Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


2 comentários

O Clã do Comboio – O Treinador

Eu acho que o fenómeno José Mourinho é interessante no sentido de que vai para além do futebol e contagia as grandes massas. Ora, sendo o comboio o manancial de vida que é, não podia, de maneira nenhuma, ficar imune a esse facto. Ainda não se joga à bola no interregional das 7:18h mas já se operam transferências de treinadores e jogadores.
O treinador é um tipo novo, nos seus trinta, moreno, alto e, pela expressão e pelas palavras que dela saem, diria que é um gozão ou, no mínimo, um tipo bem disposto.
A revelação deu-se ao telefone. Íamos todos em silêncio, ouviu-se uma estridência polifónica, ele atendeu e, quando menos se esperava, ali mesmo fez a sua transferência de clube, pôs o interlocutor a par da situação profissional dos outros treinadores da região, descreveu o seu próprio perfil de treinador, sinalizou os miúdos que mais lhe interessavam para certas posições e quando desligou o telefone, o panorama regional do futebol juvenil estava completamente alterado. Ou seja, o interregional das 7:18h também é um centro de decisão. É no que dá termos cá o Mourinho dos comboios!


2 comentários

O Clã do Comboio – A Rapariga que Veste um Sorriso

Tal como todos os outros, é uma pessoa de hábitos. Normalmente veste calças de ganga de cós baixo e um cinto preto ou castanho, largo, encima essas mesmas calças. É larga de ancas e volumosa mas está longe da obesidade. Traz sempre uns óculos escuros daqueles que ocupam a face toda e quando entra no interregional das 7:18h tira-os e deixa transparecer o olhar meigo e tranquilo dos seus olhos cor de amêndoa. Normalmente veste casacos cintados. O cabelo castanho cai-lhe por cima dos ombros e completa o quadro de uma moça jovem vestida de forma prática mas elegante para cada dia de trabalho. A vestir daquela forma deve haver umas dezenas no comboio pelo que não foi essa a razão por que me detive nela.
A razão é simples.
É daquelas pessoas que acorda sempre feliz e sorridente e difunde essa luz e essa alegria à sua volta. Pela manhã, o clã tem a tendência para ir sossegado e quieto, excepto a rapariga que veste um sorriso. Cumprimenta quem se senta ao seu lado, fala com as pessoas, brinca com as crianças e, mais do que tudo, sorri.
Ela é das pessoas que se senta ao fundo da carruagem. Eu, ao meio. Já equacionei um dia destes ir ao fundo para vê-la sorrir mais de perto, mas, sabem como é, ando a ficar como o clã, um tipo de rituais e faz-me falta a companhia dos meus desconhecidos. Há, contudo, esta marca matinal da rapariga que veste um sorriso. Vê-la é como se fosse uma mensagem de esperança para o dia a viver. E isso é precioso. Espero, sinceramente, que continue a viajar na “minha” carruagem. É que assim até os dias de chuva brilham um bocadinho.


Deixe um comentário

Conversa de surdos ou isso!

Esta conversa aconteceu mesmo e garanto que os intervenientes na dita perceberam tudinho. A nossa língua é uma maravilha. Não é preciso dizer muito para dizer tudo. Ora vejamos:

– Então, tudo bem?
– Tudo bem.
– Já me viu isso?
– Eh pá ainda não vi isso.
– Eh pá não me diga que ainda não me viu isso?
– Eh pá não tive tempo de lhe ver isso.
– Olhe que estou preocupado com isso.
– Eu sei, eu também ando preocupado com isso.
– Eh pá, veja-me isso.
– ‘Tá bem, eu vejo-lhe isso.


1 Comentário

Auto-Citação

“Ler-te sobre mim é como ver-me ao espelho da alma!”
JP


Deixe um comentário

De Negro Vestida – XLIX

 

De Negro Vestida – XIII

Caro leitor, se chegou até aqui pare ou salte para o próximo capítulo. O que vai escrever-se a seguir não deveria ser escrito. O que está prestes a ler, não deveria ser lido.

