Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Auto-Citação

“Sofrer por outrem dá-nos a verdadeira dimensão de nós!”
JP


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Consequências financeiras do fluir do tempo

Sequência cronológica de pensamentos na manhã de cada dia 23. Isto já não devia constituir surpresa, mas surpreende-me sempre. É no que dão as novas tecnologias e os e-bankings e o diabo a quatro. Qualquer dia, todas as palavras começam por e-. Por exemplo, uma e-conversa no e-banco. Boa tarde, o meu nome é e-João. Boa tarde, eu sou a e-Mónica, e sou a sua e-gestora pessoal. O que faz uma e-gestora pessoal? e-inventa e-maneiras de e-sacar-lhe a massa e… toda!

Cá vai:
08:20h. – Eh pá, isto está mesmo mau.
08:30h. – Eh pá, talvez haja esperança para a Humanidade. Afinal até nem ganho mal. Este mês podia…
08:40h. – Eh pá, isto está mesmo mau.


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De Negro Vestida – L

 

De Negro Vestida – XIV

Pode um homem sentir-se profundamente apaixonado e não estar à altura dessa paixão?
Pode!
Acontece que os sentimentos, por serem fortes, não têm de extravasar-se ou dar-se a conhecer ou levar a caminhos de sucesso. Precisamente por serem fortes, podem inibir. E é assim que está vivendo Alberto Vieira e Amaral seu turbilhão interior. No mesmo momento em que decide entregar-se completamente àquela paixão e dedicar-se de novo a Maria de Lurdes e fazer-lhe juras de amor, lembra-se da face de Sandra, da sua reacção reprovadora e irascível, da invocação da mamã que provavelmente não aprovaria nada daquilo e encolhe-se.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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Teoria Vagabunda sobre o Telemóvel

Andava um pensamento solto na minha mente. Irrequieto. Há pensamentos assim, nem saem, nem param. Interrogava-me a verdadeira necessidade de utilizar um telemóvel. Resolvi ignorar. Afinal de contas, com tanta gente a utilizá-lo, com tanta gente a possuir mais do que um, com tanta operadora vendo os lucros subir, quem seria a minha pobre e perdida alma para interrogar-se acerca do assunto?
Mas, sabem como são as ideias, quando germinam, irrompem e nascem, quer queiramos, quer não. A minha interrogação e a reflexão com ela, não nascera ainda porque ainda não adquirira forma nem vida. Hoje, contudo, enquanto regressava a casa, no comboio, com a música nos ouvidos, reparei que várias pessoas foram sucessivamente atendendo e chamando outras com seus telemóveis. A determinada altura, tinha cinco desses mágicos e pequenos telefones a funcionar à minha volta. Resolvi tirar a música dos ouvidos para escutar com clareza o que de tão importante e inadiável estava sendo comunicado.
Nada. Nem uma ideia! Rigorosamente nada que acrescentasse nada a nada. Meras trocas de palavras de circunstância que nem conversas se podem chamar. E havia até uma pessoa que já tinha o cabelo colado à face com o suor de ter o aparelho encostado ao ouvido dizendo nada, ouvindo nada. Combinaram-se umas horas, umas esperas, combinaram-se à distância umas coisas que podiam perfeitamente ter esperado para serem combinadas em presença.
E fiquei pensando na minha comichão mental. Os telemóveis trazem-nos a todos combinadinhos, controladinhos, acertadinhos e estão a formatar os gestos das pessoas e a aniquilar a sua espontaneidade. Já ninguém espera por ninguém, já ninguém surpreende ninguém e já todos sabemos onde estamos todos e por isso mesmo não estamos sentindo a falta uns dos outros. E era importante que esperássemos uns pelos outros e nos preocupássemos e tivéssemos medo do que poderia ter acontecido. Esse sofrimento é um pilar do Amor. E já não se fazem surpresas nem há desculpas para que se não avisem todos acerca de onde estamos a fazer o quê, com quem. E que falta faz à vida humana o improviso, a surpresa e o sentimento de perda! Precisamos sentir a falta uns dos outros para valorizarmos a presença quando chegamos a estar presentes.
Hoje, por via deste contacto constante, as pessoas cansam-se umas das outras e depois, quando estão juntas, recolhem-se e refugiam-se na busca de alguma intimidade e reclamam de nunca estarem juntas! E o irónico é que não estão porque estão sempre!
Estamos sempre achados e encontrados e andamos esquecendo que ninguém se encontra sem se ter perdido primeiro, que não há encontro sem desencontro.


