Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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O Clã do Comboio – A Mulher Vampiro

A Mulher Vampiro
As pessoas com que entramos para o interregional das 7:18h. não são as mesmas com que saímos. Embora entremos sempre com as mesmas e saiamos sempre com as mesmas. Há vários dias para cá que sai em Santa Apolónia uma mulher vampiro que não sei onde entra.

O título do texto bem como a atribuição à senhora do epíteto “mulher vampiro” podem ser enganadores. Que eu saiba, a senhora não mordeu ninguém. Chamei-lhe assim porque ela retrata, mais do que isso, ela encarna, o aspecto destes vampiros do século XXI que nasceram na literatura romântico-negro-vampiresca que depois passou para o cinema e finalmente acabou nas telenovelas. Há vampiros bons, maus, galãs e heróis, vilãos e horríveis, criminosos e vítimas.

É todo um universo paralelo onde as personagens são como qualquer um de nós mais o pormenor de morderem pescoços e sugarem sangue. Ora, essa tribo tem também suas modas de vestir e pentear. A mulher vampiro foi assim chamada por via do aspecto que a seguir se descreve.

Antes de chegarmos a Santa Apolónia, ela dirige-se para a porta. Gosta de ser a primeira a sair. Sapatos pretos. calças de fazenda pretas ao longo das pernas. Uma camisola de lã preta e um casaco de grossa fazenda… preta. Acima de todo este negrume emerge uma face esguia e longa muito pálida, muito clara, onde brilham olhos intensamente azuis. O cabelo não é castanho nem ruivo. É comprido por cima dos ombros a descair para as costas e está pintado de uma cor fulva que faz lembrar uma labareda. E mais não sei. A não ser que podia estar num cartaz de cinema em vez de viajar no interregional das 7:18h.


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De Negro Vestida – LI

 

De Negro Vestida – XV

Manuel Matos Vasques, o inquieto, nem na morte descansou. A verdade, por estranha que pareça, é que teve de ser sepultado duas vezes antes do eterno repouso. E, mais curioso ainda, duas vezes duas famílias dele se despediram. Duas vezes dois padres diferentes o encomendaram ao Senhor e, por isso mesmo, duas vezes por ele choraram.
Nada há a imputar em sede de responsabilidades ao Senhor que, não só é do universal conhecimento que não erra, como, ainda que tal impossibilidade fosse possível, a este caso se não aplicaria pois se tratou de inequívoco e claramente detectado erro humano. Uma distracção, como sucede na maioria das vezes que um de nós se engana.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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