————————————————–

O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

————————————————–


3 comentários

O Clã do Comboio – Lezíria com Bruma e Antena ao Fundo

O interregional das 7:18h não é só virtudes. Às vezes pára. Pára e fica parado e não avisa quando vai retomar sua ruidosa rota. Os motivos são vários. Para passar outro comboio, para não se cruzar com outro comboio, por razões técnicas de diversa ordem, porque se apaga todo, vai abaixo e depois é o cabo dos trabalhos para retomar a marcha, e ainda por um outro e interessante motivo: pára sem sabermos o motivo!
Por vezes pára ali um pouco antes de Vila Franca de Xira e eu não me importo muito. Vê-se a lezíria, a bruma matinal sobre ela, o sol espelhando-se no rio langoroso e, ao fundo, uma antena. Nunca soube porque é que pára ali, nem tenho grande interesse em saber. Já tinha reparado na beleza da paisagem com a antena fina, esguia e altíssima emergindo da bruma. Era bonito. Mas era uma paisagem sem história.
Hoje ganhou vida.
O homem tinha, seguramente, mais de 60 anos. Forte. Com a barriga redonda e grande a denunciar petiscos bem comidos e melhor regados. A pele estava marcada pelo tempo e pelo trabalho e ele apoiava-se na bengala preta com a ponta de borracha e o cabo em forma de tê. De frente para ele sentou-se a esposa. Era a ruralidade em pessoa num banco de comboio. Não falavam. Nunca falaram ao longo da viagem excepto quando parámos junto à paisagem da lezíria com bruma e antena ao fundo. Ele olhou pela janela e tomou-lhe conta da face certa expressão saudosa de Não era bom mas quem dera lá voltar e ficou olhando, tamborilando os dedos no cabo da bengala e quando terminou de saciar a vista, disse num tom tranquilo de quem constata um facto e tem a missão cumprida:
– Quando foi o 25 de Abril, passei uma noite ao relento de guarda àquela antena.
As coisas que herdamos e nem damos conta! O sofrimento que foi preciso sofrer para aqui chegarmos. A vida que as coisas têm ou adquirem. Naquele momento, para além do respeito que me conquistou, aquele senhor de aspecto humilde e gasto alterou para sempre a minha percepção da lezíria com bruma e antena ao fundo um pouquinho antes de Vila Franca.


Deixe um comentário

Histórias do Autocarro 28 – O Maluco

O Maluco

É jovem. Tem menos de 40 anos. É baixo, atarracado e forte. A proeminência que traz à sua frente e a que chama barriga quando lhe dá uma palmada a atestar que está cheia indica bons tratos e más escolhas. Veste um fato-de-treino azul com duas riscas brancas e nada disto faz dele maluco. Nem a forma como se movimenta porque anda pelo autocarro 28, da Portela para o Restelo ou ao contrário, como qualquer um de nós, os outros todos. Não fui eu que o baptizei de maluco do autocarro. A primeira vez que o vi estava eu a meio da viatura e, ainda ele entrava à porta, quando um passageiro ao meu lado disse em tom de desabafo:
– Lá vem o maluco do autocarro!

O problema dele é quando abre a boca. Acontece que foi precisamente por ter aberto a boca que resolvi escrever este texto. O maluco do autocarro diz palavras impronunciáveis, interrompe as frases, volta ao início, salta para outras ideias sem acabar as primeiras, enfim, o caos discursivo total. A juntar a isto, mistura vocabulário regular com vocabulário erudito e rebuscado sem que as frases façam sentido e, para cúmulo, introduz obscenidades no discurso como se estivesse dizendo umas palavras como outras quaisquer. E até talvez sejam.


Acontece que, no meio de um discurso imperceptível, faz parágrafos de perfeito inglês e quando digo perfeito, refiro-me à correcção vocabular e à estrutura frásica. Do mesmo modo, consegue também umas frases em português ou mistas, português e inglês, onde, no meio do caos, dos palavrões, da ausência de significados coerentes, produz um parágrafo correcto, uma ideia acertada. Ora, é uma dessas que aqui me traz hoje. É que não foi só um parágrafo acertado. Foi uma síntese de um complexo problema educacional que vivemos na sociedade moderna. O maluco do autocarro condensou num só parágrafo o que teses inteiras na área das ciências da educação ainda não conseguiram discernir.