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Le Toi du Moi

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Le Toi du Moi

Je suis ton pile
Tu es mon face
Toi mon nombril
Et moi ta glace
Tu es l’envie et moi le geste
Toi le citron et moi le zeste
Je suis le thé, tu es la tasse
Toi la guitare et moi la basse

Je suis la pluie et tu es mes gouttes
Tu es le oui et moi le doute
T’es le bouquet je suis les fleurs
Tu es l’aorte et moi le coeur
Toi t’es l’instant moi le bonheur
Tu es le verre je suis le vin
Toi tu es l’herbe et moi le joint
Tu es le vent j’suis la rafale
Toi la raquette et moi la balle
T’es le jouet et moi l’enfant
T’es le vieillard et moi le temps
Je suis l’iris tu es la pupille
Je suis l’épice toi la papille
Toi l’eau qui vient et moi la bouche
Toi l’aube et moi le ciel qui s’couche
T’es le vicaire et moi l’ivresse
T’es le mensonge moi la paresse
T’es le guépard moi la vitesse
Tu es la main moi la caresse
Je suis l’enfer de ta pécheresse
Tu es le Ciel moi la Terre, hum
Je suis l’oreille de ta musique
Je suis le soleil de tes tropiques
Je suis le tabac de ta pipe
T’es le plaisir je suis la foudre
Tu es la gamme et moi la note
Tu es la flamme moi l’allumette
T’es la chaleur j’suis la paresse
T’es la torpeur et moi la sieste
T’es la fraîcheur et moi l’averse
Tu es les fesses je suis la chaise
Tu es bémol et moi j’suis dièse

T’es le Laurel de mon Hardy
T’es le plaisir de mon soupir
T’es la moustache de mon Trotski
T’es tous les éclats de mon rire
Tu es le chant de ma sirène
Tu es le sang et moi la veine
T’es le jamais de mon toujours
T’es mon amour t’es mon amour

jpv


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Máxima de Autocarro

“Nunca se devia trabalhar depois de um dia de descanso!”

Anónimo do 28


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Café da Manhã

07:06h. Estação de caminho de ferro de Entroncamento. Bar.

– Um café cheio, por favor.
– Estes são os meus três?
– São!


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Um Pequeno Milagre Chamado Madalena

A carinha laroca e bem reguila que está na foto é a Madalena.
A Madalena é um doce de menina e, ao mesmo tempo que é um doce, é de uma insuperável energia e de uma vontade muito forte. Os primos que o digam!

O giro da coisa reside em como vim eu a ser padrinho da Madalena.
É interessante porque não foi uma obrigação daquelas em que se escolhe uma pessoa de família porque tem de ser ou porque ainda não é padrinho de ninguém ou porque está mais à mão. A verdade é que não sou da família. Pelo menos não sou da família de sangue. Tenho a certeza, no entanto, que sou da família dos afectos. O pai da Madalena é um amigo antigo, um homem honesto e trabalhador que conhece o valor verdadeiro e intrínseco da amizade. A mãe da Madalena veio a ser minha amiga mais tarde mas a sua generosidade e o seu sentido de família rápido me acolheram no seu seio.

Por razões que se prendem com a vida agitada e cheia de horários que todos levamos, eu não vejo a Madalena muitas vezes, pelo menos, não a vejo as vezes todas que queria e devia. Acontece que isso não tem nada a ver com o que eu gosto dela porque é das pessoinhas que mais amo e admiro. E porquê? Porque acho que ela é uma criança adorável, muito disponível e cheia de génio. De resto, vinda da família que vem, seria sempre fácil gostar dela.

Ora, ontem, fui visitá-la porque tinha feito anos esta semana e tinha uma festinha no sábado. O pai telefonou-me na sexta-feira e colocou a menina ao telefone e a vozinha meiga dela a dizer, Padrinho vem à minha festa!, era absolutamente incontornável. O milagre deu-se quando cheguei. Como a vejo pouco, ia no caminho a pensar como é que haveria de fazer para mostrar a uma criança de 4 anos que o facto de a ir ver poucas vezes não tem nada a ver com o que gosto dela porque gosto dela um mundo inteiro de carinho e ternura… Pensei usar uma linguagem próxima dos valores que as crianças com 4 anos dominam melhor e dizer-lhe que gostava dela daqui até ao céu o que, além do mais, é a mais pura verdade. Ora, as crianças parecem ter uma sensorialidade diferente e, ao contrário dos adultos, sentem muito, sentem bem, interpretam muito melhor e, mais do que tudo, sabem agir de acordo com esses sentimentos de forma simples e clara. Eu não via a Madalena há 6 meses, imaginei que me reconheceria mas estava preparado para uma recepção pouco efusiva. Acontece que ela resolveu surpreender-me. Quando me viu, gritou:
——– Padrinho!
Correu para mim, atirou-se para o meu colo, enrolou os seus bracinhos frágeis à volta do meu pescoço com quanta força tinha e apertou-me a cintura com as pernitas finas mas cheias de energia. Depois ficou ali, agarrada a mim, como se não quisesse sair, e os minutos iam passando e eu comovido, quase envergonhado, sem saber bem como reagir resolvi fazer como ela, ser simples, e devolvi-lhe o abraço apertadinho, caminhei com ela abraçada a mim e disse-lhe simplesmente, O padrinho gosta muito de ti!

