
Elegância Enlatada
Sabem aquelas imagens onde está tudo certinho mas há qualquer coisa de errado e não sabemos bem o que é? Pois bem, vinha-me acontecendo um fenómeno semelhante no autocarro 28. Em meio de toda aquela normalidade laboral de pessoas vestidas para o trabalho com as faces da manhã que começa e do ponto que espera ser picado, no meio de todo este cinzento comum na vida da grande urbe, havia uma nota de cor.
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É magra. Alta. Tem a face fina e alongada. Os olhos brilham cor de amêndoa. O cabelo é loiro e liso. Normalmente trá-lo sobre os ombros. Por vezes apanha-o e fica com um ar mais “executivo”. Coloca sempre batôm e uma base na cara que lhe dá um aspecto cuidado e distinto. Passa uma sombra discreta nos olhos e arranja as sobrancelhas. Pinta as unhas. Veste calças vincadas e sapatos de verniz e um casaco comprido, preto, de onde emerge uma écharpe que traz ao pescoço. E coloca-se na fila do 28, entra com os outros todos e procura um assento nos primeiros bancos. Quando não o encontra vago, a sua elegância segue de pé, enlatada como todas as outras, presa ao varão com uma mão e do braço esticado pende uma mala a dar com os sapatos. E nada disto parece perturbá-la. Incorporou este ritual na sua elegância ou, se quiserem ver ao contrário, trouxe a sua elegância para os rituais de todos nós.
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É fresco vê-la. É agradável. Normalmente fica-se com a sensação de que a normalidade também pode ser colorida com a paleta da elegância e do bom gosto. E assim, o 28 fica mais completo, mais universal na sua passerelle de trabalhadores matinais em trânsito.
jpv
25/01/2011 às 23:47
Caro anónimo, uma descrição, é uma descrição. Ou o amigo anónimo tem mais dados do que eu penso, ou diga-me lá como é que em meio milhão de habitantes em Lisboa mais outro meio de trabalhadores consegue identificar uma pessoa através de uma descrição vaga e imprecisa?! Hahaha… a net tem destas coisas! Todos somos alguém e todos somos ninguém. É elegante a senhora. Muito elegante. Se é de Ermesinde ou não, não faço ideia. Mas admito que sim. HOJE, em particular, admito que sim. Desejo-lhe uma excelente noite e espero que tenha gostado. Eu tentei fazer-lhe justiça com as palavras que são meu único instrumento. Com simpatia e cordialidade. João Paulo.
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25/01/2011 às 23:07
Conheço a figura.
É de Ermesinde.
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