Ia no 28 um grupo de jovens entre os 15 e os 17 anos. Alguns beijavam-se afanosamente querendo gastar os beijos todos que vinham com o bilhete do autocarro, outros diziam parvoíces propositadamente audíveis em toda a viatura e, no conjunto, faziam aquele alarido próprio da idade da acne. O maluco do autocarro contemplou-os, tirou-lhes as medidas, fez-lhes a raiz quadrada e, depois de uma série de frases palavrosas e imperceptíveis, disse:
– Sabem qual é o problema da juventude? O problema deles é que só querem computers mas depois não sabem fritar um ovo! Teoria? A teoria tenho-a eu toda, home, o que é preciso é a prática, é quem saiba fazer. ‘Tá tudo f…


E pronto. Engavetei. Levei para casa e se um dia vier a fazer uma tese de doutoramento em Ciências da Educação, fica aqui prometido que arranjo maneira de citar o maluco do autocarro. Excepto a parte do f…, claro!

jpv


2 comentários

Perguntas

Perguntas

Para as perguntas que me fizeste
Encontras a resposta em ti
E é por isso que não percebo
Porque mas fizeste a mim.

jpv


10 comentários

O Clã do Comboio – A Grande Família

A Grande Família.
Depois de um pequeno texto que escrevi e aqui coloquei sobre uma conversa que se passou no comboio e como tenho vindo a coligir informação sobre este extraordinário manancial de vida, venho hoje trazer-vos um texto que apresenta, na generalidade, este clã. Quem são, que hábitos têm, como se comportam. Faço-o como homenagem aos passageiros diários do comboio. Não o usam para férias, nem esporadicamente para ir ao médico ou ao teatro ou à bola. Usam-no todos os dias para ir trabalhar. Importa, desde já, esclarecer de que percurso se trata. O clã de que vou falar-vos viaja todos os dias entre Entroncamento e Lisboa, seja Oriente, seja Santa Apolónia. Mais para a frente mostrar-vos-ei algumas personagens individuais. Para já, fica uma fotografia de grupo da grande família.
Qual comboio?
Aqui começa a seriação. Quem precisa estar muito cedo na capital, apanha o das 6:18h, quem pode estar um pouco antes das 9h, usa o das 7:18h. A hora não é tão dura e continua a ser um interregional, ou seja, só faz duas paragens entre o Entroncamento e Lisboa. Também há o das 7:40h, mas esse é regional e ir no regional significa parar em todas as capelinhas e chegar muito tarde. Cheguei a experimentá-lo. Leva muita gente, é lento e chega tarde. Definitivamente, o meu clã, a minha família é a do interregional das 7:18h na linha 5.
Onde?
Onde se espera? Onde se entra? Onde se senta? Onde se sai?
É interessante, o homem é mesmo um animal de rituais. A maioria das pessoas deste clã espera todos os dias no mesmo sítio, entra todos os dias na mesma carruagem, senta-se todos os dias na mesma zona dela e sai todos os dias no mesmo local. O comboio é longo. São nove ou dez carruagens a entrar pela estação dentro e a parar mais ou menos no mesmo local. Ao metro! O mais engraçado é que há pessoas que vão esperá-lo lá à frente, outras ficam cá atrás, outras esperam-no frente ao bar, outras frente ao quiosque, outras junto ao relógio e até as há que se sentam todos os dias no mesmo banco de espera. Há pessoas que são amigas e conversam antes do comboio chegar, algumas trabalham juntas, mas quando a grande lagarta metálica chega, separam-se porque cada um vai para a “sua” carruagem. Por exemplo, ultimamente comecei a cumprimentar um senhor porque todos os dias esperamos o comboio exactamente no mesmo sítio, de frente um para o outro, em lados opostos da linha. Lá dentro, há quem fique junto às portas, ao centro da carruagem, há os que escolhem o fundo da mesma, há os que se sentam em bancos de dois lugares e os que se sentam em bancos de três. Tudo isto seria muito menos interessante não fosse o facto de serem quase sempre os mesmos a sentarem-se na mesma zona. É como sair. Os que escolhem as portas da frente da carruagem são, geralmente, os mesmos, tal como os que escolhem as portas mais recuadas. Do mesmo modo, há pessoas que se chegam às portas muito antes do comboio parar, como as há que ficam sentadas para serem as últimas a sair. E também estes não variam. São invariavelmente os mesmos.
