
A Mulher que dizia Palavrões
Não era preciso dirigir-lhe a palavra. Bastava olhar para ela ou, simplesmente, sorrir. Qualquer coisa constitui para si uma provocação como se todo o universo se tivesse reunido para conspirar contra si. A razão por que conto a sua história, narrativa breve e simples, tem a ver com um pormenor de linguagem. Ou melhor, dois. O primeiro é que tem o hábito de dizer que não vai dizer palavrões:
– Não me puxem pela língua… O que vale é que eu fui bem educada e não digo palavrões, senão…
O segundo é que depois de dizer que não vai dizer palavrões, solta-os de enfiada como se não houvesse amanhã ou fosse morrer engasgada com eles:
– Não me puxem pela língua… O que vale é que eu fui bem educada e não digo palavrões, senão mandava o estrangeirinho à merda ó o caralho. O cabrão deve julgar que é dono desta merda toda e a gente está aqui de cu para o ar p’ró servir.
Ora bem, não vos zangueis comigo, caros leitores, nem fiqueis mal impressionados. A verdade é que vos dei a versão suave e audível. A seguir ao estrangeiro zangou-se com um homem que lhe disse para não dizer palavrões, depois com uma senhora que se riu quando ouviu a segunda rodada e quando saiu do autocarro ainda ia a vociferar contra o mundo no mais agressivo vernáculo que se possa imaginar.
Uma coisa eu garanto, aquilo foi em crescendo, ou seja, sempre que se sentia provocada, a fiada vernácula era maior e menos audível…
Outra coisa eu garanto, a viagem foi diferente. Menos sisuda!
jpv
06/12/2010 às 13:28
Sabe-se lá os motivos (pessoais, saúde ou outros) que a levam a isso . Não podemos julgar ninguém!Mad
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