente. Era acobreada. E colocou-a no dedo onde ainda agora estava a outra!
O que é que eu vos pedi?
Demasiado tarde!


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O Clã do Comboio – Agradecimento

Agradecimento

Exmo. senhor Presidente do Conselho de Administração da CP.

Excelência, nós, abaixo signatados, vimos, mui humilde e pungentemente, agradecer a prontidão e a eficácia com que respondeu à solicitação feita.

Nem 24 horas, Excelência, nem 24 horas decorreram, nem o tempo do transcurso da orbe sobre si própria e temos de volta a luz às nossas vidas. Os rostos iluminaram-se, os sorrisos desenharam-se amplos, olhares de alegria cúmplice correram os ares e, se não houve vivas, houve pelo menos quem dissesse, no presente caso, o aluno do escritor, “A reclamação resultou!”.

Voltou o sentido e a orientação às nossas manhãs, a tela cinzenta que vivemos nos últimos dias é de novo aguarela colorida e a paz invadiu os nossos corações.

Excelência, queira considerar pretéritas as nossas reclamações e aceite nossa fidelidade comercial na continuidade no recurso aos excelsos serviços que a Companhia de V.Exa. presta como única forma de agradecimento ao nosso humilde alcance. A Mulher Vampiro está de volta e, para nós outros, signatários da presente e demais anónimos, a vida também.

De V. Exa.,
Com a mais elevada estima e consideração, subscrevem:
O escritor, o aluno dele, os três amigos que andam a combinar como salvar o mundo, o militar que sai em Vila Franca, o ceguinho que vê, a generalidade dos homens e mulheres que viajam na 6ª carruagem do interregional das 7:18.
Em 20 e picos de Janeiro mais um
Algures entre Entroncamento e Santa Apolónia