Moda.
A moda do clã é, fundamentalmente, a moda do trabalho. A variedade aqui é determinada pela idade, pelo gosto pessoal, mas, sobretudo, pelo tipo de trabalho que se exerce. Nos homens, a coisa é mais formatada. Da calça de ganga ao fato e gravata, a moda varia pouco. Já a moda feminina entra e sai do comboio ao ritmo da mudança das estações, das cores que se usam, das peças que estão em voga. Curiosamente, tenho reparado que a maioria das mulheres, mesmo as que seguem a modinha, não brinca com o calçado. Vistam lá o que vestirem, em 90% dos casos optam pelo conforto, primeiro e pela estética, depois.
O meu grande destaque, em sede de moda, vai para o pessoal da bicicleta. Há passageiros que trazem uma bicicleta para o comboio e uma mochila. Quando chegam a Lisboa, não usam transportes, andam de duas rodas. A mochila leva a roupa de trabalho que vestem à chegada ao mesmo. Estes andam de fato de treino e até de calções de licra.
Grupos.
Esta malta junta-se, normalmente, em três grupos. Os espontâneos que se formam num dia e nele se desfazem. Os que se juntam informalmente porque se sentam mais ou menos no mesmo local do comboio e os que se juntam porque trabalham no mesmo local. Em todo o caso, seja qual for o grupo, quando chegam à estação para apanhar o comboio, ou quando se sentam e se procuram com o olhar é como se estivessem verificando se está tudo bem com o universo. A crise é má? Chove muito? Há problemas sociais? Há falta de emprego? O Benfica perdeu? Nada disto importa quando aquela pessoa que não conhecemos de lado nenhum entra na “nossa” carruagem e se senta. Isso quer dizer que, afinal, o fim do mundo não foi hoje!
Conversas.
Há dias em que não oiço música para ouvir as conversas e há uma coisa curiosíssima, ou melhor, duas. Uma é que o leque de assuntos é limitado. Outra é que ele evolui sempre da mesma forma ao longo da semana. Futebol e família são sempre no início da semana, sobretudo à segunda-feira. Depois, ao longo da semana fala-se de trabalho, de política e de saúde. De trabalho para contar pequenos episódios e dizer que vai bem ou mal. De política para dizer mal do Governo e apresentar todas as soluções para os males do país. Se eu fosse político e quisesse resolver os problemas da nação, passava a andar regularmente de comboio. De saúde para expor as maleitas próprias e, em muitos casos, as doenças esquisitas de que sofre a sogra ou um familiar distante.
Já assisti, em situações particulares, sobretudo no comboio de regresso, 17:18h ou 18.18h, a alguns grupos de homens olharem em volta, certificarem-se de que não há senhoras nas redondezas e falarem de miúdas. Nessas conversas costuma haver expressões como “avião”, “helicóptero”, “Ferrari” e “topo de gama”. Sim, estão a falar de miúdas!
Telemóvel.
Não nos livramos desta estridência. Há dois tipos de toque no comboio. O discreto e o polifónico com um sucesso musical da época que acorda meia carruagem. Mas, o mais giro é a forma como se fala ao telefone. Neste aspecto não há “normais”. Só há dois grupos. Os que colocam a mão à frente da boca e tentam manter a conversa privada e os que gritam para o telefone como se estivessem a falar para a pessoa que está na outra ponta da carruagem. É deliciosamente embaraçoso. Embaraçoso porque ficamos todos constrangidos por ouvir o que não queríamos ou, pelo menos, não é nada connosco. Delicioso porque a malta fica a saber o que vai ser o jantar, qual é o código do cartão multibanco, em quanto é que aumentou a prestação da casa e quem é que vai buscar o puto à escola. Tudo isto salpicado com beijinhos e olás e a frase mais repetida de sempre ao telefone no comboio: “Repete lá isso outra vez, é que eu vou no comboio!”