Foi o meu milagre. Um milagre chamado Madalena. Esqueci-me das coisas que tinha para lhe dizer e só passado um pedaço de tempo é que me lembrei de lhe dar a prenda. Já mais nada interessava. O mais importante já tinha acontecido e uma menina de 4 anos tinha acabado de me ensinar que se pode amar com o coração todo, em dádiva plena, sem regras, só com reconhecimento. Não chorei ali. Fiz um esforço porque estava mais gente. Mas no regresso, no carro, as lágrimas que havia contido, resolveram ganhar a batalha.

Obrigado Madalena, por seres uma menina que faz milagres de Amor. O padrinho gosta muito de ti e da tua família e isso não tem nada a ver com as vezes que o padrinho te vai ver. O que importa é que cada vez que o padrinho te vai ver leva o coração cheio de luz e alegria e amor puro. O que interessa é que o padrinho gosta muito de ti os dias todos. O que interessa é que o padrinho está a aprender contigo que o Amor puro e a dádiva dele não têm regras.

Beijinho do padrinho.


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Parabéns a Você!

Se vires bem, contam-se os anos vividos de acordo com a lógica das voltas que a terra dá em torno do sol e sobre si mesma e, se quisermos ser honestos, os anos de vida tanto se poderiam contar assim como de outra forma qualquer e, nesse caso, talvez até nem se chamassem anos. Imagina, seria possível que um dia fosse um ano, como seria possível que dez anos fossem um ano. De resto, as pessoas raramente contam a sua vida pelo anos. Raramente dizem, “Isso foi quando eu tinha 34 anos…” Normalmente dizem “Isso foi no ano em que mudámos de casa”, “Isso foi no ano que o nosso filho nasceu”, “Isso foi quando comprámos o carro”, “Isso foi quando fizemos aquela viagem à Grécia”, “Isso foi quando o Faísca veio cá para casa”, “Isso foi quando o miúdo entrou para a escola”, “Isso foi quando o meu pai morreu”, “Isso foi …”

E isto é importante. Importante porque não interessa nada quantos anos foram. Os anos de fora não têm nenhuma, mas mesmo nenhuma importância. O que tem importância são os marcos. E hoje que fazes os anos que fazes, venho dar-te os PARABÉNS, não pelos anos, mas pelos marcos e por um outro assinalável marco: é que na minha vida, assim como na tua, já há mais marcos em conjunto do que dos outros e, curiosamente, todos aqueles que escrevi ali em cima, à laia de exemplo, já nos aconteceram. Não faças anos. Colecciona marcos e ao coleccioná-los constroi uma história de vida.

Todos te reconhecem a generosidade, a lealdade e o amor que pões nas coisas. Eu sou o tipo que tem tido a sorte de conviver com elas!

Muitos Parabéns, sempre.

João Paulo


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O Clã do Comboio – Onde é que ela mete aquilo tudo?

Só por doença, meu Deus, só por doença.
Era uma ave de arribação, ou seja, não tinha passe. Passageira pontual, muito provavelmente de ir ao médico. Fica desde já esclarecido que não vou gozar com a pessoa. Longe de mim. Só escrevo sobre ela porque me impressionou. Um destes dias, sentou-se à minha frente uma senhora pequenina, tão pequenina que, sentada no banco do comboio, mal chegava com os pés ao chão. Ao lado dela, a filha tomou também seu lugar. A senhora tinha o olhar meio revirado. Coloquei a música nos ouvidos e pensei: “Sem história”. Enganei-me.

Passados uns minutos, ainda o cheiro a Entroncamento devia ocupar o ar, ela começou a comer. Pacotes de açúcar. Não contei porque não estava à espera do que iria seguir-se mas, pelo baixo, engavetou aí uns dez! Ao mesmo tempo foi bebendo água. Quando pensei que a senhora tinha reposto os níveis de açúcar e tinha dado por terminada a “refeição”, atacou uma sandes de queijo que parecia maior do que as suas mãos conseguiam abarcar. Pronto, é de muito alimento, pensei. Só não sabia que ela ainda não ia a meio. Que me lembre e tentando repeitar a sequência, a senhora pequenina que bebia muita água ainda conseguiu engolir mais meia dúzia de pacotes de açúcar, um iogurte líquido, outra sandes XL e um saquinho de plástico cheio de rebuçados, caramelos e chocolates.

Não sei, sinceramente, não sei como é que uma pessoa que não chega com os pés ao chão no banco do comboio consegue enfiar tanta coisa goela abaixo. Logo pela manhã! Quando chegámos, a filha perguntou-lhe, Queres mais alguma coisa?
E eu pensei, Mas onde é que ela mete aquilo tudo?