Leituras.
A malta lê e a malta é diversificada nas leituras. Há quem leia documentos do trabalho, há quem leia livros da mais reconhecida literatura, de Saramago a Tolstoi já vi de tudo, há quem leia revistas cor-de-rosa, estes são a maioria, há quem leia o jornal desportivo e depois há uns muito engraçados que trazem o livro, a revista ou o jornal mas nunca os lêem. É como se os trouxessem para um passeiozinho de comboio. Coisas!
Música.
Eu não sei que música se ouve no comboio, mas sei que se ouve muita. Alguns dizem que é porque gostam de música, outros dizem que é para não ouvir o matraquear do comboio nos carris. Há três tipos de pessoas. Os que não ouvem música. Os que ouvem tapando os dois ouvidos mergulhando no mundo das melodias e aqueles que têm um olho no burro e outro no cigano em versão ouvido que é como quem diz, num ouvido levam a música e com o outro vão à espreita do que se diz. A música também tem modas em relação às formas de reprodução. Há os que trazem um computador portátil e ouvem a partir dele com auricular, há os que têm leitores de MP3 e há os modernaços que trazem a música no telemóvel e ouvem a partir daí. Também os auriculares davam uma tese. Brancos, pretos, cinzentos, metálicos, de enfiar no ouvido ou de tapar a orelha. Isso não interessa nada. Interessa é ir a curtir um som.
Refeições.
Pois, se pensavam que a vida do clã do comboio é uma vida de barriga vazia, enganaram-se. Esta malta trata-se bem. As refeições têm, normalmente, três tipos e uma variação. Fruta, para a malta das dietas. Barras de cereais, para a malta das dietas a sério. E sandes de queijo com fiambre e alface para os alarves. A variação exige uma ginástica e um treino que não pode ser para principiantes. Vai um tipo muito bem, todo descansadinho, e há uma senhora, são sempre as senhoras, que abre a sua mala e de lá consegue tirar um iogurte, um pacote de açúcar, uma colher, um guardanapo e um saquinho de plástico. Eu sei, ela só tem duas mãos! Mas a verdade é que, com o comboio em movimento, abre o iogurte, desfaz-se da tampa, põe o açúcar, mistura, morfa-o, limpa-se ao guardanapo e coloca os despojos no saquinho de plástico. E, claro, volta tudo para a mala. Tudo, menos o conteúdo do iogurte!
Conclusão.
A palavra que emerge de toda esta vida e de todos estes rituais é democraticidade. Aqui somos todos abençoadamente iguais. Pessoas à procura de um banco para irem confortáveis até ao trabalho. Eu gosto desta gente porque é gente de trabalho, porque faz uma viagem cansativa para ir trabalhar e outra para poder regressar e porque incorpora nos seus hábitos o facto de ter de fazer a deslocação partilhando o espaço e o ar que se respira. Este texto foi escrito com o comboio em movimento ao lado de uma pessoa que é exemplo de um outro grupo, um grupo que deixei para o fim de propósito, são aqueles que continuam aqui o que estavam fazendo na cama. Dormem que nem uns justos e não acordariam nem que viesse o comboio. Ainda assim, chegada a sua estação, abrem um olho, confirmam que acordaram no sítio certo e lá vão eles à vidinha. Olha, este que estava aqui ao meu lado a ressonar, já lá vai. Bom trabalho, amigo!


1 Comentário

Correntes

“Às vezes, as correntes que nos impedem de sermos livres são mais mentais do que físicas.”

Anónimo